Tuesday, October 05, 2010




Pouca técnica, mas muita eficiência

Pedro J. Bondaczuk

A Copa do Mundo de 2002 foi a que mais me surpreendeu de todas as que tive a oportunidade de acompanhar. E olhem que só perdi três delas (as de 1930, 1934 e 1938), por não haver ainda nascido quando foram disputadas.
A surpresa, quero deixar bem claro, não se deveu à conquista do pentacampeonato pelo Brasil. Afinal, o futebol brasileiro, por tudo o que já fez nos últimos 80 anos, por mais fraco que seja o grupo na ocasião, tem que ser, sempre, considerado favorito em qualquer competição internacional que venha a participar, seja copa do mundo, seja copa América, seja Copa das Confederações ou seja que torneio for. Isso é ponto pacífico. Só um tolo, ou um sujeito totalmente desinformado, pensará de forma diferente.
A surpresa ficou por conta do “como” o Brasil foi campeão. Afinal, aquela não era uma seleção técnica, não, pelo menos, como as de 1950, 1958, 1962, 1970 ou 1982. Mas foi de uma eficiência a toda a prova. Sua campanha, a exemplo da de 1970, foi impecável, com sete vitórias em sete jogos. E aquela equipe de 40 anos atrás, que tinha cinco camisas 10 jogando simultaneamente, era muitos furos superior, em habilidade, à de 2002.
Não vou dizer, pois, que não confiava nos comandados de Luís Felipe Scolari. Tanto confiava, que essa foi a Copa que me exigiu mais sacrifícios para acompanhar. Por causa do fuso horário, as transmissões dos jogos eram de madrugada aqui no Brasil, com a maioria deles começando às 3h30. Ora eu ficava acordado ao término das partidas e só então me recolhia para as minhas oito horas regulares de sono, ora acordava minutos antes do seu início (com o auxílio do despertador), indo deitar bem mais cedo, claro. A primeira alternativa foi a mais comum.
Confiava, portanto, no sucesso da Seleção. Mas... com um pé atrás. Não era uma confiança absoluta. Ou seja, confiava, desconfiando. Por que? Porque aquele grupo que iria representar o Brasil havia feito péssima eliminatória, a pior da história do nosso futebol em todos os tempos. Além do que, tecnicamente, estava longe de ser a equipe dos meus sonhos.
Em 2002, eu vivia experiências novas, tanto profissionais, quanto afetivas. Há dois anos, em 2000, conhecera a delícia de ser avô pela primeira vez, com o nascimento do meu primeiro neto, do meu xará Pedro Luís. E posso assegurar que é uma emoção muito grande e saudabilíssima. Estava, na oportunidade, prestes a entrar na faixa dos 60 anos (para ser mais exato, tinha, então, 59 anos e meio).
Profissionalmente, vivia uma experiência também inédita: chefiava a redação de um pequeno jornal diário, às voltas com graves dificuldades financeiras, o “Roteiro”, que buscava afirmação junto aos leitores e seu espaço no competitivo cenário campineiro, em que dois gigantes, o9 “Diário do Povo” e o “Correio Popular” detinham (como ainda detêm e sempre detiveram) a liderança. Tinha, pois, como rivais, justamente as duas empresas onde eu havia desenvolvido a maior parte da minha carreira jornalística. Isso era novíssimo para mim.
Há já bom tempo, eu investia na imprensa segmentada, nos chamados “nanicos”, escrevendo para uma rede de pequenos periódicos da minha cidade, ou seja, Campinas. Era trabalho digno de Hércules. Entre esses jornais de pequeno porte, de bairros, de sindicatos e de paróquias, o mais conhecido era a “Folha do Taquaral”, com o qual colaborei por quinze anos, redigindo uma crônica quinzenal (essa era sua periodicidade), além de todos seus editoriais.
Ao deixar o Correio Popular, portanto, em vez de reduzir as carga de trabalho, como esperava que viesse a ocorrer, multipliquei-a, e muito. Nessa toada, a vida social foi para as cucuias. Ossos do ofício, claro. E como desgraça pouca é bobagem, nesse período comecei a dar os primeiros passos na grande e mais promissora das mídias do futuro, a internet, como colunista semanal de quase uma dezena de sites.
Mas... voltemos a tratar de futebol. A estréia do Brasil, na Copa do Mundo de 2002, ocorreu no dia 3 de junho, no Estádio Munsu Ulsan, na Coréia do Sul. O adversário, a princípio julgado fraco, e que iríamos enfrentar de novo, na sequência da competição, e numa semifinal, foi a Turquia. A arbitragem coube a um representante local, o sul-coreano Kim Young Joo.
Começamos sendo surpreendidos nesse jogo. Aos dois minutos de acréscimo do primeiro tempo, ou seja, aos 47 minutos, o turco Hassam Sas abriu a contagem. O empate ocorreria logo aos 5 minutos da segunda etapa, através de Ronaldo. Quase tudo indicava que esse seria o resultado final quando Rivaldo virou o marcador, fez 2 a 1, aos 42 minutos. Ufa! Foi um sufoco!
O Brasil jogou e venceu na estréia com: Marcos, Lúcio, Roque Júnior e Edmilson; Cafu, Gilberto Silva, Juninho Paulista (Vampeta), Rivaldo e Roberto Carlos; Ronaldinho Gaúcho (Denilson) e Ronaldo. Registre-se que a Turquia teve dois jogadores expulsos, o que facilitou nossa tarefa.
O adversário seguinte, a China, era tido e havido como o mais fraco do grupo e provavelmente de toda a Copa. O Brasil não teve a menor dificuldade para derrotá-lo, e por goleada, ou seja, por 4 a 0. Poderia até ter construído um placar bem maior.
O jogo foi disputado em 8 de junho de 2002, no Estádio Jeju, Seogwipo, na Coréia do Sul, com arbitragem do sueco Anders Frisk. Os gols foram marcados por Roberto Carlos, aos 15; Rivaldo, aos 32 e Ronaldinho Gaúcho, aos 45 minutos do primeiro tempo e por Ronaldo, aos 10 do segundo.
O Brasil jogou com: Marcos, Lúcio, Roque Júnior e Anderson Polga; Cafu, Gilberto Silva, Juninho Paulista (Ricardinho), Rivaldo e Roberto Carlos; Ronaldinho Gaúcho (Denilson) e Ronaldo (Edilson).
Para encerrar a fase de classificação e começar as oitavas de final com moral elevado, nada melhor do que aplicar uma boa goleada. E foi o que aconteceu diante da Costa Rica. Os costarriquenhos até que endureceram o jogo, mas não eram páreo para nós.
O Brasil chegou a abrir 3 a 0 no marcador até os 38 minutos do primeiro tempo, mas Wanchope diminuiu para 3 a 1 aos 39 e Gomez fez o segundo, aos 11 do segundo tempo. A Seleção Brasileira, porém, retomou o controle do jogo e goleou por 5 a 2.
Os gols brasileiros foram de Ronaldo, aos 10 e 13 e Edmilson aos 38 do primeiro tempo, e de Rivaldo aos 17 e Junior aos 19 da segunda etapa. Felipe Scolari mandou a campo: Marcos, Lúcio, Anderson Polga e Edmilson; Cafu, Gilberto Silva, Juninho Paulista (Ricardinho), Rivaldo (Kaká) e Junior; Edilson (Kleberson) e Ronaldo). O árbitro foi o egípcio Gamal Gandhour.
O Brasil classificou-se para as oitavas de final com 100% de aproveitamento. Marcou onze gols (mais do que a seleção do Dunga em toda a Copa de 2010) e sofreu três, com saldo posi8tivo de oito. Estava dada, pois, a arrancada para o penta. Sem firula, espetáculo, mas com eficiência cirúrgica.

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