Tuesday, September 30, 2008

Motivações de escolha


Pedro J. Bondaczuk

O que motiva as pessoas nas escolhas pessoais e/ou profissionais que fazem e que tendem a determinar os rumos de suas vidas? No caso de profissões, a maioria leva em conta, principalmente, a remuneração que se pode obter com a atividade escolhida (médico, advogado, engenheiro, jornalista, atleta profissional, cantor popular etc.) e, conseqüentemente, o status que se pode obter com ela. Fizeram a opção correta? Equivocaram-se na escolha? É difícil de saber antes de se conhecer os resultados finais. Afinal, fracasso e sucesso, na maioria dos casos, são muito subjetivos, mera questão de ponto de vista.
Caso levem em conta suas aptidões e talentos, essas pessoas tendem a se dar bem (não necessariamente, claro, pois dependem de vários fatores, entre os quais, os principais são as circunstâncias e as oportunidades). Em caso contrário... São inúmeras as histórias de fracassos de indivíduos que tinham tudo para vencer em suas atividades e, no entanto, se decepcionaram e decepcionaram os que acreditavam nelas. Fizeram escolhas equivocadas? Ou as motivações é que não eram as mais pragmáticas e se mostraram frágeis para lhes garantir o sucesso? Ou as duas coisas? Há casos e mais casos e não se pode generalizar.
Somos, porém, via de regra, afoitos e severos em demasia no julgamento dos atos e obras alheios. Exigimos dos outros comportamentos e atitudes que não temos e não admitimos outra coisa neles se não a perfeição. Por que essa postura, se somos tão imperfeitos? É verdade que somos julgados da mesma forma e, não raro, nos rebelamos com esses julgamentos e nos sentimos sumamente injustiçados com eles, esquecidos que, igualmente, somos muitíssimo injustos.
E mesmo quando agimos com justiça, deixamos de lado um ingrediente altamente desejável: a misericórdia. Aliás, a mesma que queremos para nós e para as nossas fraquezas e contradições. Somos implacáveis em nossos julgamentos. Todos os princípios humanos são imperfeitos e falhos, como a verdade (mal-recompensada para os que a buscam com exemplar dedicação), a justiça (raríssimas vezes “cega” e imparcial), além das características encaradas ostensivamente como deficiências de caráter, como orgulho, ambição e vaidade, entre outros.
Teoricamente, quando escolhemos alguma atividade, que seja compatível com o nosso preparo e talento, pesamos (e tacitamente aceitamos) todas suas vantagens e riscos. Mas não raro exigimos dos outros muito mais do que eles podem dar. Não os encaramos como seres humanos, dotados das mesmas vulnerabilidades e fraquezas que nós. Falta-nos o devido senso de proporção.
Reitero: carecemos do maior atributo de Deus, de quem somos imagem e semelhança: infinita misericórdia. Morris West escreveu a respeito, no romance “A Estrada Sinuosa”: “A verdade? Uma dedicação sagrada, mas um serviço mal-agradecido. Justiça? Uma deusa cega cuja balança nunca se equilibra perfeitamente. Orgulho? Ambição? Vaidade? Tudo isso tem importância num homem, mas não se explica. Escolhe-se uma profissão em que se deseja triunfar. Apreciam-se as suas recompensas. Aceitam-se as suas limitações. Compartilha-se a responsabilidade dos seus males. Um homem e a sua obra têm de ser julgados no estado e condição a que ele pertence. O próprio Deus Todo Poderoso tempera a justiça absoluta com uma infinita misericórdia”.
Aspiramos, sobretudo, a eternidade, mas nossas pretensões esbarram na realidade da nossa pequenez e efemeridade. Alguns crêem que nossa presença na Terra é apenas uma passagem, uma preparação, um aprendizado para algo melhor e duradouro, em outra condição desconhecida.
Claro que se trata, apenas, de questão de fé, sem a mínima fundamentação em provas. Outros, por sua parte, acham que nossa existência, enquanto seres racionais, se extingue com a extinção do corpo e que, se não aproveitarmos esta vida, não teremos outra para recuperar o tempo perdido. Aparentemente, é.
Com quem está a razão? Com os que acreditam em eternidade, sem este frágil invólucro de carne, ossos, sangue e vísceras que abriga nossa consciência? Ou com os que crêem que a matéria é a única realidade e que por isso, não se cria e não se perde, mas apenas se transforma? E que apregoam que, o que chamamos de “alma”, não passa de mera função biológica do cérebro?
Cada qual tem uma crença a propósito, de acordo com sua formação intelectual e espiritual. Mas certeza, certeza mesmo, ninguém tem (creio que jamais terá), nem a esse respeito e nem a propósito de nada. Muito menos se suas escolhas – motivadas, via de regra, por fantasias, sem nada de objetivo –, foram, são ou serão as corretas e adequadas. Sucesso e fracasso andam lado a lado e são sumamente subjetivos.
Para uns, somos uma “casta de condenados” à absoluta extinção, sem deixar, a longo prazo, o mínimo vestígio da nossa passagem por este recôndito e ínfimo recanto do universo. Para outros, somos eternos e indestrutíveis, pelo menos no que diz respeito à nossa tão misteriosa parte imaterial e nossos fracassos são somente passageiros, quando não apenas aparentes.
O poeta paulista Y. Fujyama encerra seu poema “Opus Zero” com estes versos instigantes, a esse propósito: “Que representaria o perpetuar-se/de um canto se a certeza do eterno/bafejasse os seus passos? Oh! Incerto,/trivial alimento de uma casta de condenados!”
Seríamos mera matéria, que por um capricho da natureza adquiriu, por certo tempo (que varia de uma pessoa para outra), a capacidade de inteligência e consciência e que um dia se transformará, para sempre, em algo inconsciente, “em pó” ou alguma coisa que o valha, ou temos uma alma imortal, destinada a gozar de ventura eterna? Eu não sei! Você, por acaso, sabe (não perguntei se “acredita”)? E, caso a resposta seja positiva, pode provar esse seu conhecimento?

1 comment:

Anonymous said...

Se eu conhecesse você pessoalmente, diria que leu meus pensamentos. Ontem mesmo estava pensando sobre isso. E confesso que é algo que realmente me espanta: pensar sobre as escolhas e as possibilidades. E foi pensando nisso, ontem, que eu fiz minha inscrição para outra especialização: leitura e produção textual. Acredito que a vida é um eterno recomeço. Não estamos prontos nunca. E por isso nosso ser nunca esgota, pois há sempre uma perspectiva de um futuro, este tão misterioso, que vai tomando conta de nós junto ao nosso passado e formando o nosso presente. Existir é muito complicado, mas não deixa de ser fascinante. Excelente o seu texto! Um abraço. Sua leitora e parceira em algumas escolhas, como na arte de escrever.