Monday, October 09, 2006

Apatia e derrotismo


O ex-presidente norte-americano Woodrow Wilson disse, certa feita, num discurso, que “a opinião é que em última análise governa o mundo”. Essa, porém, muitas vezes é formada em bases absolutamente subjetivas, nem sempre fundamentada em informações corretas, completas e isentas. Mesmo quando as coisas começam a melhorar, se a maioria entender que não ocorreu nenhuma evolução positiva, as pessoas ignoram as evidências e se entregam a um exercício masoquista, pernicioso, doentio, caracterizado pelo desalento e por lamúrias. O Brasil vive uma dessas fases de pessimismo, que ameaça descambar para o derrotismo.
A despeito de vários indicadores negativos, de caráter econômico e social, não se pode negar que 1993 apresentou considerável evolução em relação ao ano anterior. É verdade que a inflação continua alta, o desemprego permanece em taxas absurdamente elevadas e a violência toma conta das grandes cidades. Nossas instituições são falhas, os políticos não gozam de credibilidade junto à opinião pública e a maioria dos brasileiros ainda não entendeu como funciona o sistema de representatividade.
Boa parte dos votos, nas várias eleições que se realizam, ainda é “trocada” por favores pessoais ou para parentes. Os eleitores não somente se deixam “subornar”, guindando ao Congresso, às câmaras municipais e às assembléias legislativas homens sem idéias, sem programas e sem o sentido de prestação de serviços à coletividade, como não acompanham a atuação de seus eleitos. Não fiscalizam, não cobram, não exigem, passando aos seus representantes uma perigosa “carta branca”. Preferem as lamúrias inócuas e vazias, do que a exigência de respeito à sua cidadania e ao seu pleno exercício, que é seu direito.
O cientista francês Louis Pasteur demonstrou que não existe geração espontânea. Essa verdade ressalta ainda mais quando se trata de desenvolvimento. Se quisermos ter bens, possuir riquezas, gozar de tranqüila situação econômica, ter um país justo e equilibrado, cabe-nos construir tudo isso. A maneira dessa construção depende de cada um de nós, do nosso “cacife” na vida, onde temos uma e absolutamente única oportunidade.
O Brasil não teria jeito mesmo? Estaria absolutamente perdido e fadado a retroagir, inexoravelmente, para o Quarto Mundo, atolado em miséria, violência e subdesenvolvimento? Recusamo-nos a crer nessa hipótese, nesse determinismo equivocado e suicida. Será que essa geração vai passar para a história como sendo a derrotada, a medíocre, a que não teve fibra, coragem e inteligência para propiciar um novo salto civilizatório?
Vivemos, não somente no Brasil, mas em todo o mundo, uma fase de transição. Esse é o momento para os grandes, para os que crêem que o objetivo do homem sobre a face da Terra não é meramente o de gerar “riquezas” materiais, que não passam de ilusão. A humanidade enfrenta uma crise sobretudo moral. Erich Fromm, em seu livro “Ter e Ser”, conclui: “Somos uma sociedade de pessoas notoriamente infelizes: solitárias, ansiosas, deprimidas, destrutivas, dependentes – pessoas que ficam alegres quando matamos o tempo que tão duramente tentamos poupar” (Sic). No caso brasileiro, aduziríamos: “Miseráveis (pelo menos a maioria), pessimistas e com ausência quase absoluta de solidariedade”.

(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 143 a 145, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).

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