Tuesday, October 31, 2006
REFLEXÃO DO DIA
Os pioneiros, os desbravadores, as mentes iluminadas que deram esses decisivos passos para que o homem saísse das cavernas, deixasse de ser fera e se tornasse a criatura nobre e inteligente que é, não contam com o reconhecimento do que legaram à espécie. Por que? No plano intelectual, o valor das obras, para perpetuar a memória dos seus criadores, é ainda mais contestável. Livros maravilhosos, de reflexão e arte, de sabedoria e estilo, de precisão e beleza foram destruídos nas agressões de povos bárbaros, a outros com alto grau de civilização, com a perda de magníficas bibliotecas. Ao longo dos séculos, foram inúmeras as vezes em que a força bruta prevaleceu sobre a razão. Feras embrutecidas e furiosas eliminaram todos os vestígios da reflexão de esplêndidos pensadores, reinstalando a barbárie. E foram inúmeros os casos desse tipo registrados pela história. Fora os que ocorreram e nem registro tiveram, destruídos pelos inimigos da civilização.
Cantinho da memória
Pedro J. Bondaczuk
“A beleza está em toda parte. E talvez em cada momento de nossas vidas”. Esta constatação foi feita por Jorge Luís Borges, que mesmo depois de acometido de cegueira, a vislumbrava, “com os olhos da alma”, em todo o instante e lugar. Como? Através da imaginação, capacidade ímpar, da qual todos somos dotados, e que tende a tornar belos até mesmo situações e lugares dos mais horrendos e deformados.
Ademais, a beleza não se manifesta, apenas, pelo visual. Não a detectamos “só” com os olhos. Outros sentidos nos possibilitam contato íntimo com ela. O ouvido é um deles e, convenhamos, não o mais desprezível. Longe disso. Ouçam, por exemplo, de olhos fechados, um bom poema, declamado por quem saiba lhe dar a devida ênfase. É um deleite! Ou se disponham a ouvir determinadas sinfonias, ou mesmo canções populares de reconhecida qualidade, executadas por artistas de real talento. A alma parece flutuar fora do corpo, nesses momentos de encantamento, e não raro logramos entrar até em estado de êxtase.
Para usufruirmos da beleza contida (nem sempre de forma ostensiva) em todos os momentos de nossas vidas, porém, temos que estar predispostos para o que é bom e belo. Precisamos adotar atitudes positivas, por piores que sejam as circunstâncias e as pessoas que nos rodeiem. Quando nos limitamos a temer as coisas más, sem coragem para enfrentá-las e tentar modificá-las, na verdade as potencializamos em nossa imaginação, e as tornamos maiores do que de fato são. E elas acabam por envenenar as nossas vidas.
O antídoto para isso é buscar, incansavelmente, a beleza que está por toda a parte, principalmente dentro de nós, que se faz presente em cada momento do nosso cotidiano e, não raro, em nossas recordações, guardada em algum cantinho da memória, à nossa inteira disposição. Boas lembranças tenho aos montes e devoto profunda gratidão às pessoas e circunstâncias que me proporcionaram tantos momentos de deleite, quer físicos, quer (e principalmente) estéticos e, portanto, espirituais.
Uma dessas oportunidades raras, que poucas pessoas já tiveram, foi a de conhecer, de perto, cara a cara, um dos maiores cantores líricos de todos os tempos (para mim o maior, talvez no mesmo patamar do mito Enrico Caruso), que foi o tenor italiano Beniamino Gigli.
Artista consagrado, que despertava delírio em grandes platéias do mundo todo, era, sobretudo, um homem generoso. E adorava o Brasil. Tanto que, entre 1921 e 1951, esteve por oito vezes em nosso país. E nessas ocasiões, além de se apresentar nos melhores teatros de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Manaus, cantou, também, em clubes e igrejas, notadamente da colônia italiana na capital paulista, sempre com entrada franca. Até gravou para a posteridade duas famosas canções brasileiras: “Mimosa” (de Leopoldo Froes) e o clássico do nosso cancioneiro, “Casinha pequenina”.
Tive a oportunidade de ouvir, tocar e até de receber um beijo na testa de Beniamino Gigli em sua última passagem por São Paulo, em 1951. Eu tinha, na oportunidade, apenas oito anos de idade. Era um garotinho franzino, loirinho, de vivos e inquietos olhos azuis, muito tagarela, mas marcado pela vida, ao ser acometido por uma insidiosa poliomielite dois anos antes. Minha profunda tristeza comoveu aquele excepcional artista na ocasião.
Jamais me esqueci (e nem poderia) da figura marcante daquele mito internacional, da sua nobre postura no palco e, principalmente da sua belíssima e incomparável voz de tenor. Gigli interpretou, na oportunidade, além de árias de diversas das óperas que integravam seu vasto e eclético repertório, tradicionais canções napolitanas, como “Ave Maria”, “Mamma”, “Solo per te”, “Santa Lucia”, “O sole mio”, “Non ti scordare di me” e, principalmente, a inesquecível “Parlame damore Mariu” e as duas composições brasileiras que gravaria dias depois, “Mimosa” e “Casinha Pequenina”.
Este momento de beleza e encantamento mudou, por completo, a minha vida. Determinou, acima de tudo, o meu gosto estético. Essa uma hora e meia de sonho e fantasia (diria, de intensa magia) está marcada, profundamente, de forma indelével, em minha memória, passados mais de meio século, como se houvesse ocorrido há pouco, há simples minutos.
Ao recordar desse episódio tão especial, entendo, em toda a sua plenitude, o real significado das palavras de Jorge Luís Borges quando registrou para a posteridade as palavras com que iniciei esta despretensiosa crônica: “A beleza está em toda a parte. E talvez em cada momento de nossas vidas”. Para gozá-la plenamente, basta calar-se por um momento, fechar os olhos e deixar somente o coração falar. Experimente, querido leitor!
Monday, October 30, 2006
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
(Fotos: Arquivo)
RESULTADO DESASTROSO DA PONTE PRETA
Sem Fábio Baiano, que dá ritmo e qualidade ao meio do campo (e que sofreu estranha contusão no vestiário, durante o aquecimento, momentos antes do jogo) e com a ausência de Tuto, seu grande artilheiro, a Ponte Preta sofreu uma derrota desastrosa para o Botafogo, sábado, no Moisés Lucarelli, por 2 a 1, e perdeu a oportunidade de se afastar da zona do rebaixamento. Pelo contrário, ficou em situação desesperadora no campeonato, o que irritou demais a torcida, que cometeu, inclusive, alguns excessos (compreensíveis, mas condenáveis), ao tentar invadir os vestiários. O que mais assusta é que a Macaca não passa a mínima confiança ao torcedor. É um time confuso, assustado e que comete erros infantis em todos os seus compartimentos. Enquanto o ataque perde gols incríveis, a defesa segue falhando nos momentos críticos das partidas e tomando gols absurdos. O problema, ressalte-se, não é de falta de vontade e de comprometimento dos jogadores, mas de qualidade. O time é muito ruim, um dos mais fracos que a Ponte Preta montou nos últimos anos. Agora, só resta torcer por um milagre nos próximos jogos. Ainda acredito que a Macaca se salve, mas a cada dia creio menos nessa possibilidade.
EMPATE QUE FOI UM CASTIGO
O Guarani obteve, na terça-feira, frente ao Brasiliense, o terceiro empate consecutivo, curiosamente todos pelo mesmo placar, 2 a 2, que pelas circunstâncias em que ocorreu, pode ser considerado desastroso. Depois de um primeiro tempo primoroso, em que fizeram, sem grande esforço, 2 a 0 no adversário, os comandados de Waguinho Dias arrefeceram o ímpeto na etapa final. Com isso, o time de Brasília, que não tinha mais nada a perder (tanta fazia ser derrotado por dois quanto por dez gols), partiu para cima do Bugre, fez um gol e, quando tudo parecia consumado, obteve o empate, no último minuto do jogo. O resultado mantém o Guarani na zona do rebaixamento, justamente na reta final do campeonato. Embora o time ocupe a 17ª colocação, tem a mesma pontuação do 18º e apenas um ponto a mais que o 19º e o 20º. A situação do Guarani, portanto, se não é pior, pelo menos é idêntica à do seu maior rival da cidade, a Ponte Preta. Este é um ano para ser esquecido pelo futebol de Campinas.
ÁGUIA, A GRANDE ESPERANÇA
As esperanças do torcedor campineiro, agora, estão todas depositadas no terceiro time profissional da cidade, o Campinas Futebol Clube, que depende apenas das próprias forças para conseguir o acesso à Série A-3 do Campeonato Paulista do ano que vem. Basta ao Águia vencer seus próximos (e derradeiros) dois compromissos, o Lemense, em Leme e o União Mogi, no Brinco de Ouro, para sacramentar a conquista. Seu plantel é excelente para o nível da competição, o time está motivado e é comandado por um ex-atleta experiente e vitorioso, que chegou, inclusive, a ser convocado para a Seleção Brasileira, Edson Boaro, que agora procura repetir seu sucesso profissional como treinador. O momento é de absoluta concentração e de confiança nas próprias possibilidades. O Campinas tem tudo para salvar o futebol da cidade, neste ano tão ruim para a Ponte Preta e, sobretudo, para o Guarani. Força, Águia! Vamos pras cabeças!
SEMPRE OS MESMOS ERROS
A Ponte Preta cometeu, contra o Botafogo, os mesmíssimos erros que havia cometido contra o Internacional. A defesa falhou duas vezes e as falhas, embora poucas, acabaram sendo fatais. No segundo gol do time carioca houve uma indecisão absurda entre Regis e Preto, do que o avante botafoguense Reinaldo se aproveitou para definir o marcador. Enquanto isso, o ataque errava passes e mais passes e consagrava o bom goleiro Max, com chutes equivocados. Houve momentos do jogo em que vários jogadores pontepretanos nitidamente se “esconderam” em campo, de medo de assumir responsabilidade. Apesar do erro fatal no gol do Botafogo, o zagueiro Preto foi dos poucos que deram “a cara para bater”. Mas no aspecto raça, o destaque foi, novamente, Ricardo Conceição. Quem dera que a Ponte tivesse onze atletas como ele. Certamente não estaria na situação vexatória que se encontra. Luís Mário, de quem se esperava muito – não só neste jogo, mas na temporada – de novo decepcionou, apesar de ter sofrido o pênalti que redundou no gol pontepretano. A Ponte Preta, rebaixada ou não, precisa fazer, no próximo ano, uma profunda reformulação, não apenas no seu plantel, mas nos seus conceitos.
CLÁSSSICO DAS CANELADAS
O clássico entre o Corinthians e o Palmeiras, disputado na quarta-feira, no Morumbi, foi uma das piores partidas envolvendo estes dois times que já vi nos quase 60 anos em que acompanho o futebol. Venceu quem foi o menos pior, ou seja, o alvi-negro do Parque São Jorge. E graças, apenas, a um golzinho solitário, de cabeça, na cobrança de escanteio, marcado por Marcelo Matos. E foi só. Tecnicamente, foi um espetáculo deprimente, que não condiz em absoluto com as tradições desses dois clubes. Ambos devem escapar do rebaixamento, mas não porque estejam jogando de forma pelo menos razoável, mas porque há uns dois ou três times (entre os quais a Ponte Preta), que conseguem a façanha de serem ainda piores do que ambos. Pena que a Macaca já enfrentou os dois. Caso contrário...E pensar que a MSI montou esse time atual do Corinthians pensando em torná-lo campeão do mundo! Só se for campeão da ruindade!
COM A MÃO NO TÍTULO
A menos que aconteça uma zebra incrível, dessas que ocorrem somente uma vez a cada cem anos, se pode afirmar, com quase certeza, que o São Paulo já é o virtual campeão brasileiro da temporada. Não que o tricolor do Morumbi esteja jogando um futebol esplendoroso, comparável ao do grande Santos da década de 60, longe disso. Mas diante da fragilidade dos adversários, não vejo quem possa barrar o caminho dos comandados de Muricy Ramalho rumo ao título. É a esse adversário motivado, cheio de gás, com o moral nas nuvens, que a Ponte Preta precisará derrotar no próximo sábado, e em pleno Morumbi. Se conseguir, o feito valerá pelo ano todo, talvez pela década. No jogo de sábado passado, em Florianópolis, diante do Figueirense, o tricolor, de novo, jogou uma partida apenas discreta. Ainda assim, voltou para São Paulo com os três pontos na bagagem. Tomara que baixem, nos jogadores pontepretanos, os espíritos de Oscar, Polozzi, Odirlei, Wanderley Paiva, Marco Aurélio e, principalmente, do Dicá e que a Macaca, dessa forma, surpreenda o Brasil e o mundo e derrote o poderoso tricolor paulistano. Se formos encarar o jogo apenas pela lógica...valha-me Deus!!!
RESPINGOS...
· O Bahia deu vexame, no sábado, diante do Ipatinga, pela Série C do Campeonato Brasileiro. Além de perder para o bom time mineiro, por 2 a 0, em plena Fonte Nova, sua torcida protagonizou um dos espetáculos mais deprimentes que já vi nos últimos anos.
· O Grêmio Barueri tem a pretensão de ser um novo São Caetano. Depois de subir para a Série A-1 do Campeonato Paulista de 2007, está bem cotado para ascender, também, à Série B do Campeonato Brasileiro. Sábado, derrotou o Vitória, no Barradão, por 2 a 1.
· O Atlético Paranaense, nas mãos de Vadão, é outro time. Depois de se classificar, no0 meio de semana, para a próxima fase da Copa Sul-Americana, ao golear o Nacional de Montevidéu, por 4 a 1, repetiu a dose, no sábado, no clássico estadual, e enfiou um categórico 4 a 0 no rival Paraná.
· Apesar da derrota, no sábado, para o Gama, em Brasília, o Atlético Mineiro está a apenas uma vitória da sua volta para a Série A do Campeonato Brasileiro. A mesma situação vive outro clube tradicional, o Sport Recife.
· O Santos, de mansinho, de mansinho, com um time apenas discreto, está muito perto de garantir uma das vagas para a Libertadores da América do ano que vem. Sábado, complicou ainda mais a situação do São Caetano, ao derrotar o time do ABC por 1 a 0.
* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
REFLEXÃO DO DIA
"A poesia encontra-se em todas as coisas – na terra e no mar, no lago e na margem do rio. Encontra-se também na cidade – é evidente para mim aqui, enquanto estou sentado, que há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro; há poesia no barulho dos carros nas ruas, em cada movimento diminuto, comum, ridículo, de um operário, que do outro lado da rua está pintando a tabuleta de um açougue". Estas palavras são de Fernando Pessoa, e definem o vasto campo de ação do poeta: a totalidade das coisas, das pessoas e das emoções que elas têm. É uma trilha aberta a todos, mas que apenas alguns raros seres que fogem do convencional, dotados de um "filtro" muito especial, conseguem vislumbrar. No meio do caminho, como que por magia, transformam palavras comuns em pepitas de rara beleza e incomensurável valor. São como o legendário rei Midas: transformam em ouro tudo o que tocam. Brincam com os sentimentos, como as crianças com seus brinquedos preferidos.
Esperança, de novo, supera o medo
Pedro J. Bondaczuk
O presidente Luís Inácio Lula da Silva – que se tornou, ontem, o segundo governante a ser reeleito na história do Brasil, na quinta eleição direta para a Presidência da República desde a redemocratização – disse, na noite de 27 de outubro de 2002 (portanto, há quatro anos e três dias), tão logo tomou conhecimento da sua consagradora vitória nas urnas, em discurso que improvisou, na oportunidade, na Avenida Paulista, em São Paulo –, onde os correligionários festejavam a sua chegada ao poder, após três tentativas anteriores frustradas – uma frase que se tornou emblemática e que caracterizou à perfeição o que foi aquela batalha política: “A esperança venceu o medo”.
Claro que sua expressão, na época, tinha endereço certo, político, voltada aos adversários que na reta final da campanha buscaram atemorizar os eleitores, pintando cenários assustadores, no afã de semear o terror e fazer as mais estapafúrdias previsões caso ele fosse o escolhido. O recado de Lula era voltado, mais especificamente, à atriz Regina Duarte e ao candidato que derrotou, José Serra (que lançou mão desse artifício em desespero de causa), para tentarem reverter um quadro que, no final das contas, provou ser irreversível.
Bem que o presidente poderia repetir, agora, até com muito mais razão do que há quatro anos, o que disse em 2002. Mais do que nunca, nestas eleições de 2006, a esperança venceu (e de novo) o medo, tolo e irracional, que seus adversários tentaram, em vão, espalhar e instalar nos corações e nas mentes dos brasileiros. Lula foi reeleito com mais de 60 milhões de votos (mais do que a população total de países como a França, a Grã-Bretanha ou a Itália). E venceu, também, pela segunda vez consecutiva, o indisfarçável preconceito da elite contra um operário competente, nordestino, que driblou as vicissitudes adversas e a miséria e chegou, por méritos pessoais, ao supremo cargo da Nação. Venceu armações de toda a sorte (como no ainda nebuloso episódio do dossiê dos Vedoins) de uma oposição raivosa e selvagem, ávida pelo poder a todo e qualquer custo, que entendia que os fins justificavam os meios. E venceu, principalmente, a indecorosa parcialidade da imensa maioria dos meios de comunicação do País, que fizeram de tudo para que o presidente não fosse reeleito, como se fosse questão de honra e, como se viu, se deram mal.
A imprensa, salvo raras e honrosas exceções, arriscou, nesse processo eleitoral recém-findo, o maior patrimônio que seus integrantes, os jornalista, têm e que deve ser preservado acima de todo e qualquer interesse: a credibilidade. Por terem esquecido a ética profissional, os jornais, revistas e emissoras de rádio e TV, na sua grande maioria, saem bastante arranhados desse episódio. Quem sabe se agora baixam um pouco a bola, se esquecem dessa bobagem de “Quarto Poder” que há tempos se auto-proclamaram que eram (não se sabe com que legitimidade ou escolhidos por quem) e deixam de lado sua absurda arrogância e calamitosa presunção.
Em 2002 – dias antes da realização do segundo turno – Regina Duarte expressou (com todas as letras, acentos e pontos) seu temor diante da possibilidade do fundador do PT vencer as eleições (se sincero ou não, era impossível de se avaliar, já que aquilo que ela declarou entrava no nebuloso campo dos sentimentos e no das presunções sobre sua sinceridade ou falta dela), vitória que, àquela altura, era iminente. Mas a resposta de Lula, depois de eleito, valeu, não somente para ela ou para os adversários da ocasião, mas para toda a sociedade. E valeria um bis, agora, em 2006, quando teve que enfrentar não apenas outra renhida batalha eleitoral, mas uma guerra suja e cruel, na qual seus adversários entenderam que valia tudo para ser ganha – até insinuações malévolas e irresponsáveis à honra do presidente e à de sua família, entre outras tantas agressões (e que, salvo engano, tende a prosseguir ao longo do seu segundo mandato).
Dezenas de episódios, na política, na economia e na vida, opuseram esses dois sentimentos, esperança e medo –, que parecem antagônicos, mas que, no entanto, quase sempre se manifestam de forma simultânea –, tanto em 2002 quanto no correr dos últimos quatro anos, quer no plano individual, quer coletivamente. Sua menção é até desnecessária. Cada um dos leitores, se forçar um bocadinho só a memória, certamente vai se lembrar de vários casos, pessoais ou coletivos, desse confronto. É certo que a esperança não prevaleceu em todas as circunstâncias. Contudo, em algumas, as pessoas deixaram de obter marcantes conquistas, inibidas, justamente, pelo “medo de tentar”.
A vitória de Lula, em 2002, despertou, na população, um clima de inusitado otimismo, mesmo com a escalada da inflação que então se verificava, com as incertezas no cenário internacional (econômicas e também políticas, pois na época era iminente a invasão norte-americana ao Iraque, que acabou se confirmando meses depois) e, principalmente, com o alto índice de desemprego no País. Mas o presidente (queiram ou não seus adversários) arrumou a casa, que estava uma bagunça. Controlou a inflação, que já beirava os 20%, multiplicou as exportações, pagou antecipadamente o Fundo Monetário Internacional, valorizou o real (quando assumiu, um dólar valia R$ 4,00 e hoje oscila por volta dos R$ 2,16), lançou importantes programas sociais, gerou empregos, valorizou o salário-mínimo e, sobretudo, reduziu a miséria de milhões de brasileiros. Decepcionou alguns, é verdade, que viam nele um mágico, e não um mero presidente, capaz de operar milagres. Ninguém é. Agradou, porém, a maioria, que é o que importa. Por isso, sai, de novo, consagrado nas urnas e nos braços do povo, a despeito da ação raivosa da imprensa.
Oxalá nos próximos 1460 dias do seu novo mandato, e mais do que isso, nos próximos 100 anos ou mais, seja este o resultado desse perpétuo confronto de sentimentos tão díspares no coração humano! Ou seja, que a esperança, e mais do que ela, a certeza, sigam derrotando o medo. Feliz segundo governo, pois, para o operário, para o metalúrgico, para o homem do povo Luiz Inácio Lula da Silva, cujo sucesso vai significar, também, felicidade, progresso e tranqüilidade para todos nós. Não é por acaso que se diz que a profissão por excelência do brasileiro é a esperança. Que Deus o abençoe e ilumine, caro presidente da República! E há de abençoar, estamos certos disso.
Sunday, October 29, 2006
REFLEXÃO DO DIA
A palavra "amor", seja em que língua ou dialeto for, é, certamente, a mais citada, (embora a menos compreendida em seu real significado), em poemas, romances, novelas, letras de canções etc. em todo o mundo, através dos tempos, desde o surgimento das civilizações, das artes e da escrita. O termo sempre se viu cercado de extrema ambigüidade. Dependendo do contexto, tem sido utilizado, até mesmo, por paradoxal que pareça, para exprimir seu antônimo, o ódio, sem que aquele que o utiliza com tanta inadequação sequer se dê conta. Pois é este sentimento sublime, mais falado do que praticado; esta elevada emoção, que todos sentimos algum dia na vida, mas que, por alguma razão, alguns de nós sufocamos; o tema central do excelente livro "Amor, Caminhos e Descaminhos", do jornalista, escritor, educador e advogado Rubem Costa, que recomendo a todos. É imperdível!
Sociedade virtual
Pedro J. Bondaczuk
A expansão vertiginosa da rede mundial de computadores, a Internet, está provocando sensíveis mudanças de comportamento na sociedade, cuja profundidade e alcance ainda não podem ser mensurados. Cada vez mais pessoas ao redor do mundo se tornam "internautas" (neologismo que se fixa na linguagem cotidiana em vários idiomas), em busca de informação, entretenimento, comunicação e realização de negócios. Mais e mais usuários fazem suas compras sem sair de casa. Depositam e sacam dinheiro em bancos, fecham contratos comerciais e realizam outras operações da vida prática, usando apenas um microcomputador, uma linha telefônica e um bom servidor.
Nota-se uma adesão crescente de jovens à Internet. Já trocam bailes e boates que freqüentavam pela "navegação" na rede mundial. Fogem, com isso, dos riscos da violência e do consumo de drogas. Criam jargões apropriados, fazem pesquisas para a escola, "namoram" à distância (às vezes separados até por continentes) e muitos têm sua iniciação sexual com o "sexo virtual". Desenvolvem, portanto, novos valores e impõem novos comportamentos. Pais preocupados buscam conter excessos dos jovens (ou o que julgam ser excessivo). Depende do que entendem como "exagerado".
Esse novo comportamento é bom ou ruim? Entendemos como positivo e irreversível. O escritor Arthur Clarke, num ensaio publicado em 3 de setembro de 1978 no Suplemento Literário do "O Estado de São Paulo", sob o título "O futuro no mundo das comunicações", justifica porque é bom. Escreve: "O homem é um animal comunicativo. Exige notícias, informações, divertimentos, quase tanto quanto alimento. Na verdade, como um ser humano na ativa, pode sobreviver muito mais sem alimento – e mesmo sem água – do que sem informação, como nos mostraram experiências de privação sensorial". E, neste caso, a Internet é um perfeito "kit de primeiros socorros" em termos de comunicação. Veio para ficar, e por isso se impôs, criando novas posturas e comportamentos.
(Artigo divulgado na revista eletrônica "Barão Virtual", na Internet, na segunda semana de setembro de 1998)
Saturday, October 28, 2006
REFLEXÃO DO DIA
"A poesia encontra-se em todas as coisas – na terra e no mar, no lago e na margem do rio. Encontra-se também na cidade – é evidente para mim aqui, enquanto estou sentado, que há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro; há poesia no barulho dos carros nas ruas, em cada movimento diminuto, comum, ridículo, de um operário, que do outro lado da rua está pintando a tabuleta de um açougue". Estas palavras são de Fernando Pessoa, e definem o vasto campo de ação do poeta: a totalidade das coisas, das pessoas e das emoções que elas têm. É uma trilha aberta a todos, mas que apenas alguns raros seres que fogem do convencional, dotados de um "filtro" muito especial, conseguem vislumbrar. No meio do caminho, como que por magia, transformam palavras comuns em pepitas de rara beleza e incomensurável valor. São como o legendário rei Midas: transformam em ouro tudo o que tocam. Brincam com os sentimentos, como as crianças com seus brinquedos preferidos.
Cantinho da memória
Pedro J. Bondaczuk
Minha memória sai ao sol,
num passeio pelo trigal dourado,
pelo lago cristalino e azul,
pela fonte luminosa da praça.
Minha memória quer banhar-se
nas águas do Rio Santa Rosa,
aspirar o aroma dos bosques,
ouvir a algaravia das aves.
Retorna, com minhas lembranças,
à varanda da casa de vovô,
perfumada pelo aroma adocicado
das flores de laranjeira,
preservada, num cantinho do passado,
como meu Éden particular,
minha alvorada para a vida,
meu paraíso indevassável
de beleza e encantamento,
indestrutível momento fatal.
Retorna e reencontra
todos jovens outra vez,
preservados dos desgastes
e alucinações do Tempo,
todos vivos e saudáveis,
como antes,
mais que antes,
num cantinho do passado,
em algum recanto ignoto,
em alguma dimensão da vida.
Não tem limitações no espaço,
derruba as barreiras do Tempo,
invade os campos do infinito,
tenta desbravar a eternidade
pois, quando me sinto triste,
triste, triste, triste mesmo,
pensando até em morrer,
minha memória (doce essência)
me abandona, simplesmente,
e, nas asas da recordação,
sai só, a passear ao sol..
(Poema composto em Campinas, em 15 de agosto de 1974)
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Friday, October 27, 2006
REFLEXÃO DO DIA
Que não se diga que a literatura e as artes em geral estejam em crise. Talvez esteja havendo, isto sim, excesso de arrogância por parte daqueles que são incumbidos de decidir se essas obras devem ou não vir a público. A argumentação para o veto da publicação de escritores jovens é sempre a mesma: o fator econômico. Dizem os editores que, em virtude da crise e dos custos de produção, os lançamentos precisam ser muito criteriosos e que ninguém quer correr o risco de encalhes em prateleiras de livrarias. O argumento pode até ser válido. O que é inconsistente é a afirmação de "críticos" de que o País se encontra em um vácuo de criatividade. Há, isto sim, autênticas "igrejinhas", fazendo com que as obras sejam selecionadas para publicação ou não por critérios que absolutamente fogem à sua qualidade artística. Neste aspecto, os que mais sofrem são os poetas.
Na calada da noite
Pedro J. Bondaczuk
A noite me fascina, mas também me assusta. Fui dessas crianças que sempre tiveram medo do escuro. Só conseguia dormir com uma luz acesa no quarto, proveniente de um abajur no criado-mudo para dissipar, pelo menos em parte, a escuridão, e que só era desligado quando os primeiros clarões do novo dia penetravam pelas frestas da veneziana. A razão? Jamais consegui saber.
No início da adolescência, passava noites e mais noites em claro, compondo versos – que nem sei onde foram parar – de forma frenética, diria até delirante, ouvindo rádio e sonhando, sonhando acordado em me tornar um grande escritor. Mais tarde, gostava de perambular, sem destino, pelas ruas (naquele tempo não havia a violência de hoje), observando as pessoas, parando nos barzinhos que encontrava pelo caminho para beber alguma coisa e para dois dedos de prosa. E só voltava para casa quando o dia começava a raiar.
Depois...veio o trabalho. Por anos e anos a noite foi o período em que exerci a minha atividade de jornalista, mais especificamente, de editor. Houve ocasiões (que duraram décadas), em que começava minha jornada às 15 horas e só a encerrava às quatro da madrugada do dia seguinte. Nunca me saíram da memória os tipos que conheci nas ruas de São Paulo, nessas madrugadas vadias do passado.
Um tal de A. R. Smith (não tenho a mínima idéia do que essas iniciais significam), escreveu, em certa ocasião – encontrei essa citação numa revista e decidi anotar: "Não há solidão mais terrível nem mais impressionante que aquela que existe no coração de uma enorme e fria cidade". Pude (reitero) comprovar isso na prática. Não há mesmo.
Lembro-me que, em 1961, quando trabalhava como locutor de rádio (e eu tinha só 19 anos, vejam só!), numa dada noite, ao voltar de Santo André (eu trabalhava na Rádio ABC dessa cidade), rumo a Santo Amaro (morava numa pensão desse distrito de São Paulo), perdi o último ônibus para casa.
Tendo que esperar até às seis horas da manhã, quando a linha voltaria a circular (eram duas da madrugada), decidi preencher, de alguma forma, esse tempo. Caminhei, vagarosamente, sem destino definido, pelas ruas então desertas do coração da metrópole (o atual Centro Velho paulistano). Parei em uma banca e comprei umas cinco ou seis revistas (lembro-me que foram a "X-9", "Gazeta Esportiva Ilustrada", "Revista do Rádio", "Equipe" e mais duas especializadas na publicação de letras de músicas) e o jornal "O Estado de São Paulo".
Passei por um barzinho, tomei um café e um "rabo de galo" (pinga com cinzano), comi um ovo empanado e comprei um maço de cigarros Luiz XV (sem filtro, claro, pois na época apenas o Minister tinha filtro e era muito caro e fraco para o meu gosto).
Andando, sem nenhuma pressa, observava o rosto das pessoas com as quais cruzava, que trabalhavam nesse horário tão ingrato e estavam entrando ou saindo de serviço. Percebia. em cada uma delas (ou julgava perceber) uma espécie de resignação, de solidão, de mudo e desesperado apelo à cordialidade, à companhia e ao diálogo. Eu também me sentia assim. Nem me passava pela cabeça, na ocasião, a mínima possibilidade de assalto. Os tempos, nessa época, eram menos violentos, conforme já destaquei.
Cansado de caminhar, sentei-me num banco, sob um abrigo de ônibus que fica ao lado da escadaria que dá acesso à Galeria Prestes Maia, no Viaduto do Chá, em pleno Vale do Anhangabaú. Lá, para que o tempo passasse mais depressa, fiquei a rabiscar o esboço de um poema em um caderno, que sempre trazia comigo, em uma pasta, para esse fim e que não sei onde foi parar (perdi tanta coisa que hoje me faz uma falta enorme!).
Fiquei por quatro horas nesse local. Nesse tempo todo, fui abordado, apenas, por duas pessoas. Ambas, de vida irregular. Gente infeliz, solitária e provavelmente sem futuro. O primeiro dos meus interlocutores foi um homossexual. Ele queria porque queria manter relações sexuais comigo. Fiquei horrorizado! Não gosto de homens! Esta nunca foi a minha praia! E embora não condene os veados (afinal, gosto é gosto) e não tenha preconceito a respeito (quem sou eu para ditar moral aos outros!) essa insistência me incomodou e tive que ser áspero com o indivíduo. Precisei, até mesmo, ameaçá-lo com uma arma, que sempre portava comigo para minha defesa, para que ele me deixasse em paz. Fazendo gracinhas, o veado, finalmente, foi embora.
Não demorou muito, uma prostituta sentou-se ao meu lado. E foi logo para o ataque, pondo a mão em minha coxa, à procura do meu sexo. Embora gostando da manipulação, protestei. A mulher, uma mulatinha até que jeitosa, propôs que dormíssemos juntos, por uma determinada importância que não me recordo qual foi, mas que sei que era irrisória. Estas duas abordagens chocaram-me profundamente.
Eu, que até àquela época vivera me instruindo na virtude, que há apenas um mês havia deixado um colégio interno, dirigido por religiosos, não concebia ter um envolvimento dessa espécie. Fiquei profundamente chocado com o fato de alguém precisar vender o corpo para sobreviver. O que senti, então, além de piedade pela infeliz prostituta e raiva contra a sociedade, não sei, mesmo hoje que sou mais vivido, menos ingênuo e nem um pouco inocente, exprimir com clareza. Posso até afirmar, com convicção, que foi nessa noite que deixei de ser criança. E eu tinha apenas 19 anos! Compreendi, desde então, que o mundo não era aquela maravilha que eu pensava que fosse (e que ainda sonho que um dia possa vir a ser).
Lembrei-me de uma crônica de Luís Martins, publicada na seção “Primeira Coluna” – que ele assinava diariamente no jornal O Estado de São Paulo – em 14 de dezembro de 1963, que diz: “A noite é um grande mistério. É durante a noite que a vida toma novas formas, que os seres e as coisas se modificam”. E o cronista arremata dessa forma esse magnífico texto: “Assim a noite, sendo incubadora de vida – as flores abrem, as crianças crescem – é também um laboratório de ruínas. É durante a noite que os doentes graves pioram; é durante a noite que a morte caminha sorrateiramente em direção às suas presas, com a cumplicidade das sombras e do silêncio, como um verme voraz, numa lenta obra de destruição, que só é levada a termo com o completo extermínio do objeto destruído”.
Creio, pois, que isto explica, mesmo que em parte, a razão do meu fascínio e, simultaneamente, do meu temor pelas noites, período em que, por sinal, meus melhores textos foram “gestados”. Eles nasceram no silêncio às vezes sepulcral das altas madrugadas, rompido, apenas, de quando em vez, pelo latido distante de um cão ou pelo ronco de motor de algum carro, de qualquer noctívago, à procura do que só Deus sabe.
Thursday, October 26, 2006
REFLEXÃO DO DIA
"A literatura brasileira, a exemplo do próprio país, passa por uma crise de criatividade", afirma-se, amiúde, com ares doutorais, em determinados círculos. Comenta-se, não apenas acerca das letras, mas também das artes plásticas, da música erudita e até da popular, que haveria hoje um vazio de qualidade. Mas estaria de fato ocorrendo esta generalizada ausência de talento ou os críticos é que não estão conseguindo enxergar os bons trabalhos que se produzem por aí? Prefiro acreditar na segunda hipótese, diante da quantidade de originais de livros que me são encaminhados para apreciação e que, mesmo bons, acabam ficando inéditos. Há um preconceito indisfarçável contra o escritor novo. Ou contra aquele que se recusa a engessar seu talento com os modismos em voga entre pseudo-intelectuais.
Para se viver um grande amor
Pedro J. Bondaczuk
O poetinha Vinícius de Moraes, com a sua verve irresistível e seu jeito doce de poetar, escreveu inúmeros poemas sobre o amor, a maioria antológica. Seus versos são citados amiúde, por namorados ou simples paqueradores, Brasil afora, pela beleza que encerram e pela forma convincente de se cantar uma mulher. Aliás, não me lembro de nenhum deles (e nem de nenhuma das centenas de letras de canção que escreveu), em que o tema não estivesse presente, ou de forma ostensiva, ou subjacente, mediante simples sugestão. E está certo o poeta.
Nada em nossa vida é mais importante, e nos marca com maior intensidade, do que o amor que, no dizer do psicanalista Erich Fromm (creio que essa era a sua principal atividade, não sei), “é a única resposta sadia e satisfatória para o problema da existência humana”. E é de fato. Alguém duvida? Afinal, é dele que se origina a vida. Ou não é?
Sem querer contar vantagem, sou, e sempre fui, um amante inveterado. Vivi grandes amores, mas nem sempre fui bem-sucedido. Diria, até, que na maioria dos casos quebrei a cara. Ou seja, amei, sem ser correspondido. E nas três formas que conheço de amor envolvendo um homem e uma mulher (aqui não entram as tantas outras, como o que temos pela pátria, ou pela família, ou pelos amigos, ou pelo nosso time de coração, ou a Deus etc.etc.etc.).
Não sei dizer se já fui amado sem que correspondesse a quem me amou. Provavelmente não. Pelo menos nunca me chegou ao conhecimento que alguém, a quem não quisesse (ou não pudesse) corresponder estivesse me amando. Mas...nunca se sabe. Pode ser até que já tenha acontecido, sem que eu jamais me desse conta.
Citei, linhas acima, três formas que conheço de amor entre um homem e uma mulher. Antes que me perguntem quais são elas, satisfarei a curiosidade do meu paciente leitor (e haja paciência!). Devo dizer, a meu favor, que posso falar de cátedra a respeito dessas três maneiras de amar, e por experiência pessoal, não pelo que possa eventualmente ter lido, testemunhado ou ouvido.
Uma das formas em que o amor apareceu em minha vida foi a platônica. Dizem os psiquiatras e psicanalistas (e todos os que vasculham a alma humana em busca de explicações para o que, não raro, é inexplicável), que, quem ama dessa maneira, é imaturo, emocionalmente. Pode ser! No meu caso, quando isso se deu, eu tinha apenas quinze anos de idade. É preciso, portanto, dar o devido desconto. Não sei se amadureci, emocionalmente, de lá para cá. Presumo que sim.
Li, na internet, recentemente, uma declaração da doutora Heidi Tabacof a esse respeito, em que ela afirma: “Psiquicamente, ele (o amor platônico) reproduz o amor infantil pelos pais, vistos como figuras perfeitas e supervalorizadas”. Não duvido da eminente psicanalista. Pelo contrário...Até porque, o amor platônico é sempre casto e o meu, por esta menina goiana, um ano mais nova que eu, era castíssimo. Adorei-a, venerei-a, alcei-a à perfeição. Compus-lhe versos e mais versos, muitos dos quais guardo até hoje e que, posto que ingênuos, têm uma surpreendente força poética, que nunca mais consegui igualar.
Provavelmente foi a uma pessoa que vivia um amor platônico como o meu que Victor Hugo se referia, ao escrever estas poéticas linhas: “Encontrei na rua um rapaz muito pobre que estava amando. O chapéu era velho, o casaco surrado, a água atravessava-lhe os sapatos e as estrelas atravessavam-lhe a alma”. Foi isso. As estrelas atravessaram-me a alma milhares e milhares de vezes nesse período.
Claro que minha musa goiana, na flor dos seus catorze anos, me ignorou solenemente. Tratou-me, até, com respeito, mas não quis nada comigo. Certamente buscava um amor mais concreto, mais humano, mais carnal, mais pés no chão que, naquela oportunidade, eu não saberia lhe dar. Vi-a, pela última vez, numa estação de trem, quando concluí o curso ginasial em um colégio interno misto onde nós dois estudamos e voltei para São Paulo. Nunca mais nos cruzamos. Não sei para onde foi, com quem casou (se é que casou), que trajetória de vida que teve e nem mesmo se ainda está viva. Creio que esteja.
Até hoje, todavia, passado quase meio século, vejo-a, nitidamente, quando fecho os olhos, radiante, jovem, bela, envolta numa auréola de luz. Desconfio que ainda sou apaixonado, apaixonadíssimo por ela. Talvez não pela mulher real de carne e osso, mas pela imagem que restou dela em minhas retinas cansadas e em meu coração envelhecido e empedernido pelos anos.
Foi minha primeira frustração sentimental, das tantas que se seguiram. Nunca mais tive um amor platônico em minha vida. Por estranho que possa parecer para quem nunca viveu uma experiência do tipo, foi muito bom. Mas enquanto durou, claro. Depois disso, dei uma guinada completa nos meus sentimentos e atitudes. Até porque, ao avançar na adolescência, os hormônios passaram a falar mais alto do que os neurônios. Foi quando vivi o segundo tipo de amor: o puramente carnal. Foi um delírio de sensações.
Todas as mulheres, com as quais me relacionei nessa nova fase, me atraíam somente pelo físico. Amei-as, amei-as todas e demais. Mas apenas com o erotismo brotando à flor da pele. Foi uma época igualmente inesquecível. Todavia, finda a conjunção carnal, nenhuma só delas me atraiu pelo companheirismo, ou pela identidade de idéias ou por outro fator qualquer. A identificação era exclusivamente de pele, de “química” como se costuma dizer.
Mas um dia veio o terceiro tipo de amor na minha vida: completo, irrestrito, que uniu coração, corpo e alma. É certo que relutei, e muito, em aprofundar os laços afetivos com essa mulher que se apossou de todos os meus pensamentos, sentimentos e até lembranças. Plenamente correspondido, com o tempo consegui superar o medo (diria pânico) de assumir compromissos e pedi-a, finalmente, em casamento. E ela gerou-me quatro filhos fantásticos, criou-os, educou-os e tem sido, ao longo dos anos, não apenas amante, mas amiga e companheira de todos os momentos. Vivo com ela até hoje e ambos envelhecemos, suave e placidamente, sem queixas da vida que levamos. Temos, claro, nossas dificuldades de relacionamento, nossas rusgas, brigas e desavenças, como todo casal no mundo. Mas a reconciliação jamais tarda. Ah! Essas reconciliações! São o céu na terra! Para tê-las, vale a pena brigar!
Estou certo que é a esse terceiro tipo de amor que o escritor Didier Anzieu se referiu, no livro “O Eu-pele”, quando escreveu: “O amor apresenta esse paradoxo de trazer ao mesmo tempo, com o mesmo ser, o contato psíquico mais profundo e o melhor contato epidérmico”. Felizmente, é isso o que acontece conosco.
O leitor pode, a esta altura, estar perguntando: “onde entra Vinícius de Moraes em toda essa história?”. O poetinha escreveu, em um de seus poemas mais célebres, que “para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso – para viver um grande amor”. Pois bem, vivi grandes amores, e dos três tipos, conforme já detalhei. Mas posso ter tido de tudo, menos “muito siso, muita seriedade e pouco riso”. Foi tudo exatamente ao contrário. Nesta, portanto, o poetinha errou.
Wednesday, October 25, 2006
REFLEXÃO DO DIA
Todos os dias aparecem novos e bons poetas dispostos a todos os sacrifícios para comunicar aos outros os seus sentimentos. Para desvendar-lhes um mundo novo de beleza e de harmonia. O pior é que este ato de generosidade é, invariavelmente, mal-interpretado. É visto como mera manifestação de vaidade. E ainda assim os poetas persistem. É outro milagre do cotidiano. São pessoas que fazem arte pelo amor à vida. São prestidigitadores que tiram da cartola da realidade pombas brancas de paz. São mágicos que constroem mundos da frágil matéria-prima das palavras. Murilo Mendes constata: "A poesia é muito grande/mas o alfabeto é bem curto". O poeta sabe vislumbrar estrelas, onde a maioria das pessoas apenas vê uma suja poça de água.
Inteligência e sensibilidade
Pedro J. Bondaczuk
O que devemos preservar com mais afinco? A inteligência, desenvolvida ao longo dos anos mediante o exercício e o estudo e que, em determinado período da vida, tende a se deteriorar? Ou a sensibilidade, com a qual nascemos, e que tínhamos quando crianças, mas que, na idade adulta, não raro abrimos mão, para a retomar (às vezes) apenas na velhice? Embora a maioria possa optar pela primeira, manda a prudência que cultivemos com mais atenção a segunda. Ou seja, que sejamos sensíveis, emotivos, apaixonados até em todos os nossos relacionamentos e em nossas realizações. É o que, há anos, procuro fazer.
Claro que o ideal seria ter as duas coisas simultaneamente, mas pela vida toda e não somente por um certo período, como em geral acontece. Mas isso, creiam, não é possível. Não, pelo menos, o tempo todo. O poeta Paulo Mendes Campos toma partido nessa controvérsia e explica a razão da sua opção: “Inteligência degenera com a idade, sensibilidade não; inteligência é desonesta, sensibilidade não”. Por isso, procuro ser, sobretudo, sensível, sem nunca ter vergonha de demonstrar minhas emoções. Não quero deixar que a criança que vive em mim definhe, esmoreça e um dia venha a morrer. Não morrerá! Prefiro cultivar o que é honesto e não degenera do que aquilo que talvez me dê mais prestígio, mas que pode me deixar na mão algum dia.
Estas considerações vêm a propósito de uma gravação conjunta em CD, feita pelos chamados três tenores – o italiano Luciano Pavarotti, o espanhol José Carreras Coll e Plácido Domingo, que apesar de ter nascido na Espanha (em Madri), tem o “coração” mexicano, pois foi no México, para onde se mudou aos oito anos de idade, que estudou, revelou seu talento para a música e iniciou sua vitoriosa carreira – que ganhei de um amigo.
É escusado dizer que se trata de uma preciosidade, em se considerando de quem se trata. Esse trio conseguiu o que poucos artistas conseguem em vida (e, postumamente, menos ainda), ou seja, a consagração mundial e num gênero que, convenhamos, não é dos mais populares. Os três, destaque-se, projetaram-se individualmente em suas respectivas carreiras e, quando decidiram se juntar, foi um “arraso”, como diriam os adolescentes. Basta lembrar que ganharam 14 discos de platina pelo sucesso de vendas de suas gravações.
Foi inesquecível, por exemplo, o recital que deram, acompanhados pela Orquestra Filarmônica de Los Angeles, em julho de 1994, no encerramento da Copa do Mundo dos Estados Unidos. Tiveram, com certeza, o maior público de todos os tempos que algum artista pudesse sequer sonhar (diria, delirar) em reunir algum dia: mais de dois bilhões de pessoas, Planeta afora (um terço da humanidade), assistiram, simultaneamente, a esse espetáculo, graças ao milagre da tecnologia.
Os três intérpretes, com estilos e trajetórias diferentes, rivalizam para se saber qual é o melhor. Eu diria, no caso, que há um rigoroso empate. E vou mais longe. Argumentaria como Mário Quintana fez em determinada ocasião. Certa feita, perguntaram-lhe quem ele achava que era o maior poeta do País. Sem titubear, respondeu: “Deixe disso. Nenhum poeta é cavalo de corrida para ser obrigado a chegar em primeiro lugar”. No caso, substituiria, apenas, a palavra “poeta” por “tenor”.
Luciano Pavarotti é o mais velho dos três. Nasceu em Módena, na Itália, em 12 de outubro de 1935. Cantou nos mais importantes teatros do mundo, como o Scala (Milão), a Royal Opera House, o Covent Garden (Londres) e o Metropolitan Opera House (Nova York). Já Plácido Domingo é natural de Madri, mas mudou-se com a família para o México, quando tinha somente oito anos de idade, onde fez os estudos musicais. Nasceu em 21 de janeiro de 1941. Estreou interpretando o personagem “Alfredo”, em “La Traviata”. Passou 24 anos na Israel National Opera, representando mais de 100 diferentes papéis em teatros de todo o mundo. Entre outras honrarias, conquistou oito Prêmios Grammy.
Finalmente, o catalão José Carreras Coll, o mais jovem dos três, nasceu em Barcelona, na Espanha, em 5 de dezembro de 1946. Estreou, com quase 24 anos de idade, no Gran Teatro del Liceo, de sua cidade natal, em 1970. Em 1983, fez enorme sucesso no concerto que a Orquestra Nacional de Espanha, dirigida por Jesus López Cobo, realizou na sede das Nações Unidas, em Nova York. Foi a partir de 1985 que se juntou a outros tenores, com o objetivo declarado (e bem-sucedido) de divulgar a ópera, atuando em cenários com ampla capacidade de espectadores, como ginásios de esportes e estádios de futebol. Em 1991, ganhou o cobiçado Prêmio Príncipe das Astúrias para as Artes.
Como destacar, pois, um deles como o melhor tenor do mundo? É preciso? É melhor, e mais justo, situá-los no mesmíssimo patamar, não é mesmo?. Estes três notáveis artistas (entre tantos outros) fazem com que eu aposte todas as minhas fichas na “honestidade” da sensibilidade, mesmo que para isso tenha que abrir mão, em parte, da talvez já decadente inteligência (espero que não, claro).
A propósito, encerro este estranho monólogo com o que o escritor polonês Henri Sienkiewicz (ganhador de um Nobel de Literatura e autor do best-seller “Quo Vadis”) escreveu no romance “Em vão”: “Sábio!...Sábio!...Sábio: palavra sonora e formosa! Mas...de que nos servirá o ser sábio, se nem sequer sabemos apertar o nó, se descuidamos da educação de nossos filhos, se deixamos nossa mulher sem amparo, se abandonamos nossos pais?”. Sim, de que nos valerá, se agirmos dessa maneira?
Tuesday, October 24, 2006
REFLEXÃO DO DIA
A vida é um milagre. Nossas pequenas vitórias diárias sobre os instintos e sobre as deficiências (todos temos as nossas) o são. O suceder das gerações... Os ciclos da natureza... As quatro estações... A correspondência no amor... As oportunidades... A aquisição de conhecimentos... As artes... Tudo isso é um milagre! Mas nós não nos satisfazemos com o que julgamos ser tão pouco. Queremos mais, muito mais. Aspiramos o poder. Nos trucidamos por bens cuja posse será apenas transitória, no espaço relativamente curto da nossa existência. Colocamos a "miragem" da propriedade como dogma sagrado, sem admitir contestações. E achamos que somos civilizados.
A família em pauta
A família, instituição que surgiu com o próprio homem e sobreviveu a tantas mudanças, cataclismas e perigos, passa por dramáticas transformações. Novas técnicas de procriação, a emancipação feminina e a permissividade sexual agem sutilmente no núcleo familiar. Para uns, esses são fatores de erosão. Para outros, embora traumático, trata-se de um processo natural de adaptação a novos comportamentos e a nova mentalidade. As mudanças em andamento são boas? São más? Apenas o tempo poderá mostrar, mediante o resultado final, nas próximas gerações.
A família foi o tema central da Campanha da Fraternidade de 1994. Requer profunda, séria e ponderada reflexão, já que é o elo de amor que prende cada um de nós aos semelhantes. É nela que nos sentimos – ou deveríamos nos sentir – amados, protegidos, importantes. É a primeira escola que temos, onde aprendemos desde o elementar para a vida – andar, falar, alimentar-se e cuidar do nosso corpo – a noções transcendentais, como Deus, pátria, solidariedade e dever, entre outras. Pelo menos deveria ser assim. Mas na maioria dos casos, não é mais.
Vários fatores externos estão fazendo das mudanças, que deveriam ocorrer naturalmente, sem traumas, em esfacelamento da família. O papa João Paulo II, em sua mensagem de Ano Novo de 1994, apontou as dificuldades que se verificam em todas as partes, fruto de um modelo perverso que, sutilmente, penaliza quem produz e concentra riquezas em mãos de poucos, como uma das principais causas dessa desagregação. No mundo onde a produção de alimentos é suficiente para nutrir pelo menos três vezes a atual população mundial, dois terços da humanidade estão ameaçados pela fome ou são vítimas da subnutrição.
A necessidade de batalhar o sustento da prole leva parte considerável dos pais a descuidar da educação dos filhos, privando-os do amor, da proteção, da atenção que eles tanto precisam num estágio da vida em que são tão desprotegidos e vulneráveis às influências externas. As crescentes carências e dificuldades fazem com que eles sejam considerados não mais os herdeiros, o elo da continuidade da espécie, mas um estorvo, uma fonte de preocupações e aflições. Milhões de menores, que por sua vez um dia irão procriar, são criados nas ruas, relegados ao abandono, nas selvas de cimento e asfalto em que as cidades se transformaram.
Sua visão da vida, da sociedade e de suas instituições será pautada, fatalmente, por essa experiência traumática. Tais pessoas acabarão por se comportar como feras, utilizando, na luta pela sobrevivência, a única ferramenta que foram condicionadas a usar: a violência. O criminoso descuido do passado com a formação dos menores está cobrando agora o seu tributo. Hoje, para se educar as crianças, é necessário faze-lo antes com seus pais.
Quem não teve família sólida e estável é incapaz de valorizar a instituição. Age, tão logo se acasala e procria, da maneira como foi “treinado”. Julga-se “dono” de sua prole, com poder para dispor sobre sua vida ou sua morte. Por não haver recebido instrução religiosa, não transmite aos descendentes nenhum desses princípios transcendentais. O poeta francês Charles Péguy chegou a ser profético quando, em 1912, sentenciou: “Os verdadeiros revolucionários do século XX serão os pais de família cristãos”. E não são? A distorção de valores é tamanha a ponto de eles serem considerados “raridades” por praticar simplesmente o bom-senso.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 153 a 155, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Monday, October 23, 2006
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
(Fotos: Arquivo)
PONTE PRETA BRINCA COM FOGO
A Ponte Preta está brincando com fogo. Não pode, em hipótese alguma, deixar escapar os três pontos quando joga no Moisés Lucarelli. Mas deixou, neste sábado, diante do Internacional de Porto Alegre, quando foi derrotada pelo colorado gaúcho por 2 a 0. É certo que alguns vão argumentar que o adversário é poderoso, atual campeão das Américas e segundo colocado no Campeonato Brasileiro. Tudo isso é verdade. Ocorre que no sábado os gaúchos jogaram com um time bastante desfalcado, sem Abel Braga (suspenso) no banco e, ainda assim, foram superiores à Macaca, em especial no primeiro tempo, quando fizeram os dois gols que definiram a partida. A Ponte, a despeito dos prognósticos gerais contrários, ainda tem a faca e o queijo nas mãos para fugir da degola. Basta vencer todos os jogos no Majestoso (e não tem como adversários nenhum bicho-papão) para permanecer na divisão de elite. Mas tem que se acautelar. Afinal – e não é segredo para ninguém – está em andamento uma enorme operação para salvar o Corinthians e o Fluminense do descenso, em detrimento, claro, da Macaca.
GUARANI É NOVO TIME
O treinador Waguinho Dias vem operando milagres no time do Guarani. Desde que voltou ao Brinco de Ouro, o Bugre vem evoluindo de jogo para jogo, tendo conquistado, nas duas últimas rodadas, dois excelentes empates, ambos por 2 a 2, fora dos seus domínios. Neste sábado, frente ao Paysandu, em Belém, só não venceu a partida por causa da péssima pontaria dos seus atacantes. Ouso dizer que, se Waguinho Dias não houvesse sido dispensado, após a Copa do Mundo, e substituído por Carlos Gainete, o Guarani estaria disputando, hoje, uma das quatro vagas do acesso para a Série A, e não a fuga do rebaixamento. Continuo com a minha opinião de que o time é muito frágil. Mas um bom treinador – e Waguinho Dias já mostrou que o é – consegue operar milagres com plantéis até mais fracos do que este atual do Bugre. Salvo uma dessas catástrofes inexplicáveis, creio que o alviverde de Campinas não cai mais para a Série C.
ÁGUIA TROPEÇA EM LINS
O Campinas Futebol Clube não conseguiu reeditar o futebol dos jogos anteriores e sofreu, neste domingo, um tropeço em Lins, quando foi derrotado pelo Linense, por 3 a 1. Dessa forma, seu próximo jogo, em Leme, será de vida ou morte para as pretensões do Águia de, finalmente, conseguir ascender para a Série A-3. Seus jogadores precisam, como se diz na linguagem futebolística, colocar o coração na ponta da chuteira, derrotar o bom time do Lemense e não vacilar, de maneira alguma, no último jogo, que será no Brinco de Ouro, contra o União Mogi. Continuo acreditando, e torcendo muito pelo Campinas, que tem tudo para dar pelo menos uma alegria para o futebol da cidade, que não anda lá muito bem das pernas, com as decepcionantes performances de Ponte Preta e Guarani nas respectivas divisões do Campeonato Brasileiro que ambos disputam. Repito o que escrevi na coluna passada: Força, rapaziada! São só mais duas vitórias!!! Desta vez vai dar!
DEFESA FALHOU E ATAQUE FOI AFOITO
A Ponte Preta, com quatro alterações no time – Aranha no lugar de Jean; Iran na lateral direita e Welington na esquerda e Emerson na vaga de Luís Mário – até que fez um segundo tempo aceitável, na derrota que sofreu sábado, diante do Internacional, por 2 a 0. Então porque não conseguiu sequer o empate? Observe-se que os dois gols do adversário foram em decorrência de duas falhas de colocação, e iguaizinhas, da defesa. O segundo foi quase um replay do primeiro. Ambos surgiram da cobrança de falta na lateral direita da grande área, com cruzamentos para os jogadores do Inter. A diferença foi que o primeiro gol foi marcado de cabeça pelo zagueiro Fabiano Eller, que cabeceou livre, sem ser molestado por ninguém e o segundo foi um toque de perna esquerda de Iarlei, sozinho, sozinho nas costas da zaga. Ademais, no segundo tempo, o ataque pontepretano perdeu, no mínimo, cinco gols, desses feitos, que qualquer perna-de-pau faz. No conjunto da ópera, deu no que deu. E ressalte-se, também, a soberba atuação do goleiro reserva do Inter, Renan, que pegou até pensamento.
FIRME CANDIDATO AO REBAIXAMENTO
É verdade que o Corinthians venceu seu jogo de ontem, no Pacaembu, contra o Cruzeiro e dessa forma passou a quarta vaga do rebaixamento para a atormentada Ponte Preta. Todavia, pelo que o time mostrou, diante de um adversário muito desfalcado e, sobretudo, desmotivado, a torcida corintiana tem muito com que se preocupar. Os comandados de Emerson Leão venceram, mas não convenceram. Se jogar só isso, na próxima quarta-feira, contra o Palmeiras, a crise, que ainda não foi afastada do Parque São Jorge, se instalará de vez no clube e talvez não tenha remédio. O Cruzeiro fez de tudo para que o Corinthians ganhasse o jogo, e por boa margem de gols. Os próximos adversários, com certeza, não vão dar toda essa moleza que os mineiros deram. É verdade que clássico é clássico e tudo pode acontecer. Pode ocorrer do Corinthians jogar uma partida perfeita e ganhar bem do Palmeiras, até mesmo de goleada (o que duvido). Mas se depender do seu estágio atual...Vai ser um clássico de arrepiar, principalmente pelas circunstâncias que o cercam.
DECISÃO ANTECIPADA
Posso estar enganado, mas tudo indica que o jogo de ontem, no Estádio Olímpico de Porto Alegre, entre São Paulo e Grêmio, foi uma decisão antecipada do Campeonato Brasileiro de 2006, a apenas oito rodadas do final. Com o suadíssimo empate por 1 a 1, creio que ninguém tirará do tricolor paulista mais este título, que persegue há já 16 anos. Os paulistas devem o bom resultado ao início arrasador do jogo. Fizeram seu gol logo aos 50 segundos, através do meia Danilo, no primeiro chute dado a gol e, depois, limitaram-se a administrar o resultado o que, por sinal, fizeram muito bem. O Grêmio teve domínio absoluto da partida, mas as melhores chances foram, mesmo, do São Paulo, com as duas bolas na trave chutadas por Sousa. Claro que em futebol tudo pode acontecer. Mas a vantagem sãopaulina sobre o segundo colocado, o Internacional de Porto Alegre, é muito grande para ser tirada em tão poucos jogos. Creio que o título de 2006 ficará, mesmo, no Morumbi e, acrescento: estará em ótimas mãos, sem dúvida.
RESPINGOS...
· O Botafogo, próximo adversário da Ponte Preta, fez a lição de casa, ontem, e não tomou conhecimento do São Caetano, ao qual venceu por 2 a 1. Olho nele, moçada!
· O Fluminense, mesmo conseguindo um ótimo resultado em Caxias do Sul, no empate, por 1 a 1 com o Juventude, continua sendo seriíssimo candidato ao rebaixamento.
· O Real Madri lavou a alma, ontem, da sua torcida, na boa vitória sobre o seu maior rival, o Barcelona, por 2 a 0.
· A torcida do Atlético Mineiro deu o troco, sábado, na do São Paulo, e superlotou o Mineirão, na ótima vitória atleticana sobre o Avaí por 4 a 1. Cinqüenta e sete mil fanáticos torcedores do Galo estiveram no estádio. Esta disputa de torcidas tende a esquentar nas próximas rodadas. Quem vencerá o duelo?
· O Santos, de Wanderley Luxemburgo, fez direitinho a lição de casa e derrotou, na Vila Belmiro, o Figueirense, por 2 a 1. Assim, continua firme na briga por uma das vagas para a Libertadores da América do ano que vem.
* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
REFLEXÃO DO DIA
Os banidos do processo de produção e consumo preferem uma vida de párias, de mendigos, de subcidadãos nas megalópoles, a um estado, senão de opulência, pelo menos de relativa tranqüilidade, e com dignidade, no campo. Este é um dos fatores da crescente violência urbana que afeta dois terços da humanidade. Gustavo Corção, no artigo “Problema Social ontem e hoje”, publicado no Suplemento Literário de “O Estado de São Paulo”, em 19 de maio de 1962, observou: “O problema social consiste no fato bruto que poderíamos definir com uma expressão vulgar: uma parte imensa da nossa população é formada de homens que não têm vez. E é nessa exclusão, nessa excomunhão social que está toda a gravidade moral e física do problema”. É esse o “vírus” que, se não combatido e não vencido, é mais letal do que o da Aids: o do egoísmo. O resto...é pomposa retórica.
Quem deu asas ao homem...
Pedro J. Bondaczuk
O escritor francês, Gustave Flaubert, escreveu, certa feita: “Creio que se olhássemos sempre o céu, acabaríamos tendo asas”. Mal ele sabia que suas palavras seriam proféticas. Que não tardaria para que chegasse o momento em que o homem, de fato, “voaria”, como os pássaros, ou até com maior perícia e segurança que eles. Não com asas naturais, claro, pois isso é uma impossibilidade biológica, mas em máquinas criadas pelo seu engenho, que encurtariam distâncias, uniriam povos e superariam suas limitações físicas. Não poderia, nunca, prever – mesmo que tivesse o máximo dom profético (que não tinha) – que essa forma de transporte se tornaria corriqueira um dia e que seria utilizada por milhões e milhões de pessoas, diariamente, nos mais distantes recantos do mundo, modificando (para melhor) a vida dos usuários.
E tudo começou com os sonhos de um menino, nascido em 20 de julho de 1873 nos trópicos, na minúscula Cabangu, na Serra da Mantiqueira (que hoje ostenta o seu nome), em Minas Gerais, no Brasil, neto de franceses. E, embora os norte-americanos tentem até hoje contestar essa sua primazia, atribuindo o primeiro vôo do mais pesado que o ar aos irmãos Wilbur e Orville Wright, não há como contestar milhares de testemunhas oculares, além de filmes e de registros fotográficos, da façanha do brasileiro, realizada na então “capital do mundo civilizado”, na Cidade Luz, como era conhecida e reconhecida a Paris do início do século XX.
Era um garoto normal para a sua idade, que sabia sonhar. E sonhava, sonhava e sonhava a não mais poder. É verdade que era um pouco calado e taciturno, como costumam ser os sonhadores e os gênios. Mas tinha um talento raro, uma vocação inata para a mecânica. Seu nome? Seria até escusado declinar, pois mesmo não tendo sua primazia unanimemente reconhecida, é, hoje, uma legenda, em termos de criatividade, de audácia e de eficiência em todos os recantos da Terra: Alberto Santos Dumont.
Trago este assunto à baila porque este 23 de outubro de 2006 (que assinala o 66º aniversário de outro gênio mineiro, este do esporte, Edson Arantes do Nascimento, o consagrado Pelé), assinala o centenário do seu grande feito. Foi nessa época que o mesmo garoto criativo de Minas Gerais, que tinha absoluta convicção de que o homem poderia voar, então com 33 anos de idade, provou ao mundo que estava certo.
Com um avião rudimentar, mas que tinha todos os principais componentes das aeronaves atuais (trem de aterrissagem, amortecedores, hélice de propulsão e leme), que ele mesmo construiu, às próprias expensas, e que batizou com o insólito nome de “14-Bis”, voou gloriosamente por 60 metros, no ar, no Campo de Bagatelle, em Paris, com a presença de toda a imprensa francesa, a nata do jornalismo na Europa e de uma multidão, incrédula no que via.
Não quero desmerecer o feito dos irmãos Wright, que não deixou de ter seus méritos de pioneirismo. Mas seu aparelho não pode ser considerado um precursor do avião, mas sim, do planador. Não tinha propulsão própria, foi alçado ao ar por uma catapulta e “voou” por no máximo dois metros, o que uma pedra ou outro objeto qualquer que venhamos a lançar no ar também o fará. Ademais, sem querer insinuar uma fraude (que era até possível, diga-se de passagem), sua façanha, que teria ocorrido em 17 de dezembro de 1903, foi (como os próprios irmãos admitiram em sua biografia) testemunhada por míseros cinco “gatos pingados”. Ademais, nada foi filmado, nada fotografado e nada, absolutamente nada, foi noticiado pela onipresente imprensa norte-americana.
Além disso, seu apregoado teste não ocorreu em Nova York, Washington, Los Angeles, San Francisco, Chicago ou qualquer outra grande cidade dos Estados Unidos. Teria acontecido (e por razões compreensíveis coloco sempre no condicional) num lugarejo conhecido como Kil Devil Hil, 4 milhas ao sul de Kitty Hawk, no Estado de Ohio. Creio que são raros, raríssimos os norte-americanos que conhecem esse lugar.
Santos Dumont era um ser humano tão especial, tão despojado e tão humilde que, ao contrário dos irmãos Wright e de outros tantos pretensos pioneiros da aviação, nunca quis patentear seus inventos. E não por falta de tino comercial, mas por generosidade. Sublime e generoso sonhador! Santos Dumont explicava, a todos que o interpelavam a respeito, que o avião que criou era a sua contribuição para o progresso da humanidade. E que contribuição!
A indústria aeronáutica é, hoje, uma das mais prósperas e bilionárias das tantas atividades industriais do mundo. Empresas gigantescas faturam bilhões e bilhões de dólares anualmente, nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia e no Brasil (com a Embraer). Mas a família do menino brasileiro, que tinha certeza de que o homem poderia voar, no entanto, jamais recebeu um mísero centavo de roialties por essa criação. Que não lhe tirem, ao menos, a primazia dessa fantástica invenção.
Homem dos mil gols
Pedro J. Bondaczuk
O atleta do século XX completou 66 anos de idade, neste 23 de outubro de 2006 (mesma data do centenário do pioneiro vôo de Santos Dumont, com o seu “14-Bis”, no Campo de Bagatelle, em Paris) esbanjando dinamismo e vitalidade. O ex-ministro e cidadão do mundo Edson Arantes do Nascimento, o Pelé dos quase mil e trezentos gols, é um fenômeno, não apenas esportivo, mas como indivíduo. Há quem o critique, que tente uma espécie de “linchamento moral” pela demora em reconhecer a filha Sandra, gerada fora do casamento, falecida por estes dias. Puro despeito. Ou preconceito. Ou falso moralismo. Ou desbragado cinismo. Enfim...Deixa pra lá!
De origem humilde, o menino pobre, nascido em Três Corações e que começou a luzir em Bauru, freqüentou castelos e palácios. Tendo deixado os campos há mais de 30 anos, continua sendo assunto em todas as partes do Planeta. É, como diz o jornalista Armando Nogueira, "o único jogador do mundo que, mesmo estando há anos sem fazer um único gol, continua sendo aplaudido como se acabasse de fazer um, de placa". Freqüenta, hoje, gabinetes governamentais e salões dos poderosos com o mesmo desembaraço com que jogava em qualquer campo, gramado ou não, com boas condições de jogo ou enlameado, mostrando todo o talento que Deus lhe deu. E inteligência.
Desde quando Pelé ainda estava na ativa, anunciaram vários substitutos para o seu futebol mágico, no Brasil e no Exterior. Na Copa do Mundo da Inglaterra, a de 1966, em que a Seleção Brasileira deu vexame, disseram que o rei havia sido destronado pelo português Eusébio. Muito bem, o tempo passou. E o que aconteceu? Da geração mais jovem, que anda na faixa dos 30 aos 35 anos, quem sabe alguma coisa desse "herdeiro" da magia e da competência do nosso "Dico" (era assim que rei era chamado na infância, em Bauru)?
Falaram muito de Diego Maradona. Não se pode negar que se tratou de um talento, por tudo o que mostrou. Mas...nem é preciso citar sua vida irregular fora dos gramados para que ele perca na comparação. E Zidane? Chega aos pés do rei? Só na cabeça dos que nunca viram Pelé jogar!
Sem bairrismo ou passionalismo, encarando a questão apenas no terreno esportivo, não há como comparar o futebol desse mago da bola com o de qualquer outro jogador. Basta ver os retrospectos. Quem assistiu Pelé, Maradona e Zidane jogarem, não tem como deixar de rir, ironicamente, quando são comparados, por maior boa vontade que tenha com o astro argentino e com o temperamental jogador francês.
Fala-se muito da facilidade de Romário para marcar gols. Todos os campeonatos de que participou, ou foi artilheiro ou disputou, palmo a palmo, a artilharia. Foi, até recentemente, o rei das áreas, o verdugo dos goleiros, certo? Está muito próximo dos mil gols, muitos deles marcados em jogos-treino. E mesmo quando (ou se) atingir essa marca, ficará ainda cerca de 300 gols atrás do rei do futebol.
Será, pois, que nesse aspecto (pelo menos neste), o de artilheiro, poderia ser comparado a Pelé? Basta citar somente um dado, um único, para mostrar que não. No Campeonato Paulista de 1958, integrando a magnífica máquina de jogar bola do Santos Futebol Clube, o rei foi às redes adversárias por 58 vezes! Isto mesmo. O mesmo número do ano! E tinha na ocasião apenas 17 anos! Quem fez isso, no Brasil ou no mundo? Maradona? Eusébio? Bob Charlton? Platini? Puskas? Di Stéfano? Roberto Dinamite? Romário? Quem? Ninguém!
Seu recorde de gols foi conquistado não em campinhos de pelada de segunda divisão, mas nos maiores estádios do mundo: Maracanã, Morumbi, Azteca, Parque dos Príncipes, Olímpico de Roma etc. etc. etc. Ou seja, foram feitos diante dos olhos de multidões heterogêneas, a maioria torcendo contra. Muitos foram anotados em partidas oficiais da Seleção. E alguns realmente chegaram a ser antológicos.
Neste caso está o marcado contra o País de Gales, no suadíssimo um a zero da Copa do Mundo da Suécia, quando deu um chapéu em um zagueiro com o dobro do seu tamanho, na pequena área, e mandou a bola para as redes, de bate-pronto, antes que ela caísse no chão. Não contente com a façanha, Pelé repetiu a dose, a mesma jogada, contra os anfitriões, os suecos, e numa final de mundial, na casa do adversário. Tinha, então, só 17 anos.
Pena que na época do seu auge não havia sequer o recurso do videotaipe. Poucos de seus gols (isto em termos proporcionais) constam hoje de arquivos. Os que existem, são de filmes com baixa qualidade de imagem. Ou os de final de carreira, no Cosmos de Nova York. E ainda assim são incomparáveis.
O poeta Carlos Drummond de Andrade, em geral bastante comedido em suas crônicas, não se conteve ao comentar o milésimo gol do rei, em 1969, de penalidade máxima. Foi em cima do goleiro Andrada, do Vasco da Gama (que quase estraga a festa e faz a defesa.). Mesmo não sendo através de uma das jogadas que fazia com perfeição, entrou para a história do futebol, no País onde esse esporte é paixão nacional. E o palco não poderia ser outro. Tinha que ser num Maracanã lotado.
Drummond constatou na ocasião: "Difícil não é fazer mil gols como Pelé; difícil é fazer um gol como Pelé". Aquilo que era sua rotina, hoje é a glória dos jogadores que conseguem anotar um único tento de forma artística, plástica, mágica. São comentados por um mês inteiro quando conseguem. E alguns acabam ficando nesse único, que faz deles astros. Só que por alguns irrisórios minutos... Porque rei do futebol só tivemos um. E não acredito que algum dia apareça outro.
Sunday, October 22, 2006
REFLEXÃO DO DIA
Você já observou que de duas décadas para cá não surgiu nenhum movimento cultural consistente em nenhuma parte do mundo, nem nas artes plásticas, nem na literatura, no teatro, no cinema, na música popular ou em qualquer campo importante de atividades? Parece que os avanços extraordinários da tecnologia estão inibindo as pessoas de pensar. Aceita-se, hoje em dia, com a maior facilidade, tudo o que a mídia – em especial a eletrônica – impinge como sendo cultura. Alain Finkielkraut observou a propósito: "Vivemos hoje a utopia da cretinização. É uma loucura, pois as pessoas pensam que hoje, ao inventarmos máquinas geniais, estamos mais inteligentes. Acho que é exatamente o contrário. Quanto mais a sociedade se preocupa com a performance técnica, mais fabrica imbecis". Infelizmente, não há como discordar.
Pausa para meditar
Pedro J. Bondaczuk
As tensões da vida moderna, mormente na área profissional --- onde a alta tecnologia suprime milhões de empregos, definitivamente, pelo mundo afora, a cada ano --- são as principais responsáveis por um fenômeno crescente nos nossos dias: o estresse. Esse estado psicológico, que se reflete no organismo, se caracteriza, entre outros sintomas, por um estado de permanente cansaço, dores de estômago, diarréia, insônia, irritabilidade e elevação da pressão arterial. Apesar de existirem técnicas para conviver com essa situação e até usá-la a nosso favor, para produzir mais e melhor, não se recomenda sua adoção, pelos riscos que envolve. O estresse pode até matar, sendo causa freqüente de enfartes e de derrames.
Nossas considerações, todavia, não se concentram no aspecto médico, mas no comportamental e econômico. O indivíduo estressado está sempre nervoso, brigando com os companheiros de trabalho, com a família, com os amigos e com os subordinados (quando se trata de chefe). Arruina, portanto, qualquer relacionamento e envenena até o ambiente mais saudável que exista. Além disso, traz enormes prejuízos financeiros para si e para quem o emprega.
Estatísticas da Organização Mundial do Trabalho revelam que o estresse custa, às empresas dos EUA, mais de US$ 200 bilhões anuais em absenteísmo, produtividade reduzida, despesas médicas e processos de indenização! Na Grã-Bretanha, provoca perdas da ordem de 10% do Produto Interno Bruto! E no Brasil? Embora não haja levantamentos confiáveis a respeito, os prejuízos são equivalentes, ou até maiores, do que os registrados nos países do Primeiro Mundo. Manda a prudência, portanto, que aos primeiros sintomas desse esgotamento extremo, se procure um médico e, sobretudo, que se adote uma postura mais "light" frente aos problemas. Afinal, o trabalho é apenas uma parte da vida... e sequer é a principal! Pense nisso...
(Artigo divulgado na revista eletrônica "Barão Virtual", na Internet, na quarta semana de fevereiro de 1999)
Saturday, October 21, 2006
REFLEXÃO DO DIA
As transformações políticas, pelas quais o mundo vem atravessando, com uma velocidade tão vertiginosa que nem está permitindo uma análise cuidadosa sobre as suas conseqüências, exigem das pessoas um grau de informação que nem sempre elas estão preparadas para ter. Notícias, geradas em grande profusão, são absorvidas e logo esquecidas. Regiões mal estudadas em geografia ganham manchetes e logo são esquecidas. Nessa pressa, os fatos acabam sendo hierarquizados de forma equivocada. Episódios que certamente cairão na vala comum do esquecimento têm sido encarados como autênticas "revoluções" e as verdadeiras transformações, que irão durar, passam quase imperceptíveis.
Ninho vazio
Pedro J. Bondaczuk
O nosso ninho de amor está vazio.
A rosa dos meus sonhos jaz sem pétalas...
A brisa chora a hora dos fantasmas
em meus olhos de areia e de praia...
O Tempo, em sua fome cronológica,
saboreia o prato gordo dos dias
em enormes garfadas de segundos.
Depois, arrota, ruidosamente, o ontem
sonhando devorar o amanhã.
A saudade brota fontes em meus olhos
e emana a tristeza de ontem
cristalizada em pérolas enormes
que o Tempo dissolve em xerez...
De nossa imensa esperança louca
resta aquela palmeira esguia
a baloiçar, solitária, ao vento.
O Tempo tudo devora, a vida é fria...
Meus olhos secos já não vêem o futuro,
pois nosso ninho de amor está vazio...
(Poema composto em Campinas, em 24 de abril de 1967 e publicado na "Gazeta do Rio Pardo", em 19 de maio de 1968 e no jornal "O Município", de São João da Boa Vista, em 25 de dezembro de 1969).
Friday, October 20, 2006
REFLEXÃO DO DIA
Fernando Pessoa nos ensina: "A poesia encontra-se em todas as coisas – na terra e no mar, no lago e na margem do rio. Encontra-se também na cidade – é evidente para mim, aqui, enquanto estou sentado. Há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro; há poesia no barulho dos carros nas ruas, em cada movimento diminuto, comum, ridículo, de um operário que do outro lado da rua está pintando a tabuleta de um açougue (...) É que poesia é espanto, admiração, como de um ser tombado dos céus, a tomar plena consciência de sua queda, atônito, diante das coisas. Como de alguém que conhecesse a alma das coisas, e lutasse para recordar esse conhecimento, lembrando-se de que não era assim que as conhecia, não sob aquelas formas e aquelas condições, mas de nada mais se recordando". Poesia é o meu ideal. É o que procuro encontrar, a cada manhã, em "alguma encruzilhada". A arte o é...O sonho o é...A fantasia o é...E o ópio da ilusão também...
Casamento em crise?
Pedro J. Bondaczuk
A despeito de algumas evidências e de dramas pessoais, como o de Warren Murphy, que por ter sido abandonado pela mulher (que levou consigo os filhos do casal) invadiu o local onde trabalhava, nos Correios de Nova Orleans, feriu a bala três companheiros e manteve uma senhora como refém por 13 horas, a instituição do casamento não está falida e muito menos em crise. Quem investe contra ela aponta dados estatísticos acerca de separações e de crimes passionais como argumento. Estes, no entanto, desde tempos bíblicos, sempre existiram. Muitos matrimônios são ainda feitos por puro interesse, sem que entre nele a importantíssima componente do amor. É claro que eles não dão, nem podem dar certo.
Outros, são mortos pela rotina. O marasmo, muitas vezes, leva um dos parceiros, ou os dois, a aventuras extraconjugais. Em vários casos, elas não passam de episódios passageiros, que sequer são do conhecimento de um dos cônjuges, no caso a parte traída. Terminam como começaram e sequer deixam marcas. Em outros, contudo, verificam-se dramas pungentes.
A parte ofendida, às vezes, reage passionalmente e parte até para brutais assassinatos, que destroem não somente o casamento, como todos os que tinham vínculo com ele. Em outras, a reação é moderada, mas a dor, o sofrimento, a humilhação são pavorosos. Deixam marcas indeléveis. E quase sempre o parceiro traidor arrepende-se do erro, quando já é tarde.
Por algumas horas de prazer carnal ilícito, (que a mulher poderia ter com o marido ou este com a esposa licitamente) todo um passado de carinhos e de trabalho conjunto é posto a perder. Em geral, o adultério, com suas conseqüências escabrosas, traz resultados danosos para quem não tem nada a ver com a falta de moral dos pais, para pessoas que sequer pediram para nascer. Os afetados acabam sendo os filhos. O pior é quando os adúlteros são ambos casados. Neste caso, o risco é maior, pois duas famílias, e não somente uma, findam por ser destruídas.
O antídoto para tais casos é um só: Amor. Essa palavra, tão desgastada pelo uso inadequado que se faz dela, implica numa série de grandes virtudes. Como paciência, atenção, desvelo, tolerância, perdão, amizade, carinho, compreensão, desprendimento, sexo, e muito mais, todas reunidas de uma só vez. Mas esse sentimento é como uma delicada flor. É belo, mas frágil. Precisa ser cultivado e cuidado diariamente, para que não venha a secar e se transformar em algo mórbido, doloroso, angustiante. Afinal, nele reside toda a fonte da vida, por ser o atributo maior da própria divindade.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 16 de dezembro de 1989)
Thursday, October 19, 2006
REFLEXÃO DO DIA
A arte é o caminho para a conquista da grandeza. E esta nunca se faz com os pés no chão. Fernando Pessoa tem um texto extraordinário a esse propósito. Diz o escritor dos heterônimos: "Os realistas realizam pequenas coisas, os românticos, grandes. Um homem deve ser realista para ser gerente de uma fábrica de tachas. Para gerir o mundo deve ser romântico. É preciso ser realista para descobrir a realidade; é preciso ser romântico para criá-la". Se a vida não tem qualquer sentido, nos compete lhe darmos algum. Se a religião não passa de mera projeção dos desejos humanos, assumamos a ilusão de que há algum tipo de Paraíso, de sobrevivência eterna, para o que convencionamos chamar de alma. Se a morte é definitiva, façamos tudo o que pudermos para preservar pelo menos nosso nome na memória das gerações vindouras, para que não desapareçam todos os vestígios da nossa em geral sofrida existência.
Fale-me de flores
Pedro J. Bondaczuk
O computador (e principalmente a mais utilizada das suas tantas funções, que é o acesso à internet) se tornou ferramenta indispensável para os que lidam com textos: jornalistas, escritores, publicitários etc. Além de acabar com os borrões, as rasuras, as folhas e mais folhas de papel amassadas e jogadas no lixo, do tempo da máquina de escrever, confere, ao redator, agilidade, presteza e, sobretudo, organização.
Outra coisa que essa máquina fantástica pôs fim foi à bagunça na biblioteca. Agora, quando quero pesquisar algum dado, indispensável num texto que esteja escrevendo, não preciso mais revirar meus livros, irritado e afoito com a perda de tempo, à cata da tal informação. Basta apelar para o Google (ou qualquer outro serviço de busca), para completar a pesquisa rapidinho, em tempo recorde, com ordem e com eficiência.
Mas a maior ajuda que o computador me dá é a de proporcionar interatividade com o público leitor, e não mais somente da minha cidade (como nos tempos de jornal), nem apenas, eventualmente, do Estado ou até mesmo do País. Conquistei afetos (e desafetos) em diversas partes do mundo (sem nenhum exagero), como Japão, Austrália, Estados Unidos, Canadá, Holanda, Finlândia, Bélgica e vai por aí afora. E essas pessoas não se limitam a opinar sobre minhas crônicas, contos e poemas, mas chegam a me pautar.
Raro é o dia (não me lembro de nenhum) em que não me sugerem temas para serem desenvolvidos. Nem todos, claro, estão bem-intencionados. Alguns fazem isso como uma espécie de desafio, para testar a minha cultura e minha agilidade mental. Outros agem assim até por brincadeira, apresentando assuntos que aparentemente não se prestam a crônicas e que, por ironia, acabam se constituindo nas melhores sugestões. Outros, até, querem apenas confrontar idéias, para ver se as minhas são iguais às suas.
Um dos temas mais recentes que me foram sugeridos (neste caso, foi praticamente imposto), foi o das flores. Um leitor pediu que escrevesse a respeito, mas “objetivamente”, sem divagações e sem recorrer a artifícios, digamos, poéticos. Embora pareça de uma simplicidade franciscana, creio que ficarei devendo a essa pessoa. Primeiro, para escrever com objetividade sobre o assunto, eu precisaria ser botânico (o que não sou). Segundo, porque as flores, tirando o seu aspecto decorativo, não servem para praticamente nada (a não ser para fabricar perfume ou servir como matéria-prima para o mel, mas não sou abelha). E terceiro, porque tenho um trauma com a utilização delas comercialmente. Explico.
Um poeta raramente tem tino para negócios. Da minha parte, confesso, não tenho nenhum. Há quase 30 anos (em 1978), cismei de abrir uma floricultura. Como não entendia patavina do assunto, contratei um excelente floricultor. Encontrei um ponto perfeito, na cidade, investi o que tinha e o que não tinha em vitrines, balcões etc., gastei uma bolada em publicidade, mas.. não deu certo. Não consegui, sequer, recuperar metade do investimento feito. Para não afundar, de vez, em dívidas, resolvi fechar o negócio e me dedicar, apenas, ao que sei fazer bem (ou relativamente bem, como queiram): escrever.
Observem que embarquei nessa atividade com a cabeça de poeta e não de negociante. Até o nome da floricultura tinha um quê de poético: “Tulipa Escarlate”. “Por que não vermelha, que é um termo mais simples?”, perguntará, com certeza, o crítico leitor, vislumbrando nesse nome um quê de pedantismo da minha parte. Sei lá! Foi a primeira denominação que me veio à cabeça. Fui traído, provavelmente, pelo subconsciente, pois este é o título de um dos meus poemas preferidos, dos tantos que escrevi.
Como se vê, não sou a pessoa mais indicada para escrever, pelo menos com objetividade, sobre flores. Meus conhecimentos sobre botânica, por exemplo, são superficiais. São aqueles mesmos que adquiri nas aulas de Biologia do antigo curso científico (hoje denominado de Ensino Médio) no Colégio Cesário Mota de Campinas. Dão para o gasto (afinal, fui um rematado CDF), mas estão muito longe de me tornar especialista na matéria. Já minha experiência prática, conforme expus acima, foi, no mínimo, desastrosa.
Mas não vou frustrar, de todo, o caríssimo leitor. Se não consigo falar, objetivamente, de flores, o faço poeticamente. Aliás, já fiz isso dezenas de vezes. Trago, pois, à sua apreciação um dos poemas que escrevi sobre o tema, composto em abril de 1967, intitulado “Ternamente”, e que, à certa altura, tem uma estrofe que repete ao seu apelo (ou seria ordem? Ou seria desafio? Ou seria uma tentativa de me expor ao ridículo?): “Fale-me de flores,/mostre-me flores,/oferte-me flores./Seja, você, também,/uma flor rubra/de carinhos e de sonho,/assim, de mansinho,/ternamente”. Serve, caro leitor? Agora, devolvo-lhe a bola: fale-me de flores!!! Pode ser em linguagem poética, não me importo!
Wednesday, October 18, 2006
REFLEXÃO DO DIA
Precisamos da fantasia para sobreviver enquanto seres pensantes. Necessitamos, mais do que admitimos, daquela que é a matéria-prima das artes e a consoladora mor dos homens. Ninguém resiste à realidade absoluta. É como olhar diretamente para o Sol. Ela nos cega e até nos mata. Há um poema de Raul Leoni que não me canso de citar em minhas crônicas, que diz, em determinado trecho: "O homem desperta e sai, cada alvorada,/para o acaso das coisas...E, à saída, /leva uma crença vaga, indefinida,/de achar o Ideal em alguma encruzilhada..." Alguns conseguem e abraçam-no ferozmente, para que não mais escape. Outros prosseguem nessa busca incansável, dia após dia, ano após ano, em vão. Mas a simples procura já lhes preenche a vida.
Confidências e inconfidências
Pedro J. Bondaczuk
Os papéis pessoais de determinados escritores – suas cartas, seus diários, suas anotações, seus bilhetes mais inocentes para a mulher, ou os filhos, ou até mesmo para as amantes (se tiverem, é claro) – são documentos preciosos, mesmo que não pareçam. Não raro revelam parte de suas personalidades, o que realmente pensavam, como se relacionavam e como agiam diante de fatos corriqueiros, aparentemente banais, do dia-a-dia.
Muita gente não dá valor a esses apontamentos, que reputo valiosos para o entendimento da obra desses mestres da literatura. Por via das dúvidas, venho deixando os meus muito bem organizados, na esperança de me tornar um escritor de peso, que desperte a curiosidade de críticos e de eventuais biógrafos sobre a minha, digamos, um tanto exótica personalidade. Caso não sirvam para nada... não haverá problemas. Os filhos, no seu devido tempo, saberão que fim dar a esses papéis.
Tenho em mãos algumas cartas escritas pelo escritor russo Fedor Dostoievsky, entre 1849 e 1880, que revelam as turbulências de sua vida e alguns traços marcantes do seu caráter. Numa delas, narra, por exemplo, ao irmão, Mikhail, como escapou, na última hora, de ser executado, quando foi preso e deportado primeiro para o campo de trabalhos forçados de Tobolsk (na fortaleza de Orenburg) e depois para o de Omsk (na Praça Semyonovich), ambos na Sibéria, onde passou, provavelmente, os quatro piores anos da sua vida.
Na ocasião da sua prisão, já era relativamente famoso, dado o sucesso da sua primeira novela, “Pobre Gente”. O motivo da punição foi seu alegado envolvimento com os socialistas. Por esse “crime”, foi julgado e condenado à morte, pena posteriormente comutada para trabalhos forçados.
A carta a que me refiro, datada de 22 de dezembro de 1849, trata, exatamente, da forma dramática com que soube da comutação da sua sentença, na última hora, diria “salvo pelo gongo”, quando já estava postado diante de um pelotão de fuzilamento à espera dos disparos fatais. Num determinado trecho, Dostoievsky escreve: “Chamavam três nomes de cada vez. Eu estava no segundo grupo, e assim não tinha mais do que um minuto de vida. Pensei em você, meu irmão, e em toda a sua família; no último momento você, apenas você, esteve em minha mente, e foi então que percebi o quanto o amo, caro irmão!”.
Tenho em mãos várias outras cartas dele, nas quais o escritor revela detalhes pessoais, faz confidências, desabafa mágoas, critica pessoas, enfim, se revela por inteiro. Numa delas, por exemplo, faz menção à sua epilepsia e atribui a doença aos sofrimentos pelos quais passou nos campos de trabalhos forçados. Em outra, tenta justificar ao irmão sua compulsão pelo jogo, que fez com que perdesse verdadeiras fortunas em vários cassinos Europa afora. Em outra, ainda, escrita para A. F. Blagonravov, modesto e obscuro médico de aldeia, mostra seu lado místico, característica atávica do povo russo.
Numa dessas correspondências, no caso a endereçada ao seu editor Katkov, Dostoievsky revela detalhes de um livro que pretendia escrever. E sabem de qual? De um dos maiores clássicos da literatura mundial de todos os tempos, “Crime e Castigo”. Nessa carta, explicou, em determinado trecho: “Trata-se do relato psicológico de um crime. A ação é tópica e se passa neste ano (no caso, 1865). Um jovem estudante de classe média baixa, que foi expulso da universidade e que vive em tremenda pobreza, sucumbe – por falta de raciocínio e por falta de convicções sólidas – a certas idéias estranhas e incompletas que flutuam no ar, e decide sair da sua miséria de uma vez por todas. Ele resolve matar uma mulher idosa, a viúva de um conselheiro titular, que empresta dinheiro a juros. A velhinha é estúpida, surda, doente e avarenta e cobra juros de judeu; ela é perversa e maltrata a vida de sua irmã mais nova, à qual trata como criada”.
Como se vê, em poucas linhas Dostoievsky resumiu a trama de uma história que seria, um dia, um dos maiores best-sellers de todos os tempos e que até hoje é lido, dissecado, comentado e estudado nas mais diversas partes do mundo. No final da mencionada carta, o escritor admite, para seu editor: “Com demasiada freqüência tenho sido obrigado a escrever textos muito fracos por ter de cumprir prazos...”. Contudo, arremata: “Mas essa história em particular vem sendo escrita sem pressa e com ardor. E eu tentarei – tomara que consiga – fazer a conclusão tão logo puder”.
Todavia, das tantas cartas que li de Dostoievsky, a que me chamou mais a atenção, pelo tom dramático e ao mesmo tempo sentimental, foi a primeira que citei, aquela escrita da prisão, em 22 de dezembro de 1849, pouco depois de ter escapado, por muito pouco, da execução por parte de um pelotão de fuzilamento. Nela, o escritor revela profundo respeito e amor pela vida (que quase perdeu na oportunidade), ao afirmar: “Mano, eu não perdi a coragem e não me sinto aniquilado. A vida é vida em qualquer parte, a vida está dentro de nós mesmos e não nas exterioridades”.
Dostoievsky encerra essa carta com estas magníficas palavras, dignas do grande escritor que se tornou: “Haverá pessoas em torno de mim e ser um homem entre homens, continuar assim perpetuamente e nunca perder a esperança, por pior que seja a situação – isso é o que a vida é, esse é o seu objetivo”. E não é mesmo?!
Certamente, voltarei, oportunamente, ao assunto, dada a riqueza de informações contida na correspondência do autor de obras-primas como o citado “Crime e Castigo”, como “Os irmãos Karamazov”, como “Os possessos”, como “Recordação da casa do mortos” e como “Os idiotas”, entre tantas preciosidades que nos legou, mantida com o irmão, com o editor Katkov, com a sobrinha Sofya e com sua segunda esposa, Ana Grigorevna Dostoievskaya, entre outros. Por hoje, no entanto, basta de inconfidências.
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