Por dentro das nossas tradições
Pedro J. Bondaczuk
O brasileiro (salvo raríssimas exceções) não conhece o Brasil, por isso não se entende, não entende as motivações e o modo de agir de seus co-irmãos e tem uma visão negativa e errada deste País que lhe serviu de berço e lhe servirá de tumba.
Não se trata, porém, de nenhuma pobreza cultural. Muito pelo contrário. Nossa cultura é tão rica, tão vasta, tão caudalosa e variada e nossas tradições são tantas, que seria necessária constante divulgação de tudo o que de bom, em termos de cultura em seu sentido lato, se produz por aqui.
Não conhecemos, por exemplo, sequer o folclore das regiões em que vivemos, quanto mais o da Amazônia, ou o do Nordeste, ou o do Centro-Oeste ou o do Sul. Nesse aspecto, os responsáveis pela nossa educação cometem pecado mortal.
Há anos defendo a inclusão no currículo escolar, do pré-primário à universidade, da disciplina “Folclore Brasileiro”. Ensinam-nos tanta baboseira inútil, o tal do conhecimento de algibeira, enciclopédico, de almanaque, esse que, atualmente, com uma simples consulta ao “Google” temos ao nosso dispor na hora em que quisermos, e não falam nada, absolutamente nada da essência da alma do nosso povo, das nossas lendas, danças, simpatias, comidas, tradições, festas populares etc.etc.etc. Literalmente, desconhecemos o Brasil.
Para nós, escritores, isso chega a ser trágico. Tenho lido livros até que muito bons, notadamente romances, contos e novelas, mas com erros crassos quando o escritor do Sul, por exemplo, quer retratar o nordestino (ou vice-versa), dando-lhe um mínimo de verossimilhança. Nestes casos, é necessária muita pesquisa antes de começar a escrever e, claro, é preciso visitar o lugar que se quer abordar, e passar certo tempo ali, conversando com pessoas de todas as classes sociais, para saber o que pensam, cultuam e produzem etc.
Mas, cá pra nós, não se pode falar de folclore sem recorrer a essa figura maiúscula que foi o historiador, folclorista, antropólogo e jornalista potiguar, Luís da Câmara Cascudo. Quanto este intelectual já me serviu, serve e certamente servirá! Sempre que precisei de alguma informação sobre cultura brasileira (mas aquela em sentido lato, reitero), encontrei em sua profusão de livros. Pudera! Publicou mais de setenta, abordando praticamente todos os aspectos do brasileiro, inclusive (ou principalmente) seu linguajar, suas danças típicas, seus trajes, sua culinária etc.
Entre seus livros, o que mais consulto, obviamente, é esta maravilha de “Dicionário do Folclore Brasileiro”. Não gosto de destacar nenhuma obra em especial, da produção de algum escritor, por entender que todas têm seu valor (se não tivessem, não seriam escritas e muito menos publicadas).
Mas relacionar as cerca de setenta e três, de Luís da Câmara Cascudo, mais confundiria, do que esclareceria, o leitor. Ainda assim, cito algumas que li, como “O homem americano e seus temas” (1933), “Viajando o sertão” (1934), “Vaqueiros e cantadores” (1984), “Antologia do Folclore brasileiro” (1944), “Lendas brasileiras” (1945), “Contos tradicionais do Brasil” (1946) e “Geografia dos mitos brasileiros” (1947).
Sentiram quanta variedade de temas nosso maior folclorista abordou? E estes livros que citei são meras gotas d’água em um oceano de cultura, tradições e manifestações artísticas do nosso povo, que Cascudo observou e transcreveu com tanta fidelidade e abrangência.
O Brasil, em relação a outros povos, é um país bastante jovem. Foi descoberto pelos europeus há somente 510 anos, um quase nada, um verdadeiro “ontem” em relação, por exemplo, à China, à Índia, à Grécia, a Roma e à maioria dos europeus.
Se não me falha a memória, nossa colonização começou, somente, em 1532 com Martim Afonso de Souza que, em 22 de janeiro daquele ano fundou São Vicente, no litoral paulista, a primeira cidade do Brasil. Somos independentes há menos de 188 anos (que serão completados, apenas, em 7 de setembro próximo).
Mas recebemos gente do mundo todo, que se mistura com a nossa gente, incorporando, dessa forma, costumes, tradições, folclore e cultura de todos os povos, mas modificados, com acréscimos todos nossos, que os valorizam sobremaneira.
Quanta riqueza cultural, portanto, há no Brasil! E, no entanto... quase não é conhecida por nós. Precisamos, portanto, ou não precisamos, transmitir todo esse acervo às jovens gerações, para que não venha a se perder? Não estou certo, pois, em afirmar, que o brasileiro não conhece (mas de verdade e a fundo) o Brasil, e por isso não o entende e pouco o valoriza? É questão de lógica! Leiam os livros de Luís da Câmara Cascudo e concluam o quão pouco conhecemos da alma do nosso próprio povo.
Pedro J. Bondaczuk
O brasileiro (salvo raríssimas exceções) não conhece o Brasil, por isso não se entende, não entende as motivações e o modo de agir de seus co-irmãos e tem uma visão negativa e errada deste País que lhe serviu de berço e lhe servirá de tumba.
Não se trata, porém, de nenhuma pobreza cultural. Muito pelo contrário. Nossa cultura é tão rica, tão vasta, tão caudalosa e variada e nossas tradições são tantas, que seria necessária constante divulgação de tudo o que de bom, em termos de cultura em seu sentido lato, se produz por aqui.
Não conhecemos, por exemplo, sequer o folclore das regiões em que vivemos, quanto mais o da Amazônia, ou o do Nordeste, ou o do Centro-Oeste ou o do Sul. Nesse aspecto, os responsáveis pela nossa educação cometem pecado mortal.
Há anos defendo a inclusão no currículo escolar, do pré-primário à universidade, da disciplina “Folclore Brasileiro”. Ensinam-nos tanta baboseira inútil, o tal do conhecimento de algibeira, enciclopédico, de almanaque, esse que, atualmente, com uma simples consulta ao “Google” temos ao nosso dispor na hora em que quisermos, e não falam nada, absolutamente nada da essência da alma do nosso povo, das nossas lendas, danças, simpatias, comidas, tradições, festas populares etc.etc.etc. Literalmente, desconhecemos o Brasil.
Para nós, escritores, isso chega a ser trágico. Tenho lido livros até que muito bons, notadamente romances, contos e novelas, mas com erros crassos quando o escritor do Sul, por exemplo, quer retratar o nordestino (ou vice-versa), dando-lhe um mínimo de verossimilhança. Nestes casos, é necessária muita pesquisa antes de começar a escrever e, claro, é preciso visitar o lugar que se quer abordar, e passar certo tempo ali, conversando com pessoas de todas as classes sociais, para saber o que pensam, cultuam e produzem etc.
Mas, cá pra nós, não se pode falar de folclore sem recorrer a essa figura maiúscula que foi o historiador, folclorista, antropólogo e jornalista potiguar, Luís da Câmara Cascudo. Quanto este intelectual já me serviu, serve e certamente servirá! Sempre que precisei de alguma informação sobre cultura brasileira (mas aquela em sentido lato, reitero), encontrei em sua profusão de livros. Pudera! Publicou mais de setenta, abordando praticamente todos os aspectos do brasileiro, inclusive (ou principalmente) seu linguajar, suas danças típicas, seus trajes, sua culinária etc.
Entre seus livros, o que mais consulto, obviamente, é esta maravilha de “Dicionário do Folclore Brasileiro”. Não gosto de destacar nenhuma obra em especial, da produção de algum escritor, por entender que todas têm seu valor (se não tivessem, não seriam escritas e muito menos publicadas).
Mas relacionar as cerca de setenta e três, de Luís da Câmara Cascudo, mais confundiria, do que esclareceria, o leitor. Ainda assim, cito algumas que li, como “O homem americano e seus temas” (1933), “Viajando o sertão” (1934), “Vaqueiros e cantadores” (1984), “Antologia do Folclore brasileiro” (1944), “Lendas brasileiras” (1945), “Contos tradicionais do Brasil” (1946) e “Geografia dos mitos brasileiros” (1947).
Sentiram quanta variedade de temas nosso maior folclorista abordou? E estes livros que citei são meras gotas d’água em um oceano de cultura, tradições e manifestações artísticas do nosso povo, que Cascudo observou e transcreveu com tanta fidelidade e abrangência.
O Brasil, em relação a outros povos, é um país bastante jovem. Foi descoberto pelos europeus há somente 510 anos, um quase nada, um verdadeiro “ontem” em relação, por exemplo, à China, à Índia, à Grécia, a Roma e à maioria dos europeus.
Se não me falha a memória, nossa colonização começou, somente, em 1532 com Martim Afonso de Souza que, em 22 de janeiro daquele ano fundou São Vicente, no litoral paulista, a primeira cidade do Brasil. Somos independentes há menos de 188 anos (que serão completados, apenas, em 7 de setembro próximo).
Mas recebemos gente do mundo todo, que se mistura com a nossa gente, incorporando, dessa forma, costumes, tradições, folclore e cultura de todos os povos, mas modificados, com acréscimos todos nossos, que os valorizam sobremaneira.
Quanta riqueza cultural, portanto, há no Brasil! E, no entanto... quase não é conhecida por nós. Precisamos, portanto, ou não precisamos, transmitir todo esse acervo às jovens gerações, para que não venha a se perder? Não estou certo, pois, em afirmar, que o brasileiro não conhece (mas de verdade e a fundo) o Brasil, e por isso não o entende e pouco o valoriza? É questão de lógica! Leiam os livros de Luís da Câmara Cascudo e concluam o quão pouco conhecemos da alma do nosso próprio povo.
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