Pedro J. Bondaczuk
Os sonhos sempre me intrigaram e fascinaram e, por mais que tenha estudado a respeito, nunca consegui compreender seu mecanismo e sua utilidade. Não é estranho “vivermos” uma outra vida, quando nosso corpo está em absoluto repouso, numa simulação da morte? “Convivemos” com pessoas que não lembramos de já termos sequer visto algum dia, “vemos” paisagens que nunca vimos de verdade, “vivemos” histórias que nunca aconteceram. Enfim, passa, em nossa mente, todas as noites, um “filme” inédito (provavelmente, vários) do qual somos, simultaneamente, roteiristas, diretores e atores.
Garantem os especialistas que os sonhos são projeções de nossa mente, uma espécie de “descarga” de tensões que acumulamos ao longo do dia e de preocupações que nos acometem a todo o momento e das quais apenas nos livramos (nas asas da fantasia) mediante esse processo. Será? Tenho lá minhas dúvidas.
A Bíblia deixa implícito que alguns sonhos seriam proféticos. Daniel, por exemplo, interpretou o que o rei da Babilônia havia sonhado e, com isso, conseguiu uma posição de destaque, para si e para o seu povo cativo, na corte desse monarca, pois este ficou plenamente convencido com sua interpretação.
O mesmo já havia acontecido muito antes com José, filho do patriarca Jacó, no Egito. O faraó havia sonhado com sete vacas gordas e sete magérrimas. Ficou intrigado com isso e queria porque queria saber, de qualquer forma, do que se tratava. Nenhum de seus magos e adivinhos soube, contudo, dizer se esse sonho tinha algum significado e, principalmente, qual.
José, que tinha fama de entendido no assunto, foi, então, convocado à presença do todo-poderoso monarca egípcio para dar sua opinião. E não vacilou: disse que as vacas magras significavam sete anos de fartura, com colheitas magníficas, muito superiores à média, e as magras, representariam sete anos de colheitas pífias, muito aquém do que a terra poderia produzir.
Todavia, o então jovem hebreu não se limitou a meramente interpretar o que o faraó havia sonhado. Aduziu-lhe sensatíssimas recomendações. Sugeriu, principalmente, que nos sete anos de fartura, o excedente das colheitas fosse estocado para ser utilizado no período de fome que viria a seguir.
O grande mérito do monarca egípcio, sem dúvida, foi o de haver acreditado nessa interpretação. Poderia ter descrido, o que até seria mais lógico. E foi mais longe ainda: nomeou José como ministro. Este, incontinenti, pôs em prática o que havia recomendado ao faraó. De fato, o Egito passou por sete anos de colheitas espetaculares, cujo excedente foi, cuidadosamente, estocado em silos improvisados para este fim.
Findo este período, todavia, uma prolongada seca se abateu sobre aquele império. Foi tão severa, que até as águas do Rio Nilo, normalmente caudaloso, baixaram a um nível assustador, como nunca antes havia sido visto. A terra, esturricada pelo sol, por falta de irrigação, não produzia praticamente nada. Mas os egípcios não passaram fome. Pelo contrário, chegaram, até, a exportar alimentos para países vizinhos. E tudo graças ao fato do faraó ter acreditado na interpretação do sonho feita por José e seguido suas sensatas recomendações. Trata-se de um fato? É mera alegoria? Cada um pense o que quiser, de acordo com o tamanho e a intensidade da sua fé.
Mas, voltando ao assunto, se os sonhos me intrigam (e isso não nego), os pesadelos me deixam totalmente pasmo. Os entendidos (sempre eles) atribuem esses episódios aterrorizantes à má digestão, ou, muitas vezes, a aflições agudas e incontroláveis que nos judiam, sem que percebamos. Será? Convenhamos, o diagnóstico até que faz sentido. Ou melhor, é a explicação mais lógica e racional para este fenômeno.
E por que a expressão “pesadelo”? Provavelmente porque, quando temos um, a principal característica é a sensação de termos um peso no estômago e, notadamente, no peito, o que nos atrapalha até de respirar. Queremos nos mexer e não conseguimos. Queremos gritar, e não sai som algum da garganta. Até que (ufa! que alívio!) acordamos, em geral com o coração disparado e, não raro, suando frio!
Tenho, todavia, a respeito dos pesadelos, as mesmíssimas dúvidas expressadas, certa feita, por meu grande guru, o escritor Jorge Luiz Borges, num determinado texto em que indagou e depois afirmou: “E se os pesadelos forem estritamente sobrenaturais? Digamos que fossem fendas do inferno. Dentro dos pesadelos, não estaríamos literalmente no coração do inferno? Por que não? Tudo me parece tão estranho que até isso seria possível”.
Pois é, se o inferno, de fato, existe (depende do que consideramos como tal), ao termos um pesadelo estaríamos bem no seu âmago, tamanho é o sofrimento (inclusive físico) que temos. Onde, porém, a verdade? Está com os médicos, biólogos e anatomistas, ou com estes vasculhadores, esses incorrigíveis bisbilhoteiros das emoções humanas, que são os escritores?
Os sonhos sempre me intrigaram e fascinaram e, por mais que tenha estudado a respeito, nunca consegui compreender seu mecanismo e sua utilidade. Não é estranho “vivermos” uma outra vida, quando nosso corpo está em absoluto repouso, numa simulação da morte? “Convivemos” com pessoas que não lembramos de já termos sequer visto algum dia, “vemos” paisagens que nunca vimos de verdade, “vivemos” histórias que nunca aconteceram. Enfim, passa, em nossa mente, todas as noites, um “filme” inédito (provavelmente, vários) do qual somos, simultaneamente, roteiristas, diretores e atores.
Garantem os especialistas que os sonhos são projeções de nossa mente, uma espécie de “descarga” de tensões que acumulamos ao longo do dia e de preocupações que nos acometem a todo o momento e das quais apenas nos livramos (nas asas da fantasia) mediante esse processo. Será? Tenho lá minhas dúvidas.
A Bíblia deixa implícito que alguns sonhos seriam proféticos. Daniel, por exemplo, interpretou o que o rei da Babilônia havia sonhado e, com isso, conseguiu uma posição de destaque, para si e para o seu povo cativo, na corte desse monarca, pois este ficou plenamente convencido com sua interpretação.
O mesmo já havia acontecido muito antes com José, filho do patriarca Jacó, no Egito. O faraó havia sonhado com sete vacas gordas e sete magérrimas. Ficou intrigado com isso e queria porque queria saber, de qualquer forma, do que se tratava. Nenhum de seus magos e adivinhos soube, contudo, dizer se esse sonho tinha algum significado e, principalmente, qual.
José, que tinha fama de entendido no assunto, foi, então, convocado à presença do todo-poderoso monarca egípcio para dar sua opinião. E não vacilou: disse que as vacas magras significavam sete anos de fartura, com colheitas magníficas, muito superiores à média, e as magras, representariam sete anos de colheitas pífias, muito aquém do que a terra poderia produzir.
Todavia, o então jovem hebreu não se limitou a meramente interpretar o que o faraó havia sonhado. Aduziu-lhe sensatíssimas recomendações. Sugeriu, principalmente, que nos sete anos de fartura, o excedente das colheitas fosse estocado para ser utilizado no período de fome que viria a seguir.
O grande mérito do monarca egípcio, sem dúvida, foi o de haver acreditado nessa interpretação. Poderia ter descrido, o que até seria mais lógico. E foi mais longe ainda: nomeou José como ministro. Este, incontinenti, pôs em prática o que havia recomendado ao faraó. De fato, o Egito passou por sete anos de colheitas espetaculares, cujo excedente foi, cuidadosamente, estocado em silos improvisados para este fim.
Findo este período, todavia, uma prolongada seca se abateu sobre aquele império. Foi tão severa, que até as águas do Rio Nilo, normalmente caudaloso, baixaram a um nível assustador, como nunca antes havia sido visto. A terra, esturricada pelo sol, por falta de irrigação, não produzia praticamente nada. Mas os egípcios não passaram fome. Pelo contrário, chegaram, até, a exportar alimentos para países vizinhos. E tudo graças ao fato do faraó ter acreditado na interpretação do sonho feita por José e seguido suas sensatas recomendações. Trata-se de um fato? É mera alegoria? Cada um pense o que quiser, de acordo com o tamanho e a intensidade da sua fé.
Mas, voltando ao assunto, se os sonhos me intrigam (e isso não nego), os pesadelos me deixam totalmente pasmo. Os entendidos (sempre eles) atribuem esses episódios aterrorizantes à má digestão, ou, muitas vezes, a aflições agudas e incontroláveis que nos judiam, sem que percebamos. Será? Convenhamos, o diagnóstico até que faz sentido. Ou melhor, é a explicação mais lógica e racional para este fenômeno.
E por que a expressão “pesadelo”? Provavelmente porque, quando temos um, a principal característica é a sensação de termos um peso no estômago e, notadamente, no peito, o que nos atrapalha até de respirar. Queremos nos mexer e não conseguimos. Queremos gritar, e não sai som algum da garganta. Até que (ufa! que alívio!) acordamos, em geral com o coração disparado e, não raro, suando frio!
Tenho, todavia, a respeito dos pesadelos, as mesmíssimas dúvidas expressadas, certa feita, por meu grande guru, o escritor Jorge Luiz Borges, num determinado texto em que indagou e depois afirmou: “E se os pesadelos forem estritamente sobrenaturais? Digamos que fossem fendas do inferno. Dentro dos pesadelos, não estaríamos literalmente no coração do inferno? Por que não? Tudo me parece tão estranho que até isso seria possível”.
Pois é, se o inferno, de fato, existe (depende do que consideramos como tal), ao termos um pesadelo estaríamos bem no seu âmago, tamanho é o sofrimento (inclusive físico) que temos. Onde, porém, a verdade? Está com os médicos, biólogos e anatomistas, ou com estes vasculhadores, esses incorrigíveis bisbilhoteiros das emoções humanas, que são os escritores?
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