Tuesday, January 25, 2011




Sem solução de continuidade

Pedro J. Bondaczuk


A educação, em seu sentido mais amplo (e mais nobre) é a única forma de mudar, positivamente, o coração humano e de redimir a humanidade. A alternativa para ela, sem dúvida, é a catástrofe. Da maneira como educarmos as gerações futuras, será como elas irão se comportar quando amadurecerem. Os princípios que lhes transmitirmos, transmitirão à descendência. Se forem educadas para o bem, a grandeza, a bondade, o amor e a solidariedade, serão estas as virtudes que irão prevalecer no mundo. Em caso contrário... Restarão poucas esperanças.

Contudo, é mister que se entenda de fato o que é a educação. Em geral as pessoas, até as de vasta cultura e profundo saber, habituadas a raciocinar, confundem-na com mera “instrução”. Ela “também” é isso, mas não “apenas” isso. Esse é um dos temas recorrentes sobre os quais mais escrevi e certamente ainda irei escrever. Há quem diga que costumo ser repetitivo quando trato de educação. De fato, sou. Mas de propósito. Esse processo de repetição, em jornalismo, é o que ficou conhecido como “reiteração”. Consiste em repetir, e repetir e repetir o cerne do que se pretende comunicar, para fixar o conceito na mente do leitor. É o que faço quando abordo este assunto.

O processo de educação é permanente, contínuo, eterno, sem solução de continuidade, geração após geração. O pressuposto básico para que possamos educar alguém é o de, antes de tudo, (óbvio) sermos educados. É termos absoluta certeza da necessidade e da eficácia dos valores que transmitimos. Exige, mais do que palavras, princípios, ações e exemplos. Gilbert Chesterton acentuou: “A única educação eterna é esta: estar seguro o bastante de uma coisa para dizê-la a uma criança”.

Os conceitos que transmitirmos aos filhos, netos, sobrinhos ou alunos, irão moldar seu caráter e determinar seu comportamento vida afora. Se lhes passarmos a impressão de que o mundo é dos “espertos”, formaremos uma geração insensível, egoísta e preconceituosa. Se, pelo contrário, destacarmos valores testados e aprovados pelo tempo, como bondade, honestidade e solidariedade, estaremos contribuindo para um mundo mais justo e humano.

Estudantes... É o que todos somos, mesmo que não freqüentemos nenhuma escola e até já sejamos profissionais liberais esclarecidos e bem-sucedidos em nossas respectivas profissões. Gostamos de ostentar nossos títulos de graduação, pós-graduação, doutorado etc. e não há mal nenhum nisso. Afinal, são comprovações de sucessos obtidos em nossa busca por conhecimento e especialização.

Contudo, por mais ilustrados que sejamos, sempre teremos algo para aprender (e, por conseqüência, para ensinar). Até o analfabeto não deixa de ser perpétuo estudante. Estuda, no seu caso, como sobreviver sem o grande acervo de conhecimento contido nos livros. O indigente, por sua vez, é um estudante até mais aplicado do que a maioria, até para garantir a sobrevivência. Estuda, entre outras coisas, como conseguir seu próximo prato de comida ou de que maneira arranjar um abrigo que o proteja da chuva, vento e frio.

Estudantes. É isso o que sempre fomos, somos e seremos, enquanto estivermos vivos. O processo de educação vai do berço à tumba. Começa tão logo vemos a luz do mundo pela primeira vez e termina, para nós, enquanto alunos, ao darmos o derradeiro suspiro. Como mestres, todavia, a morte não é necessariamente o fim. Nossos livros (se os tivermos escrito, é evidente), nos sobreviverão e continuarão transmitindo experiências e princípios cem, quinhentos, mil, dez mil anos após nossa extinção.

Na escola da vida, ninguém é diplomado jamais. Não dá tempo. A morte chega antes. O escritor Jean Guetton chegou à mesmíssima conclusão (que embora óbvia, quase nunca nos damos conta), ao escrever; “Estudante: eis um título que apenas abandonamos no túmulo”.

Já o educador tem tarefa das mais importantes, que não se limita a uma única geração, reitero, mas que se estende por todas as outras. Compete-lhe transmitir (e novamente valho-me da reiteração) princípios, virtudes e valores que se perpetuem e tornem as pessoas melhores, mais abnegadas, justas e solidárias. Sua missão não se restringe à simples transmissão de conhecimentos. Caracteriza-se pelo desenvolvimento e consolidação de saudáveis e construtivos hábitos e comportamentos – individuais e coletivos.

Ele é não apenas o arauto, mas o verdadeiro construtor do futuro. É o sublime semeador de esperanças, que lança, cotidianamente, sementes e mais sementes, no solo (nem sempre fértil) das mentes e dos corações dos futuros líderes. Carrol Lewis afirmou a respeito: “A tarefa do educador moderno não é derrubar florestas, mas irrigar desertos”. Ou seja, é transformar mentalidades estéreis e esturricadas em férteis e produtivos campos, em que brotem saudáveis florestas de solidariedade e de amor. Com certeza, voltarei ao assunto.




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