Tuesday, November 09, 2010




Do prelo aos palcos e telas

Pedro J. Bondaczuk

Os bons livros de ficção podem, quando menos seu autor esperar, ganhar novos espaços e projetá-lo, da noite para o dia, nacional e até internacionalmente, deixando o prelo, para conquistar palcos e telas. Claro que, para ser apresentado no teatro, o enredo tem que ser adaptado, o mesmo ocorrendo, e até com mais intensidade, no cinema. Mas deve ser deliciosa a sensação de ver os personagens e enredos, que saíram da sua cabeça, ganhando visibilidade, movimento e voz, não é mesmo?.
O tema veio-me à baila ao assistir, pelo canal de TV fechada (a cabo) MGM, a entrega do “4° Prêmio Contigo de Cinema”, ocorrida em 28 de setembro de 2009, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio de Janeiro, ciceroneada com competência e simpatia por essa talentosíssima atriz que é Dira Paes.
O caso que me chamou a atenção foi de “Divã”, que até que não recebeu tantos prêmios assim. Não foi premiado em categoria alguma pelo “Júri oficial”. Mas conquistou dois troféus do “Júri popular”, por votação de internautas na internet: o de “Melhor Atriz” (Lilia Cabral) e “Melhor Ator Coadjuvante” (Cauã Raymond).
Eu, se o livro que originou o filme fosse meu, também me sentiria muito mais gratificado se recebesse esse reconhecimento do povo, mesmo que fosse solenemente ignorado pela crítica especializada (ou dita especializada). Afinal, escrevemos tendo por alvo sempre e sempre os leitores e não especialistas em Literatura (e muito menos nós mesmos).
Mesmo que essa produção cinematográfica sequer viesse a concorrer a prêmio algum, o simples fato do romance “Divã” haver feito tão vitoriosa carreira no teatro (teve um público total estimado de 175 mil espectadores em 150 apresentações o que, em termos nacionais, é estrondosíssimo sucesso) e depois ganhando versão no cinema e transformando-se em um dos campeões de bilheteria, já seria um enorme feito, uma façanha admirável da escritora Martha Medeiros.
Afinal, essa foi sua primeira incursão na ficção. Essa escritora, de imenso talento, colunista dos jornais “Zero Hora”, de Porto Alegre e “O Globo”, do Rio de Janeiro, sempre se considerou, basicamente, cronista. Publicou algumas coletâneas de crônicas, que nem fizeram tanto sucesso assim, até se aventurar nesse romance, em que narra a história de Mercedes, mulher na meia idade que resolve fazer análise, questionando temas do cotidiano, como casamento, maternidade e paixão.
É verdade que teve a sorte do livro ter caído em mãos de Lilia Cabral. A atriz encantou-se de cara com o enredo e sentiu que tinha tremendo potencial para ser levado aos palcos. Descobriu o telefone da autora e fez-lhe a proposta. Martha, em princípio, relutou, mas acabou por ceder. E foi o sucesso que foi. Nos palcos, contou com a direção de Ernesto Piccolo. Os três principais personagens, que arrancaram gostosas gargalhadas da platéia, no teatro foram Lilia Cabral, Alexandra Richter e Marcelo Valle.
No cinema, óbvio, a equipe foi muito maior. O filme teve a direção de José Alvarenga Jr., roteiro de Marcelo Saback, produção de Iafa Britz, Marcos Dedonet, Vilma Lustosa e Walquiria Barbosa. A fotografia esteve a cargo de Nonato Estrela, a edição foi de Diana Vasconcelos e a música de Guto Graça Mello.
O filme contou com o seguinte elenco: Lilia Cabral, José Mayer, Reynaldo Gianecchini, Cauã Raymond, Alexandra Richter, Eduardo Lago, Paulo Gustavo, Elias Gleizer, Pedro, Vera Mancini, Helena Fernandes, Duda Mamberti, Julianne Trevisol, César Cordeiro, Johnny Massaro e Dona Eulália.
Ressalte-se que a dramaturgia brasileira atravessa um dos seus melhores momentos da história. Para que você, amável leitor, tenha uma pálida idéia a respeito, basta dizer que cerca de quinze produções (se não errei a conta) concorreram ao prêmio de “Melhor Filme”, nesta 4ª edição do Contigo. Nem o Oscar apresenta tanta variedade.
Como se vê, há um amplo mercado de ficção à espera da sua produção. Parta, pois, para a luta. O que está esperando? Escreva, com garra, paixão, criatividade e imaginação. E talvez seu livro tenha a mesma trajetória vitoriosa, ou quiçá até maior, que a do “Divã”, de Martha Medeiros. Por que não?!

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