Desperdício da melhor “safra”
Pedro J. Bondaczuk
A atual “safra” de jovens do mundo, por qualquer parâmetro biológico que se tome para aferir o seu potencial, é, disparadamente, a maior e a mais saudável de toda a história da humanidade. O advento de novos medicamentos (erradicando moléstias contagiosas, mas de fácil controle) e hábitos alimentares corretos e bem-balanceados, produziram uma juventude vigorosa e em grande quantidade. É a maior riqueza que as 158 nações da comunidade planetária possuem.
Esses moços, se preservados, incentivados e bem-orientados, podem, finalmente, produzir a sociedade ideal, aquela com que todos sonhamos e que milhares de gerações anteriores não conseguiram construir.
Mas como agem em relação a eles os responsáveis pela condução dos diversos países em que esses moços habitam? O que seus pais fazem para preservar o patrimônio legado por milhões de pessoas brilhantes, produtivas e iluminadas, que passaram pelo mundo? E, principalmente, o que estamos preparando para lhes deixar por herança?
Na maioria dos países (quer sejam prósperos e desenvolvidos, quer miseráveis e decadentes), tanto as opiniões, quanto as necessidades dos moços não são jamais levadas em conta. A maioria dos orçamentos nacionais, por exemplo, contempla o item “Defesa” com polpudas e crescentes somas, em detrimento da educação.
Os jovens são avaliados não como os sucessores da magna tarefa de construção da sociedade ideal, mas pelo seu potencial de combate. O seu precioso vigor natural é desvairadamente desperdiçado em nauseabundos campos de batalha, em guerras estúpidas e sem qualquer sentido, como as do Vietnã, do Afeganistão, do Golfo, entre outras tantas.
E como agem, geralmente, os pais em relação a eles? Da mesma forma que recriminavam em seus próprios genitores. Castrando suas iniciativas mais brilhantes, ao invés de canalizar tanta energia para obras em que esses moços se sintam realizados e orgulhosos.
Atuam como ditadores capciosos e duros. Alguns, até, como autênticos “proprietários” dos filhos, como se estes não fossem seres humanos com direito à liberdade e independência, ricos universos que devem ser desbravados com bom-senso e sabedoria.
Tratam-nos como autênticos animais de estimação. Isso quando não os largam de vez, os ignorando por completo, imersos em sua mesquinha faina por acumular riquezas e prestígio, efêmeros bens que não irão levar para o outro lado da vida.
O homem nada leva desta existência. Ela não lhe foi legada com essa finalidade. Ele apenas deixa: boas obras, que o manterão eternamente vivo na memória da posteridade, ou feitos de tal sorte inglórios, que sempre que lembrado seu autor, as pessoas automaticamente haverão de se persignar, como que a espantar as más recordações.
E o mundo que estamos forjando para essa juventude saudável e vigorosa, qual é? Desgraçadamente, eles vão herdar um planeta poluído, violento em que a desigualdade aberrante transforma os indivíduos de irmãos de espécie, em ferozes competidores pelos empregos, pelos bens materiais (cada vez menos acessíveis a mais pessoas) e até pela comida, dádiva da natureza, que deveria ser partilhada com o máximo de eqüidade.
Mas com tudo isso de ruim que estamos preparando por herança para essa “safra” da melhor espécie de jovens, ela, certamente, saberá, com sua sabedoria, sua mentalidade aberta e sua característica franqueza (além do invejável rigor) converter em meios capazes de perpetuar a espécie humana nesse seu pequenino, mas aconchegante, domo cósmico.
Isso se a nossa estupidez e a nossa cobiça não extravasarem numa pavorosa hecatombe nuclear, que será a culminância do nosso egoísmo. Se isso ocorrer, estaremos privando essa juventude saudável até do direito mais elementar: o de ter um amanhã.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 4 de abril de 1985).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A atual “safra” de jovens do mundo, por qualquer parâmetro biológico que se tome para aferir o seu potencial, é, disparadamente, a maior e a mais saudável de toda a história da humanidade. O advento de novos medicamentos (erradicando moléstias contagiosas, mas de fácil controle) e hábitos alimentares corretos e bem-balanceados, produziram uma juventude vigorosa e em grande quantidade. É a maior riqueza que as 158 nações da comunidade planetária possuem.
Esses moços, se preservados, incentivados e bem-orientados, podem, finalmente, produzir a sociedade ideal, aquela com que todos sonhamos e que milhares de gerações anteriores não conseguiram construir.
Mas como agem em relação a eles os responsáveis pela condução dos diversos países em que esses moços habitam? O que seus pais fazem para preservar o patrimônio legado por milhões de pessoas brilhantes, produtivas e iluminadas, que passaram pelo mundo? E, principalmente, o que estamos preparando para lhes deixar por herança?
Na maioria dos países (quer sejam prósperos e desenvolvidos, quer miseráveis e decadentes), tanto as opiniões, quanto as necessidades dos moços não são jamais levadas em conta. A maioria dos orçamentos nacionais, por exemplo, contempla o item “Defesa” com polpudas e crescentes somas, em detrimento da educação.
Os jovens são avaliados não como os sucessores da magna tarefa de construção da sociedade ideal, mas pelo seu potencial de combate. O seu precioso vigor natural é desvairadamente desperdiçado em nauseabundos campos de batalha, em guerras estúpidas e sem qualquer sentido, como as do Vietnã, do Afeganistão, do Golfo, entre outras tantas.
E como agem, geralmente, os pais em relação a eles? Da mesma forma que recriminavam em seus próprios genitores. Castrando suas iniciativas mais brilhantes, ao invés de canalizar tanta energia para obras em que esses moços se sintam realizados e orgulhosos.
Atuam como ditadores capciosos e duros. Alguns, até, como autênticos “proprietários” dos filhos, como se estes não fossem seres humanos com direito à liberdade e independência, ricos universos que devem ser desbravados com bom-senso e sabedoria.
Tratam-nos como autênticos animais de estimação. Isso quando não os largam de vez, os ignorando por completo, imersos em sua mesquinha faina por acumular riquezas e prestígio, efêmeros bens que não irão levar para o outro lado da vida.
O homem nada leva desta existência. Ela não lhe foi legada com essa finalidade. Ele apenas deixa: boas obras, que o manterão eternamente vivo na memória da posteridade, ou feitos de tal sorte inglórios, que sempre que lembrado seu autor, as pessoas automaticamente haverão de se persignar, como que a espantar as más recordações.
E o mundo que estamos forjando para essa juventude saudável e vigorosa, qual é? Desgraçadamente, eles vão herdar um planeta poluído, violento em que a desigualdade aberrante transforma os indivíduos de irmãos de espécie, em ferozes competidores pelos empregos, pelos bens materiais (cada vez menos acessíveis a mais pessoas) e até pela comida, dádiva da natureza, que deveria ser partilhada com o máximo de eqüidade.
Mas com tudo isso de ruim que estamos preparando por herança para essa “safra” da melhor espécie de jovens, ela, certamente, saberá, com sua sabedoria, sua mentalidade aberta e sua característica franqueza (além do invejável rigor) converter em meios capazes de perpetuar a espécie humana nesse seu pequenino, mas aconchegante, domo cósmico.
Isso se a nossa estupidez e a nossa cobiça não extravasarem numa pavorosa hecatombe nuclear, que será a culminância do nosso egoísmo. Se isso ocorrer, estaremos privando essa juventude saudável até do direito mais elementar: o de ter um amanhã.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 4 de abril de 1985).
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