Com ou sem regras?
Pedro J. Bondaczuk
Muita gente pergunta-me, amiúde, se há regras a seguir para escrever poesia. Invariavelmente respondo que não sou pessoa indicada para falar a respeito, pois não sou professor de literatura e detesto teorizar sobre o que quer que seja.
Face às insistências, porém, e para não dizerem que estou em cima do muro, topo o desafio. Mas minhas observações a respeito são estritamente pessoais, com base exclusiva no meu procedimento e, portanto, podem não ter (e de fato não têm) o rigor que alguns esperam.
Respondendo à pergunta, para escrever poesia há e não há regras. Caso você queira compor naquele estilo mais tradicional, diria clássico, com rima, métrica e ritmo, há certas exigências sim. Todavia, se não for este o caso, você poderá compor os chamados “versos brancos”, sem, portanto, atentar para tais ingredientes. Há poemas, por exemplo, que sequer são distribuídos no formato que lembre o gênero. Parecem, na verdade, crônicas, em textos corridos. No entanto... são poesias (se boas ou ruins, é outra história).
No que diz respeito à rima, recomenda-se que não se rime verbo com verbo, advérbio com advérbio, substantivo com substantivo e assim por diante. Esse é o caso que os teóricos denominam de “rima pobre”. Busque rimar, isso sim, verbo com advérbio (ou substantivo, ou adjetivo), substantivo com adjetivo e vai por aí afora.
Quanto à métrica, ou seja, ao número de sílabas de cada verso, o padrão clássico varia de cinco (muito raros) a doze (os chamados alexandrinos). Devem-se levar em conta as elisões de vogais na contagem das sílabas. Mas é preciso atentar, também, para o ritmo, que confere musicalidade e graça ao poema.
E no que ele consiste? Na acentuação tônica das sílabas. Esta pode recair na 2ª, 4ª, 6ª, 8ª e 10ª sílaba (caso se trate de decassílabos), ou na 3ª, 5ª, 7ª e 9ª e vai por aí afora. Utilizo-me das duas formas na composição dos meus poemas, embora prefira versos brancos, que me conferem maior liberdade de expressão.
Minha produção (que ascende a cerca de 800 composições, pequena se levar em conta minha idade) é distribuída, grosso modo, em 40% de poesias rimadas, com métrica e ritmo e 60% sem esses ingredientes.
Ao compor, a maneira adequada de apresentar o tema praticamente se impõe, subconsciente, de forma até automática. Não sei se isso ocorre com outros poetas. Suponho que sim, mas não posso, óbvio, garantir.
Nem tudo o que escrevo, nesse gênero, me agrada de cara. Aliás, a maior parte me desagrada, embora eu conte com certo prestígio como poeta e já tenha vencido até concurso de âmbito nacional.
Mas não faço a autocrítica no calor da produção. Tenho método peculiar para julgar se os poemas que componho são aproveitáveis ou não. Deixo-os, rascunhados, em uma gaveta da minha escrivaninha, que destinei exclusivamente a esse fim. Após um variável período de tempo, que tanto pode ser de uma semana como de um ano ou mais, releio-os com olhar sumamente crítico.
Caso me agradem, copio-os e salvo-os em pasta apropriada do meu computador. Caso contrário... Simplesmente rasgo o papel em que foram rascunhados (não raro, em papel de embrulhar pão, em guardanapos, em maços de cigarro etc. compostos em salas de espera, bares e até estádios de futebol) e eles deixam, pois, de integrar o meu acervo. A produção mambembe é, portanto, abortada e nunca mais penso nela.
Os amigos, que tiveram acesso à tal gaveta, condenam esse meu procedimento. Garantem que sou severo em demasia na autocrítica e que tenho rasgado poemas muito bons (na avaliação deles, claro), não importa se rimados, com métrica e ritmo ou se de versos brancos.
Ocorre que se essas composições forem de fato ruins, como me parecem que sejam, e eu as divulgar, quem cairá em ridículo serei eu e não eles. Por isso, reservo-me o direito de ser meu próprio (e único) juiz.
Atualmente, a tal gaveta está cheíssima, vazando papel por todos os lados. Ando com pouco tempo (virtualmente, nenhum) e por isso não procedo há pelo menos um semestre inteiro à releitura “purgativa” dos meus versos. Provavelmente, dois terços ou mais deles irão para o lixo, como meros exercícios de escrita, como “fetos” mal-formados que tenham que ser abortados.
Quanto a escrever poemas com regras ou sem elas, recomendo que vocês ajam como se sentirem melhor. O ideal é que dominem as duas formas. No momento de compor, a intuição (que muitos chamam, eufemisticamente, de “inspiração”) irá ditar-lhes, com certeza, o melhor caminho a seguir.
Todo esse bla-bla-bla meu refere-se, óbvio, apenas ao aspecto formal. Para mim, na prática, existe apenas uma única regra inviolável: a de jamais escrever violando normas gramaticais. Caso não cometa erros desse tipo, tudo o mais será válido e, portanto, aceitável. Desde que, claro, você tenha talento, seja, de fato, poeta inato e rigorosamente sincero com você mesmo e, por conseqüência, com o leitor.
Pedro J. Bondaczuk
Muita gente pergunta-me, amiúde, se há regras a seguir para escrever poesia. Invariavelmente respondo que não sou pessoa indicada para falar a respeito, pois não sou professor de literatura e detesto teorizar sobre o que quer que seja.
Face às insistências, porém, e para não dizerem que estou em cima do muro, topo o desafio. Mas minhas observações a respeito são estritamente pessoais, com base exclusiva no meu procedimento e, portanto, podem não ter (e de fato não têm) o rigor que alguns esperam.
Respondendo à pergunta, para escrever poesia há e não há regras. Caso você queira compor naquele estilo mais tradicional, diria clássico, com rima, métrica e ritmo, há certas exigências sim. Todavia, se não for este o caso, você poderá compor os chamados “versos brancos”, sem, portanto, atentar para tais ingredientes. Há poemas, por exemplo, que sequer são distribuídos no formato que lembre o gênero. Parecem, na verdade, crônicas, em textos corridos. No entanto... são poesias (se boas ou ruins, é outra história).
No que diz respeito à rima, recomenda-se que não se rime verbo com verbo, advérbio com advérbio, substantivo com substantivo e assim por diante. Esse é o caso que os teóricos denominam de “rima pobre”. Busque rimar, isso sim, verbo com advérbio (ou substantivo, ou adjetivo), substantivo com adjetivo e vai por aí afora.
Quanto à métrica, ou seja, ao número de sílabas de cada verso, o padrão clássico varia de cinco (muito raros) a doze (os chamados alexandrinos). Devem-se levar em conta as elisões de vogais na contagem das sílabas. Mas é preciso atentar, também, para o ritmo, que confere musicalidade e graça ao poema.
E no que ele consiste? Na acentuação tônica das sílabas. Esta pode recair na 2ª, 4ª, 6ª, 8ª e 10ª sílaba (caso se trate de decassílabos), ou na 3ª, 5ª, 7ª e 9ª e vai por aí afora. Utilizo-me das duas formas na composição dos meus poemas, embora prefira versos brancos, que me conferem maior liberdade de expressão.
Minha produção (que ascende a cerca de 800 composições, pequena se levar em conta minha idade) é distribuída, grosso modo, em 40% de poesias rimadas, com métrica e ritmo e 60% sem esses ingredientes.
Ao compor, a maneira adequada de apresentar o tema praticamente se impõe, subconsciente, de forma até automática. Não sei se isso ocorre com outros poetas. Suponho que sim, mas não posso, óbvio, garantir.
Nem tudo o que escrevo, nesse gênero, me agrada de cara. Aliás, a maior parte me desagrada, embora eu conte com certo prestígio como poeta e já tenha vencido até concurso de âmbito nacional.
Mas não faço a autocrítica no calor da produção. Tenho método peculiar para julgar se os poemas que componho são aproveitáveis ou não. Deixo-os, rascunhados, em uma gaveta da minha escrivaninha, que destinei exclusivamente a esse fim. Após um variável período de tempo, que tanto pode ser de uma semana como de um ano ou mais, releio-os com olhar sumamente crítico.
Caso me agradem, copio-os e salvo-os em pasta apropriada do meu computador. Caso contrário... Simplesmente rasgo o papel em que foram rascunhados (não raro, em papel de embrulhar pão, em guardanapos, em maços de cigarro etc. compostos em salas de espera, bares e até estádios de futebol) e eles deixam, pois, de integrar o meu acervo. A produção mambembe é, portanto, abortada e nunca mais penso nela.
Os amigos, que tiveram acesso à tal gaveta, condenam esse meu procedimento. Garantem que sou severo em demasia na autocrítica e que tenho rasgado poemas muito bons (na avaliação deles, claro), não importa se rimados, com métrica e ritmo ou se de versos brancos.
Ocorre que se essas composições forem de fato ruins, como me parecem que sejam, e eu as divulgar, quem cairá em ridículo serei eu e não eles. Por isso, reservo-me o direito de ser meu próprio (e único) juiz.
Atualmente, a tal gaveta está cheíssima, vazando papel por todos os lados. Ando com pouco tempo (virtualmente, nenhum) e por isso não procedo há pelo menos um semestre inteiro à releitura “purgativa” dos meus versos. Provavelmente, dois terços ou mais deles irão para o lixo, como meros exercícios de escrita, como “fetos” mal-formados que tenham que ser abortados.
Quanto a escrever poemas com regras ou sem elas, recomendo que vocês ajam como se sentirem melhor. O ideal é que dominem as duas formas. No momento de compor, a intuição (que muitos chamam, eufemisticamente, de “inspiração”) irá ditar-lhes, com certeza, o melhor caminho a seguir.
Todo esse bla-bla-bla meu refere-se, óbvio, apenas ao aspecto formal. Para mim, na prática, existe apenas uma única regra inviolável: a de jamais escrever violando normas gramaticais. Caso não cometa erros desse tipo, tudo o mais será válido e, portanto, aceitável. Desde que, claro, você tenha talento, seja, de fato, poeta inato e rigorosamente sincero com você mesmo e, por conseqüência, com o leitor.
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