Academias de Letras
Pedro J. Bondaczuk
Hoje, conversarei com vocês sobre um tema polêmico, um dos que mais tenho encarado em rodas de escritores e a respeito do qual – e pode ser debatido o quanto quiser – jamais se chegará a uma conclusão definitiva. Refere-se à importância das academias de letras no cenário da cultura nacional.
É válida nossa participação nesse tipo de instituição, voltado, basicamente, à preservação da memória dos seus integrantes? Para muitos, ser acadêmico não passa de mera manifestação de vaidade. O fato de alguém fazer parte de alguma academia de letras o torna melhor escritor do que quem nunca sequer passou em frente a nenhuma delas?
Vamos por partes. Creio na validade de se pretender ser acadêmico, já que essas instituições não se destinam, apenas, a “massagear o ego” de seus membros, como os desavisados (e os invejosos) afirmam. A maioria promove cursos, palestras, exposições de artes e outros tantos eventos culturais, importantes para qualquer cidade de qualquer país.
Os acadêmicos, portanto, (salvo exceções, claro), não satisfazem aquele surrado estereótipo, ou seja, o de um bando de velhinhos que se reúne para o chazinho das cinco e para jogar conversa fora. Se vocês pensam que é isso, esqueçam. Não é!
Ademais, as academias são garantias de preservação da memória literária de um povo. Daí seus membros serem chamados de “imortais”. Por que essa designação? Porque enquanto existir a academia a que o escritor pertença, seu nome e suas obras serão sempre lembrados, estudados e exaltados por seus companheiros, muitos e muitos e muitos anos após a sua morte. É uma das obrigações do acadêmico manter viva a lembrança dos antecessores em sua respectiva cadeira.
Claro que há, nisso tudo, forte componente de vaidade. Mas que mal há nisso? Que mal existe em alguém pretender nunca ser esquecido, principalmente se tem a convicção de que fez por merecer essa lembrança e se legou uma obra literária inteligente, interessante e consistente?
Há acadêmicos que, até por questões de saúde (em geral as pessoas são eleitas para as academias muito depois dos sessenta anos), não participam de cursos, palestras e outras tantas atividades que essas instituições promovem. Nem por isso, porém, são menos importantes do que os que participam com assiduidade desses eventos.
Todavia, o fato de alguém fazer parte dessas instituições não o torna, em absoluto, melhor ou pior do que ninguém. Milhões de escritores mundo afora jamais foram acadêmicos e nem por isso suas obras são menos valiosas, inteligentes e consistentes do que as de quem está no rol dos “imortais”.
Houve tempo em que eu achava imensa bobagem disputar vaga em alguma das tantas academias de letras. Não tardou, porém, para que eu descobrisse que estava agindo como a raposa da fábula de La Fontaine, que desdenhava das uvas que não conseguia alcançar, pretextando que elas estavam verdes. Quando apareceu a chance real de eu me tornar acadêmico, mudei por completo de postura. E não me envergonho de ter mudado de opinião.
Há quase duas décadas, tenho o orgulho e a honra de integrar uma das mais tradicionais e respeitadas academias de letras do País, a Academia Campinense de Letras, e de uma cidade que se destaca no panorama cultural brasileiro como um dos mais avançados centros de ciências, artes e cultura do Brasil.
Refiro-me a Campinas, terra natal de Guilherme de Almeida, de Carlos Gomes e de Júlio de Mesquita, entre tantos e tantos e tantos outros grandes vultos nacionais. Afinal, convenhamos, não é qualquer cidade que tem o privilégio de contar com cinco universidades – entre as quais a Unicamp e a Universidade Católica de Campinas, referências universitárias em toda a América Latina – além de centenas de faculdades. A imensa maioria das capitais brasileiras nem de longe se compara a Campinas nesse mister.
A sede da Academia Campinense de Letras é um dos principais cartões postais desta metrópole de 1,2 milhão de habitantes. Destaca-se na paisagem por sua imponência e beleza. Sua fachada, para vocês que não a conhecem terem pálida idéia, reproduz o Partenon de Atenas, da Grécia antiga. É relevante obra de arquitetura e de bom-gosto.
Antes de conhecê-la internamente, e de ter a honra e o privilégio de ser seu membro, eu achava que se tratasse de um templo de alguma religião exótica qualquer, das tantas que há por aí. Ao me tornar acadêmico, tive a confirmação. E hoje não tenho o menor escrúpulo de tratá-la assim.
A Academia Campinense de Letras é, sim, um templo, mas não de adoração de alguma fictícia e estranha divindade primitiva, mas da cultura, do saber e principalmente das belas letras, da plena valorização e reverência desta “última flor do Lácio, inculta e bela”, que é a língua portuguesa.
Pedro J. Bondaczuk
Hoje, conversarei com vocês sobre um tema polêmico, um dos que mais tenho encarado em rodas de escritores e a respeito do qual – e pode ser debatido o quanto quiser – jamais se chegará a uma conclusão definitiva. Refere-se à importância das academias de letras no cenário da cultura nacional.
É válida nossa participação nesse tipo de instituição, voltado, basicamente, à preservação da memória dos seus integrantes? Para muitos, ser acadêmico não passa de mera manifestação de vaidade. O fato de alguém fazer parte de alguma academia de letras o torna melhor escritor do que quem nunca sequer passou em frente a nenhuma delas?
Vamos por partes. Creio na validade de se pretender ser acadêmico, já que essas instituições não se destinam, apenas, a “massagear o ego” de seus membros, como os desavisados (e os invejosos) afirmam. A maioria promove cursos, palestras, exposições de artes e outros tantos eventos culturais, importantes para qualquer cidade de qualquer país.
Os acadêmicos, portanto, (salvo exceções, claro), não satisfazem aquele surrado estereótipo, ou seja, o de um bando de velhinhos que se reúne para o chazinho das cinco e para jogar conversa fora. Se vocês pensam que é isso, esqueçam. Não é!
Ademais, as academias são garantias de preservação da memória literária de um povo. Daí seus membros serem chamados de “imortais”. Por que essa designação? Porque enquanto existir a academia a que o escritor pertença, seu nome e suas obras serão sempre lembrados, estudados e exaltados por seus companheiros, muitos e muitos e muitos anos após a sua morte. É uma das obrigações do acadêmico manter viva a lembrança dos antecessores em sua respectiva cadeira.
Claro que há, nisso tudo, forte componente de vaidade. Mas que mal há nisso? Que mal existe em alguém pretender nunca ser esquecido, principalmente se tem a convicção de que fez por merecer essa lembrança e se legou uma obra literária inteligente, interessante e consistente?
Há acadêmicos que, até por questões de saúde (em geral as pessoas são eleitas para as academias muito depois dos sessenta anos), não participam de cursos, palestras e outras tantas atividades que essas instituições promovem. Nem por isso, porém, são menos importantes do que os que participam com assiduidade desses eventos.
Todavia, o fato de alguém fazer parte dessas instituições não o torna, em absoluto, melhor ou pior do que ninguém. Milhões de escritores mundo afora jamais foram acadêmicos e nem por isso suas obras são menos valiosas, inteligentes e consistentes do que as de quem está no rol dos “imortais”.
Houve tempo em que eu achava imensa bobagem disputar vaga em alguma das tantas academias de letras. Não tardou, porém, para que eu descobrisse que estava agindo como a raposa da fábula de La Fontaine, que desdenhava das uvas que não conseguia alcançar, pretextando que elas estavam verdes. Quando apareceu a chance real de eu me tornar acadêmico, mudei por completo de postura. E não me envergonho de ter mudado de opinião.
Há quase duas décadas, tenho o orgulho e a honra de integrar uma das mais tradicionais e respeitadas academias de letras do País, a Academia Campinense de Letras, e de uma cidade que se destaca no panorama cultural brasileiro como um dos mais avançados centros de ciências, artes e cultura do Brasil.
Refiro-me a Campinas, terra natal de Guilherme de Almeida, de Carlos Gomes e de Júlio de Mesquita, entre tantos e tantos e tantos outros grandes vultos nacionais. Afinal, convenhamos, não é qualquer cidade que tem o privilégio de contar com cinco universidades – entre as quais a Unicamp e a Universidade Católica de Campinas, referências universitárias em toda a América Latina – além de centenas de faculdades. A imensa maioria das capitais brasileiras nem de longe se compara a Campinas nesse mister.
A sede da Academia Campinense de Letras é um dos principais cartões postais desta metrópole de 1,2 milhão de habitantes. Destaca-se na paisagem por sua imponência e beleza. Sua fachada, para vocês que não a conhecem terem pálida idéia, reproduz o Partenon de Atenas, da Grécia antiga. É relevante obra de arquitetura e de bom-gosto.
Antes de conhecê-la internamente, e de ter a honra e o privilégio de ser seu membro, eu achava que se tratasse de um templo de alguma religião exótica qualquer, das tantas que há por aí. Ao me tornar acadêmico, tive a confirmação. E hoje não tenho o menor escrúpulo de tratá-la assim.
A Academia Campinense de Letras é, sim, um templo, mas não de adoração de alguma fictícia e estranha divindade primitiva, mas da cultura, do saber e principalmente das belas letras, da plena valorização e reverência desta “última flor do Lácio, inculta e bela”, que é a língua portuguesa.
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