Saturday, January 15, 2011




Cheiro de best-seller

Pedro J. Bondaczuk

O escritor peruano Mário Vargas Llosa, de 74 anos de idade, é um dos meus preferidos, não somente entre os autores latino-americanos, mas de todo o mundo. Gosto do seu estilo fluente, dos seus personagens marcantes e da sua forma de narrar. Entendo que é, há muito, mais um dos tantos membros do cada vez mais vasto “clube” dos injustiçados do Nobel de Literatura.
Um dos livros de Mário Vargas Llosa que mais me encantaram foi “A Guerra do Fim do Mundo”, enfocando, de forma romanceada, o conflito de Canudos, ocorrido no sertão nordestino em fins do século XIX e início do XX, obra que dedicou a Euclides da Cunha, autor do épico (e em alguns momentos, patético, pelos acontecimentos descritos) “Os sertões”.
O escritor peruano mistura fascinantes personagens fictícios com protagonistas reais daquele drama, como por exemplo Antonio Conselheiro e seus mais leais seguidores, e narra histórias paralelas (que inventou), mas sem desvirtuar o foco, o tema central, ou seja, o relato histórico do que de fato ocorreu. Para mim, portanto, é um gênio dessa atividade que tanto amo e à qual consagrei a minha vida: a Literatura.
Mas trago Vargas Llosa à baila não para tratar dessa obra marcante, sobre a qual já escrevi muito, ou do seu estilo peculiar, da sua temática ou mesmo da sua biografia. Cito-o porque ele acaba de editar um novo livro, por enquanto sem tradução para o português, intitulado “El sueño del celta”, prestes a chegar às livrarias de várias partes do mundo . Por enquanto, os privilegiados serão os leitores espanhóis, latino-americanos e os de origem hispânica dos Estados Unidos.
O escritor peruano despendeu três anos de pesquisas e de textos para concluir esse novo romance de caráter biográfico. Na obra, narra a vida do irlandês Roger Casement, personagem que conheceu meio que por acaso, após a leitura de uma história publicada por Joseph Conrad.
O livro anterior de Mário Vargas Llosa ( que alterna sua vida entre Madri e Lima), intitulado “Travessuras da menina má”, havia sido lançado há já quatro anos. Portanto, estava mais do que na hora dele retornar ao mercado editorial. E retorna, ao que tudo indica, em grande estilo. Li, tão somente, uma sinopse resumidíssima, um “resumo do resumo”, e em espanhol, de “El sueño del celta”. Mas encantei-me com a narrativa e fiquei com aquele gostinho de “quero mais”. Pudera! O homem é um gênio!
Roger Cassement foi um diplomata britânico, caracterizado pela rebeldia. Serviu durante anos ao governo de Sua Majestade inglesa, até se engajar na luta pela independência da Irlanda do Sul (atual Eire). Foi preso, então, como agitador e condenado à morte.
Entre suas ações políticas, destacam-se as denúncias de abusos cometidos pela Bélgica no processo de colonização do Congo Belga (atual República do Congo), território tratado como propriedade particular do rei Leopoldo e do tratamento dado por donos de seringais aos seringueiros do Amazonas, o de verdadeiros escravos, quando do auge da exploração da borracha, notadamente no início do século XX.
Apenas essas referências já são suficientes para considerar fascinante este personagem, que morreu em 1916. E Vargas Llosa, com certeza, explorou muito bem esta faceta rebelde e revolucionária de Cassement, que viveu apenas 52 anos (nasceu em 1864), ser poder ver realizado o sonho de independência de sua Irlanda natal.
Destaco que gosto de Vargas Llosa como escritor, mas não concordo com boa parte das suas idéias políticas, com viés de direita (liberal ou neoliberal). Recordo que ele foi candidato, em 1990, à presidência da república do Peru, mas foi derrotado nas urnas por Alberto Fujimori, condenado, mais tarde, à prisão, e, se não me falha a memória, foragido de justiça. Nesse caso, se eu fosse eleitor peruano, teria votado no escritor, apesar, reitero, de divergir de muitas das suas idéias. Mas não é, óbvio, o Llosa político o que tanto admiro.
Apenas a título de registro, destaco alguns outros livros dele que li (e vários reli diversas vezes, com avidez e encantamento), como “Conversa na catedral”, “Tia Júlia e o escrevinhador”, “Pantaleão e as visitadoras”, “A cidade e os cachorros” e “A casa verde”. Torço para que “El sueño del celta” não tarde a ser lançado no Brasil, para meu esclarecimento e deleite (e acredito que o de vocês também, preclaros leitores). Sinto no ar um “cheiro” de outro best-seller de um grande “escrevinhador”, como ele se declara num de seus mais famosos livros.

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