Quando falamos de vida, de forma específica – da nossa, por exemplo – deveríamos nos referir a ela sempre no plural. Vivemo-la de forma tão intensa, variada e diferente; sofremos tantas transformações, físicas, psíquicas e afetivas ao longo dos anos, que é como se renascêssemos, vezes sem conta, das cinzas, e fôssemos, a cada renascimento, outras pessoas. Temos, na verdade, “vidas” que, somadas, compõem o conjunto da nossa vida. Nossos caminhos se cruzam, aleatoriamente, com uma quantidade imensa de pessoas, que nos influenciam e às quais influenciamos. E estes relacionamentos tanto podem ser neutros, sem causar nenhuma conseqüência (ou sequer lembrança), quanto podem nos melhorar, piorar ou até destruir. O poeta austríaco Rainer Maria Rilke trata do tema em sua “Nona elegia”, que encerra com estes metafóricos versos: “Vê, eu vivo. De quê? Nem a infância nem o futuro minguam.../Inúmera a existência/transborda-me do coração”.
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