Wednesday, January 19, 2011







Amizades virtuais (ou reais?)

Pedro J. Bondaczuk

Este é um momento bastante feliz da minha vida, em que vejo dois novos “filhos espirituais” deixarem minha casa e saírem pelo mundo a quixotear, tal como faz há tanto tempo quem os concebeu. Reitero que já estão à disposição do público meus livros “Lance Fatal” (contos) e “Cronos e Narciso” (crônicas).
Se cada um deles fizer metade do sucesso de “Por uma nova utopia”, lançado em 1998, já me darei por sumamente satisfeito. A referida obra, cuja totalidade dos direitos comerciais doei ao Centro de Defesa da Vida, entidade voltada à prevenção do suicídio, esgotou seis edições de dois mil exemplares cada, o que, em termos de Brasil, é excelente performance. Aquele livro não me rendeu um mísero centavo. Mas trouxe um rendimento que dinheiro nenhum paga: a certeza de que contribuí, mesmo que com ínfima parcela, para salvar inúmeras vidas.
Em relação aos dois novos filhos espirituais, não estou sendo tão generoso. Afinal, creio que está na hora de ter algum retorno, até para fazer “caixa” e custear a divulgação dos novos livros, já prontos e revisados, que pretendo publicar na sequência. Mas não é este o tema que trago à baila, hoje, neste descompromissado espaço diário, neste papo descontraído de todos os dias.
Um leitor desses fieis e leais, aos quais devo tanto, indaga-me, por email, se eu acho que é possível existir amizade sem que as duas pessoas (ou sejam lá quantas forem), se conheçam pessoalmente. Ou seja, sem que nunca tenham se encontrado, se olhado nos olhos e conversado cara a cara. Respondo que, não somente acredito, como tenho absoluta certeza da existência desse tipo de amizade.
Como deixar de considerar amigos, por exemplo, leitores meus que residem no Japão, na Alemanha, na Dinamarca e nos Estados Unidos e que, volta e meia, me escrevem comentando meus textos divulgados na internet? Eles não somente me estimulam e massageiam meu ego, como me balizam, me pautam e me fornecem parâmetros para que eu possa avaliar a quantas os meus textos andam.
Pessoas que freqüentam a minha casa e que me juram amizade “eterna” não demonstram tamanho interesse pelo que sou ou o que faço. Sinceridade? Não ponho minha mão no fogo quando me asseguram que são minhas amigas. Talvez sejam, até admito, pois não sou tão cético assim, todavia... não sabem (ou não querem, ou não podem, ou sei lá) demonstrar.
Como não considerar o pessoal aqui do Literário, de cuja companhia (pelo menos de boa parte dos integrantes) privo, há já quase cinco anos, meus amigos? É impossível! Seria desvirtuar, ou no mínimo desvalorizar o verdadeiro sentido da amizade.
Se alguém me disser que Aliene Coutinho, Eduardo Murta, Núbia do Amaral, Renato Manjaterra, Evelyne Furtado, Risomar Fasanaro, Talis Andrade, José Calvino, Mara Narciso, Marco Albertim, Sayonara Lino, Marcelo Sguassábia, Gustavo do Carmo, Fernando Yanmar Narciso, Urariano Mota, Rodrigo Ramazzini, Silvana Alves e Eduardo Oliveira Freire não são meus amigos, ficarei muito bravo, furioso mesmo. É bom ninguém nem ousar proferir essa bobagem. Todos os citados são amicíssimos, como se fossem irmãos. E, no entanto... À exceção do Renato Manjaterra, com o qual convivo na mesma empresa, dos demais não conheço, sequer, o timbre de suas vozes.
E não são só estes os diletos amigos que fiz na convivência diária e na troca de experiências literárias. Para ser fiel à verdade, e a mim mesmo, tenho que citar Daniel Santos, Celamar Maione, Fábio de Lima, Nei Duclós (esse querido conterrâneo, nascido, como eu, no Rio Grande do Sul e a quem caracterizei equivocadamente como catarinense), Laís de Castro, José Paulo Lanyi, Marco Antonio Alves, Pedro Diedrich (o queridíssimo e saudoso Seu Pedro, que Deus o tenha), Ruth Barros, Sílvio Lancelotti e Solange Solon Borges nessa mesma categoria. E mais, devo mencionar os mais de 400 escritores que generosamente contribuíram e contribuem diariamente com seus textos para a coluna Porta Aberta, dos quais destaco Urda Alice Klueger, Luiz Carlos Monteiro, Clóvis Campêlo, Fabiana Bórgia e vai por aí afora.
Muitos desses companheiros de aventura, de sonhos e de ideais ficarão para sempre vinculados a este sisudo (mas nem tanto) editor, por participarem diretamente de um dos seus livros. Mesmo quando se passarem séculos (quiçá milênios), sempre que “Lance Fatal” e “Cronos e Narciso” caírem em mãos dos nossos remotíssimos descendentes, não haverá como deixar de associar Pedro J. Bondaczuk a esses ilustres (e mui queridos) escritores.
Mesmo antes da existência dessa maravilha tecnológica, que é o computador, que possibilita esse vastíssimo oceano de informações chamado internet, já havia um jeito de se firmar amizades com pessoas que nunca estiveram pessoalmente diante de nós. Quando jovem, por exemplo, integrei vários “círculos de amizade”, alguns com centenas de membros, com os quais trocava cartas.
Algumas dessas pessoas vieram a cruzar meu caminho e se tornaram importantíssimas em minha vida. Outras permaneceram amigas, apenas, digamos, “epistolares”. Mas tal condição nunca as desmereceu e muito menos sua amizade. Hoje as coisas estão mais fáceis nesse aspecto. Além das redes sociais, como o “Orkut” (entre tantas), temos o email, o MSN, o Skype e outras ferramentas similares a nos colocarem seguidamente em contato com pessoas que, sem tais instrumentos, jamais teríamos como contatar.
Portanto, querido leitor que me fez a indagação, está aí respondida sua pergunta, e devidamente justificada. Existem, sim, amizades em que os dois amigos nunca se viram cara a cara (e talvez jamais se vejam) e que, no entanto, não ficam nada a dever às que podemos caracterizar como “presenciais”. Exemplo? A sua, claro, que tanto me honra e envaidece!

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