Força da oposição
Pedro J. Bondaczuk
A mais recente crise panamenha, gerada pela deposição do presidente Erick Arturo Delvalle, completa, hoje, um mês, sem que haja qualquer perspectiva de solução à vista. Juntando vários fatos, o crítico chega à conclusão de que o chanceler dessa República centro-americana, Jorge Abadia Arias, tem lá a sua dose de razão quando afirma que os informes atinentes ao que acontece ali (ou pelo menos alguns) têm sido desvirtuados, inclusive com a “invenção” de episódios que sequer aconteceram.
Questiona-se, por exemplo, se a greve geral que paralisa o Panamá é, de fato, um movimento promovido para derrubar o homem forte local, general Manuel Antônio Noriega, ou se boa parte, senão a maior dela, se deve à ausência de dinheiro.
Não havendo moeda em circulação, ninguém consegue comprar nada, a não ser mediante o clássico “pendura”, tão conhecido nosso. Isso, todavia, comerciante algum aceita passivamente, pois ele precisa de fundos para repor seus estoques.
Atacadista, geralmente, não vende fiado. Em tais circunstâncias, o mais prudente a fazer é, mesmo, aquilo que os donos de estabelecimentos comerciais estão fazendo. Ou seja, fechar as portas. Até para evitar que tumultos provocados pela oposição possam trazer prejuízos irreparáveis ao seu patrimônio e ao seu negócio.
Dias atrás falou-se em uma rebelião militar no Panamá. Depois ficou esclarecido que tudo não passou de uma irritação pessoal do chefe de polícia da capital, coronel Leônidas Macias, contra Noriega, contornada sem maiores sobressaltos.
O que pode vir a acontecer é o general conseguir capitalizar a ira atual da população contra os norte-americanos e despertar uma onda de nacionalismo como poucas vezes se viu na América Latina. No início da década de 70, o general Omar Torrijos passou por problema semelhante. Foi, até mesmo, acusado de compactuar com traficantes de drogas colombianos.
Bastou, no entanto, que ele assinasse o Tratado do Canal com o presidente norte-americano Jimmy Carter, em 1977, para que essas acusações fossem retiradas. Pergunta-se: “Afinal, ele era ou não protetor dos chefões da máfia da cocaína?”.
Este ponto permanece obscuro até hoje e assim ficará. Afinal, o ex-homem forte panamenho está morto há seis anos. E Noriega seria, mesmo, o verdugo do seu povo que os Estados Unidos dizem que é?
Qual a razão, então, das denúncias, que hoje freqüentam as manchetes do mundo todo, não terem sido levantadas antes? Por que as manifestações da oposição não conseguem reunir mais de duas mil pessoas? Como o general tem se agüentado no poder, apesar de tanta pressão? Haveria tanta gente assim contra ele ou o oficial contaria com um apoio maior do que se deseja admitir? Afinal, dois mil opositores (mesmo considerando a pequena população do Panamá), são poucos demais para mudar um governo em qualquer lugar do Planeta.
(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 29 de março de 1988)
Pedro J. Bondaczuk
A mais recente crise panamenha, gerada pela deposição do presidente Erick Arturo Delvalle, completa, hoje, um mês, sem que haja qualquer perspectiva de solução à vista. Juntando vários fatos, o crítico chega à conclusão de que o chanceler dessa República centro-americana, Jorge Abadia Arias, tem lá a sua dose de razão quando afirma que os informes atinentes ao que acontece ali (ou pelo menos alguns) têm sido desvirtuados, inclusive com a “invenção” de episódios que sequer aconteceram.
Questiona-se, por exemplo, se a greve geral que paralisa o Panamá é, de fato, um movimento promovido para derrubar o homem forte local, general Manuel Antônio Noriega, ou se boa parte, senão a maior dela, se deve à ausência de dinheiro.
Não havendo moeda em circulação, ninguém consegue comprar nada, a não ser mediante o clássico “pendura”, tão conhecido nosso. Isso, todavia, comerciante algum aceita passivamente, pois ele precisa de fundos para repor seus estoques.
Atacadista, geralmente, não vende fiado. Em tais circunstâncias, o mais prudente a fazer é, mesmo, aquilo que os donos de estabelecimentos comerciais estão fazendo. Ou seja, fechar as portas. Até para evitar que tumultos provocados pela oposição possam trazer prejuízos irreparáveis ao seu patrimônio e ao seu negócio.
Dias atrás falou-se em uma rebelião militar no Panamá. Depois ficou esclarecido que tudo não passou de uma irritação pessoal do chefe de polícia da capital, coronel Leônidas Macias, contra Noriega, contornada sem maiores sobressaltos.
O que pode vir a acontecer é o general conseguir capitalizar a ira atual da população contra os norte-americanos e despertar uma onda de nacionalismo como poucas vezes se viu na América Latina. No início da década de 70, o general Omar Torrijos passou por problema semelhante. Foi, até mesmo, acusado de compactuar com traficantes de drogas colombianos.
Bastou, no entanto, que ele assinasse o Tratado do Canal com o presidente norte-americano Jimmy Carter, em 1977, para que essas acusações fossem retiradas. Pergunta-se: “Afinal, ele era ou não protetor dos chefões da máfia da cocaína?”.
Este ponto permanece obscuro até hoje e assim ficará. Afinal, o ex-homem forte panamenho está morto há seis anos. E Noriega seria, mesmo, o verdugo do seu povo que os Estados Unidos dizem que é?
Qual a razão, então, das denúncias, que hoje freqüentam as manchetes do mundo todo, não terem sido levantadas antes? Por que as manifestações da oposição não conseguem reunir mais de duas mil pessoas? Como o general tem se agüentado no poder, apesar de tanta pressão? Haveria tanta gente assim contra ele ou o oficial contaria com um apoio maior do que se deseja admitir? Afinal, dois mil opositores (mesmo considerando a pequena população do Panamá), são poucos demais para mudar um governo em qualquer lugar do Planeta.
(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 29 de março de 1988)
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