É preciso criar alternativas
Pedro J. Bondaczuk
A Colômbia, mesmo atravessando o terrível drama de uma onda terrorista de intensidade poucas vezes vista no país (que tradicionalmente sempre conviveu com a violência), atribuída aos narcotraficantes, em sua guerra contra o governo, se prepara para ir às urnas, para escolher o sucessor do presidente Virgílio Barco Vargas.
Ao que tudo indica, o vencedor da disputa eleitoral deverá ser César Trujillo Gaviria, também liberal, a exemplo do atual governante, o que deixa entrever que a atual política de combate aos cartéis da cocaína terá seqüência. E deve ter, de fato.
Pelo problema não ter sido atacado no passado é que o país caiu nessa situação. A sociedade colombiana está, virtualmente, à mercê de criminosos, que não respeitam a vida humana e só têm uma coisa em mente: o lucro fácil.
Todavia, os desníveis sociais tornaram possível o estabelecimento das perversas máfias da cocaína no território colombiano, na medida em que a maior parte da população aufere rendas baixíssimas no exercício de um trabalho honesto.
Os traficantes pagam o triplo ou mais aos agricultores, para que trabalhem para eles, e são raros os que resistem a esta tentação. Por contarem com a simpatia de tanta gente, que depende dessa atividade criminosa para sobreviver, é que os cabeças do narcotráfico conseguem driblar a polícia.
Prova desse apoio é o fato do principal chefão do Cartel de Medellín – que, como um câncer, estende seus malignos tentáculos a países vizinhos, inclusive o Brasil – Pablo Escobar Gaviria, já ter sido deputado, e dos mais votados e conceituados.
É indispensável que, junto com o combate sem tréguas e sem quartel aos narcotraficantes, o governo colombiano crie opções para a sua população mais carente, para que ela não se sinta tentada a cair na marginalidade. Só assim será possível impedir que se arraigue em seu território um autêntico Estado dentro do Estado.
O favoritismo de Trujillo Gaviria, por outro lado, torna-o alvo predileto dos cartéis, que já trucidaram quatro candidatos presidenciais e mantêm o político liberal sob permanente tensão, multiplicando ameaças contra a sua vida e a da sua família.
Poucas vezes o mundo assistiu eleições tão perigosas e, ao mesmo tempo, tão importantes, como as de domingo, na Colômbia. Certamente, os colombianos, mesmo com a onda de atentados que varre o país nos últimos dias, não vão se omitir ao direito e ao dever de dizer não à criminalidade, à impunidade e ao arbítrio de criminosos comuns.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 23 de maio de 1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A Colômbia, mesmo atravessando o terrível drama de uma onda terrorista de intensidade poucas vezes vista no país (que tradicionalmente sempre conviveu com a violência), atribuída aos narcotraficantes, em sua guerra contra o governo, se prepara para ir às urnas, para escolher o sucessor do presidente Virgílio Barco Vargas.
Ao que tudo indica, o vencedor da disputa eleitoral deverá ser César Trujillo Gaviria, também liberal, a exemplo do atual governante, o que deixa entrever que a atual política de combate aos cartéis da cocaína terá seqüência. E deve ter, de fato.
Pelo problema não ter sido atacado no passado é que o país caiu nessa situação. A sociedade colombiana está, virtualmente, à mercê de criminosos, que não respeitam a vida humana e só têm uma coisa em mente: o lucro fácil.
Todavia, os desníveis sociais tornaram possível o estabelecimento das perversas máfias da cocaína no território colombiano, na medida em que a maior parte da população aufere rendas baixíssimas no exercício de um trabalho honesto.
Os traficantes pagam o triplo ou mais aos agricultores, para que trabalhem para eles, e são raros os que resistem a esta tentação. Por contarem com a simpatia de tanta gente, que depende dessa atividade criminosa para sobreviver, é que os cabeças do narcotráfico conseguem driblar a polícia.
Prova desse apoio é o fato do principal chefão do Cartel de Medellín – que, como um câncer, estende seus malignos tentáculos a países vizinhos, inclusive o Brasil – Pablo Escobar Gaviria, já ter sido deputado, e dos mais votados e conceituados.
É indispensável que, junto com o combate sem tréguas e sem quartel aos narcotraficantes, o governo colombiano crie opções para a sua população mais carente, para que ela não se sinta tentada a cair na marginalidade. Só assim será possível impedir que se arraigue em seu território um autêntico Estado dentro do Estado.
O favoritismo de Trujillo Gaviria, por outro lado, torna-o alvo predileto dos cartéis, que já trucidaram quatro candidatos presidenciais e mantêm o político liberal sob permanente tensão, multiplicando ameaças contra a sua vida e a da sua família.
Poucas vezes o mundo assistiu eleições tão perigosas e, ao mesmo tempo, tão importantes, como as de domingo, na Colômbia. Certamente, os colombianos, mesmo com a onda de atentados que varre o país nos últimos dias, não vão se omitir ao direito e ao dever de dizer não à criminalidade, à impunidade e ao arbítrio de criminosos comuns.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 23 de maio de 1990)
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