Pedro J. Bondaczuk
O escritor alemão, Thomas Mann, afirmou, no livro “A morte em Veneza”: “O ser humano ama e respeita outro ser humano enquanto não está em posição de julgá-lo”. A conclusão do eminente novelista foi certa? Não se pode negar que tem lá uma forte dose de razão. Diria, contudo, que a observação é correta apenas em parte. Faltou o seu indispensável complemento.
O oposto do amor, ou seja, o desprezo, a repulsa e, sobretudo, o ódio, são mais comuns nas pessoas em virtude desse “conhecimento insuficiente” daquele que é desprezado, repelido e odiado. Quando conhecemos razoavelmente alguém, e nos propomos a julgá-lo – comportamento que, até inconscientemente, todos temos em maior ou menor medida, dependendo das circunstâncias, mesmo que não estejamos minimamente habilitados para tal (e em geral não estamos) – nossa tendência é a de dar certo desconto aos seus supostos defeitos, aqueles que mais nos incomodam.
Todavia, se nada sabemos dessa pessoa e se ela nos desperta antipatia imediata e gratuita (o que acontece amiúde), logo procuramos algum ponto para “ancorar” nosso prejulgamento negativo. E este pode ser sua opção sexual, a cor da sua pele, sua origem étnica, sua ideologia e vai por aí afora. Essa é a fórmula básica do veneno mais letal para relacionamentos, se não caracterizados pela estima e apreciação, pelo menos respeitosos e corteses: o preconceito.
Não raro somos educados (na verdade, deseducados) nesses padrões discriminatórios. E se nos deixarmos levar por opiniões dominantes e não raciocinarmos com lógica e sabedoria, carregaremos, em nós, esse cancro odioso por toda a vida.
Cito como exemplo uma experiência da minha infância. Quando nasci, a Segunda Guerra estava em pleno desenvolvimento. Os países antagonistas difundiam, pela imprensa e na opinião pública interna, ódio mortal pelo outro lado. Alemães, italianos e japoneses viam nas pessoas dos países que combatiam, “demônios”, e não seres humanos. E vice-versa. Ou seja, eram encarados dessa mesmíssima forma. Os dois lados, claro, estavam errados, erradíssimos. Mas dava-se a entender, para os respectivos públicos internos, que só havia uma solução para restaurar a “normalidade” no mundo: eliminar o “inimigo”.
Finda a guerra, as sementes do preconceito e do ódio, semeadas pelos respectivos aparatos de propaganda ao longo do conflito, permaneceram, ainda, vivas e ativas por muitos anos, diria décadas. Quando eu tinha sete anos de idade, na escola, fui vítima dessa “demonização” de uma etnia, sem sequer nada fazer para merecer esse tratamento. Dada a minha origem eslava, sou louro e de olhos azuis. Ou seja, tenho características fisionômicas muito parecidas com os dos alemães de algumas regiões da Alemanha (com os quais, infelizmente, nada tinha e nem tenho a ver).
Quando as outras crianças, por um motivo ou outro, queriam me hostilizar (ou mesmo que não houvesse razão alguma, por pura birra), cantavam-me um corinho, ainda bastante comum em 1950: “alemão batata/come queijo/com barata”. Era uma tolice infantil, claro. Mas isso me deixava furioso, levando-me a distribuir tapas e pescoções por todos os lados. Custou para que meus colegas entendessem que russo e alemão não são a mesma coisa. Um dia entenderam, mas as marcas ficaram em meu espírito.
Felizmente, toda aquela geração foi sucedida por outras, que não foram (felizmente) “inoculadas” com o vírus daquele preconceito. Hoje (felizmente) há respeito e admiração pelos inimigos de há 60 anos. Nem preciso citar o quanto os judeus, por exemplo, sofreram com a discriminação, que contra eles foi (e em alguns casos ainda é) milenar. Basta lembrar os seis milhões de pessoas dizimadas no chamado Holocausto, um dos mais hediondos crimes já perpetrados pelos homens contra seus semelhantes desde que nossa espécie existe.
Custou (e, em muitos casos ainda custa) para alguns imbecis entenderem que não há povos melhores ou piores do que outros. Custou (e ainda custa) para vários idiotas se conscientizarem que a cor da pele, dos olhos, do cabelo e outras características físicas quaisquer, não fazem de ninguém melhor e nem pior que os que lhes são diferentes. Custou (e ainda custa) para que os estúpidos e pobres de espírito se conscientizem que homens e mulheres se complementam e que um gênero não é nem um pouquinho superior ou inferior ao outro.
São constatações tão óbvias, mas que teimam em não penetrar na mente e na consciência de milhões mundo afora. E tudo isso ocorre por causa de conhecimento insuficiente. E, claro, da mania que as pessoas têm de julgar os outros, conhecendo ou desconhecendo qualquer coisa a respeito dos seus fortuitos “réus”.
O escritor alemão, Thomas Mann, afirmou, no livro “A morte em Veneza”: “O ser humano ama e respeita outro ser humano enquanto não está em posição de julgá-lo”. A conclusão do eminente novelista foi certa? Não se pode negar que tem lá uma forte dose de razão. Diria, contudo, que a observação é correta apenas em parte. Faltou o seu indispensável complemento.
O oposto do amor, ou seja, o desprezo, a repulsa e, sobretudo, o ódio, são mais comuns nas pessoas em virtude desse “conhecimento insuficiente” daquele que é desprezado, repelido e odiado. Quando conhecemos razoavelmente alguém, e nos propomos a julgá-lo – comportamento que, até inconscientemente, todos temos em maior ou menor medida, dependendo das circunstâncias, mesmo que não estejamos minimamente habilitados para tal (e em geral não estamos) – nossa tendência é a de dar certo desconto aos seus supostos defeitos, aqueles que mais nos incomodam.
Todavia, se nada sabemos dessa pessoa e se ela nos desperta antipatia imediata e gratuita (o que acontece amiúde), logo procuramos algum ponto para “ancorar” nosso prejulgamento negativo. E este pode ser sua opção sexual, a cor da sua pele, sua origem étnica, sua ideologia e vai por aí afora. Essa é a fórmula básica do veneno mais letal para relacionamentos, se não caracterizados pela estima e apreciação, pelo menos respeitosos e corteses: o preconceito.
Não raro somos educados (na verdade, deseducados) nesses padrões discriminatórios. E se nos deixarmos levar por opiniões dominantes e não raciocinarmos com lógica e sabedoria, carregaremos, em nós, esse cancro odioso por toda a vida.
Cito como exemplo uma experiência da minha infância. Quando nasci, a Segunda Guerra estava em pleno desenvolvimento. Os países antagonistas difundiam, pela imprensa e na opinião pública interna, ódio mortal pelo outro lado. Alemães, italianos e japoneses viam nas pessoas dos países que combatiam, “demônios”, e não seres humanos. E vice-versa. Ou seja, eram encarados dessa mesmíssima forma. Os dois lados, claro, estavam errados, erradíssimos. Mas dava-se a entender, para os respectivos públicos internos, que só havia uma solução para restaurar a “normalidade” no mundo: eliminar o “inimigo”.
Finda a guerra, as sementes do preconceito e do ódio, semeadas pelos respectivos aparatos de propaganda ao longo do conflito, permaneceram, ainda, vivas e ativas por muitos anos, diria décadas. Quando eu tinha sete anos de idade, na escola, fui vítima dessa “demonização” de uma etnia, sem sequer nada fazer para merecer esse tratamento. Dada a minha origem eslava, sou louro e de olhos azuis. Ou seja, tenho características fisionômicas muito parecidas com os dos alemães de algumas regiões da Alemanha (com os quais, infelizmente, nada tinha e nem tenho a ver).
Quando as outras crianças, por um motivo ou outro, queriam me hostilizar (ou mesmo que não houvesse razão alguma, por pura birra), cantavam-me um corinho, ainda bastante comum em 1950: “alemão batata/come queijo/com barata”. Era uma tolice infantil, claro. Mas isso me deixava furioso, levando-me a distribuir tapas e pescoções por todos os lados. Custou para que meus colegas entendessem que russo e alemão não são a mesma coisa. Um dia entenderam, mas as marcas ficaram em meu espírito.
Felizmente, toda aquela geração foi sucedida por outras, que não foram (felizmente) “inoculadas” com o vírus daquele preconceito. Hoje (felizmente) há respeito e admiração pelos inimigos de há 60 anos. Nem preciso citar o quanto os judeus, por exemplo, sofreram com a discriminação, que contra eles foi (e em alguns casos ainda é) milenar. Basta lembrar os seis milhões de pessoas dizimadas no chamado Holocausto, um dos mais hediondos crimes já perpetrados pelos homens contra seus semelhantes desde que nossa espécie existe.
Custou (e, em muitos casos ainda custa) para alguns imbecis entenderem que não há povos melhores ou piores do que outros. Custou (e ainda custa) para vários idiotas se conscientizarem que a cor da pele, dos olhos, do cabelo e outras características físicas quaisquer, não fazem de ninguém melhor e nem pior que os que lhes são diferentes. Custou (e ainda custa) para que os estúpidos e pobres de espírito se conscientizem que homens e mulheres se complementam e que um gênero não é nem um pouquinho superior ou inferior ao outro.
São constatações tão óbvias, mas que teimam em não penetrar na mente e na consciência de milhões mundo afora. E tudo isso ocorre por causa de conhecimento insuficiente. E, claro, da mania que as pessoas têm de julgar os outros, conhecendo ou desconhecendo qualquer coisa a respeito dos seus fortuitos “réus”.
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