Thursday, March 11, 2010




Sol e Literatura

Pedro J. Bondaczuk

Em boa parte do Brasil, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, não pára de chover. A falta de sol deixa-nos com o espírito um tanto sombrio, pois somos um país tropical caracterizado por muita luz e calor praticamente o ano todo.
Alguns atribuem o que está ocorrendo ao “El Nino”, fenômeno tido como natural, que tende a desequilibrar o clima sempre que se manifesta. Outros (e me incluo entre estes), entendem que já sejam os primeiros sintomas do efeito-estufa, que certamente irá se tornar catastrófico caso não se faça algo urgente, já, de imediato, para deter as gigantescas, absurdas e irresponsáveis emissões de gás carbônico na atmosfera.
Com esse objetivo, aliás, representantes de 189 países se reuniram em Copenhague, na Dinamarca, para deliberar se fariam alguma coisa nesse sentido, o que, quanto e quando. Não chegaram a nenhum acordo.
Agem como se a Terra pudesse esperar que os homens resolvessem suas picuinhas políticas. Não pode, óbvio. Estamos todos, como se vê (usando expressão popular) “em um mato sem cachorro”. Nosso futuro e quiçá, até, nossa sobrevivência estão em mãos de pessoas nada, nada confiáveis.
Ressaltar a importância do sol para a vida, não somente a humana, mas a de qualquer criatura, é até redundante. Sem sua luz e calor, todos pereceríamos, animais e vegetais, e nosso planeta azul seria como Marte, Saturno ou Urano, caso essa estratégica estrela não existisse ou estivesse mais distante de nós do que está. Ou seja, este seria um mundo gélido e absolutamente inóspito. E, sobretudo, sombrio e triste. E caso sua distância fosse mais próxima do que é, a Terra seria massa de rocha derretida e incandescente, como Vênus e Mercúrio.
O sol é tão importante que já chegou a ser adorado por muitos povos como deus, em passado até não muito remoto. Seria de se esperar, pois, que fosse perene tema literário. E, de fato, é. Na poesia, sequer é necessário mencionar os que se inspiram nessa estrela de quinta grandeza, tantos que eles são. Certamente, você, atento leitor, conhece pelo menos um poema, ou um livro de poesias (se não inúmeros) que têm o Sol como tema ou mesmo personagem.
Em prosa, sem forçar muito a memória e nem recorrer a escritores que não sejam do Brasil, posso citar, por exemplo, “Sol negro”, de Augusto Ferraz (escritor do Recife); “Venha ver o pôr-do-sol”, da queridíssima Lygia Fagundes Telles; “O sol se põe em São Paulo”, de Bernardo Carvalho e “Dias de Verão”, de Sonia Rodrigues.
Em âmbito internacional, para não deixar de mencionar nenhum autor estrangeiro, cito o romance “Sob o sol da Toscana”, de Frances Meyes. E, claro, o best-seller do escritor afegão Khaled Hosseini, “A cidade do sol”, que continua vendendo como que, com as vendas ascendendo a algumas centenas de milhares de exemplares apenas no Brasil.
Sem desmerecer esse autor, porém, prefiro a obra imortal e clássica de Tommaso Campanella, que tem o mesmíssimo nome, e está entre os livros fundamentais da literatura utópica. Como estudioso das utopias e autor de “Por uma nova utopia”, claro que prefiro a obra deste ilustre rebelde e trapalhão se comparada ao romance do escritor afegão.
Já houve, até, um concurso literário, o Internacional de Poesia Livre, intitulado “Sol Vermelho” (não sei se se restringiu a uma única edição ou se teve seqüência e nem conheço muitos detalhes a propósito).
Nós, dos Trópicos, cultuamos, mesmo que inconscientemente, essa magnífica fonte de luz, calor e vida de maneira muito especial em relação a outros povos. Daí sermos caracterizados pela alegria e pela descontração, mesmo sem termos lá grandes motivos para isso. Tanto, que nossas três maiores festividades – uma sagrada, outra profana e outra profaníssima – são celebradas no Verão, quando o Sol está no auge do seu brilho e esplendor: Natal, Reveillon e Carnaval.



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