Sunday, March 21, 2010




Estímulo aos mais capazes

Pedro J. Bondaczuk

O presidente Fernando Collor de Mello acaba de tomar uma decisão que, se implementado de fato – já que entre nós muitas das iniciativas louváveis acabam nem mesmo saindo do papel – vai igualar, num prazo não muito longo, a tecnologia aplicada no País aos parâmetros em vigor no Primeiro Mundo.
Trata-se do Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria, que prevê investimentos da ordem de US% 5,1 bilhões até 1994, quando do término do seu mandato. A pesquisa, voltada para a aplicação prática, nunca foi privilegiada no Brasil. Nem tanto pelo Estado, mas mais pela iniciativa privada. Tanto é que nosso processo de industrialização foi retardado, exatamente, em virtude dessa dependência.
Pesquisadores de alta competência até que nós temos. Mas uma quantidade enorme deles está prestando serviços em outros países, dada a falta de condições que encontra por aqui. E os que ficam, só esperam convite para também saírem.
A despeito de precisarmos desesperadamente encontrar uma fórmula para o nosso desenvolvimento, e em ritmo acelerado, para recuperar o tempo perdido, em especial na década passada, vemos, desolados, nossos melhores cérebros emigrando, em busca de um futuro individual promissor que, convenhamos, não se conseguia vislumbrar muito por aqui até pouquíssimo tempo.
Universidade e empresa, por exemplo, salvo raríssimas exceções, nunca falaram a mesma língua. Pesquisas notáveis são desenvolvidas em nossos centros universitários que consomem tempo e dinheiro e acabam relegadas ao esquecimento, em algum arquivo qualquer, por falta de quem aposte nelas, num insensato desperdício. É evidente a ausência de comunicações entre as duas partes, como se cada uma delas se encontrasse num planeta diferente.
Nos países do Primeiro Mundo, notadamente nos Estados Unidos, muitas dessas instituições de ensino superior são financiadas e mantidas por companhias particulares. Os maiores talentos que tais escolas revelam têm toda a espécie de estímulo possível para o aperfeiçoamento, inclusive com emprego, regiamente remunerado, garantido antes mesmo de receberem o diploma.
Entre nós, ao que se saiba, isto jamais ocorreu. Nossa indústria ainda depende, como nos tempos heróicos dos seus pioneiros, de tecnologias vindas de fora, cedidas, mediante o pagamento de altíssimos royalties – quando não, simplesmente pirateadas – na maioria dos casos, quando já estão ultrapassadas.
O programa que, mal-anunciado, já vem recebendo críticas, tanto dos setores ligados às universidades, quanto das empresas, pode não ser (e de fato não é) perfeito. Mas está muitos furos à frente das regras até aqui existentes no setor de capacitação tecnológica da indústria.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 14 de setembro de 1990)

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