Monday, October 18, 2010




E é preciso?!

Pedro J. Bondaczuk



A série de reminiscências das copas do mundo de futebol que tive o privilégio de acompanhar, e que foram todas do período pós-guerra (quando as três anteriores foram disputadas, eu não havia nascido) chega ao fim, com possibilidades de ser continuada em 2014. Com elas, esbocei, posto que resumidamente, além dos vários mundiais, algumas circunstâncias da minha vida, como as conquistas profissionais que tive, os afetos que me moveram e situações que na época me pareceram corriqueiras e que hoje, com o distanciamento no tempo, concluo terem sido peculiares e inéditas.
Estas considerações, é mister que eu observe, não foram feitas com o olhar do especialista na matéria. Não se trata da palavra do comentarista de esportes (que também fui e sou). Não é a visão do sujeito neutro, que não toma partido. Eu tomo.
Nestes textos, reitero, não prevalecem as opiniões do jornalista Pedro J. Bondaczuk, isto é (supostamente) imparciais (já que se trata de tremenda hipocrisia essa história de que o profissional de imprensa consegue sempre, ou na maior parte das vezes, manter eqüidistância sobre o que opina e emitir juízo com imparcialidade. Mesmo que disfarçadamente, suas opiniões sempre têm o ingrediente das paixões. Estão contaminadas. Contam, portanto, com o vezo da parcialidade). Sim, sou parcial. Aliás, parcialíssimo.
Estas reminiscências e opiniões são do Pedro J. Bondaczuk cidadão e, principalmente, torcedor de futebol. Na abordagem das copas do mundo, por exemplo, meu foco é exclusivo sobre a Seleção Brasileira. Outras seleções são mencionadas, claro, mas apenas quando nos enfrentam. Não me propus, pois, a contar, em detalhes, a história dessa competição que mobiliza mais da metade da humanidade.
A proposta é a de mostrar de que forma “torci” para o Brasil em cada copa disputada (e o nosso país foi o único que disputou todas), de acordo com o estágio em que estava em cada época: como menino, como adolescente, como homem maduro e como uma pessoa vivida, beirando as sete décadas de existência.
Esta série, aliás, teve uma origem curiosa. Nasceu de uma conversa com o Carlos Nascimento (não o excelente jornalista e apresentador de televisão, mas um amigo de longa data, homônimo do notável profissional de imprensa), a propósito das minhas lembranças das performances das várias seleções brasileiras que se formaram ao longo de sessenta anos. Eu, então, recém havia concluído a série de textos alusivos ao cinqüentenário de Brasília (que partilhei com vocês neste mesmo espaço) e estudava quais assuntos abordar em seguida, nesse nosso contato informal diário.
O “Carlão” (é dessa forma que o chamo na intimidade), duvidou que eu pudesse escrever algo parecido com a série sobre a “Capital da Esperança”, mas tendo por foco minhas lembranças dos mundiais de futebol que acompanhei. Esse assunto, aliás, eu trazia frequentemente à baila em nossas conversas, quer por telefone, quer cara a cara. Antes de tentar empreender a empreitada (não sou homem de fugir de desafios), verifiquei meus arquivos, os que montei, pacientemente, peça por peça, desde menino, ao longo de 60 anos, para conferir se estavam completos e se não tinham nenhum furo. Estavam perfeitos.
Afinal, por melhor que seja a minha memória (modéstia à parte, ela chega a ser prodigiosa) é impossível reter a grande quantidade de detalhes, e ainda mais de tantos jogos, tais como datas, estádios, placares, árbitros, goleadores, escalações etc. Para dar coerência aos textos, essas minúcias teriam que constar neles, seriam essenciais. Como os arquivos estavam íntegros, as coisas, daí para a frente, se tornaram fáceis. Foi só dar rédeas à memória, manter a autodisciplina e a perseverança, não parar no meio do caminho e detalhar cada uma dessas lembranças da maneira mais clara e objetiva possível.
Não sei qual foi a sua impressão a respeito, prezado leitor. Da minha parte, diverti-me, e muito, ao escrever essas memórias, na maioria muito agradáveis. Ao final da Copa do Mundo da África do Sul, confesso, pretendi interromper a série. Estava frustrado com o desempenho da seleção do Dunga, que tinha tudo para conquistar o hexa, mas... não conquistou.
Recebi, contudo, muitos emails, apelando-me para que não a interrompesse, mas fosse até o fim. Tais apelos fizeram-me supor que a repercussão da série, se não era bombástica, pirotécnica e espetacular, era, pelo menos, razoável. Infelizmente, a falta de interatividade no Literário deixou-me sem parâmetro (como ademais, com certeza, deixa todos os colunistas). Não entendo e jamais entenderei a escassez de comentários, em se tratando de um espaço voltado à literatura, ou seja, ao texto. Reputo esse comportamento como sendo de omissão, o defeito que mais abomino em qualquer pessoa.
Bom ou ruim, interessante ou chato, o fato é que, nos últimos três meses, escrevi, capítulo a capítulo, parágrafo a parágrafo, linha a linha, todos os dias, sem nenhuma interrupção, minhas lembranças. E o acúmulo delas originaram um livro, e de dimensões consideráveis, sobre um tema que se constitui não apenas em minha paixão, mas na da imensa maioria dos brasileiros: o futebol.
Está vencido, pois, o desafio que você me fez, Carlão. Não se esqueça que você terá que me pagar uma caixa de cerveja. E só pra chatear, vou querer a mais cara que houver no mercado. Você me disse várias vezes que duvidava que eu viesse a colocar em texto o que lhe narrava em “n” ocasiões e que você tanto apreciava. Pois aí estão minhas impressões, elogios e críticas aos que fizeram a glória e a grandeza do nosso futebol nos últimos 60 anos, de 1950 a 2010.
Você pedia um livro a respeito, nada menos do que isso, e aí o tem. Basta juntar texto por texto, na sequência cronológica em que foram redigidos, e terá um bom roteiro das vitórias e fracassos da Seleção Brasileira, com as causas, circunstâncias e conseqüências tanto de umas quanto de outros.
Não lhe garanto que esse livro venha algum dia a ser publicado. Afinal, não é fácil entender a cabeça dos editores. Possibilidades disso acontecer, notadamente em 2014, existem. Se vão se concretizar ou não são outros quinhentos. Mas o livro, capítulo a capítulo, já está circulando por aí no oceano ilimitado da internet. Com certeza, cairá em mãos de um número tão grande de pessoas a ponto de ser impossível até de estimar, quanto mais quantificar.
Talvez você prefira um livro convencional, ou seja, desses impressos, com capa atrativa e tudo o mais, embora os e-books sejam o futuro da literatura. Se as circunstâncias me forem favoráveis, se as editoras não me fecharem as portas no nariz, isso pode até acontecer. Não sou, porém, muito otimista em relação a isso. Talvez jamais algum editor venha a se interessar por essa abordagem que é provável que considere como sendo “de um assunto trivial”. Talvez jamais esse livro venha a ser mesmo impresso. Mas, cá para nós, sem que ninguém nos ouça: é preciso imprimir? Isso importa? O importante não é o fato dele existir, mesmo que em plataforma eletrônica? Pois é, e ele existe!

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