Sopro de renovação
Pedro J. Bondaczuk
Quem disse que a poesia brasileira não se renova e depende, apenas, dos nomes já consagrados, como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mario Quintana, Vinícius de Moraes, Ledo Ivo, Cecília Meirelles e outros tantos para sobreviver? Felizmente, não é o que acontece. As editoras é que relutam em lançar livros de poesia, pensando, apenas, no aspecto comercial. Muitos asseguram que esse gênero não é vendável. Discordo.
Um bom livro de poesias, com adequada divulgação na mídia, feita de forma inteligente e eficaz (e hoje dispomos de meios para isso, como a internet, por exemplo) é garantia de que não haverá encalhes nas prateleiras das livrarias.
Na revista eletrônica diária que edito, Literário, por exemplo, tenho publicado poemas e mais poemas de excelente qualidade, de poetas relativamente desconhecidos, mas muito bons. Contassem com divulgação adequada, em três tempos se transformariam em ícones da poesia brasileira e nem duvido que viessem a se tornar também best-sellers. O leitor é muito mais esperto do que os editores supõem. Querem um exemplo?
Talis Andrade. Baita poeta, com perfeito domínio da técnica, além de contar com inspiração ímpar. Eu, se dono de alguma editora, lançaria pelo menos um livro por ano desse escritor. E tenho certeza que obteria o devido retorno financeiro, porquanto faria divulgação competente e eficaz.
Poderia citar muitos outros nomes, e apenas dos que nos prestigiam neste espaço, mas não o farei. O leitor atento sabe que não exagero. Há, sim, constante e saudável sopro de renovação na poesia brasileira. Os desligados e os que apreciam a literatura de forma superficial é que não vêem.
O poeta de maior prestígio na atualidade, por exemplo, não é nenhum veterano, com décadas de vida e de experiência. É um jovem, que recém completou 31 anos de idade, e que vem agradando a “gregos e troianos” com a sua poética. Refiro-me a Fabrício Corsaletti, que acaba de lançar seu nono livro, “Esquimós”.
E não foi bancado do próprio bolso, como via de regra ocorre com os poetas, por não encontrarem quem queira apostar em seu talento. Está sendo lançado por uma das maiores e mais prestigiosas editoras do País, a Companhia das Letras. Apenas esse fato já sugere que se trata de um poeta muito especial. E a leitura atenta do seu livro apenas confirma essa evidência.
Corsaletti é muito bom no que faz. Seus versos são, sobretudo, bem-humorados, e refletem nosso cotidiano. Usa e abusa de determinados recursos que, quando bem utilizados, tornam a poesia descontraída e alegre, como aliterações e repetições, todavia sem exageros e sem forçar. Seus versos, na verdade, são naturais, espontâneos e vivos. Sim, parecem ter vida própria, independente, até, do autor.
“Esquimós” contém 60 poemas e, ao cabo de sua leitura, torna-se impossível eleger o melhor. Todos são muito bons, marcantes, atrativos e, incontinenti, tomamos do livro para fazer uma, duas, três, cinco releituras, tamanho é o prazer estético que sua poesia nos proporciona.
Reproduzo, abaixo, a título, apenas, de amostra, o poema “Exílio” (e me limito a ele até para que você, leitor, adquira seu exemplar e descubra, por si só, a magia e a empatia desse poeta de classe A):
Exílio
o nariz da minhja mulher
lembraria o focinho
de uma capivara
de pelúcia
se vivêssemos
numa ilha
selvagem
onde as capivaras
fossem os únicos
animais a correrem
risco de extinção
desde que conheci
minha mulher
me sinto exilado
dentro de mim mesmo
Como se nota, são versos espontâneos, naturais, fluentes e originais, como a boa poesia é e sempre deveria ser. Quando puder, trarei à baila outros exemplos de salutares (e indispensáveis) sopros de renovação na poesia brasileira.
Pedro J. Bondaczuk
Quem disse que a poesia brasileira não se renova e depende, apenas, dos nomes já consagrados, como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mario Quintana, Vinícius de Moraes, Ledo Ivo, Cecília Meirelles e outros tantos para sobreviver? Felizmente, não é o que acontece. As editoras é que relutam em lançar livros de poesia, pensando, apenas, no aspecto comercial. Muitos asseguram que esse gênero não é vendável. Discordo.
Um bom livro de poesias, com adequada divulgação na mídia, feita de forma inteligente e eficaz (e hoje dispomos de meios para isso, como a internet, por exemplo) é garantia de que não haverá encalhes nas prateleiras das livrarias.
Na revista eletrônica diária que edito, Literário, por exemplo, tenho publicado poemas e mais poemas de excelente qualidade, de poetas relativamente desconhecidos, mas muito bons. Contassem com divulgação adequada, em três tempos se transformariam em ícones da poesia brasileira e nem duvido que viessem a se tornar também best-sellers. O leitor é muito mais esperto do que os editores supõem. Querem um exemplo?
Talis Andrade. Baita poeta, com perfeito domínio da técnica, além de contar com inspiração ímpar. Eu, se dono de alguma editora, lançaria pelo menos um livro por ano desse escritor. E tenho certeza que obteria o devido retorno financeiro, porquanto faria divulgação competente e eficaz.
Poderia citar muitos outros nomes, e apenas dos que nos prestigiam neste espaço, mas não o farei. O leitor atento sabe que não exagero. Há, sim, constante e saudável sopro de renovação na poesia brasileira. Os desligados e os que apreciam a literatura de forma superficial é que não vêem.
O poeta de maior prestígio na atualidade, por exemplo, não é nenhum veterano, com décadas de vida e de experiência. É um jovem, que recém completou 31 anos de idade, e que vem agradando a “gregos e troianos” com a sua poética. Refiro-me a Fabrício Corsaletti, que acaba de lançar seu nono livro, “Esquimós”.
E não foi bancado do próprio bolso, como via de regra ocorre com os poetas, por não encontrarem quem queira apostar em seu talento. Está sendo lançado por uma das maiores e mais prestigiosas editoras do País, a Companhia das Letras. Apenas esse fato já sugere que se trata de um poeta muito especial. E a leitura atenta do seu livro apenas confirma essa evidência.
Corsaletti é muito bom no que faz. Seus versos são, sobretudo, bem-humorados, e refletem nosso cotidiano. Usa e abusa de determinados recursos que, quando bem utilizados, tornam a poesia descontraída e alegre, como aliterações e repetições, todavia sem exageros e sem forçar. Seus versos, na verdade, são naturais, espontâneos e vivos. Sim, parecem ter vida própria, independente, até, do autor.
“Esquimós” contém 60 poemas e, ao cabo de sua leitura, torna-se impossível eleger o melhor. Todos são muito bons, marcantes, atrativos e, incontinenti, tomamos do livro para fazer uma, duas, três, cinco releituras, tamanho é o prazer estético que sua poesia nos proporciona.
Reproduzo, abaixo, a título, apenas, de amostra, o poema “Exílio” (e me limito a ele até para que você, leitor, adquira seu exemplar e descubra, por si só, a magia e a empatia desse poeta de classe A):
Exílio
o nariz da minhja mulher
lembraria o focinho
de uma capivara
de pelúcia
se vivêssemos
numa ilha
selvagem
onde as capivaras
fossem os únicos
animais a correrem
risco de extinção
desde que conheci
minha mulher
me sinto exilado
dentro de mim mesmo
Como se nota, são versos espontâneos, naturais, fluentes e originais, como a boa poesia é e sempre deveria ser. Quando puder, trarei à baila outros exemplos de salutares (e indispensáveis) sopros de renovação na poesia brasileira.
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