Thursday, October 02, 2008

Mistério dos nomes


Pedro J. Bondaczuk

Todas as pessoas, através dos tempos, ostentaram e ostentam um nome para as personalizar e caracterizar. Há já um bom tempo, esta prática tem sido, também, adotada, para animais de estimação, notadamente cães e gatos. Claro que não descobri a pólvora. Ao fazer essa afirmação, limitei-me a dizer o que Nelson Rodrigues chamaria de “óbvio ululante”.
Quando, porém, começou esse costume, de identificar os indivíduos, dessa forma peculiar? Duvido que alguém saiba. E quem foi a primeira pessoa que teve a genial idéia de dar um nome a alguém (provavelmente à esposa ou, se foi mulher a pioneira, ao marido)? Quando esse costume se estendeu aos filhos, pais, netos, primos etc.? E como se chamou a primeira pessoa a receber uma denominação? Adão? Eva (no caso das mulheres)? É até possível! Mas duvido que alguém saiba.
Tudo bem, esta é uma discussão inútil e meio que idiota, admito, mas não deixa de ser instigante para o raciocínio. Vocês já notaram como os nomes se casam com as pessoas que os têm? Claro que quando os pais os dão, não têm noção de que isso virá a ocorrer e nem essa é a sua intenção. Escolhem-nos ao acaso, baseados em suas fantasias e os registram ou para homenagear parentes, ou para manifestar apreço por ídolos da música popular ou do esporte, ou porque leram em algum livro e gostaram da sonoridade.
Quase nunca pensam em significados. Todos, porém, os têm. Claro que há pais que levam a fantasia longe demais e dão nomes exóticos, quando não ridículos e malucos, aos seus rebentos. Com isso, submetem-nos, anos depois, a vexames de toda a sorte, por causa, em geral, de um impulso momentâneo, embora não seja essa, claro, sua intenção. Nem sempre, porém, denominações fora do convencional são inadequadas e más, embora não deixem de trazer problemas e aborrecimentos aos respectivos “denominados”. Mesmo que fora dos padrões comuns, satisfazem, plenamente, seu objetivo: personalizar alguém.
Não faz muito tempo, o mestre Urariano Mota publicou, aqui no Literário, uma bem-humorada crônica, com toda a sua verve de exímio escritor, narrando alguns contratempos que o seu nome diferente lhe causou (e lhe tem causado) ao longo dos anos. O texto foi comentado pela Risomar Fasanaro e pela Aliene Coutinho que, por sua vez, colocaram um pouco de pimenta no assunto, lhe dando um delicioso condimento.
Estes, porém, são nomes que, mesmo fora do convencional (diria, do trivial), não são ofensivos para seus portadores e muito menos capazes de os submeter a vexames e ao ridículo. São, apenas, “diferentes”, nada mais. Bem que eu gostaria de me chamar dessa forma, ou algo parecido.
Em rápida pesquisa no Google, porém, tive acesso aos 250 nomes que a Justiça levantou, em cartórios de todo o País, e que, estes sim, são uma patifaria dos pais (e, por que não dizer, dos cartorários que os registraram, provavelmente às gargalhadas). Não vou reproduzi-los todos, claro, até porque o espaço não comporta. Quem quiser conhecê-los, pode acessar a internet.
Mas alguns são coisas absolutamente de doido. Como, por exemplo: Agrícola Beterraba Areia Leão, Antônio Querido Fracasso, Bizarro Assado, Céu Azul Do Céu Poente, Colapso Cardíaco da Silva, Francisoréia Dorotéia Dorida, Himineu Casamentício das Dores Conjugais, Hypotenusa Pereira, Janeiro Fevereiro de Março Abril, Lança Perfume Rodometálico de Andrade, Naída Navinda Navolta Pereira, Remédio Amargo, Sete Rolos de Arame Farpado, Simplício Simplório da Simplicidade Simples e Vitória Carne e Osso.
Juro por todas as juras, querido leitor, que não inventei nenhum desses nomes, até porque minha criatividade (ou imbecilidade) não chega a tanto. E nem estes: Éter Sulfúrico Amazonino Rios, Gerunda Gerundina Pif Paf Guimarães Peixoto, Inocêncio Coitadinho Sossegado, Napoleão Sem Medo e Sem Mácula, Remédio Amargo e Tanajura Vai com as Outras.
Muita gente, todavia, é mais conhecida por apelidos – que recebe na escola, no trabalho, no clube ou seja onde for – do que da forma como foi registrada em cartório. Nestes casos citados acima, isso até se justifica, não é verdade? Quando não são ofensivos, os apelidos demonstram afeição e, sobretudo, intimidade por parte dos que os impõem.
Não raro, contudo, a intenção é mesmo a de constranger, quando não humilhar, o apelidado, tornando-o motivo de riso e zombaria dos basbaques. Se, porém, uma pessoa é mais conhecida por um apelido, do que pelo nome, é porque, em geral, este é inadequado. Não condiz com a personalidade e o jeito de ser e de se comportar do nomeado.
Se essa tese for verdadeira, registraram-me de forma não compatível com o que sou e com a maneira como os outros me vêem. Desde menino (não sei por que cargas d’água) sou chamado de “Pedrão”. E olhem que nem sou tão grande assim! Mas é dessa forma que os amigos (e até os inimigos) me tratam.
John Steibeck escreveu, a respeito, no romance “A Leste do Éden” o seguinte: “Os nomes são um grande mistério. Jamais pude saber se o nome é moldado pela criança ou se a criança muda para se ajustar ao nome. Mas uma coisa se pode ter certeza: sempre que um ser humano tem um apelido, é prova de que o nome que lhe deram estava errado”. Será que o meu estava? Ou melhor, será que ainda está (pois todos os meus documentos me identificam como Pedro João Bondaczuk e não como Pedrão)? Vai saber!

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