Wednesday, October 13, 2010




O cara marrudo que... fracassou

Pedro J. Bpndaczuk

Carlos Caetano Bledom Verri. Este era o nome do “antídoto” encontrado pela CBF contra o “veneno” que intoxicou a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2006, levando-a ao fracasso e, principalmente, ao descrédito junto ao nosso torcedor. Naquele Mundial, foram detectadas várias mazelas. Havia consenso (ou quase) em torno dos defeitos dos comandados de Carlos Alberto Parreira que os levaram ao vexame. Entre estes podiam ser listados: falta de comprometimento dos convocados, colocação de interesses pessoais acima dos do grupo, indisciplina (sucessivas fugas de jogadores para boates), excesso de badalação (o oba-oba de Wegis) e atletas se apresentado fora de forma física, ou seja, gordos, entre outras (digamos) “anomalias”.
“Quem é esse cara?”, deve estar se perguntando o sujeito que não é familiarizado com o mundo da bola, ou o distraído, ou mesmo o torcedor explicitamente desinformado. Para quem sabe de quem se trata, mas está na dúvida na hora de associar o nome ao apelido, eu confirmo: Sim, é ele mesmo, o Dunga. Não o da Branca de Neve e os Sete Anões, claro.
É aquele que (injustamente) teve seu nome vinculado à fracassada seleção de 1990, comandada por Sebastião Lazzaroni, como paradigma do anti-futebol que no entender de muitos caracterizou nossa performance n aquele Mundial. Sim, é aquele que soube dar a volta por cima e que em 1994 ergueu o troféu Fifa, lídimo tetracampeão, como o capitão da equipe. É o volante raçudo e determinado, que foi vice-campeão na França, cuja atuação não mereceu nenhum reparo no dia em que o grupo inteiro pareceu ser um bando de zumbis em campo. É o jogador combatido pela imprensa comprometida, provocado, achincalhado, mas que passou com sucesso por grandes clubes do futebol brasileiro, como Corinthians, Santos, Vasco da Gama e Internacional de Porto Alegre (onde iniciou e terminou a carreira de atleta) que todo treinador sonha em ter.
“Mas esse sujeito nunca foi técnico”, era o que mais se ouvia quando foi anunciado que iria assumir o cargo. Dunga se propôs, desde o seu primeiro dia de trabalho, a montar, para 2010, um grupo com a sua cara, com suas características: seriedade, vigor físico, comprometimento e, acima de tudo, orgulho em defender a seleção.
Sua atuação, nos primeiros amistosos, foi apenas discreta. Dizia-se, à boca pequena, que ele estava apenas guardando lugar para outro gaúcho marrudo (como ele), Luís Felipe Scolari, tão logo este se desvencilhasse do compromisso assumido com a federação portuguesa de comandar a equipe de Portugal na copa da Uefa. Era, como se viu na sequência, uma afirmação tola e sem fundamento.
Mesmo sem que o Brasil jogasse o futebol dos sonhos da torcida (como em 1958, 1970 ou 1982), foi ganhando corpo, se entrosando, melhorando a performance e acumulando resultados positivos. Isso começou a dividir a torcida. Já não havia unanimidade no nefasto coro de “fora Dunga”. A Seleção acumulou longa invencibilidade em amistosos (chegando a igualar o recorde da Espanha), inclusive vencendo equipes do primeiro escalão internacional, como a Itália, por exemplo. Conquistou, na raça, uma Copa América, que parecia perdida. Liderou e foi campeã das eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2010. Culminou com a conquista da Copa das Confederações na África do Sul.
O Brasil vencia, e vencia muito, mas não convencia. Foram raros os jogos em que convenceu o torcedor. Mas Dunga conseguiu instalar dúvida na cabeça dos aficionados. “Será que esse cara marrudo, que começou a carreira de treinador justo na seleção, vai ser campeão mundial, calando a boca de todo o mundo?” Tudo se encaminhava nessa direção.
Porém Dunga cometeu um erro imperdoável, um pecado mortal, que comentarei num próximo texto. Por enquanto, farei suspense a respeito. Sua rígida disciplina, que foi fator de sucesso por praticamente quatro anos, ironicamente, na hora da verdade, se transformou em surpreendente pedra de tropeço.
Nas eliminatórias, o Brasil fez campanha bastante parecida com a que havia feito quatro anos antes, sob o comando de Carlos Alberto Parreira. Venceu nove jogos, empatou sete e perdeu dois. Marcou 31 gols, sofreu 11, com saldo positivo de 20. Somou 33 pontos.
As vitórias brasileiras foram: Equador (5 a 0, em 17 de outubro de 2007); Uruguai (2 a 1, em 21 de novembro de 2007); Chile (3 a 0, em 7 de setembro de 2008); Venezuela (4 a 0, em 12 de outubro de 2008); Peru (3 a 0, em 1º de abril de 2009); Uruguai (4 a 0, em 6 de junho de 2009); Paraguai (2 a 1 em 10 de junho de 2009); Argentina (3 a 1, em 5 de setembro de 2009) e Chile (4 a 2, em 9 de setembro de 2009).
Os empates do Brasil foram: Colômbia (0 a 0, em 14 de outubro de 2007); Peru (1 a 1, em 18 de novembro de 2007); Argentina (0 a 0, em 18 de junho de 2008); Bolívia (0 a 0, em 10 de setembro de 2008); Colômbia (0 a 0, em 15 de novembro de 2008); Equador (1 a 1, em 29 de março de 2009) e Venezuela (0 a 0, em 14 de outubro de 2009).
Bolívia e Paraguai voltaram a nos derrotar, a exemplo de quatro anos antes. Os paraguaios, em Assunção, nos surpreenderam, por 2 a 0, graças à atuação do “gordinho” Cabañas, em 15 de junho de 2008. Já os bolivianos, para não se fugir à regra, valeram-se, mais uma vez, do fator altitude, para nos vencer, em La Paz, por 2 a 1, em jogo disputado em 11 de outubro de 2009.
No início de 2010, conforme pôde ser constatado por pesquisa de opinião, a avaliação do trabalho de Dunga mudou de água para vinho. A maioria dos brasileiros aprovava seus métodos e achava que o hexa viria, fatalmente, para a sede da CBF, no retorno da África do Sul. Contudo... não veio. E cada qual tem lá suas explicações sobre os motivos. Afinal, não temos 200 milhões de técnicos de futebol?!

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