Processo de paz é afetado
Pedro J. Bondaczuk
Os acontecimentos, muitas vezes, seguem um rumo caprichoso, tendo em sua origem pequenas questões, que acendem o estopim das maiúsculas explosões. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 28 de junho de 1914, quando o sérvio Gavrilo Princip provocou a Primeira Guerra Mundial ao assassinar o arquiduque austríaco, Francisco Ferdinando, em Sarajevo, na atual Iugoslávia.
Certamente não era este o resultado que o nacionalista pretendia com o seu ato. Mas o cenário dessa conflagração estava todo montado e o atentado constituiu-se no pretexto que as partes buscavam para pegar em armas.
Guardadas as devidas proporções, a ação do ex-soldado israelense, Ami Popper, de 21 anos, anteontem, pode ter tido idêntica conotação. Esse jovem, que foi expulso com desonra, tempos atrás, do Exército de Israel, por causa de um assunto pessoal, ao que se informa, pôs fogo no Oriente Médio.
Atirou contra um grupo de trabalhadores palestinos desarmados, numa localidade próxima de Tel Aviv, matando sete deles e ferindo mais alguns. Fosse a região qualquer outra, que não essa, e o caso já seria revestido de gravidade. Afinal, sete vidas foram suprimidas estupidamente, num gesto tresloucado e bárbaro, como as autoridades o classificaram. Imagine o leitor o que isso significa numa área em que tantos esforços diplomáticos têm sido feitos, nos últimos anos, para pacificar árabes e judeus!
A reação não tardou a acontecer. Ontem, os territórios ocupados voltaram a ficar em polvorosa, pelo segundo dia consecutivo. Em 48 horas de tumultos, pelo menos outras dez vidas foram ceifadas e 700 pessoas sofreram ferimentos. Tudo por causa de uma explosão de raiva de um lunático!
Xiitas no Líbano, por exemplo, já manifestaram intenções de retaliar. Prevendo barulho por esse lado, O Exército israelense foi posto em estado de alerta máximo em sua fronteira Norte. Atentados foram registrados em Amã, na Jordânia; em Nicósia, na Ilha de Chipre e em Istambul, na Turquia, provavelmente em represália ao incidente de anteontem.
Como das outras vezes em que ocorreram fatos desse tipo, em questão de dias os ânimos certamente ficarão acalmados. Mas o processo de pacificação sofreu um recuo enorme, lançando por terra ingentes esforços diplomáticos de muitos meses.
Até quando o Oriente Médio seguirá sendo fator de desestabilização da política internacional? É irônico que uma região de dimensões tão pequenas, cujas terras são difíceis de cultivar e virtualmente sem nenhuma riqueza, ganhe tamanho peso em relação ao Planeta inteiro.
Apesar de vivermos num período de comunicação quase total, o fanatismo ainda campeia por aqueles lados. E nada é mais perigoso do que homens que não sabem raciocinar com isenção.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 22 de maio de 1990).
Pedro J. Bondaczuk
Os acontecimentos, muitas vezes, seguem um rumo caprichoso, tendo em sua origem pequenas questões, que acendem o estopim das maiúsculas explosões. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 28 de junho de 1914, quando o sérvio Gavrilo Princip provocou a Primeira Guerra Mundial ao assassinar o arquiduque austríaco, Francisco Ferdinando, em Sarajevo, na atual Iugoslávia.
Certamente não era este o resultado que o nacionalista pretendia com o seu ato. Mas o cenário dessa conflagração estava todo montado e o atentado constituiu-se no pretexto que as partes buscavam para pegar em armas.
Guardadas as devidas proporções, a ação do ex-soldado israelense, Ami Popper, de 21 anos, anteontem, pode ter tido idêntica conotação. Esse jovem, que foi expulso com desonra, tempos atrás, do Exército de Israel, por causa de um assunto pessoal, ao que se informa, pôs fogo no Oriente Médio.
Atirou contra um grupo de trabalhadores palestinos desarmados, numa localidade próxima de Tel Aviv, matando sete deles e ferindo mais alguns. Fosse a região qualquer outra, que não essa, e o caso já seria revestido de gravidade. Afinal, sete vidas foram suprimidas estupidamente, num gesto tresloucado e bárbaro, como as autoridades o classificaram. Imagine o leitor o que isso significa numa área em que tantos esforços diplomáticos têm sido feitos, nos últimos anos, para pacificar árabes e judeus!
A reação não tardou a acontecer. Ontem, os territórios ocupados voltaram a ficar em polvorosa, pelo segundo dia consecutivo. Em 48 horas de tumultos, pelo menos outras dez vidas foram ceifadas e 700 pessoas sofreram ferimentos. Tudo por causa de uma explosão de raiva de um lunático!
Xiitas no Líbano, por exemplo, já manifestaram intenções de retaliar. Prevendo barulho por esse lado, O Exército israelense foi posto em estado de alerta máximo em sua fronteira Norte. Atentados foram registrados em Amã, na Jordânia; em Nicósia, na Ilha de Chipre e em Istambul, na Turquia, provavelmente em represália ao incidente de anteontem.
Como das outras vezes em que ocorreram fatos desse tipo, em questão de dias os ânimos certamente ficarão acalmados. Mas o processo de pacificação sofreu um recuo enorme, lançando por terra ingentes esforços diplomáticos de muitos meses.
Até quando o Oriente Médio seguirá sendo fator de desestabilização da política internacional? É irônico que uma região de dimensões tão pequenas, cujas terras são difíceis de cultivar e virtualmente sem nenhuma riqueza, ganhe tamanho peso em relação ao Planeta inteiro.
Apesar de vivermos num período de comunicação quase total, o fanatismo ainda campeia por aqueles lados. E nada é mais perigoso do que homens que não sabem raciocinar com isenção.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 22 de maio de 1990).
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