Wednesday, January 26, 2011




Valorização da vida

Pedro J. Bondaczuk


O respeito à vida parece diminuir a cada dia, à medida que aumentam as exigências e a complexidade do mundo moderno. E olhem que antes nunca foi tão alto assim. Normas de segurança são desrespeitadas, por exemplo, nos ambientes de trabalho, nas indústrias, no trânsito, nos hospitais e em inúmeros outros locais. As pessoas parecem não se dar conta da sua fragilidade e vulnerabilidade e afrouxam os mecanismos triviais de prevenção, que nunca foram tão eficazes. Parece que inibem o instinto mais básico de qualquer ser vivo, o de sobrevivência.

A valorização da vida é e deve ser inerente a qualquer ser racional. Começa com o respeito que cada um deve ter por si mesmo, condição básica para qualquer sentimento que possa ter em relação ao próximo. Como respeitá-lo, como se preocupar com ele se, antes de tudo, o homem não respeitar a si próprio? Há muitos que, mesmo em cargos de responsabilidade, se omitem, desrespeitam as mais simples normas de segurança e, dessa forma, não dão o devido valor à vida, deixando de lado o bom-senso, a honra e a dignidade, qualidades, aliás, cada vez mais raras nos dias que correm.

A palavra “viver” justifica, plenamente, sua condição de verbo. Caracteriza “ação” e não apenas uma e única, mas inúmeras, em quantidade quase infinita. Traz, implícita, dezenas de outros verbos vinculados, como amar, sofrer, sorrir, chorar, lutar, vencer e tantos e tantos outros. Há, todavia, pessoas que virtualmente não vivem, mas se limitam a “existir”. Fogem dos sentimentos, economizam ações e se julgam merecedoras apenas de vantagens e de proteção, sem que façam nada para justificar esse suposto merecimento.

A esse propósito, Oscar Wilde fez essa constatação lapidar: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. Vivamos, pois, plenamente, com alegria e bom-humor. Sejamos confiantes e não tenhamos medo de nos expor ao que possa, eventualmente, nos ferir ou magoar. Não nos conformemos a meramente existir, como as pedras, as águas, os abismos e os montes. Sejamos, sobretudo, humanos.

Quando falamos de vida, de forma específica – da nossa, por exemplo – deveríamos nos referir a ela sempre no plural. Vivemo-la de forma tão intensa, variada e diferente; sofremos tantas transformações, físicas, psíquicas e afetivas ao longo dos anos, que é como se renascêssemos, vezes sem conta, das cinzas, e fôssemos, a cada renascimento, outras pessoas. Temos, na verdade, “vidas” que, somadas, compõem o conjunto da nossa vida.

Nossos caminhos se cruzam, aleatoriamente, com uma quantidade imensa de pessoas, que nos influenciam e às quais influenciamos. E estes relacionamentos tanto podem ser neutros, sem causar nenhuma conseqüência (ou sequer lembrança), quanto podem nos melhorar, piorar ou até destruir. O poeta austríaco Rainer Maria Rilke trata do tema em sua “Nona elegia”, que encerra com estes metafóricos versos: “Vê, eu vivo. De quê? Nem a infância nem o futuro minguam.../Inúmera a existência/transborda-me do coração”.

Todos os que lidam com idéias, princípios e valores têm (a justa) pretensão de influenciar pessoas. É uma atitude justa, coerente e até nobre. Todavia, isso não pode ser feito pelo expediente da força, das ameaças e da coação. Só conquistando a confiança e, principalmente, o afeto alheios, a influência será eficaz, duradoura e decisiva. Isso vale, notadamente, para pais e educadores.

Há quem tente impor a ferro e fogo princípios de conduta ao próximo. Não conseguem, claro, mesmo que esses valores sejam nitidamente corretos, construtivos e essenciais. O que está errado, no caso, não são as idéias, mas o método de exposição.

As portas do espírito só podem ser abertas pela chave do amor. Ame pois, ame profunda e sinceramente os pobres de espírito, que carecem do seu esclarecimento. Faça do afeto a sua estratégia para chegar à sua mente, mediante o caminho do coração. O escritor mexicano, Domenico Cieri, escreveu o seguinte a respeito: “Ame se você quer influenciar”. Valorize a vida, esse evento raro, e por isso precioso, no universo.

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