Armamentismo no Terceiro Mundo
Pedro J. Bondaczuk
O indiano Marayan Desai, discípulo do Mahatma Gandhi, que esteve em fevereiro passado no Rio de Janeiro participando da Sexta Conferência do Serviço de Paz e Justiça na América Latina, fez uma previsão à qual pouca gente deu a devida importância, mas que parece que vai ser a tendência predominante nesta derradeira década do século XX. Ele alertou: "Com as mudanças no Leste europeu e o conseqüente desarmamento na Europa, a corrida armamentista vai se deslocar para o Terceiro Mundo". Evidentemente, para que isto ocorra, os agentes da lucrativa (para eles) "indústria da morte" tentarão fomentar conflitos e desavenças de toda a sorte, para justificar uma procura maior por armas que lhes garanta a manutenção dos seus imensos lucros.
Na mesma entrevista, Desai observou: "Os conflitos bélicos, depois da Segunda Guerra Mundial, vêm acontecendo sempre em países do Terceiro Mundo e com um agravante: o número de mortos civis é muito maior". Basta que se observe os últimos confrontos armados que se registraram, ou que ainda estão em andamento, para se concluir da exatidão da observação: Golfo Pérsico, Sudeste Asiático, Sul da África, América Central e subcontinente indiano. Países sumamente endividados, alguns passando por graves dificuldades de abastecimento de alimentos às suas populações, como é o caso específico da Etiópia, investem fortunas em armamentos. Desperdiçam, com isso, preciosos recursos, dos quais são carentes, que deveriam ser usados para guerras muito mais urgentes, que são as contra o analfabetismo, contra a subnutrição, contra as drogas, contra as doenças originadas pela miséria e contra a perpetuação do seu subdesenvolvimento.
A situação torna-se mais dramática, adquirindo colorações trágicas, se atentarmos para o fato que armas sofisticadíssimas, outrora privativas apenas dos arsenais das potências, estão sendo negociadas, ostensiva ou veladamente, no comércio armamentista mundial. A corrida nuclear está chegando a países que sequer venceram a etapa que os tire da condição de subdesenvolvidos. Ainda recentemente, houve o incidente da apreensão de 40 detonadores eletrônicos de bomba atômica em Londres, que se destinavam para o Iraque, bem como a controvérsia acerca de um possível supercanhão, o maior jamais construído no mundo, que essa devastada nação do Golfo Pérsico estaria fazendo.
Casos assim tendem a se multiplicar e isto os que chegam à luz da opinião pública mundial. Quantos mais não existem por aí, mantidos em absoluto segredo, impedindo, dessa forma, que se possa tomar qualquer providência? O alerta de Desai, portanto, antes de ser mera declaração alarmista, como muitos podem querer interpretar, fala de um perigo iminente, dos mais inquietadores e que precisa ser levado muito a sério.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 21 de abril de 1990)
Pedro J. Bondaczuk
O indiano Marayan Desai, discípulo do Mahatma Gandhi, que esteve em fevereiro passado no Rio de Janeiro participando da Sexta Conferência do Serviço de Paz e Justiça na América Latina, fez uma previsão à qual pouca gente deu a devida importância, mas que parece que vai ser a tendência predominante nesta derradeira década do século XX. Ele alertou: "Com as mudanças no Leste europeu e o conseqüente desarmamento na Europa, a corrida armamentista vai se deslocar para o Terceiro Mundo". Evidentemente, para que isto ocorra, os agentes da lucrativa (para eles) "indústria da morte" tentarão fomentar conflitos e desavenças de toda a sorte, para justificar uma procura maior por armas que lhes garanta a manutenção dos seus imensos lucros.
Na mesma entrevista, Desai observou: "Os conflitos bélicos, depois da Segunda Guerra Mundial, vêm acontecendo sempre em países do Terceiro Mundo e com um agravante: o número de mortos civis é muito maior". Basta que se observe os últimos confrontos armados que se registraram, ou que ainda estão em andamento, para se concluir da exatidão da observação: Golfo Pérsico, Sudeste Asiático, Sul da África, América Central e subcontinente indiano. Países sumamente endividados, alguns passando por graves dificuldades de abastecimento de alimentos às suas populações, como é o caso específico da Etiópia, investem fortunas em armamentos. Desperdiçam, com isso, preciosos recursos, dos quais são carentes, que deveriam ser usados para guerras muito mais urgentes, que são as contra o analfabetismo, contra a subnutrição, contra as drogas, contra as doenças originadas pela miséria e contra a perpetuação do seu subdesenvolvimento.
A situação torna-se mais dramática, adquirindo colorações trágicas, se atentarmos para o fato que armas sofisticadíssimas, outrora privativas apenas dos arsenais das potências, estão sendo negociadas, ostensiva ou veladamente, no comércio armamentista mundial. A corrida nuclear está chegando a países que sequer venceram a etapa que os tire da condição de subdesenvolvidos. Ainda recentemente, houve o incidente da apreensão de 40 detonadores eletrônicos de bomba atômica em Londres, que se destinavam para o Iraque, bem como a controvérsia acerca de um possível supercanhão, o maior jamais construído no mundo, que essa devastada nação do Golfo Pérsico estaria fazendo.
Casos assim tendem a se multiplicar e isto os que chegam à luz da opinião pública mundial. Quantos mais não existem por aí, mantidos em absoluto segredo, impedindo, dessa forma, que se possa tomar qualquer providência? O alerta de Desai, portanto, antes de ser mera declaração alarmista, como muitos podem querer interpretar, fala de um perigo iminente, dos mais inquietadores e que precisa ser levado muito a sério.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 21 de abril de 1990)
No comments:
Post a Comment