Termina o idílio com os trabalhadores
Pedro J. Bondaczuk
O namoro da classe trabalhadora com o governo do primeiro-ministro socialista espanhol, Felipe Gonzalez, parece que acabou de vez neste seu segundo período de gestão à frente de um gabinete. Greves e mais greves estão se sucedendo, quase que diariamente, por todo o país, criando dificuldades maiores para todo o mundo.
Os operários, sobretudo, não escondem a sua insatisfação contra determinadas medidas reformistas, que as autoridades querem impor sob a alegação de que elas são indispensáveis para a modernização da economia nacional, mas que se argumenta, tenderão a fazer com que aumente ainda mais a já elevadíssima taxa de desemprego da Espanha, que passa dos 21%.
Seus problemas, todavia, não se resumem apenas a isso. Há outros grupos profundamente descontentes com a sua gestão, como é o caso dos estudantes, que durante os dois primeiros meses do ano protagonizaram verdadeiras batalhas com a polícia, em enormes e selvagens manifestações de rua em Madri, Barcelona e mais algumas cidades.
Os jovens protestavam, por seu turno, contra uma outra reforma, a do ensino, que no entender, principalmente dos secundaristas, irá elitizar o acesso às universidades caso seja implantada, o que, convenhamos, não se ajusta bem ao programa de governo de um líder que se diz socialista.
Somada a todas essas questões, ainda há a ação desesperada de terroristas, em geral ligada às lutas separatistas que se verificam em várias províncias espanholas, como são os casos dos países bascos e da Catalunha. E, para culminar, o primeiro-ministro ainda tem que ter cabeça para negociar alguns assuntos controvertidos de caráter externo, como a reivindicação nacional pelo rochedo de Gibraltar, com a Grã-Bretanha, e a manutenção ou não de bases norte-americanas no país. Aliás, as conversações nesse sentido começaram ontem, em Madri, com a chegada à cidade do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Casper Weinberger.
Parte ponderável da opinião pública local opõe-se à presença estrangeira, principalmente a de caráter militar, na Espanha. O acordo com Washington, para a manutenção das suas bases ali, (importantíssimas do ponto de vista estratégico, para a Organização do Tratado do Atlântico Norte, entidade à qual os espanhóis continuam ligados), expira no corrente mês e o caso requer uma solução urgente. É, pois, mais um tremendo abacaxi para Felipe Gonzalez descascar.
Todos esses casos provocam um natural desgaste em sua imagem e o governo, que já não tem mais a mesma e folgada maioria no Parlamento que possuía na primeira gestão, corre o risco de ser surpreendido por algumas defecções e de contar, por conseqüência, com respaldo cada vez menor para os programas reformistas que pretende implantar.
Por trás da agitação trabalhista, estão os comunistas, agora remoçados com a saída do partido do seu líder histórico, Santiago Carrillo, que criou uma outra facção para impor a sua direção. Mas as reformas de Gonzalez parece que estão conseguindo consenso, posto que contrário ao seu gabinete. Vêm descontentando tanto os sindicatos, quanto os empresários, cada qual, obviamente, por razões diferentes.
Aliás, observadores prevêem que, não somente a Espanha, mas vários outros países da Europa Ocidental, vão ter uma Primavera bastante agitada. Este é o caso, por exemplo, da França, onde em abril próximo, o controvertido projeto de reforma universitária, responsável por uma série de distúrbios em novembro e dezembro passados, será reapresentado no Parlamento e onde o saneamento das empresas estatais, com inúmeras dispensas, tende a desaguar em confrontações trabalhistas.
Na Itália, onde Giullio Andreotti vem lutando para compor um gabinete, esperam-se, também, sérios problemas, e em outros países mais. No entanto, poucos líderes, certamente, terão em suas mãos tamanha soma de casos pendentes quanto os que Felipe Gonzalez tem neste presente instante para solucionar.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 18 de março de 1987).
Pedro J. Bondaczuk
O namoro da classe trabalhadora com o governo do primeiro-ministro socialista espanhol, Felipe Gonzalez, parece que acabou de vez neste seu segundo período de gestão à frente de um gabinete. Greves e mais greves estão se sucedendo, quase que diariamente, por todo o país, criando dificuldades maiores para todo o mundo.
Os operários, sobretudo, não escondem a sua insatisfação contra determinadas medidas reformistas, que as autoridades querem impor sob a alegação de que elas são indispensáveis para a modernização da economia nacional, mas que se argumenta, tenderão a fazer com que aumente ainda mais a já elevadíssima taxa de desemprego da Espanha, que passa dos 21%.
Seus problemas, todavia, não se resumem apenas a isso. Há outros grupos profundamente descontentes com a sua gestão, como é o caso dos estudantes, que durante os dois primeiros meses do ano protagonizaram verdadeiras batalhas com a polícia, em enormes e selvagens manifestações de rua em Madri, Barcelona e mais algumas cidades.
Os jovens protestavam, por seu turno, contra uma outra reforma, a do ensino, que no entender, principalmente dos secundaristas, irá elitizar o acesso às universidades caso seja implantada, o que, convenhamos, não se ajusta bem ao programa de governo de um líder que se diz socialista.
Somada a todas essas questões, ainda há a ação desesperada de terroristas, em geral ligada às lutas separatistas que se verificam em várias províncias espanholas, como são os casos dos países bascos e da Catalunha. E, para culminar, o primeiro-ministro ainda tem que ter cabeça para negociar alguns assuntos controvertidos de caráter externo, como a reivindicação nacional pelo rochedo de Gibraltar, com a Grã-Bretanha, e a manutenção ou não de bases norte-americanas no país. Aliás, as conversações nesse sentido começaram ontem, em Madri, com a chegada à cidade do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Casper Weinberger.
Parte ponderável da opinião pública local opõe-se à presença estrangeira, principalmente a de caráter militar, na Espanha. O acordo com Washington, para a manutenção das suas bases ali, (importantíssimas do ponto de vista estratégico, para a Organização do Tratado do Atlântico Norte, entidade à qual os espanhóis continuam ligados), expira no corrente mês e o caso requer uma solução urgente. É, pois, mais um tremendo abacaxi para Felipe Gonzalez descascar.
Todos esses casos provocam um natural desgaste em sua imagem e o governo, que já não tem mais a mesma e folgada maioria no Parlamento que possuía na primeira gestão, corre o risco de ser surpreendido por algumas defecções e de contar, por conseqüência, com respaldo cada vez menor para os programas reformistas que pretende implantar.
Por trás da agitação trabalhista, estão os comunistas, agora remoçados com a saída do partido do seu líder histórico, Santiago Carrillo, que criou uma outra facção para impor a sua direção. Mas as reformas de Gonzalez parece que estão conseguindo consenso, posto que contrário ao seu gabinete. Vêm descontentando tanto os sindicatos, quanto os empresários, cada qual, obviamente, por razões diferentes.
Aliás, observadores prevêem que, não somente a Espanha, mas vários outros países da Europa Ocidental, vão ter uma Primavera bastante agitada. Este é o caso, por exemplo, da França, onde em abril próximo, o controvertido projeto de reforma universitária, responsável por uma série de distúrbios em novembro e dezembro passados, será reapresentado no Parlamento e onde o saneamento das empresas estatais, com inúmeras dispensas, tende a desaguar em confrontações trabalhistas.
Na Itália, onde Giullio Andreotti vem lutando para compor um gabinete, esperam-se, também, sérios problemas, e em outros países mais. No entanto, poucos líderes, certamente, terão em suas mãos tamanha soma de casos pendentes quanto os que Felipe Gonzalez tem neste presente instante para solucionar.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 18 de março de 1987).
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