Atrofia e desenvolvimento
Pedro J. Bondaczuk
A natureza tem várias leis inflexíveis, mas há uma em particular que é válida para todos os seres vivos (principalmente para o homem), que pode ser expressa da seguinte maneira: “o uso adequado de qualquer membro ou órgão desenvolve-o; a falta de utilização causa sua atrofia”. Claro que esse exercício tem que estar contido nos limites do bom-senso.
Se você se exercitar, digamos, por oito horas consecutivas, intensamente, sem nenhuma pausa para se reidratar ou descansar, seu corpo entrará em colapso. Você poderá ter (e provavelmente terá) sérios problemas musculares, ou de articulações, ou até mesmo ósseos etc., dependendo do tipo de exercício que fizer, quando não coisas até muito piores, como comprometimentos respiratórios, circulatórios e/ou cardíacos.
É necessário conhecer nossos limites e respeitá-los. Exercitando o corpo como se deve, com a devida constância, este irá se desenvolver e se fortalecer, não importando, sequer, a idade que tenhamos.
Se, pelo contrário, não utilizarmos freqüente e regularmente alguma parte do nosso organismo, esta irá, fatalmente, se atrofiar. Tive uma comprovação (outra, na verdade) dessa inflexível lei da natureza recentemente, nas minhas férias.
Sempre fui um sujeito ativo, agitado (hiperativo, conforme quem me conhece garante que sou). Caminho, regularmente, sempre a mesma distância, respeitando os meus limites. Nunca deixo de exercitar meu corpo, mas evito, obvio, os exageros. Isso... em épocas, digamos, “normais”.
Nas minhas férias, porém, cometi a imprudência das imprudências, a suprema tolice de alterar minha rotina de anos. A pretexto de aproveitar o fato de não precisar ir, por vinte dias seguidos, à redação em que trabalho, mantive uma vida super-sedentária, à frente do computador.
Só levantava da cadeira para cumprir as necessidades fundamentais e inadiáveis, como ir ao banheiro, tomar as refeições etc.e dormir, assim mesmo, às altas horas da madrugada. O exercício mental intensivo certamente desenvolveu um pouco mais meu cérebro. Mas o corpo...
Findos os vinte dias das férias, decidi retomar a rotina das caminhadas matinais. Não sei por quais cargas d’água, resolvi dobrar o trajeto que cumpria há décadas, “para compensar a inércia anterior”, raciocinei. Pra quê!!!
Cheguei ao término da jornada exausto, suando às bicas, ofegante e esbaforido, com o corpo inteirinho dolorido. Meus músculos, nervos e articulações haviam sofrido atrofia. E isso por causa, apenas, de míseros vinte dias de inércia. Passei quatro dias horríveis, com dores por toda a parte, até que meu corpo se readaptasse às caminhadas.
Como o restante do nosso organismo, o cérebro, seu órgão mais nobre, também requer exercícios constantes, regulares e dentro dos nossos limites. Caso contrário... Sem dúvida alguma, se atrofia.
Vejam o que ocorre com determinadas pessoas idosas. Após a aposentadoria, a pretexto de não “se estressarem”, afastam-se do mundo. Algumas – em casos extremos, evidentemente, mas não tão raros – param completamente de ler (até mesmo jornais), sob a alegação de não enxergarem bem e da leitura provocar-lhes dores de cabeça. Claro que não provocam. Ademais, não acompanham noticiário algum, não conversam nada sério a não ser sobre banalidades e saem, literalmente, de órbita.
Em três tempos, seus cérebros atrofiam. Estão vivas apenas porque respiram e seus corações pulsam, mas é como se não estivessem. Escrever? Nem pensar! Não tardam e ficam doentes (via de regra de doenças psicossomáticas), depressivas, mudas, mortas-vivas.
E o que tudo o que escrevi tem a ver com nossa atividade literária? Guardadas as devidas proporções, acontece o mesmo que ocorre com nossos corpos e cérebros. Se mantivermos um programa inteligente, coerente (e prudente) de exercícios, nossa criatividade e produtividade irão se desenvolver, mais e mais, e a cada dia. Caso contrário... vão se atrofiar, lenta, mas inexoravelmente, até desaparecer.
E quais são esses “exercícios” que nossa atividade requer? Os óbvios: leitura, estudo, pesquisa, observação, meditação e texto, muito texto. “Mas como escrever se não estiver inspirado”, alguns podem perguntar. Esqueçam essa bobagem de inspiração.
A boa literatura faz-se hoje, e sempre se fez, à base de muita transpiração. Se você estiver passando por uma das tão freqüentes “crises de criatividade”, o grande fantasma dos artistas, faça o seguinte: escreva um diário.
Esse é um tipo de texto com o qual não precisará se preocupar, pois, salvo exceções, só você irá ler. E é excelente exercício de redação. Mas que seja diário mesmo, atualizado, rigorosa e pontualmente, todos os dias, sem falhar nenhum. Não tardará para você retomar a confiança em sua escrita. E quando menos esperar, estará produzindo uma fartura de textos maravilhosos e de qualidade superior.
Se não fizer isso (ou algo parecido), se não exercitar seu talento com constância, perseverança e disciplina, ele fatalmente se atrofiará e não tardará a desaparecer. E não queira testar na prática se esta minha afirmação é verdadeira ou mera bobagem (como alguns, certamente, estão achando). As leis da natureza são universais, não comportam exceções e são, sobretudo, imutáveis e inflexíveis.
Pedro J. Bondaczuk
A natureza tem várias leis inflexíveis, mas há uma em particular que é válida para todos os seres vivos (principalmente para o homem), que pode ser expressa da seguinte maneira: “o uso adequado de qualquer membro ou órgão desenvolve-o; a falta de utilização causa sua atrofia”. Claro que esse exercício tem que estar contido nos limites do bom-senso.
Se você se exercitar, digamos, por oito horas consecutivas, intensamente, sem nenhuma pausa para se reidratar ou descansar, seu corpo entrará em colapso. Você poderá ter (e provavelmente terá) sérios problemas musculares, ou de articulações, ou até mesmo ósseos etc., dependendo do tipo de exercício que fizer, quando não coisas até muito piores, como comprometimentos respiratórios, circulatórios e/ou cardíacos.
É necessário conhecer nossos limites e respeitá-los. Exercitando o corpo como se deve, com a devida constância, este irá se desenvolver e se fortalecer, não importando, sequer, a idade que tenhamos.
Se, pelo contrário, não utilizarmos freqüente e regularmente alguma parte do nosso organismo, esta irá, fatalmente, se atrofiar. Tive uma comprovação (outra, na verdade) dessa inflexível lei da natureza recentemente, nas minhas férias.
Sempre fui um sujeito ativo, agitado (hiperativo, conforme quem me conhece garante que sou). Caminho, regularmente, sempre a mesma distância, respeitando os meus limites. Nunca deixo de exercitar meu corpo, mas evito, obvio, os exageros. Isso... em épocas, digamos, “normais”.
Nas minhas férias, porém, cometi a imprudência das imprudências, a suprema tolice de alterar minha rotina de anos. A pretexto de aproveitar o fato de não precisar ir, por vinte dias seguidos, à redação em que trabalho, mantive uma vida super-sedentária, à frente do computador.
Só levantava da cadeira para cumprir as necessidades fundamentais e inadiáveis, como ir ao banheiro, tomar as refeições etc.e dormir, assim mesmo, às altas horas da madrugada. O exercício mental intensivo certamente desenvolveu um pouco mais meu cérebro. Mas o corpo...
Findos os vinte dias das férias, decidi retomar a rotina das caminhadas matinais. Não sei por quais cargas d’água, resolvi dobrar o trajeto que cumpria há décadas, “para compensar a inércia anterior”, raciocinei. Pra quê!!!
Cheguei ao término da jornada exausto, suando às bicas, ofegante e esbaforido, com o corpo inteirinho dolorido. Meus músculos, nervos e articulações haviam sofrido atrofia. E isso por causa, apenas, de míseros vinte dias de inércia. Passei quatro dias horríveis, com dores por toda a parte, até que meu corpo se readaptasse às caminhadas.
Como o restante do nosso organismo, o cérebro, seu órgão mais nobre, também requer exercícios constantes, regulares e dentro dos nossos limites. Caso contrário... Sem dúvida alguma, se atrofia.
Vejam o que ocorre com determinadas pessoas idosas. Após a aposentadoria, a pretexto de não “se estressarem”, afastam-se do mundo. Algumas – em casos extremos, evidentemente, mas não tão raros – param completamente de ler (até mesmo jornais), sob a alegação de não enxergarem bem e da leitura provocar-lhes dores de cabeça. Claro que não provocam. Ademais, não acompanham noticiário algum, não conversam nada sério a não ser sobre banalidades e saem, literalmente, de órbita.
Em três tempos, seus cérebros atrofiam. Estão vivas apenas porque respiram e seus corações pulsam, mas é como se não estivessem. Escrever? Nem pensar! Não tardam e ficam doentes (via de regra de doenças psicossomáticas), depressivas, mudas, mortas-vivas.
E o que tudo o que escrevi tem a ver com nossa atividade literária? Guardadas as devidas proporções, acontece o mesmo que ocorre com nossos corpos e cérebros. Se mantivermos um programa inteligente, coerente (e prudente) de exercícios, nossa criatividade e produtividade irão se desenvolver, mais e mais, e a cada dia. Caso contrário... vão se atrofiar, lenta, mas inexoravelmente, até desaparecer.
E quais são esses “exercícios” que nossa atividade requer? Os óbvios: leitura, estudo, pesquisa, observação, meditação e texto, muito texto. “Mas como escrever se não estiver inspirado”, alguns podem perguntar. Esqueçam essa bobagem de inspiração.
A boa literatura faz-se hoje, e sempre se fez, à base de muita transpiração. Se você estiver passando por uma das tão freqüentes “crises de criatividade”, o grande fantasma dos artistas, faça o seguinte: escreva um diário.
Esse é um tipo de texto com o qual não precisará se preocupar, pois, salvo exceções, só você irá ler. E é excelente exercício de redação. Mas que seja diário mesmo, atualizado, rigorosa e pontualmente, todos os dias, sem falhar nenhum. Não tardará para você retomar a confiança em sua escrita. E quando menos esperar, estará produzindo uma fartura de textos maravilhosos e de qualidade superior.
Se não fizer isso (ou algo parecido), se não exercitar seu talento com constância, perseverança e disciplina, ele fatalmente se atrofiará e não tardará a desaparecer. E não queira testar na prática se esta minha afirmação é verdadeira ou mera bobagem (como alguns, certamente, estão achando). As leis da natureza são universais, não comportam exceções e são, sobretudo, imutáveis e inflexíveis.
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