Verdadeira consciência
Pedro J. Bondaczuk
Este dia 20 de novembro, feriado estadual (infelizmente, não é nacional) veio a calhar para que fizéssemos uma reflexão madura e consciente sobre os males do preconceito, seja de que natureza for. Foi oportunidade mais do que feliz para que começássemos a fazer com que a verdadeira consciência sobre a dignidade, solidariedade e rigorosa tolerância face às diferenças fincasse raízes nos corações e mentes de todos, sem exceção, e assegurassem um relacionamento justo e correto entre a totalidade dos brasileiros, não importando sua raça, credo, gênero ou condição social.
O que conta, e sempre deve contar, na formação de uma nacionalidade (no caso, a nossa), para que possamos alcançar, afinal, nosso nobre destino, de superpotência do século XXI, é a irrestrita igualdade de direitos e deveres entre todos, absolutamente todos os brasileiros.
O Brasil (não é novidade para ninguém) conta com a segunda maior população negra do Planeta. Perde, neste aspecto, apenas para a Nigéria, o país mais populoso da África. Cerca da metade dos nossos habitantes é negra ou tem descendência negra, mesmo que remota.
É esse contingente, ainda tratado de forma cruelmente desigual (basta atentar para todas as estatísticas), que tem que ser definitivamente incorporado à sociedade e transformado em dínamo do nosso progresso. Por isso, não pode e nem deve continuar marginalizado ou tratado com menosprezo. Até porque o País tem uma dívida impagável com essas pessoas.
A maior parte da fortuna amealhada por inúmeras pessoas em passado ainda relativamente recente (a escravidão foi abolida há apenas 121 anos) foi obtida às custas do trabalho escravo. Ou seja, sob qualquer espécie de enfoque que se queira (legal, moral etc.), é, no fundo, ilegítima. Não foi conquistada com o que legitima a posse de qualquer espécie de bem, ou seja, com trabalho pessoal, competência, tino comercial, mentalidade de poupança etc.
Portanto, é imensa, é enorme, é infinita a dívida que este país tem para com quase metade da sua população. Chegou o momento dela pelo menos começar a ser paga. Mesmo que em “suaves prestações”.
Zumbi dos Palmares foi escolhido como símbolo desse Dia da Consciência Negra. Tratas-se de justíssima homenagem a quem lutou pela liberdade, a própria e a de seus companheiros de infortúnio. Todavia, uma outra figura cresce em nossa mente e coração e se agiganta, a requerer justiça. Merece, nesta data, igualmente, toda nossa reverência e admiração. Trata-se de João Cruz e Sousa.
Se Zumbi é o símbolo guerreiro, digamos político, da comunidade negra, o poeta catarinense é o “espiritual”, o do criador, o do talento, o da competência e da sensibilidade. Deixo, pois, para o seu deleite e reflexão, dois fantásticos sonetos deste magnífico intelectual (negro) brasileiro.
Piedade
O coração de todo o ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade
Ficar mais doce o eterno desengano.
Para da vida em cada rude oceano
Arrojar, através da imensidade,
Tábuas de salvação, de suavidade,
De consolo e de afeto soberano.
Sim! Que não ter um coração profundo
É os olhos fechar à dor do mundo,
ficar inútil nos amargos trilhos.
É como se o meu ser compadecido
Não tivesse um soluço comovido
Para sentir e para amar meus filhos!
O grande Momento
Inicia-te, enfim, Alma imprevista,
Entra no seio dos Iniciados.
Esperam-te de luz maravilhados
Os Dons que vão te consagrar Artista.
Toda uma Esfera te deslumbra a vista,
Os ativos sentidos requintados.
Céus e mais céus e céus transfigurados
Abrem-te as portas da imortal Conquista.
Eis o grande Momento prodigioso
Para entrares sereno e majestoso
Num mundo estranho d'esplendor sidéreo.
Borboleta de sol, surge da lesma...
Oh! vai, entra na posse de ti mesma,
Quebra os selos augustos do Mistério!
Acompanhe-me no twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
Este dia 20 de novembro, feriado estadual (infelizmente, não é nacional) veio a calhar para que fizéssemos uma reflexão madura e consciente sobre os males do preconceito, seja de que natureza for. Foi oportunidade mais do que feliz para que começássemos a fazer com que a verdadeira consciência sobre a dignidade, solidariedade e rigorosa tolerância face às diferenças fincasse raízes nos corações e mentes de todos, sem exceção, e assegurassem um relacionamento justo e correto entre a totalidade dos brasileiros, não importando sua raça, credo, gênero ou condição social.
O que conta, e sempre deve contar, na formação de uma nacionalidade (no caso, a nossa), para que possamos alcançar, afinal, nosso nobre destino, de superpotência do século XXI, é a irrestrita igualdade de direitos e deveres entre todos, absolutamente todos os brasileiros.
O Brasil (não é novidade para ninguém) conta com a segunda maior população negra do Planeta. Perde, neste aspecto, apenas para a Nigéria, o país mais populoso da África. Cerca da metade dos nossos habitantes é negra ou tem descendência negra, mesmo que remota.
É esse contingente, ainda tratado de forma cruelmente desigual (basta atentar para todas as estatísticas), que tem que ser definitivamente incorporado à sociedade e transformado em dínamo do nosso progresso. Por isso, não pode e nem deve continuar marginalizado ou tratado com menosprezo. Até porque o País tem uma dívida impagável com essas pessoas.
A maior parte da fortuna amealhada por inúmeras pessoas em passado ainda relativamente recente (a escravidão foi abolida há apenas 121 anos) foi obtida às custas do trabalho escravo. Ou seja, sob qualquer espécie de enfoque que se queira (legal, moral etc.), é, no fundo, ilegítima. Não foi conquistada com o que legitima a posse de qualquer espécie de bem, ou seja, com trabalho pessoal, competência, tino comercial, mentalidade de poupança etc.
Portanto, é imensa, é enorme, é infinita a dívida que este país tem para com quase metade da sua população. Chegou o momento dela pelo menos começar a ser paga. Mesmo que em “suaves prestações”.
Zumbi dos Palmares foi escolhido como símbolo desse Dia da Consciência Negra. Tratas-se de justíssima homenagem a quem lutou pela liberdade, a própria e a de seus companheiros de infortúnio. Todavia, uma outra figura cresce em nossa mente e coração e se agiganta, a requerer justiça. Merece, nesta data, igualmente, toda nossa reverência e admiração. Trata-se de João Cruz e Sousa.
Se Zumbi é o símbolo guerreiro, digamos político, da comunidade negra, o poeta catarinense é o “espiritual”, o do criador, o do talento, o da competência e da sensibilidade. Deixo, pois, para o seu deleite e reflexão, dois fantásticos sonetos deste magnífico intelectual (negro) brasileiro.
Piedade
O coração de todo o ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade
Ficar mais doce o eterno desengano.
Para da vida em cada rude oceano
Arrojar, através da imensidade,
Tábuas de salvação, de suavidade,
De consolo e de afeto soberano.
Sim! Que não ter um coração profundo
É os olhos fechar à dor do mundo,
ficar inútil nos amargos trilhos.
É como se o meu ser compadecido
Não tivesse um soluço comovido
Para sentir e para amar meus filhos!
O grande Momento
Inicia-te, enfim, Alma imprevista,
Entra no seio dos Iniciados.
Esperam-te de luz maravilhados
Os Dons que vão te consagrar Artista.
Toda uma Esfera te deslumbra a vista,
Os ativos sentidos requintados.
Céus e mais céus e céus transfigurados
Abrem-te as portas da imortal Conquista.
Eis o grande Momento prodigioso
Para entrares sereno e majestoso
Num mundo estranho d'esplendor sidéreo.
Borboleta de sol, surge da lesma...
Oh! vai, entra na posse de ti mesma,
Quebra os selos augustos do Mistério!
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