Clima e ânimo
Pedro J. Bondaczuk
O ano de 2010 começou de forma não muito alvissareira para boa parte das pessoas. Nas regiões sul e sudeste do Brasil, por exemplo, algumas cidades (inclusive a que resido) ainda não viram um único dia pleno de sol e de céu azul, do alvorecer ao entardecer. As chuvas, ou melhor, os temporais, até já viraram rotina para nós.
Fossem mansas e na medida certa para a época, seria fato para se comemorar. Mas não é o que vem ocorrendo. A temporada chuvosa bate recordes sobre recordes de índices pluviométricos, causando desastres, mortes e contratempos de todos os tipos. Alguns paulistanos, a exemplo do que fazem os moradores de Belém, no Pará, até já vêm marcando encontros para “depois da chuva”.
Os meteorologistas atribuem a excessiva pluviosidade desta temporada ao fenômeno El Nino, que se caracteriza pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico (que, a rigor, nem faz jus ao seu nome). Muita gente (e me incluo entre essas pessoas), no entanto, desconfia que já sejam os primeiros resultados catastróficos do “efeito estufa”. Tomara que estejamos equivocados.
E o que esse verão líquido, aquoso, molhado, úmido etc. tem a ver com literatura? Nada e tudo. Especificamente, as artimanhas do clima são assunto para os especialistas e, por extensão, para quem lida com notícias, os jornalistas e não para literatos. Todavia, esse cenário permanentemente sombrio, com nuvens escuras reduzindo ou até suprimindo a quantidade de luz, afeta direta e profundamente quem vive de escrever.
Notem, amigos escritores, como seus textos soam “diferentes” em um cenário como este que caracterizou janeiro. A tendência, ao redigirmos notadamente crônicas, é a de refletirmos nosso estado de espírito no resultado final da produção. Se estivermos alegres, se o ambiente ao nosso redor for bonito e agradável, o que escrevermos terá, mesmo que sutilmente (e embora nem seja nossa intenção) tons de alegria, descontração e felicidade. Caso contrário...
Somos animais “meteorológicos”. Ou seja, o clima afeta diretamente nossos sentimentos e emoções. Em dias belos e amenos de outono e de primavera, nossa produção tende a ser mais copiosa e de melhor qualidade. Aliás, todos os animais são afetados pela maior ou menor quantidade de luz e calor. Basta observar seu comportamento. No inverno, é um. No verão, é outro muito diferente. Em dias de sol, reagem de uma certa maneira. Nos nublados e chuvosos, a reação é diametralmente oposta. Provavelmente isso tem a ver com os níveis de melanina no organismo. Ou não, sei lá. Pelo menos, é o que suponho.
Aliado ao clima, que nos estragou metade do verão, o noticiário, desde finais de dezembro, é dos mais sombrios e desanimadores. Tragédias e mais tragédias se sucedem e pouca coisa positiva (não me lembro de nenhuma) ocorreu para contrabalançar.
Os norte-americanos fizeram uma interpretação pitoresca e, acima de tudo, otimista deste ano. Denominaram-no de “vinte dez”. Ou seja, deixaram implícito que teríamos duas dezenas de ocorrências perfeitas, com grau absoluto de excelência, a ponto de merecerem nota dez. Convenhamos, ainda não tivemos nenhuma. E o primeiro mês já foi pras cucuias.
É certo que vem aí o Carnaval. Quem aprecia (e pode aproveitar) essa festa popular certamente não estará nem aí se estiver chovendo ou fazendo sol de rachar mamona. Tenho minha maneira peculiar de participar da folia. Não é, óbvio, pulando nos bailes de salão ou torcendo por alguma escola in loco, na avenida.
Pular até que pulo, mas nos lençóis do meu leito. E não perco um único desfile na Marquês de Sapucaí. Calma, leitor, não há nenhuma contradição nessa confidência. Participo do Carnaval, sim, mas não comparecendo ao sambódromo. Faço-o de forma mais barata (na verdade gratuita), segura e confortável: assistindo este que é um dos maiores (senão o maior) espetáculos da Terra pela televisão.
Não deixa de ser, também, um sacrifício, pois uma noite sem dormir sempre cobra seu preço, principalmente se levar em conta que já não sou tão garoto assim. O festival de sons, luzes e cores, todavia, mais do que compensa tudo isso. Ademais, como estou de férias, posso perfeitamente trocar a noite pelo dia e repor minha cota, de oito horas batidinhas, de sono sem qualquer problema.
Quem sabe, o Carnaval será o primeiro dez, dos vinte que este ano sugere. O outro, espero, deve ser a conquista do hexacampeonato, por parte da Seleção Brasileira, nos gramados da África do Sul. Faltarão, pois, outros dezoito. Espero que sejam surpreendentes e marquem, não somente a minha vida, como a de todos os brasileiros. Evidentemente para melhor, claro, pois ninguém é de ferro para suportar tantas chateações e desgraças.
Pedro J. Bondaczuk
O ano de 2010 começou de forma não muito alvissareira para boa parte das pessoas. Nas regiões sul e sudeste do Brasil, por exemplo, algumas cidades (inclusive a que resido) ainda não viram um único dia pleno de sol e de céu azul, do alvorecer ao entardecer. As chuvas, ou melhor, os temporais, até já viraram rotina para nós.
Fossem mansas e na medida certa para a época, seria fato para se comemorar. Mas não é o que vem ocorrendo. A temporada chuvosa bate recordes sobre recordes de índices pluviométricos, causando desastres, mortes e contratempos de todos os tipos. Alguns paulistanos, a exemplo do que fazem os moradores de Belém, no Pará, até já vêm marcando encontros para “depois da chuva”.
Os meteorologistas atribuem a excessiva pluviosidade desta temporada ao fenômeno El Nino, que se caracteriza pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico (que, a rigor, nem faz jus ao seu nome). Muita gente (e me incluo entre essas pessoas), no entanto, desconfia que já sejam os primeiros resultados catastróficos do “efeito estufa”. Tomara que estejamos equivocados.
E o que esse verão líquido, aquoso, molhado, úmido etc. tem a ver com literatura? Nada e tudo. Especificamente, as artimanhas do clima são assunto para os especialistas e, por extensão, para quem lida com notícias, os jornalistas e não para literatos. Todavia, esse cenário permanentemente sombrio, com nuvens escuras reduzindo ou até suprimindo a quantidade de luz, afeta direta e profundamente quem vive de escrever.
Notem, amigos escritores, como seus textos soam “diferentes” em um cenário como este que caracterizou janeiro. A tendência, ao redigirmos notadamente crônicas, é a de refletirmos nosso estado de espírito no resultado final da produção. Se estivermos alegres, se o ambiente ao nosso redor for bonito e agradável, o que escrevermos terá, mesmo que sutilmente (e embora nem seja nossa intenção) tons de alegria, descontração e felicidade. Caso contrário...
Somos animais “meteorológicos”. Ou seja, o clima afeta diretamente nossos sentimentos e emoções. Em dias belos e amenos de outono e de primavera, nossa produção tende a ser mais copiosa e de melhor qualidade. Aliás, todos os animais são afetados pela maior ou menor quantidade de luz e calor. Basta observar seu comportamento. No inverno, é um. No verão, é outro muito diferente. Em dias de sol, reagem de uma certa maneira. Nos nublados e chuvosos, a reação é diametralmente oposta. Provavelmente isso tem a ver com os níveis de melanina no organismo. Ou não, sei lá. Pelo menos, é o que suponho.
Aliado ao clima, que nos estragou metade do verão, o noticiário, desde finais de dezembro, é dos mais sombrios e desanimadores. Tragédias e mais tragédias se sucedem e pouca coisa positiva (não me lembro de nenhuma) ocorreu para contrabalançar.
Os norte-americanos fizeram uma interpretação pitoresca e, acima de tudo, otimista deste ano. Denominaram-no de “vinte dez”. Ou seja, deixaram implícito que teríamos duas dezenas de ocorrências perfeitas, com grau absoluto de excelência, a ponto de merecerem nota dez. Convenhamos, ainda não tivemos nenhuma. E o primeiro mês já foi pras cucuias.
É certo que vem aí o Carnaval. Quem aprecia (e pode aproveitar) essa festa popular certamente não estará nem aí se estiver chovendo ou fazendo sol de rachar mamona. Tenho minha maneira peculiar de participar da folia. Não é, óbvio, pulando nos bailes de salão ou torcendo por alguma escola in loco, na avenida.
Pular até que pulo, mas nos lençóis do meu leito. E não perco um único desfile na Marquês de Sapucaí. Calma, leitor, não há nenhuma contradição nessa confidência. Participo do Carnaval, sim, mas não comparecendo ao sambódromo. Faço-o de forma mais barata (na verdade gratuita), segura e confortável: assistindo este que é um dos maiores (senão o maior) espetáculos da Terra pela televisão.
Não deixa de ser, também, um sacrifício, pois uma noite sem dormir sempre cobra seu preço, principalmente se levar em conta que já não sou tão garoto assim. O festival de sons, luzes e cores, todavia, mais do que compensa tudo isso. Ademais, como estou de férias, posso perfeitamente trocar a noite pelo dia e repor minha cota, de oito horas batidinhas, de sono sem qualquer problema.
Quem sabe, o Carnaval será o primeiro dez, dos vinte que este ano sugere. O outro, espero, deve ser a conquista do hexacampeonato, por parte da Seleção Brasileira, nos gramados da África do Sul. Faltarão, pois, outros dezoito. Espero que sejam surpreendentes e marquem, não somente a minha vida, como a de todos os brasileiros. Evidentemente para melhor, claro, pois ninguém é de ferro para suportar tantas chateações e desgraças.
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