Tuesday, November 30, 2010







Sociedades democráticas têm discutido, cada vez mais, sobre se uma democracia autêntica comporta ou não lideranças fortes. Há os que temem líderes carismáticos, por causa de uma certa tendência deles para o culto à personalidade, que em geral descamba em ditadura. Mas os liderados têm que ter tirocínio para não se deixarem conduzir por qualquer megalomaníaco que fale bem e exponha, com razoável clareza e lógica, planos mirabolantes, mas inexeqüíveis. Arthur M. Schlesinger Jr. constatou: "A liderança pode modificar a história para melhor ou para pior. São os líderes os responsáveis pelos crimes mais horríveis e as loucuras mais extravagantes que desgraçaram a raça humana. Mas a eles também se credita terem induzido a humanidade a lutar pela liberdade individual, a justiça social e a tolerância religiosa e racial". Um corpo é incapaz de sobreviver sem uma cabeça. O mesmo vale para uma sociedade acéfala.
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Presente de Natal



Dê às pessoas que ama e admira o melhor dos presentes neste Natal: presenteie com livros. Dessa forma, você será lembrado não apenas o ano todo, mas por toda a vida.



Com o que presentear:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). –
Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. –
Preço: R$ 20,90.

Como comprar:

Pela internet
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Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.



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Amor e desamor

Pedro J. Bondaczuk

O amor e o seu oposto – que gosto de chamar de “desamor”, em vez de ódio – são os temas recorrentes mais usados por todos os escritores, de todos os lugares e épocas, na redação dos seus livros. Quer em ficção, quer em não ficção, implícita ou explicitamente, o assunto está sempre presente, de uma forma ou de outra, dando certo ou fracassando, resultando em êxtase e realização, ou em ciúmes, frustrações, sofrimentos e, não raro, crimes passionais.
Até aqui, eu não disse nada de novo. Vocês, certamente, estão carecas de saber isso. Aliás, cabe uma explicação. Chamo de desamor não à aversão (superficial ou profunda) de uma pessoa por outra. Denomino assim aquele amor abortado, ou seja, ou o que é somente unilateral (em que alguém gosta de alguém, mas não é correspondido) ou o que até começa bem, mas que finda por decepcionar uma das partes, depois que conhece melhor o parceiro e conclui que este não satisfaz suas expectativas (físicas, emocionais e/ou afetivas).
Apesar do título destas considerações, não é bem desse aspecto que vou tratar. É de algo mais insólito e original. Você já ouviu falar de “amor ecológico”? Não me refiro ao que devemos ter pela natureza (do qual, certamente, já foi cientificado), mas do que um homem dedica a uma mulher, e que seja politicamente correto”. Ou melhor, “ecologicamente correto”.
Quem traz o pitoresco tema à baila é a escritora norte-americana Stefanie Íris Weiss, no livro “Eco-sex”. Ela não trata, na verdade, propriamente do amor enquanto sentimento, mas de um ato que pode (ou não) ser seu complemento natural: o sexo.
Aliás, o lançamento dessa obra, que tende a causar muita polêmica, está previsto para os próximos dias, mas nos Estados Unidos. Já no Brasil.... Provavelmente, teremos que esperar um ano ou mais para termos acesso a ela.
Weiss justifica da seguinte forma a escolha do tema: “Eu sempre quis escrever um livro sobre sexo. Sou ambientalista engajada e sou vegetariana há vinte anos. Eu mal pude acreditar quando percebi que ninguém tinha escrito nada sobre esse assunto”, afirmou à agência de notícias Reuters.
Calma lá, leitor, juro que não estou brincando. Vem aí um livro, uma espécie de manual, para ensinar-nos a fazer sexo “ecologicamente correto”. Era só o que faltava! A escritora, de 38 anos de idade, cita comportamentos afetivos, e/ou sexuais, que a seu ver contribuem para a agressão do meio ambiente. Menciona, por exemplo, aquele tradicional buquê de rosas que damos à amada no Dia dos Namorados ou por ocasião do seu aniversário.
Weiss entende que, apesar da nossa boa intenção, esse é um procedimento errado. Argumenta que, ao fazer isso, nos esquecemos do custo ambiental que a produção dessas flores traz e, pior, da emissão de carbono que se dá dos veículos usados para o transporte dos locais de plantação para as várias floriculturas. Bah! Então estou contribuindo para o efeito-estufa quando dou rosas (ou margaridas, ou sei lá o quê) à amada?!!!! Nossa, eu não sabia!!!!
Quanto ao ato sexual (ponto que ela mais aborda, evidentemente, em seu livro, daí o título), enfatiza os estragos causados ao meio ambiente pelas camisinhas usadas e jogadas na privada, que entopem os encanamentos ou que chegam aos esgotos, para, no final, possivelmente, poluírem rios e oceanos.
Mas Weiss não se limita a apontar deslizes ecológicos do amor e do sexo (principalmente deste). Apresenta alternativas “ecologicamente corretas” para amarmos e, notadamente, para copularmos. Entre estas, destaca a necessidade do uso apenas de cosméticos naturais orgânicos, de camisinhas de látex biodegradável e de colchões de borracha natural, entre tantas e tantas e tantas outras coisas.
A recomendação mais radical, porém, para darmos nossa contribuição à saúde do Planeta, é a de “termos poucos filhos, de preferência, nenhum”. Lembra que, se nada for feito nesse sentido, o mundo terá, já em 2040, nove bilhões de habitantes. “Pense nos 90% das fraldas descartáveis vendidas todos os anos e que acabam nos aterros sanitários!”, enfatiza.
Pois é, só não sei em que categoria temática classificar o livro “Eco-Sex”: se na de amor ou de desamor. Uma coisa é certa: esta bateu todos os recordes de originalidade (ou seria de exagero? Ou de maluquice?). Enfim... Literatura também tem dessas coisas!

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Monday, November 29, 2010







A Organização Internacional do Trabalho lançou, há algum tempo, um livro sobre a exploração de menores como mão-de-obra escrava ou semi-escrava em vários países, notadamente da África e da Ásia. Cerca de 200 milhões de meninos e meninas, em todas as partes, estão tendo sua dignidade desrespeitada, seu desenvolvimento físico e mental mutilado e suas expectativas frustradas. Mas quem se importa? A verdadeira revolução, a da “humanização” do homem, portanto, ainda está longe de começar. Tememo-la. Impõe-se, pois, a questão formulada por Max Frish: “Quando se tem mais medo da mudança do que da desgraça, o que é que se faz para evitar a desgraça?” Sim, o que?

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Thomaz Perina vive na memória

Pedro J. Bondaczuk

O artista, qualquer que seja sua arte, desenvolve com anos de exercício a aptidão de explorar sutilmente o subconsciente à cata de emoções que lhe sirvam de matéria-prima para maravilhosas obras. Sons, imagens, odores, sensações agradáveis ditadas pelos cinco sentidos etc. são transformados por esses magos criadores (que valorizam e dão nobreza à vida humana) em melodias, telas, esculturas ou palavras que formam metáforas bem ajustadas e harmoniosas. Com o talento de que são dotados, nos transmitem suas emoções, às quais agregamos as nossas, ditadas por nossa própria experiência pessoal.

Os grandes artistas tendem a exercer uma influência decisiva na formação da nossa personalidade e caráter, permitindo-nos conhecer situações, comportamentos e circunstâncias os mais diversos e extremos, sem que precisemos passar por essas experiências pessoalmente. E quando algo análogo ao que tratam nos ocorre, contamos com caminhos e alternativas já conhecidos para sairmos de enrascadas ou para usufruirmos plenamente os episódios benignos e favoráveis que surgirem.

Os grandes artistas estabelecem, sobretudo, sua identidade, que refletem nas obras que criam. Generosos, nos ofertam a possibilidade de libertação do espaço, do tempo e até da morte que, se não a evitam (e não nos ensinam a evitar, pois é inevitável) sugerem como aceitá-la serenamente, como realidade impossível de ser mudada.

Um desses criadores de beleza e transcendência foi, sem dúvida, o campineiro Thomaz Perina, que nos deixou num 28 de novembro de 2009, prestes a completar 89 anos de idade, vividos plena e produtivamente. Legou-nos uma obra magnífica e consolidada. Para que os leitores tenham uma idéia, basta informar que, além de centenas e centenas de obras vendidas, que hoje constam das melhores galerias e mais sofisticadas e completas coleções particulares, seu acervo pessoal ainda é formado por cerca de duas mil peças!!! Trata-se, como se vê, de intensíssima produção que se notabilizou não apenas pela quantidade (imensa, como se vê) mas, sobretudo, pela qualidade.

Thomaz Perina foi uma figura queridíssima na cidade em que nasceu e sempre viveu. Conquistou simpatia e admiração por onde passou. Para que sua memória não morresse com ele, parentes, amigos, discípulos e admiradores criaram o instituto que ostenta o seu nome. Nada mais justo e meritório. E, justamente na véspera do aniversário da sua morte, a instituição inaugurou sua sede própria, que irá centralizar exposições, palestras e outros tantos eventos alusivos ao notável artista plástico. Fui convidado para a inauguração, mas compromissos inadiáveis impediram-me de estar presente. Peço desculpas aos dirigentes do instituto. Ainda assim... estive lá, posto que em espírito.

Ademais, não me faltarão oportunidades para visitar a sede do Instituto Thomaz Perina, já que esta fica a apenas dois quarteirões da minha casa, na Rua Santo Antonio Claret, 229, no bairro do Castelo, aqui em Campinas. Na cerimônia de ontem, foram abertas duas exposições. A primeira leva o título de “Retratos de Perina, olhares sob a forma de arte”, que é uma seleção de obras de diversos autores e realizadas em técnicas variadas, para retratar a imagem e a personalidade do notável artista homenageado. A segunda intitula-se “O restauro do livro de Thomaz Perina”. É uma exposição sobre o processo de restauração do “Livrão”, ou seja, do livro que o artista elaborou de 1949 a 1999.

Mais dois eventos foram realizados, um no dia 28 de novembro e outro no dia 29. O primeiro foi a missa rezada às 9h30 em memória de Thomaz Perina, na Catedral Metropolitana de Campinas. No dia 29 ocorre palestra, na sede recém-inaugurada do instituto. A palestrante será a museóloga especialista em restauro de papéis e bens culturais e mestre em Ciência da Informação, professora Ingrid Beck. O tema a ser abordado é “O restauro do livro de Perina”.

Não cabe, aqui, reproduzir a biografia desse célebre artista plástico (quem é entendido nesse tipo de arte sabe, de sobejo, de quem se trata), mas nunca é demais dar uma ou outra referência aos que o desconhecem. A jornalista Maria Alice Cruz (que saudade, querida!), em matéria que publicou no “Jornal da Unicamp”, edição de 9 a 14 de novembro, intitulada “Os caminhos de Perina”, escreve em determinado trecho: “Na infância, Thomaz Perina gostava de desenhar na rua de sua casa, bem na frente da sua porta, na Vila Industrial, para ouvir os comentários elogiosos dos funcionários das fábricas que passavam por lá na volta do trabalho. Logo, o traço leve do artista migrou do chão de terra para o papel, mas sem deixar de lado a imagem da cidade de Campinas, especialmente a região da Vila Industrial, onde viveu todos os dias da sua vida”.

Thomaz Perina nunca freqüentou nenhuma escola de arte. Seu talento é inato, puro, brotado da alma. Pelo contrário, ele foi, na verdade, um grande mestre para toda uma geração de ótimos artistas plásticos campineiros. Ele próprio comentou o seguinte, a respeito, em uma de suas derradeiras entrevistas: “Por ser autodidata, não tenho formulações teóricas. Com elementos simples, com tratamentos simples, reduzindo a cor a um estado quase neutro, busco uma dimensão, um movimento por percepção, induzindo a relação da paisagem, nome que dou aos meus trabalhos, não só como indicação de um problema, mas também por caráter afetivo”.

Quem quiser conhecer mais a respeito de Thomaz Perina – e asseguro que vale a pena por se tratar, sem favor algum, de um dos melhores e mais apreciados artistas plásticos brasileiros de todos os tempos, com inúmeras exposições e prêmios, quer no Brasil, quer no Exterior, em seu currículo – não pode deixar de adquirir o super-hiper-mega-tera e todos os superlativos que vocês imaginarem bem produzido DVD intitulado “Eu quero o mínimno para falar – Trajetória de Thomaz Perina”, patrocinado pela “CPFL Cultura”, gravado antes que se manifestasse a doença que findou por matar o querido e saudoso artista. Basta entrar em contato ou com o Instituto Thomaz Perina ou com o Departamento de Cultura da Companhia Paulista de Força e Luz, em sua sede de Campinas. Eu tenho esse DVD, assisti-o muitas veze4s e considero-o uma das peças mais preciosas do meu (já considerável) acervo de arte.

Uma das coisas que eu mais quis ser na vida foi artista plástico, embora almejasse, também, ser músico (e médico, e piloto de avião e jogador de futebol). Não fui nem uma coisa e nem outra. Admiro demais tudo o que não consigo fazer. Respeito e valorizo quem faz (desde que sua obra seja realizada com conhecimento de causa, talento e, sobretudo, com competência). O fato de eu não praticar determinada arte não implica em que eu a desconheça ou não a aprecie. Muitíssimo pelo contrário. Fiz, por exemplo, curso de artes plásticas, embora não para ser artista de modalidade (para a qual, reitero, não tenho o mais remoto talento), mas para fundamentar comentários na qualidade de crítico de arte. Thomaz Perina encerrou a última entrevista que concedeu aos meios de comunicação (foi à EPTV, em janeiro de 2009), com este desabafo, em tom de queixa: “Eu só pinto nesta vida!!!”. E seria preciso fazer mais alguma coisa, dotado de tamanho talento e magia como foi?!!!! Ora, ora, ora. Claro que não!!!

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Sunday, November 28, 2010







Os campos de concentração, ao estilo nazista, que todos julgavam coisas do passado, se espalham por grande parte do território do Iraque, do Afeganistão e da base norte-americana de Guantanamo, em Cuba, sob os olhares complacentes e atarantados da comunidade internacional. Extermínio de pessoas, por causa dessa estupidez que se convencionou chamar de “raça” – como se no essencial todos os seres humanos não fossem iguais – ainda ocorrem diariamente, sem que se faça nada para impedir, a não ser utilizar a imprensa para inócuas ameaças e vazias condenações. Nesse festival de desrespeito aos direitos fundamentais do homem, os mais afetados são, pela ordem, as mulheres, os idosos e as crianças. Ou seja, os desequilibrados da atual geração, que não têm tirocínio para entender que são mortais e vão passar e vão cair na vala do esquecimento, buscam comprometer o futuro do mundo. E ninguém faz nada para evitar.
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Fragilidade da civilização

Pedro J. Bondaczuk

A passagem do furacão Hugo por Saint Croix, integrante do arquipélago das Ilhas Virgens norte-americanas, no domingo e na segunda-feira passados, certamente foi das mais traumatizantes. O homem, afinal, nunca se revela tão impotente, tão frágil e indefeso, quanto diante da fúria incontrolável dos elementos naturais.

O leitor já deve ter imaginado o que significa enfrentar ventos de até 200 quilômetros por hora. Somente o ruído que a tormenta produz já é algo sumamente aterrador, capaz de deixar traumas para sempre nos que possuam nervos mais fracos, quando não provocar neles fatais ataques cardíacos.

Uma das lições que a passagem do vendaval pelas Ilhas Virgens deixou foi acerca de algo que vem sendo estudado há tempos por pesquisadores do comportamento humano. Ou seja, de que os grandes choques produzidos pelo medo tendem a apagar o “verniz” civilizatório de determinadas comunidades.

Ontem, por exemplo, Saint Croix estava tomada pela desordem, pelo caos, ao arrepio das leis. Multidões saqueavam estabelecimentos comerciais não à procura somente de gêneros de primeira necessidade, mas de coisas até supérfluas para circunstâncias como essa, como jóias e adornos pessoais.

Testemunhas disseram que até mesmo os encarregados pela manutenção da ordem pública participavam de tais atos criminosos. Isso vem confirmar as projeções feitas por estudiosos que traçaram um quadro, um painel do que ocorreria com a nossa civilização caso ocorresse uma guerra nuclear posto que limitada.

Dependendo da quantidade de mísseis disparados (dificilmente haveria sobreviventes para disparar a totalidade dos arsenais existentes), pelo menos dois terços da humanidade morreriam sob o impacto direto das bombas. Cidades como Nova York, Moscou, Paris, Londres, Roma, Washington e Los Angeles, por exemplo (entre outras tantas) certamente seriam varridas imediatamente do mapa.

Dos cidadãos que eventualmente escapassem dessa carnificina, muitos seriam mortos por vendavais de potência absurdamente alta. A bomba de Hiroshima, por exemplo, produziu um de 800 quilômetros por hora. Portanto, quatro vezes mais destrutivo do que o furacão Hugo. E esse artefato, hoje em dia, é absolutamente obsoleto. Os usados para simples testes são muito mais poderosos do que ele.

Se fosse possível alguém escapar do holocausto nuclear, das pestes produzidas por quase quatro bilhões de cadáveres humanos (além de todos os animais, aves, peixes, insetos e vegetais), da radiação e do “inverno” que se seguiria, dificilmente esses seres que restassem (se restassem) teriam muitos resquícios de humanidade.

O trauma seria tamanho, que tudo o que lembrasse civilização seria destruído. E todo o lento processo que conduziu o homem das cavernas às viagens espaciais teria que recomeçar do ponto zero. Da redescoberta do fogo, da roda, etc. Vale a pena apostar tanto numa arma tão terrível e sobretudo inútil?

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 21 de setembro de 1989).

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Saturday, November 27, 2010







Relatórios divulgados nos últimos tempos, por diferentes organizações internacionais, mostram que podemos falar de tudo, menos de evolução do espírito. Os informes dão conta de torturas, assassinatos, “desaparecimentos de pessoas”, privações ilegais da liberdade, truculências e outros crimes hediondos, muitos dos quais praticados por governos ou por regimes políticos. Ou seja, tais delitos são cometidos em nome de princípios nobres como liberdade, democracia e solidariedade. Relatórios da Anistia Internacional denunciam e fundamentam em farta documentação violações de direitos humanos em mais de uma centena de países. E não são apenas as sociedades retrógradas que torturam, executam, roubam, estupram e maltratam seus próprios cidadãos. Tais delitos ocorrem, indistintamente, na Europa, nos EUA e em praticamente todas as partes do mundo. Onde, pois, a apregoada “nova era”, tão decantada após o fim da “guerra fria”?
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Soneto à doce amada - XCVII

Pedro J. Bondaczuk


Meu corpo guarda, ainda, a sensação
das suas carícias, suaves, calmas,
do delicado toque, da fricção
relaxante dos seus dedos, das palmas

das suas mãos, tão mornas, tão macias,
bálsamos para as minhas tantas dores,
em meu rosto, nas minhas carnes frias,
magérrimas, tensas e em estertores.

Você está sempre em meu pensamento,
não importa a ocasião e o lugar,
me consola, me alegra, me dá alento,

me ilumina, me dá luz, me dá ar.
E me recordo, a cada momento:
Foi você que me ensinou a amar!!!

(Soneto composto em 29 de dezembro de 2004 em Campinas).

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Friday, November 26, 2010







O filósofo Jiddu Krishnamurti, num de seus livros, destaca que “existe apenas uma revolução fundamental. Não é uma revolução de idéias nem é baseada num determinado padrão de ação. Ela começa a manifestar-se quando a necessidade de usar os outros termina. É algo que surge espontaneamente quando começamos a entender a natureza profunda dos nossos relacionamentos. Essa revolução pode ser chamada de Amor”. As rápidas e dramáticas transformações deste início de milênio, ideológicas, políticas e sociais, mantêm intocados os verdadeiros problemas que tornam este mundo um lugar tão perigoso para viver. A ignorância, a prepotência, a cobiça e a exploração do homem pelo homem, permanecem mais presentes do que nunca a atestar que, a despeito do progresso tecnológico, a racionalidade humana não evoluiu um único milímetro nos últimos dois ou três milênios e,ao contrário, pode até ter sofrido uma regressão.
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Um passo à frente, dois para trás

Pedro J. Bondaczuk

Progresso. O que devemos entender por essa palavra? Se a definirmos como bons gramáticos, diremos que é um acréscimo de bem ou de mal, na medida em que possamos discernir entre o bem e o mal; e estaremos assim representando o próprio avanço da humanidade. Mas se, como se faz nesta época em que o progresso é o movimento da humanidade que se aperfeiçoa sem cessar, estaremos dizendo uma coisa que não corresponde à realidade. Esse movimento não se observa na história, a qual só nos apresenta uma sucessão de catástrofes e de avanços, seguidos de retrocessos”.
Belíssimas palavras, não é mesmo? Claro que não são minhas, embora eu comungue dessa idéia. São de um gênio das letras. São de um dos meus escritores favoritos, cujos livros não me canso de reler, pelas verdades que encerram. São de Anatole France – pseudônimo de Jacques Anatole François Thibault – autor que se não excede, se iguala aos seus personagens, pelo talento, caráter e integridade.
Em vez de abordar o conceito de “progresso”, peço-lhes licença para falar deste gênio das letras. Há muito espero uma oportunidade para declarar minha admiração (e gratidão) por este escritor, que tem me influenciado bastante nesta árdua empreitada de tentar conquistar a mente e os corações de milhares, se possível milhões,de leitores.
Constato que Anatole France fez uma espécie de transição entre a forma de fazer literatura no século XIX e a do século XX. Foi, pois, uma espécie de “ponte literária”. Foi das tais pessoas que fazem as coisas com paixão, tudo, textos, livros, amizades, inimizades, ideologias etc. E, como não poderia deixar de ser, era apaixonado, sobretudo, pela escrita. Assim como nós.
Anatole France, porém, foi também um guerreiro, mas no sentido lato do termo. Tanto que, entre 1870 e 1871, participou da defesa de Paris, no momento nevrálgico da Guerra Franco-Prussiana, que redundou na inapelável derrota francesa. Integrou, na ocasião, como guarda nacional, a 1ª Companhia do 20° Batalhão do Sena.
Embora comunista convicto (sobretudo, nos seus últimos anos de vida, já que morreu em 1924 e pôde testemunhar, portanto, a vitória da Revolução Bolchevique de 1917 na Rússia e a posterior criação da União Soviética), fugiu da capital francesa no início da insurreição conhecida como Comuna de Paris, que resultou na morte de milhares de insurgentes. Afinal, era um sujeito corajoso, mas não temerário. E não vislumbrava a mínima chance de êxito no referido levante popular.
Foi bibliotecário do Senado, mas anos depois, chegou à Academia Francesa, eleito, aos 52 anos, para ocupar a cadeira de número 38, anteriormente ocupada por Ferdinand de Lesseps, o projetista e construtor do célebre Canal de Suez, no Egito.
Entre as inúmeras homenagens que recebeu, foi galardoado com a Legião de Honra. Anos depois, todavia, devolveu essa comenda, em solidariedade ao escritor Emile Zola, que a teve retirada, no auge de uma azeda polêmica que envolveu toda a França nos albores do século XX. Poucos tomariam essa atitude em apoio a um colega em situação tão vulnerável e que vinha sendo injustiçado por ser tão corajoso. Mas Anatole France era assim: inquieto, dinâmico, justo, íntegro e participativo. Nunca se omitia.
Como se sabe, Zola foi um dos primeiros (e únicos) intelectuais franceses a tomarem as dores do capitão Alfred Dreyfus. Esse militar foi injustamente acusado de espionagem em favor da Alemanha, expulso do exército com desonra e condenado à prisão na terrível Ilha do Diabo (seu nome já diz tudo), na Guiana Francesa.
Publicou, na ocasião, o célebre manifesto intitulado “Jaccuse”, denunciando uma armação no caso em que o réu foi condenado e perseguido apenas por ser judeu. Essa ousadia valeu a Zola momentos muito amargos e duros. Tornou-se alvo da ira dos militares e da então poderosa direita francesa.
Anatole France, mesmo sabendo dos riscos de se envolver na questão, não se omitiu. Pelo contrário, foi dos primeiros a aderir a essa nobre causa. Assinou, de imediato, a petição para a revisão do processo de Dreyfus. Como se vê, embora muitos o classificassem na ocasião (e alguns o classifiquem ainda hoje) de “encrenqueiro”, era homem de honra, de larga visão, muito além do seu tempo.
Agora vocês entendem por que gosto, não só da sua literatura, mas das suas atitudes? Pelas posições que assumiu, em favor da justiça e da igualdade, nem é de se estranhar sua participação decisiva na fundação da Liga dos Direitos Humanos.
Fosse apenas ativista político, Anatole France já teria reunido méritos mais do que suficientes para se habilitar a credor do nosso respeito e até da nossa reverência e admiração. Mas ele foi além. Foi dos mais criativos e talentosos escritores da virada do século XIX e do início do século XX. Qualquer um pode comprovar isso na leitura de livros como “O crime de Silvestre Bonnard”, “O manequim de vime”, “Thaís”, “O lírio vermelho”, “O poço de Santa Clara”, “A rebelião dos anjos” e tantos e tantos outros.
Essa obra consistente, genial e densa de conteúdo valeu a Anatole France o cobiçadíssimo Prêmio Nobel de Literatura de 1921. Outros dos seus livros que recomendo com entusiasmo (alguns, hoje, autênticas raridades bibliográficas) são: “História Contemporânea” (série de quatro romances), “O caso Crainquebille”, “A ilha dos pingüins”, “Os deuses têm sede”, “A casa de assados da Rainha Pédeuque”, “As opiniões de Jerônimo Coignard”, “O pequeno Pierre”, “A vida em flor” etc.etc.etc. Como se vê, este está habilitado a falar sobre o progresso e tudo o mais. E, nesse aspecto, a humanidade faz a caminhada do bêbado: dá um passo à frente, dois para trás...


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Thursday, November 25, 2010







O fracasso dos dois sistemas ideológicos, surgidos nos últimos 200 anos, deixa um imenso vazio, que deve ser preenchido com algo novo, que corrija as distorções de um e de outro, e aproveite as virtudes de ambos. Os pessimistas, porém, não crêem nessa possibilidade. E prevêem o caos. No meio desses dois grandes grupos de analistas estão os moderados, entre os quais me incluo. São os que acreditam na potencialidade humana, mas sabem que o processo renovador tem que começar com alguém e em algum lugar. Que nunca perdem a “esperança”, mas definem esse conceito de forma correta, como faz Erich Fromm, em seu livro “Ter ou Ser?”, quando diz que ela “não é nem uma espera passiva nem um forçar irreal de circunstâncias que não podem ocorrer. É como o tigre agachado que só saltará quando chegar o momento de saltar”. O que está aí, todos concordam, precisa ser mudado. Mas o que construir no seu lugar? Como? Quando? Que tal a partir de agora?
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Os poetas das águas

Pedro J. Bondaczuk

Vinte e dois de março foi o Dia Mundial da Água. A data destina-se a tentar conscientizar as pessoas da necessidade de preservar este indispensável recurso, aparentemente abundante, mas na verdade sumamente escasso e fundamental à vida, animal e/ou vegetal (sem ele, ela é, com certeza, impossível).
Fôssemos, de fato, racionais, esse tipo de evento não seria necessário. Nossa racionalidade, porém, esbarra, amiúde, na nossa estupidez e temos o suicida hábito de depredar justamente o que nos é essencial. O que fazer?
Embora o Planeta seja constituído, majoritariamente, por água, apenas cerca de 2% dela são potáveis. O restante... Não nos serve para beber, cozinhar, regar plantas etc.etc.etc. Damos valor imenso ao petróleo, que está prestes a se esgotar. Queiram ou não, todavia, este produto de decomposição orgânica transformou, para pior evidentemente, nosso domo cósmico, embora achemos que não e, pelo contrário, consideremos uma preciosidade, uma riqueza cobiçada por bilhões, pela qual pessoas estão dispostas a se matar se preciso for.
Sem o óleo, bem ou mal, todavia, temos condições de viver. Nossos antepassados não viviam, até o século XIX? Por que também não poderíamos?! Contudo, apontem-me um ser vivo, um único e reles, que consiga viver sem água.
No entanto, poluímos e contaminamos com toda espécie de porcaria esses escassíssimos 2% ao nosso dispor, emporcalhando lagos, fontes, córregos, riachos, ribeirões e rios, com toda a sorte de lixo, esgotos e o que há de mais nojento. Por que? Porque o suposto Homo Sapiens ainda precisa evoluir muuuito para ter um tiquinho de sabedoria.
Minha intenção, porém, não é a de escrever um artigo a respeito, até porque prefiro falar de Literatura, tema a que estou mais afeito e que é a minha paixão. Mais especificamente, venho tratar de três escritores que, dada sua temática preferencial, são chamados, com justiça, de “poetas das águas”.
Uma delas, na verdade, é poetisa e das mais inspiradas e premiadas. Muitos e muitos outros escritores poderiam ser designados dessa maneira, mas para não me dispersar e não me alongar em demasia (já que este texto não se trata de um ensaio), vou me concentrar nestes três.
O primeiro deles é o matogrossense Alcides Werk (1934-2003), que em 1954 se fixou no Amazonas e cantou, como poucos até hoje já o fizeram, com beleza, criatividade e verdade, a floresta e os rios da região.
Seu livro “Trilha D’Água”, que esgotou quatro edições (raridade em se tratando de poesia), é um hino de amor à maior bacia hidrográfica do Planeta, que tem que ser preservada a todo o custo para as gerações futuras, caso pretendamos ter um futuro. Se não o fizermos, certamente não teremos.
Sintam o encanto e a magia deste seu poema de amor às águas:

Da noite do rio

Nesta noite sem medida
Eu todo banhado em sombras
Fugi de casa, fugi
Para o branco desta praia,
Como se a aurora que busco
Neste rio se afogou.

Procuro acordar o rio
Que está cansado de viagens
Para ver se me alivio
Da morte que trago em mim
Com falas de cobras grandes
E de mortos pescadores
Que fazem parte do rio
E estã assim como estou.

No céu repleto de nuvens
Há nuvens cheias de chuva
Por que não chove? Quisera
Molhar-me dentro da noite,
Tremer de fome e de frio
Por remissão dos meus males
Deixar meu corpo vazio
Guardando o castelo inútil
E partir buscando a aurora
Para que venha depressa
Banhar as águas do rio
E minha face marcada
Dos ventos com que lutei!

A belenense Olga Savary, nascida em 21 de maio de 1933, de pai russo (mas com ascendência francesa, alemã e sueca) e mãe brasileira, é aclamada pela crítica e laureada com os mais importantes prêmios literários, entre os quais o cobiçado Jabuti.
Seu primeiro livro, “Espelho provisório”, foi publicado em 1970 pela Editora José Olympio. Dada sua temática, merece, sem dúvida, a designação de “Poetisa das Águas”. Seus poemas foram utilizados como matéria de palestras e cursos de Literatura em universidades do Rio de Janeiro, Pernambuco e São Paulo e em vários centros universitários do exterior, ou seja, em diversas instituições dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Dela, trago, à sua apreciação, o poema abaixo:

Água água

Menina sublunar afogada,
Que voz de p´rata te embala
Toda desfolhada?

Tendo como um só adorno
O anel de seus vestidos,
Ela própria é quem se encanta
Numa canção de acalanto
Presa ainda na garganta.

O cuiabano Manoel de Barros, por sua vez, nascido em 19 de dezembro de 1916, é um dos meus poetas preferidos. Êta sujeito que sabe poetar bem! E com simplicidade, posto que com grandeza. Sua obra é profusa e magistral, publicada, além de no Brasil, na França, Portugal e Espanha. Prêmios? Ganhou uma infinidade! Sei de pelo menos doze deles. Embora não se intitule assim, considero-o o legítimo “Poeta das Águas” brasileiro.
Dele, trago como exemplo, este pequeno trecho de um poema que é bastante extenso e que lhe recomendaria, caro leitor, que o lesse por completo em outro espaço:

Mundo pequeno

O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal, há um menino e suas latas maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves.
Aqui, se o horizonte enrubece um pouco,
Os besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa,
Ele me rã.
Ele me árvore.
De tarde, um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos.

............................................................................................

Espero ter dado, dessa forma, com transcendência e beleza, minha humilde colaboração para a valorização desse bem tão precioso à vida (e no entanto tão escasso), que é essa substância que compõe mais de 85% do nosso organismo. E que, rapidamente, adquiramos tamanho nível de consciência, que seja dispensável uma data como o Dia Mundial da Água. Ou isso acontece ou... Cada qual conclua por si o que acontecerá.

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Wednesday, November 24, 2010







Há os que agem eticamente no País e procuram dar bons exemplos, infelizmente quase nunca seguidos ou sequer identificados. É difícil de acreditar que a mentalidade de receber dinheiro indevido e achar que isto é correto será modificada. Ou que não tenhamos nunca mais sonegadores de impostos. Ou que jamais haverá novamente escamoteação de dinheiro público e de merendas escolares. Para que esse milagre acontecesse, seria necessária uma súbita conscientização da maioria, o que, pelo transcorrer das prematuras campanhas para as próximas eleições, com base nos discursos altamente retóricos, mas rigorosamente vazios, é improvável de ocorrer. Resta educar a próxima geração de homens públicos para que promovam a revolução ética de que tanto precisamos. Será que conseguiremos? Não custa tentar!
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Livro perdido de Shakespeare

Pedro J. Bondaczuk

Fala-se, amiúde, em “elo perdido” que, na teoria da evolução de Charles Darwin seria aquele momento em que determinado animal, recém-adaptado à vida fora do mar, teria iniciado prolongado processo de mutação que iria redundar, milhões de anos depois, no homem. Se ele existe ou não é outra história. Creio que todos pelo menos já ouviram falar nisso.
O raro, todavia, é alguém referir-se a algum “livro perdido”. Pois isso, justamente, é, há pelo menos dois séculos e meio, motivo de controvérsia entre críticos, historiadores e outros especialistas em literatura, que se digladiam em torno da autoria de determinada obra.
Para tornar a questão ainda mais apimentada, a polêmica envolve não um escrevinhador qualquer, desses obscuros, de província, mas um gênio. Aliás, é tão genial que, qualquer relação dos melhores escritores de todos os tempos que não contiver seu nome já nascerá morta. É considerado (com inteira justiça) o “poeta nacional” da Inglaterra e os ingleses se referem a ele, carinhosamente, como “The Bard” (O Bardo). Você, certamente, já matou a charada. Nosso personagem é ninguém menos do que William Shakespeare.
Sim senhores. É ele mesmo. É esse genial dramaturgo, que nos legou uma obra densa, profunda e copiosa. Só de peças, das que se tem certeza que escreveu, são 38. Além disso, deixou-nos 154 sonetos, dois longos poemas narrativos e diversas outras poesias.
Sua obra é de estudo obrigatório em todas as escolas de países de língua inglesa, nas aulas de Literatura. Da mesma forma que no Brasil (e em Portugal), analisamos “Os Lusíadas”, de Luiz Vaz de Camões (ou, pelo menos, era analisado nos meus tempos de estudante), os livros de Shakespeare “são virados no avesso”, na Inglaterra, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e vai por aí afora.
Ainda assim, teme-se que boa parte da sua obra tenha se perdido. Como é possível?! Não sei. Volta e meia, aparecem novos livros, atribuídos a Shakespeare, a maioria grosseiras falsificações, que não resistem a uma análise mais artificial. Suas principais peças seguem sendo encenadas por companhias do mundo todo, amadoras ou profissionais, em praticamente todas as semanas (e não acharia exagero se me dissessem que o são todos os dias).
Quem não conhece, por exemplo, “Romeu e Julieta”? Quem não leu a peça e não assistiu à sua representação no teatro, deve ter visto sua versão cinematográfica. E se não viu, conhece, nem que for por alto, o drama desses jovens apaixonados. Esses personagens são tão conhecidos que há, até, uma sobremesa muito comum com o seu nome, envolvendo queijo e marmelada (ou goiabada, ao gosto do freguês).
Muitos de nós, certamente, vivemos a situação desse casal de apaixonados (posto que, felizmente, não com seu trágico desfecho). Quantas pessoas já não se apaixonaram por alguma garota, de família inimiga da sua? E Shakespeare tratou desse drama, tão comum, de forma majestosa, poética, verossímil e bela.
Além de “Romeu e Julieta”, sua peça mais conhecida, legou-nos preciosidades como “Hamlet” (tida pela maioria dos críticos como sua obra-prima), “Sonho de uma noite de verão”, “A tragédia de Júlio César”, “Rei Lear”, “Macbeth”, “Ricardo III”, “A megera domada”, “A comédia dos erros”, “Henry V”, “Titus Andronicus” e vai por aí afora.
Como pode, pois, o autor dessas obras tão geniais ter a autoria de algum livro contestada? Pois é, tem. Trata-se de “Double falsehood”. É de Shakespeare? Não é de Shakespeare? O especialista na obra desse gênio, Brean Hammond, acredita que pode, finalmente, pôr fim à controvérsia. Trata-se de um dos maiores peritos em obras literárias antigas e professor de Literatura da Universidade de Nottingham, na Inglaterra.
Suas conclusão, assegurando não só a autenticidade do livro, mas sua autoria, foi divulgada em 16 de março, em Londres, ao cabo de dez longos anos de análise. A matéria da Agência France Press, que nos traz essa notícia, informa: “Em 1727, Lewis Theobald, editor especializado em Shakespeare, assegurou que havia encontrado uma das três cópias de uma obra perdida do dramaturgo, intitulada ‘Double falsehood or the distrest lovers’. Os especialistas da época denunciaram a suposta falsidade negando que Shakespeare tivesse algo a ver com essa obra. Mas, segundo Brean Hammond, que se dedicou dez anos ao estudo de ‘Double falsehood’, não há nenhuma dúvida que o texto leva a marca de Shakespeare”.
Trata-se, em resumo, de uma tragicomédia que relata a rivalidade entre o malvado Henríquez e o bondoso Julio pelas belas Violante e Leonora. Muitos podem estar se perguntando: como teria acontecido o extravio dessa peça e por que ela não foi publicada na época, quando Shakespeare era vivo? Afinal, ela veio a público, apenas, um século depois da morte do dramaturgo.
As causas, convenhamos, podem ser muitas. Só eu poderia citar, sem pensar muito, umas quatro ou cinco. Quem já escreveu peça de teatro sabe que é muito fácil disso acontecer. Eu mesmo escrevi uma, para ser representada na escola em que estudava, há coisa de quarenta anos.
Durante os ensaios, várias falas tiveram que ser mudadas para facilitar a performance dos atores. O texto sofreu, pois, inúmeras rasuras. Para eventualmente publicá-lo, teria de passá-lo a limpo, pois na época eu não contava com a moleza que se tem hoje, do computador, que facilita tudo, para todo o mundo. Tinha que reescrever o texto na unha
Depois que a peça foi encenada, prometi a mim mesmo consolidar, finalmente, a redação definitiva, aquela que os atores encenaram . O tempo foi passando, o rascunho foi mudando de gaveta, e eu fui mudando de casa, de cidade, de Estado até que.... Lá um belo dia, quando me dispus a, finalmente, passá-lo a limpo, cadê?! Não o encontrei nem com reza brava. Felizmente, não sou nenhum Shakespeare. Portanto, não se perdeu nada que valesse tanto, ou que sequer tivesse algum valor, não sei. Pode ser que dentro de quarenta ou cinqüenta anos a tal peça reapareça por aí. Não pode ter acontecido o mesmo com “The Bard”? Tenho convicção que sim.


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Tuesday, November 23, 2010







A palavra ética, nestes tempos em que o brasileiro demonstra estar cansado de tantas mazelas, de tanta irresponsabilidade e de tanta ausência de senso de coletividade, é uma palavra que tem circulado muito na boca das pessoas esclarecidas e nos textos dos formadores de opinião pública. Muitos, no entanto, usam-na de forma imprópria, inadequada, mostrando que não têm noção exata do conceito. Alguns confundem-na com moral. Outros, interpretam-na na esfera do Direito. Outros, ainda, partem para uma conceituação comportamental, própria do campo da sociologia. A ética, no entanto, é o exercício pleno do livre arbítrio do homem. Ao contrário da moral, nada impõe, mesmo que de forma sutil. Nem sanciona, como acontece no Direito. É uma atitude que devemos ter, sempre, como rotina de conduta, sem jamais transigir, seja qual for a circunstância. É um dever, e não uma concessão, de cada um de nós.
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Nossa gente

Pedro J. Bondaczuk

O Brasil é um país maravilhoso! Está bem, há os políticos. Faço a ressalva antes que alguém a faça. Eles estão longe, muito longe de serem sequer razoáveis, é verdade, quanto mais excelentes. Há exceções, claro, como em tudo na vida. Ademais, quem os escolhe somos nós mesmos. Nenhum deles vai a Brasília e assume cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado na marra. São eleitos. Portanto, nós é que precisamos votar melhor.
Todavia, os políticos (nem eles) não conseguem tornar o Brasil menos maravilhoso. Além disso, no ranking da corrupção, o País sequer se destaca (ainda bem). Ocupa posição apenas intermediária. Ou seja, há dezenas de Estados em que seus dirigentes são muitíssimo mais corruptos do que os nossos, embora haja, também, outras dezenas em que são bem menos. Mas... deixa pra lá.
Outros podem argumentar, num acesso do complexo de vira-lata, com a existência no Brasil de profundas desigualdades econômicas e sociais. Embora nesse aspecto tenhamos melhorado muito, notadamente nos últimos oito anos (e estão aí as estatísticas para comprovar), os desníveis ainda são vergonhosos, escabrosos, escandalosos e indecentes. Isso é algo que não se pode negar (e nem seria tão alienado de fazê-lo). Como melhoramos muito ultimamente, todavia, não creio que venhamos a estagnar ou retroceder. Acredito que evoluiremos muito mais.
O que me fascina, neste país, esclareço, não são suas belezas naturais (creio que inigualáveis), nem as riquezas do seu solo (fertilíssimo) e subsolo (ainda pouco explorado), embora isso deva ser destacado. E nem a ausência de grandes cataclismos naturais, como terremotos (embora em áreas do Nordeste registrem-se, volta e meia, leves tremores), vulcões, furacões (à exceção dos que vêm ocorrendo na costa de Santa Catarina) ou tornados (ocorre um ou outro, inclusive aqui em Campinas, mas nada que sequer de longe se compare ao que se verifica anualmente, por exemplo, no Estado norte-americano de Oklahoma, entre outros).
Todas essas vantagens são importantes, mas nenhuma delas é a que me fascina. O que me embevece e me orgulha de ser brasileiro é o nosso povo. Ao longo dos anos, alguns (de fora daqui e também brasileiros) tentaram nos impingir estereótipos sumamente negativos, que nós levamos na boa e até fizemos piada a respeito.
Tempos atrás, por exemplo, falaram muito da nossa suposta preguiça, da falta de vontade de trabalhar. Que besteira! Só um imbecil para dizer tanta abobrinha. Nossos detratores (internos e externos) se esqueceram de mencionar conhecido estudo da Organização Internacional do Trabalho, que constatou que o brasileiro só trabalha menos do que o sul-coreano em todo o mundo.
Perguntem a um empresário alemão, ou francês, ou italiano, de que nacionalidade prefere que sejam seus operários. Os nossos, além de produtivos, têm incrível facilidade de aprender. Mesmo aqueles com baixa escolaridade (a maioria), mostra essa importante virtude.
Sua capacidade de improvisar e de encontrar soluções inusitadas, “fora dos manuais”, para problemas novos que eventualmente surjam em uma fábrica, é notável. Claro que aqueles contaminados pelo complexo de vira-latas não admitem isso. Afinal, contraria suas teses, de uma burrice fenomenal.
“Então não temos nenhum defeito?”, perguntará, em tom irônico, aquele sujeitinho chato que põe defeito em tudo e critica até a crítica. E há uma infinidade desses tipos por aí, a encherem o nosso saco. Claro que temos defeitos! Aliás, todos os que vocês puderem imaginar.
Só que, como somos uma espécie de resumo da humanidade, dada nossa profusa (e benéfica) miscigenação, contamos, também, com todas as virtudes que um ser humano possa ter. Por que haveríamos de herdar apenas as características ruins? Não é assim que a natureza funciona.
Sou brasileiro de primeira geração. Fico numa irritação, que beira à fúria, quando alguém, baseado somente na minha origem e no meu sobrenome (como se isso dissesse alguma coisa) dão entender que sou menos brasileiro do que ele (sou filho de russos). Uma ova! Nasci, me criei e me eduquei aqui. À exceção da aparência física (que é a que menos conta), não tenho nada, absolutamente nada de russo. Não que, se tivesse, seria motivo para me envergonhar. Longe disso. Mas o fato é que não tenho.
Não conheço nenhum outro país e não faço lá muita questão de conhecer. Se der para viajar a passeio, muito que bem. Se não der... isso não me fará falta. Sou brasileiro, brasileiríssimo, dos cabelos às unhas dos dedos dos pés, com todos os defeitos e virtudes do nosso povo.
Orgulho-me disso. Ademais, concordo com o presidente Lula quando, num pronunciamento emocionado, e de improviso, no dia em que o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016, disse, alto e bom som: “Pode haver povo tão bom quanto o nosso, mas nenhum é melhor do que nós”. E não é mesmo, para supremo desgosto de alguns idiotas que não conseguem se livrar do complexo de vira-latas. Estes, por sinal, e para seu próprio bem, devem ir correndo a um bom psiquiatra, porquanto, embora nem desconfiem, sofrem de uma tara muito conhecida: o masoquismo. Adoram sofrer!

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Monday, November 22, 2010







Cabe, mais uma vez na História, rediscutir a essência do conceito de Estado para redimensionar seu papel. Parece que as noções básicas a esse respeito se perderam no tempo. Foram ofuscadas pelas distorções e contradições dos que assumiram o papel de estadistas, mas sem muito talento para isso. Convém refletir sobre sua definição e uma das melhores é a do filósofo Thomas Hobbes: "Estado é uma multidão de homens unidos como uma pessoa por um poder comum, para a paz, defesa e vantagens comuns dos mesmos". Ou seja, conceitualmente, não se trata de um senhor, mas de servo de uma vontade consensual. Existe para servir, nunca para ser servido. Qual o Estado contemporâneo, todavia, que cumpre esse objetivo? Sim, qual? Certamente nenhum!

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