Copa para ser esquecida
Pedro J. Bondaczuk
A Copa do Mundo de 2006, disputada na Alemanha, é daquelas para serem esquecidas pela torcida brasileira. Em termos de colocação, até que a posição do Brasil não foi das piores. Nossa seleção foi eliminada nas quartas de final e terminou a competição em 5º lugar. Já houve colocações muito mais catastróficas, sem dúvida. Mas dificilmente o Brasil apresentou um futebol pior do que aquele que jogou nesse mundial.
A estréia brasileira deu-se no dia 13 de junho de 2006, uma terça-feira, no Olympiastadion Berlin, com arbitragem do mexicano Benito Armando Archundia. O adversário foi a Croácia. Logo nesse dia já comecei a desconfiar que havia alguma coisa errada com aquela seleção. A partida foi monótona, enjoada, sem emoção mesmo, dessas de nos fazer bocejar. Notei um quê de arrogância em nossos jogadores. Parecia que eles pensavam, e que só faltava dizer: “Somos os melhores e o adversário não é de nada. Ganharemos na hora em que quisermos”. Não posso garantir, lógico, que pensassem assim. Mas era a impressão que me dava.
De fato, a Croácia não era e não é nenhuma “Brastemp”, nenhuma potência futebolística, mas chegou a nos assustar. “Essa é a tão cantada e decantada seleção favorita ao título?!”, cheguei a pensar, entre atônito e irritado.
A vitória, posto que magérrima, por 1 a 0, veio com o gol de Kaká, aos 44 minutos do primeiro tempo. O Brasil venceu, mas não convenceu. Parreira mandou a campo nesse dia: Dida, Cafu, Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Emerson, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Zé Roberto; Adriano e Ronaldo (Robinho).
Aguardei o jogo seguinte com bastante ansiedade, na esperança de que a má atuação contra a Croácia fosse em decorrência do nervosismo natural de uma estréia. A partida ocorreu num domingo, dia 16 de junho de 2006, na Alianz Arena de Munique (cujo nome oficial era, na ocasião, Munich World Cup Stadion). O adversário era mais fraco ainda do que os apenas esforçados croatas: a Austrália.
“É uma big oportunidade para uma goleada, para impor respeito a todos os participantes da Copa”, pensei. Mas entre minha esperança e a realidade vai uma distância imensa. O Brasil, de novo, jogou mal. Em alguns momentos chegou a ficar acuado pelos australianos. Quem vê o placar, de 2 a 0, mas não assistiu o jogo, fica com a falsa impressão de que as coisas não foram tão difíceis. Foram. Ocorre que o segundo gol, o de Fred, aconteceu no penúltimo minuto de jogo, aos 44 do segundo tempo. E o primeiro, havia sido marcado por Adriano aos 3 dessa etapa.
O árbitro foi o alemão Markus Mark e o Brasil jogou com: Dida, Cafu, Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Emerson (Gilberto Silva), Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Zé Roberto; Adriano (Fred) e Ronaldo (Robinho).
A Seleção Brasileira jogou um pouquinho melhor no último jogo da fase de classificação. Atuou com vários jogadores considerados reservas e que mostraram mais bola do que os tidos como titulares. O confronto ocorreu em 22 de junho de 2006, uma quinta-feira, no estádio da cidade de Dortmund. É verdade que o adversário, o Japão, era apenas esforçado, e nada mais. Deu-me pena de ver um dos maiores ídolos brasileiros de todos os tempos, Zico, sentado no banco de reservas japonês, como treinador daquele bando de cabeças de bagre.
O placar de 4 a 1 refletiu bem o que foi o jogo, mas no segundo tempo: uma moleza. Frise-se, porém, que a Seleção Brasileira precisou levar um susto para acordar do seu marasmo. Teve que levar um gol japonês, marcado por Tamada, aos 34 minutos do primeiro tempo, para levar o adversário a sério.
Nossa equipe só jogou bola, reitero, na segunda etapa. Ronaldo, logo a um minuto, empatou a partida. Estava aberta a porteira para a boiada passar. E ela passou. Os gols vieram na sequência com Juninho Pernambucano, aos 18 minutos; Gilberto, aos 24 e de novo Ronaldo, aos 36.
Parreira escalou o seguinte time: Dida (Rogério Ceni), Cicinho, Lúcio, Juan e Gilberto; Gilberto Silva, Juninho Pernambucano, Kaká (Zé Roberto) e Ronaldinho Gaúcho (Ricardinho); Robinho e Ronaldo. A arbitragem esteve a cargo do francês Eric Poulet.
Nas oitavas de final coube-nos enfrentar, mais uma vez, uma seleção africana; Gana. O Brasil nunca perdeu para equipes da África em copas do mundo. O jogo foi disputado de novo em Dortmund, em 27 de junho de 2006, que caiu numa terça-feira, com arbitragem do eslovaco Lubos Michel.
O placar, de 3 a 0, não expressa o que foi o jogo. Os ganenses jogaram de igual para igual, mas abusaram do direito de perder gols. E quem não faz... toma. Foi nossa eficiência ofensiva que nos garantiu um placar relativamente elástico. Ronaldo abriu o marcador logo aos 5 minutos do primeiro tempo, o que facilitou as coisas. Adriano fez o segundo, no primeiro minuto da segunda etapa. Coube a Zé Roberto dar números finais à partida, aos 39 minutos.
O Brasil jogou com: Dida, Cafu, Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Emerson (Gilberto), Kaká (Ricardinho), Ronaldinho Gaúcho e Zé Roberto; Adriano (Juninho Pernambucano) e Ronaldo.
Vieram as quartas de final. Coube-nos, como adversário, uma seleção que há tempos estava engasgada na garganta dos jogadores e da torcida brasileiros: a França. O jogo ocorreu num sábado, 1º de julho de 2006, em Frankfurt, com arbitragem do espanhol Luís Medina Cantalejo.
Confesso que, em mais de 60 anos acompanhando jogos da Seleção Brasileira, nunca vi nossa equipe jogar tão mal. O que assustava e irritava a todos nossos torcedores era a displicência, a apatia, a falta de empenho dos comandados de Parreira. Parecia que queriam que tudo acabasse logo, para que pudessem voltar a seus clubes e cuidar de suas contas bancárias, nada mais. Zinedine Zidane, já veterano e em final de carreira, deitava e rolava, dando dribles desconcertantes, canetas e chapéus em nossos “craques”. Uma vergonha!
E olhem que aquela seleção francesa, contestada e envelhecida, estava muito longe de ser a melhor daquele país. Não chegava sequer aos pés da de 1958, que o Brasil goleou por 5 a 2, por exemplo. E nem da de 1986, que nos eliminou nos pênaltis, no México. Isso para não falar da de 1998.
Era apenas questão de tempo para a Seleção Brasileira levar um ou mais gols. Estava completamente dominada e o goleiro francês era mero expectador. E o Brasil, cada vez mais, apático. O castigo veio a cavalo. O gol francês aconteceu aos 12 minutos do segundo tempo, através de Henry, numa falha coletiva da nossa defesa.
Parte considerável da imprensa atribuiu, injustamente, a culpa dessa derrota, ao ala esquerda Roberto Carlos que, quando o veterano avante francês tocou a bola para nossas redes, estaria distraído, arrumando as meias. Ocorre que o erro de marcação foi da dupla de zaga, Lúcio e Juan. E Dida colaborou com a lambança, ao não interceptar o cruzamento de Zidane.
O mais irritante de tudo foi a passividade com que o Brasil aceitou a derrota. Após o gol da França, havia muito tempo para se tentar uma reação. Na verdade, havia 37 minutos: 33 regulamentares, mais os quatro de acréscimos.
Nosso time, porém, se acovardou. Murchou. Andou em campo. Optou por fazer cera, como se o marcador lhe fosse favorável, em vez de se desdobrar para pelo menos tentar um empate e levar o jogo para a prorrogação. Foi de doer!
O Brasil despediu-se da copa do mundo de 2006, com a seguinte escalação: Dida, Cafu (Cicinho), Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Gilberto Silva, Zé Roberto, Juninho Pernambucano (Adriano) e Kaká (Robinho); Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo.
O Fenômeno conseguiu o que queria: tornar-se o maior artilheiro das copas do mundo, com 15 gols. O capitão Cafu também alcançou seu objetivo. Tornou-se o único jogador brasileiro a disputar quatro mundiais consecutivos. Mas queiram ou não, aquela seleção ficará para sempre marcada com o rótulo de “perdedora”. E, o que é o pior, com o de “pipoqueira”.
Pedro J. Bondaczuk
A Copa do Mundo de 2006, disputada na Alemanha, é daquelas para serem esquecidas pela torcida brasileira. Em termos de colocação, até que a posição do Brasil não foi das piores. Nossa seleção foi eliminada nas quartas de final e terminou a competição em 5º lugar. Já houve colocações muito mais catastróficas, sem dúvida. Mas dificilmente o Brasil apresentou um futebol pior do que aquele que jogou nesse mundial.
A estréia brasileira deu-se no dia 13 de junho de 2006, uma terça-feira, no Olympiastadion Berlin, com arbitragem do mexicano Benito Armando Archundia. O adversário foi a Croácia. Logo nesse dia já comecei a desconfiar que havia alguma coisa errada com aquela seleção. A partida foi monótona, enjoada, sem emoção mesmo, dessas de nos fazer bocejar. Notei um quê de arrogância em nossos jogadores. Parecia que eles pensavam, e que só faltava dizer: “Somos os melhores e o adversário não é de nada. Ganharemos na hora em que quisermos”. Não posso garantir, lógico, que pensassem assim. Mas era a impressão que me dava.
De fato, a Croácia não era e não é nenhuma “Brastemp”, nenhuma potência futebolística, mas chegou a nos assustar. “Essa é a tão cantada e decantada seleção favorita ao título?!”, cheguei a pensar, entre atônito e irritado.
A vitória, posto que magérrima, por 1 a 0, veio com o gol de Kaká, aos 44 minutos do primeiro tempo. O Brasil venceu, mas não convenceu. Parreira mandou a campo nesse dia: Dida, Cafu, Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Emerson, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Zé Roberto; Adriano e Ronaldo (Robinho).
Aguardei o jogo seguinte com bastante ansiedade, na esperança de que a má atuação contra a Croácia fosse em decorrência do nervosismo natural de uma estréia. A partida ocorreu num domingo, dia 16 de junho de 2006, na Alianz Arena de Munique (cujo nome oficial era, na ocasião, Munich World Cup Stadion). O adversário era mais fraco ainda do que os apenas esforçados croatas: a Austrália.
“É uma big oportunidade para uma goleada, para impor respeito a todos os participantes da Copa”, pensei. Mas entre minha esperança e a realidade vai uma distância imensa. O Brasil, de novo, jogou mal. Em alguns momentos chegou a ficar acuado pelos australianos. Quem vê o placar, de 2 a 0, mas não assistiu o jogo, fica com a falsa impressão de que as coisas não foram tão difíceis. Foram. Ocorre que o segundo gol, o de Fred, aconteceu no penúltimo minuto de jogo, aos 44 do segundo tempo. E o primeiro, havia sido marcado por Adriano aos 3 dessa etapa.
O árbitro foi o alemão Markus Mark e o Brasil jogou com: Dida, Cafu, Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Emerson (Gilberto Silva), Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Zé Roberto; Adriano (Fred) e Ronaldo (Robinho).
A Seleção Brasileira jogou um pouquinho melhor no último jogo da fase de classificação. Atuou com vários jogadores considerados reservas e que mostraram mais bola do que os tidos como titulares. O confronto ocorreu em 22 de junho de 2006, uma quinta-feira, no estádio da cidade de Dortmund. É verdade que o adversário, o Japão, era apenas esforçado, e nada mais. Deu-me pena de ver um dos maiores ídolos brasileiros de todos os tempos, Zico, sentado no banco de reservas japonês, como treinador daquele bando de cabeças de bagre.
O placar de 4 a 1 refletiu bem o que foi o jogo, mas no segundo tempo: uma moleza. Frise-se, porém, que a Seleção Brasileira precisou levar um susto para acordar do seu marasmo. Teve que levar um gol japonês, marcado por Tamada, aos 34 minutos do primeiro tempo, para levar o adversário a sério.
Nossa equipe só jogou bola, reitero, na segunda etapa. Ronaldo, logo a um minuto, empatou a partida. Estava aberta a porteira para a boiada passar. E ela passou. Os gols vieram na sequência com Juninho Pernambucano, aos 18 minutos; Gilberto, aos 24 e de novo Ronaldo, aos 36.
Parreira escalou o seguinte time: Dida (Rogério Ceni), Cicinho, Lúcio, Juan e Gilberto; Gilberto Silva, Juninho Pernambucano, Kaká (Zé Roberto) e Ronaldinho Gaúcho (Ricardinho); Robinho e Ronaldo. A arbitragem esteve a cargo do francês Eric Poulet.
Nas oitavas de final coube-nos enfrentar, mais uma vez, uma seleção africana; Gana. O Brasil nunca perdeu para equipes da África em copas do mundo. O jogo foi disputado de novo em Dortmund, em 27 de junho de 2006, que caiu numa terça-feira, com arbitragem do eslovaco Lubos Michel.
O placar, de 3 a 0, não expressa o que foi o jogo. Os ganenses jogaram de igual para igual, mas abusaram do direito de perder gols. E quem não faz... toma. Foi nossa eficiência ofensiva que nos garantiu um placar relativamente elástico. Ronaldo abriu o marcador logo aos 5 minutos do primeiro tempo, o que facilitou as coisas. Adriano fez o segundo, no primeiro minuto da segunda etapa. Coube a Zé Roberto dar números finais à partida, aos 39 minutos.
O Brasil jogou com: Dida, Cafu, Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Emerson (Gilberto), Kaká (Ricardinho), Ronaldinho Gaúcho e Zé Roberto; Adriano (Juninho Pernambucano) e Ronaldo.
Vieram as quartas de final. Coube-nos, como adversário, uma seleção que há tempos estava engasgada na garganta dos jogadores e da torcida brasileiros: a França. O jogo ocorreu num sábado, 1º de julho de 2006, em Frankfurt, com arbitragem do espanhol Luís Medina Cantalejo.
Confesso que, em mais de 60 anos acompanhando jogos da Seleção Brasileira, nunca vi nossa equipe jogar tão mal. O que assustava e irritava a todos nossos torcedores era a displicência, a apatia, a falta de empenho dos comandados de Parreira. Parecia que queriam que tudo acabasse logo, para que pudessem voltar a seus clubes e cuidar de suas contas bancárias, nada mais. Zinedine Zidane, já veterano e em final de carreira, deitava e rolava, dando dribles desconcertantes, canetas e chapéus em nossos “craques”. Uma vergonha!
E olhem que aquela seleção francesa, contestada e envelhecida, estava muito longe de ser a melhor daquele país. Não chegava sequer aos pés da de 1958, que o Brasil goleou por 5 a 2, por exemplo. E nem da de 1986, que nos eliminou nos pênaltis, no México. Isso para não falar da de 1998.
Era apenas questão de tempo para a Seleção Brasileira levar um ou mais gols. Estava completamente dominada e o goleiro francês era mero expectador. E o Brasil, cada vez mais, apático. O castigo veio a cavalo. O gol francês aconteceu aos 12 minutos do segundo tempo, através de Henry, numa falha coletiva da nossa defesa.
Parte considerável da imprensa atribuiu, injustamente, a culpa dessa derrota, ao ala esquerda Roberto Carlos que, quando o veterano avante francês tocou a bola para nossas redes, estaria distraído, arrumando as meias. Ocorre que o erro de marcação foi da dupla de zaga, Lúcio e Juan. E Dida colaborou com a lambança, ao não interceptar o cruzamento de Zidane.
O mais irritante de tudo foi a passividade com que o Brasil aceitou a derrota. Após o gol da França, havia muito tempo para se tentar uma reação. Na verdade, havia 37 minutos: 33 regulamentares, mais os quatro de acréscimos.
Nosso time, porém, se acovardou. Murchou. Andou em campo. Optou por fazer cera, como se o marcador lhe fosse favorável, em vez de se desdobrar para pelo menos tentar um empate e levar o jogo para a prorrogação. Foi de doer!
O Brasil despediu-se da copa do mundo de 2006, com a seguinte escalação: Dida, Cafu (Cicinho), Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Gilberto Silva, Zé Roberto, Juninho Pernambucano (Adriano) e Kaká (Robinho); Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo.
O Fenômeno conseguiu o que queria: tornar-se o maior artilheiro das copas do mundo, com 15 gols. O capitão Cafu também alcançou seu objetivo. Tornou-se o único jogador brasileiro a disputar quatro mundiais consecutivos. Mas queiram ou não, aquela seleção ficará para sempre marcada com o rótulo de “perdedora”. E, o que é o pior, com o de “pipoqueira”.
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