Prestígio dos políticos está na descendente
Pedro J. Bondaczuk
A coalizão de centro-direita, que venceu as eleições do dia 16 passado na Suécia, pondo fim a seis décadas do que foi chamado de "Estado do Bem Estar Social", não está conseguindo se entender para formar o novo governo. Carl Bildt, o político incumbido da tarefa, confessou, anteontem, sua impotência em compor o gabinete, tamanhas são as discrepâncias de interesses dos diversos grupos que se dizem aliados.
O eleitorado sueco, portanto, ao revelar as divisões existentes atualmente em sua sociedade, colocou o país num impasse. Em toda parte esse fenômeno vem se repetindo. A cada dia que passa, o consenso é mais difícil de se obter.
Uma das características do nosso tempo é esta crise de confiança. Ninguém mais confia em ninguém, para nada, especialmente no que se refere à gestão do patrimônio público. Poucas vezes ao longo da história o prestígio dos políticos esteve em baixa maior.
Muitos, certamente, argumentarão com a popularidade de um George Bush, por exemplo, atualmente acima dos 70% e que após o fim da guerra do Golfo Pérsico andou beirando a unanimidade nacional, passando dos 90%. Ou mencionarão um François Mitterrand, na França; um Helmut Kohl, na Alemanha ou um John Major, na Grã-Bretanha.
Aliás, é justamente aí que está o grande problema da representatividade popular na atualidade. Na "ditadura" das pesquisas de opinião, manipuladas ou não, que ganham crescentes espaços em todas as mídias.
A esse propósito, o jornalista francês, François Henri de Vrieu, observou recentemente: "O povo continua soberano, não mais por seu voto, mas por sua opinião. O princípio que consiste em dar delegação aos eleitos para decidir no seu lugar funciona cada vez menos, porque os escrutínios são muito espaçados, enquanto a sociedade torna-se cada vez mais complexa e a informação é instantânea".
Isto, altera o comportamento dos homens públicos. O jornalista prossegue: "Um político precisa conhecer com regularidade o que seu eleitorado pensa, ele busca legitimidades intermediárias. É portanto a opinião pública que dita as decisões pelo viés das sondagens, em uma espécie de escrutínio quase direto e permanente. Mas, simultaneamente, os eleitos não ousam mais tomar decisões impopulares, mesmo se as consideram justificadas. Eles não agem mais para o futuro, porque a opinião pública só se interessa pelas medidas imediatas".
Esse imediatismo, este "aqui e agora" é que tem produzido, ou alimentado, ou agravado crises e provocado desgastes nos políticos, que raramente gozaram de tão baixa credibilidade em seus países como nos nossos tempos.
Um Mikhail Gorbachev, há pouco alçado à categoria de herói pela coragem de implodir o comunismo, hoje já é encarado como um tíbio. Um Bóris Yeltsin, mitificado não faz muito por haver frustrado a tentativa de golpe da linha dura comunista, já não é mais do que um demagogo populista para a opinião pública interna e externa. Uma Margaret Thatcher, chamada de "dama de ferro", não passa de carta fora do baralho na política britânica.
Ser político, nestas circunstâncias, é somente fazer concessões. É muito pouco. Nestas circunstâncias, não se pode deixar de dar razão ao cineasta Marco Ferreri que, numa entrevista dada há 13 anos, afirmou: "Política é uma palavra que está ultrapassada há pelo menos 40 anos". E o desgaste parece estar se aprofundando, ao invés de ser detido.
(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 26 de setembro de 1991).
Pedro J. Bondaczuk
A coalizão de centro-direita, que venceu as eleições do dia 16 passado na Suécia, pondo fim a seis décadas do que foi chamado de "Estado do Bem Estar Social", não está conseguindo se entender para formar o novo governo. Carl Bildt, o político incumbido da tarefa, confessou, anteontem, sua impotência em compor o gabinete, tamanhas são as discrepâncias de interesses dos diversos grupos que se dizem aliados.
O eleitorado sueco, portanto, ao revelar as divisões existentes atualmente em sua sociedade, colocou o país num impasse. Em toda parte esse fenômeno vem se repetindo. A cada dia que passa, o consenso é mais difícil de se obter.
Uma das características do nosso tempo é esta crise de confiança. Ninguém mais confia em ninguém, para nada, especialmente no que se refere à gestão do patrimônio público. Poucas vezes ao longo da história o prestígio dos políticos esteve em baixa maior.
Muitos, certamente, argumentarão com a popularidade de um George Bush, por exemplo, atualmente acima dos 70% e que após o fim da guerra do Golfo Pérsico andou beirando a unanimidade nacional, passando dos 90%. Ou mencionarão um François Mitterrand, na França; um Helmut Kohl, na Alemanha ou um John Major, na Grã-Bretanha.
Aliás, é justamente aí que está o grande problema da representatividade popular na atualidade. Na "ditadura" das pesquisas de opinião, manipuladas ou não, que ganham crescentes espaços em todas as mídias.
A esse propósito, o jornalista francês, François Henri de Vrieu, observou recentemente: "O povo continua soberano, não mais por seu voto, mas por sua opinião. O princípio que consiste em dar delegação aos eleitos para decidir no seu lugar funciona cada vez menos, porque os escrutínios são muito espaçados, enquanto a sociedade torna-se cada vez mais complexa e a informação é instantânea".
Isto, altera o comportamento dos homens públicos. O jornalista prossegue: "Um político precisa conhecer com regularidade o que seu eleitorado pensa, ele busca legitimidades intermediárias. É portanto a opinião pública que dita as decisões pelo viés das sondagens, em uma espécie de escrutínio quase direto e permanente. Mas, simultaneamente, os eleitos não ousam mais tomar decisões impopulares, mesmo se as consideram justificadas. Eles não agem mais para o futuro, porque a opinião pública só se interessa pelas medidas imediatas".
Esse imediatismo, este "aqui e agora" é que tem produzido, ou alimentado, ou agravado crises e provocado desgastes nos políticos, que raramente gozaram de tão baixa credibilidade em seus países como nos nossos tempos.
Um Mikhail Gorbachev, há pouco alçado à categoria de herói pela coragem de implodir o comunismo, hoje já é encarado como um tíbio. Um Bóris Yeltsin, mitificado não faz muito por haver frustrado a tentativa de golpe da linha dura comunista, já não é mais do que um demagogo populista para a opinião pública interna e externa. Uma Margaret Thatcher, chamada de "dama de ferro", não passa de carta fora do baralho na política britânica.
Ser político, nestas circunstâncias, é somente fazer concessões. É muito pouco. Nestas circunstâncias, não se pode deixar de dar razão ao cineasta Marco Ferreri que, numa entrevista dada há 13 anos, afirmou: "Política é uma palavra que está ultrapassada há pelo menos 40 anos". E o desgaste parece estar se aprofundando, ao invés de ser detido.
(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 26 de setembro de 1991).
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