Sunday, October 10, 2010




Novos tempos para a América Latina

Pedro J. Bondaczuk

O ano recém findo, a despeito de todos os reveses que trouxe para a América Latina, principalmente na área econômica, possibilitou, por seu turno, um grande avanço. Os povos que compõem a região deixaram um pouco de lado as tolas controvérsias que os dividem e esboçaram um pacto implícito de união continental, a princípio tímido, mas que promete se expandir.

O movimento começou no chamado “Cone Sul”, com as seguidas trocas de visitas e assinaturas de acordos entre os presidentes José Sarney, Raul Alfonsin e Júlio Maria Sanguinetti. E culminou com a realização, em fins de novembro, da reunião de cúpula do “Grupo dos Oito”, em Acapulco, no México, congregando os mandatários dos grupos de Contadora e de Apoio.

Outro fato favorável foi a obtenção do acordo “Esquipulas-II”, firmado na Guatemala, em 7 de agosto, pelos cinco dirigentes nacionais da América Central. Se esse tratado não surtiu ainda os efeitos desejados, pelo menos mostrou que os centro-americanos começam a adquirir consciência de que a solução dos seus seculares problemas passa por suas próprias capitais (e exclusivamente por elas) e nunca por Washington e Moscou, que até aqui vinham se constituindo no grande eixo das decisões atinentes à área.

Há dez anos, no raiar de 1978, dos 20 países da América Latina, incluindo os três mais importantes do Caribe – Cuba, Haiti e República Dominicana – apenas cinco tinham governos eleitos pelo povo: Colômbia, Venezuela, México, Costa Rica e os próprios dominicanos.

Passada uma década, no início de 1988, esse quadro reverteu-se dramaticamente para melhor. Hoje, somente Paraguai, Chile e Cuba podem ser chamados, tecnicamente, de ditaduras. Os haitianos vivem uma difícil transição, marcada por frustrações, mas há no horizonte dessa pequena República, considerada a mais pobre do Hemisfério Norte, uma esperança (posto que débil) de normalização, com as eleições presidenciais adiadas (deveriam Ter sido realizadas em 29 de novembro passado) prometidas e marcadas para o dia 18 próximo. Nos demais países há o “Estado de Direito”.

É certo que todas as jovens democracias passaram por severas provas em 1987. Raul Alfonsin, por exemplo, teve que enfrentar uma rebelião militar. José Sarney foi levado de roldão por uma perversa hiperinflação, de 365,9%. Leon Febres Cordero, do Equador, chegou a ser seqüestrado. Víctor Paz Estenssoro precisou usar mão-de-ferro na Bolívia.

Todos enfrentaram, em maior ou menor grau, tensões, perigos e ameaças. Mas sobreviveram. E foi a América Latina que deu o Prêmio Nobel da Paz do ano, na figura de Oscar Arias Sanchez. A região, pois, saberá superar novos temporais e não deixar morrer a frágil flor da democracia. Todos devemos nos empenhar para isso.

(Artigo publicado na página 17, Internacional, do Correio Popular, em 3 de janeiro de 1988).

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