Monday, October 11, 2010




Só o futebol ainda me deve

Pedro J. Bondaczuk



Acompanhei a Copa do Mundo de 2006, disputada na Alemanha, em minha casa, lugar onde consegui a façanha de criar um mundo a parte, restrito e particular, bem à minha feição. Se a Seleção Brasileira foi enorme decepção nesse período, não posso (felizmente) dizer o mesmo em relação à minha vida. Os últimos dez ou quinze anos, pelo menos, têm se constituído numa era de contínua felicidade, em que as satisfações se sucedem e se renovam.
Trago a público esse testemunho não no sentido de me vangloriar ou de querer ser mais do que os outros, pois tenho consciência dos meus defeitos e limitações. O objetivo é permitir que mais pessoas me conheçam, mesmo que superficialmente. Para atestar a veracidade destas revelações, conto com o testemunho de vários dos participantes deste espaço que, de uma forma ou de outra, convivem comigo, ou profissional ou socialmente e, portanto, me conhecem.
Reitero que notadamente estes dez primeiros anos do século XXI vêm sendo um período de intensas alegrias e surpreendentes sucessos que, prudentemente, busco não somente preservar, mas, se possível, multiplicar.
A época da disputa da Copa do Mundo de 2006 eu estava com 63 anos e meio (lembro, mais uma vez, que faço aniversário em janeiro). Para minha surpresa (e satisfação, claro), os tão temidos sintomas de envelhecimento que diziam que eu sentiria ao me tornar sessentão, naturais em qualquer pessoa, não se manifestaram. Não, pelo menos, ainda. O tempo, benignamente, tem me poupado.
Passei dos sessenta e sinto-me o mesmo de quando ainda tinha quarenta. Tenho o privilégio (ou a sorte?) de gozar de plena saúde física e mental. Atribuo isso ao fato de manter corpo e mente sempre ocupados e de não perder o interesse pela vida. Ademais, boa parte dos meus projetos foi concretizada com sucesso. Não toda ela, claro. A realização completa jamais irá ocorrer. Quero mais, e mais e mais, sempre mais. Não bens materiais, ressalto, mas experiências e conhecimentos, que são as grandes riquezas nas quais sempre apostei minhas fichas. Isso não quer dizer que eu seja mal-agradecido à vida. Ocorre que tenho a consciência de que a insatisfação (a normal e controlada) é a mola-mestra do progresso, a impulsionadora dos nossos planos e ações.
No início de 2006, logo no mês de janeiro, encerrei outro ciclo profissional na minha trajetória. Afastei-me da empresa em que então trabalhava, para dedicar maior tempo a atividades como produção de textos para sites, jornais e revistas, que demandavam horas e horas de pesquisa e redação. Nos quatro anos anteriores, tive o privilégio de emprestar meus conhecimentos e facilidade de escrever à “Arte Brasil Publicidade” (o Marcelo Sguassábia certamente a conhece), na função de redator publicitário.
Foi uma experiência profissional ímpar, das mais gratificantes, que me enriqueceu interiormente e que considerei como outro desafio superado com êxito. Ao exercer essa atividade, praticamente completei o ciclo da comunicação. Só não fui, mesmo, profissional de TV. No mais... No jornalismo, por exemplo, fui desde assessor de imprensa a editor-chefe de jornal, passando por todo o ciclo produtivo da mídia impressa, como revisor, repórter, comentarista, editorialista etc.etc.etc. Fui, também, radialista, profissão em que me iniciei bastante jovem, diria que adolescente. A publicidade, portanto, completou o elenco de profissões ligadas à comunicação que exerci.
Antes, de 1999 a 2001, já havia sido assessor parlamentar dos vereadores Romeu Santini – atual secretário de Relações Internacionais da Prefeitura Municipal de Campinas – e Terezinha de Carvalho. Quando pensava que já havia esgotado todas as experiências em funções ligadas à comunicação, eis que em março de 2006 surgiu a oportunidade de viver mais uma que ainda não tinha vivido: a de editor de um espaço nobre da internet voltado à literatura.
A convite da direção do Comunique-se, assumi a responsabilidade de coordenar, revisar e editar este Literário (que em março de 2011 completará cinco anos). Há quase dois anos, esta nossa revista literária eletrônica diária ganhou vida própria, desvinculada de qualquer empresa ou organização, e cada vez mais democrática e dinâmica.
No início de 2007, resolvi voltar ao mercado de trabalho formal. Não resisti ficar fora dele por mais de um ano, embora essa volta não se deva a questões financeiras. Ocorre que sou maluco por desafios e mais um deles se apresentou à minha frente. E eu não poderia recusá-lo. Não recusei.
Fui contratado pela Informática dos Municípios S.A., empresa de economia mista, para editar o Diário Oficial de Campinas, atividade que ainda exerço com entusiasmo e alegria. Mas, convenhamos, é outro baita desafio que encaro.
Em 2006, duas de minhas filhas já estavam casadas e a mais velha delas havia me dado um neto. Haviam restado em casa, além da esposa, os dois filhos mais novos. As despesas, por conseqüência, caíram bruscamente, enquanto que as receitas ou se mantiveram estáveis, ou se multiplicaram. Pela primeira vez na vida podia trabalhar exclusivamente por prazer, pelo orgulho de realizar uma obra consistente e boa, sem ter que pensar em remuneração (embora esta não fosse e não seja desprezível, confesso).
Como se vê, 2006 marcou a sequência de um dos períodos mais ricos e férteis da minha vida (que ainda prossegue e creio que se expandirá). Só não me era (e ainda não me é) satisfatória a minha grande paixão de infância: o futebol. Meu clube do coração, a Ponte Preta, segue batalhando em uma divisão inferior do Campeonato Brasileiro, tentando o acesso à Série A, de onde nunca deveria ter sido rebaixada. E a Seleção Brasileira conseguiu me decepcionar de novo, e em duas copas consecutivas.
Minha expectativa e grande esperança é que haja uma reversão e que as coisas sejam repostas em seus devidos lugares até o fim de 2010, com o acesso da Ponte Preta e nos próximos quatro anos, com a conquista do Mundial de 2014, pela Seleção, que o Brasil vai organizar 64 anos após o tristemente inesquecível Maracanazo.

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