Tuesday, November 23, 2010




Nossa gente

Pedro J. Bondaczuk

O Brasil é um país maravilhoso! Está bem, há os políticos. Faço a ressalva antes que alguém a faça. Eles estão longe, muito longe de serem sequer razoáveis, é verdade, quanto mais excelentes. Há exceções, claro, como em tudo na vida. Ademais, quem os escolhe somos nós mesmos. Nenhum deles vai a Brasília e assume cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado na marra. São eleitos. Portanto, nós é que precisamos votar melhor.
Todavia, os políticos (nem eles) não conseguem tornar o Brasil menos maravilhoso. Além disso, no ranking da corrupção, o País sequer se destaca (ainda bem). Ocupa posição apenas intermediária. Ou seja, há dezenas de Estados em que seus dirigentes são muitíssimo mais corruptos do que os nossos, embora haja, também, outras dezenas em que são bem menos. Mas... deixa pra lá.
Outros podem argumentar, num acesso do complexo de vira-lata, com a existência no Brasil de profundas desigualdades econômicas e sociais. Embora nesse aspecto tenhamos melhorado muito, notadamente nos últimos oito anos (e estão aí as estatísticas para comprovar), os desníveis ainda são vergonhosos, escabrosos, escandalosos e indecentes. Isso é algo que não se pode negar (e nem seria tão alienado de fazê-lo). Como melhoramos muito ultimamente, todavia, não creio que venhamos a estagnar ou retroceder. Acredito que evoluiremos muito mais.
O que me fascina, neste país, esclareço, não são suas belezas naturais (creio que inigualáveis), nem as riquezas do seu solo (fertilíssimo) e subsolo (ainda pouco explorado), embora isso deva ser destacado. E nem a ausência de grandes cataclismos naturais, como terremotos (embora em áreas do Nordeste registrem-se, volta e meia, leves tremores), vulcões, furacões (à exceção dos que vêm ocorrendo na costa de Santa Catarina) ou tornados (ocorre um ou outro, inclusive aqui em Campinas, mas nada que sequer de longe se compare ao que se verifica anualmente, por exemplo, no Estado norte-americano de Oklahoma, entre outros).
Todas essas vantagens são importantes, mas nenhuma delas é a que me fascina. O que me embevece e me orgulha de ser brasileiro é o nosso povo. Ao longo dos anos, alguns (de fora daqui e também brasileiros) tentaram nos impingir estereótipos sumamente negativos, que nós levamos na boa e até fizemos piada a respeito.
Tempos atrás, por exemplo, falaram muito da nossa suposta preguiça, da falta de vontade de trabalhar. Que besteira! Só um imbecil para dizer tanta abobrinha. Nossos detratores (internos e externos) se esqueceram de mencionar conhecido estudo da Organização Internacional do Trabalho, que constatou que o brasileiro só trabalha menos do que o sul-coreano em todo o mundo.
Perguntem a um empresário alemão, ou francês, ou italiano, de que nacionalidade prefere que sejam seus operários. Os nossos, além de produtivos, têm incrível facilidade de aprender. Mesmo aqueles com baixa escolaridade (a maioria), mostra essa importante virtude.
Sua capacidade de improvisar e de encontrar soluções inusitadas, “fora dos manuais”, para problemas novos que eventualmente surjam em uma fábrica, é notável. Claro que aqueles contaminados pelo complexo de vira-latas não admitem isso. Afinal, contraria suas teses, de uma burrice fenomenal.
“Então não temos nenhum defeito?”, perguntará, em tom irônico, aquele sujeitinho chato que põe defeito em tudo e critica até a crítica. E há uma infinidade desses tipos por aí, a encherem o nosso saco. Claro que temos defeitos! Aliás, todos os que vocês puderem imaginar.
Só que, como somos uma espécie de resumo da humanidade, dada nossa profusa (e benéfica) miscigenação, contamos, também, com todas as virtudes que um ser humano possa ter. Por que haveríamos de herdar apenas as características ruins? Não é assim que a natureza funciona.
Sou brasileiro de primeira geração. Fico numa irritação, que beira à fúria, quando alguém, baseado somente na minha origem e no meu sobrenome (como se isso dissesse alguma coisa) dão entender que sou menos brasileiro do que ele (sou filho de russos). Uma ova! Nasci, me criei e me eduquei aqui. À exceção da aparência física (que é a que menos conta), não tenho nada, absolutamente nada de russo. Não que, se tivesse, seria motivo para me envergonhar. Longe disso. Mas o fato é que não tenho.
Não conheço nenhum outro país e não faço lá muita questão de conhecer. Se der para viajar a passeio, muito que bem. Se não der... isso não me fará falta. Sou brasileiro, brasileiríssimo, dos cabelos às unhas dos dedos dos pés, com todos os defeitos e virtudes do nosso povo.
Orgulho-me disso. Ademais, concordo com o presidente Lula quando, num pronunciamento emocionado, e de improviso, no dia em que o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016, disse, alto e bom som: “Pode haver povo tão bom quanto o nosso, mas nenhum é melhor do que nós”. E não é mesmo, para supremo desgosto de alguns idiotas que não conseguem se livrar do complexo de vira-latas. Estes, por sinal, e para seu próprio bem, devem ir correndo a um bom psiquiatra, porquanto, embora nem desconfiem, sofrem de uma tara muito conhecida: o masoquismo. Adoram sofrer!

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