Onipresença da solidão
Pedro J. Bondaczuk
Viajo...
O trem
rodando
pesado
nos trilhos
e a brisa
cantando,
e o mundo
correndo,
casas,
árvores
animais
carros,
pessoas
voando, voando,
surpreendem-me
calado
e só!
Estou só... estou só... estou só...
Murmura
o bólido
deslizando
nos trilhos.
Crianças sorrindo...
Mulheres sorrindo...
Velhos sorrindo...
Profusão de sorrisos!
E o murmúrio
martela
em meu
ouvido:
Estou só...estou só...estou só...
Pessoas andando,
pessoas falando,
pessoas gritando,
pessoas que lêem:
pessoas felizes?
E o trem
murmura:
Estou só...estou só...estou só...
Jovens de mãos dadas com a esperança,
velhos de mãos dadas com a experiência,
crianças de mãos dadas com o futuro.
Contudo eu,
solitário,
sou todo ouvidos
para o estribilho:
Estou só...estou só...estou só...
Pessoas estranhas se encontram.
Olhares furtivos se cruzam.
Mãos ansiosas se enlaçam.
Lábios sequiosos se juntam.
No túnel escuro do acaso
amores se perdem, se acham.
Todavia
sigo a
ouvir:
Estou só...estou só...estou só...
O trem pára.
(a vida não pára,
apesar da morte)!
Crianças pobres vendem confeitos,
crianças felizes compram o supérfluo.
Pessoas mastigam.
Pessoas fumam.
Pessoas sorriem.
Pessoas felizes?
O trem vai partir
(como a vida?)
pro seu destino.
E volto
a ouvir:
Estou só...estou só...estou só...
Chego, afinal.
(Meu Deus, onde?!).
Saio do trem e da estação.
Subo as escadas da Luz,
com a maleta na mão.
Caminho por uma rua
entre milhares de sombras,
ariscas, velozes, opacas,
formigas apressadas
que se chocam, tontas,
anônimas, sem rumo.
Mas vago só
com meus pensamentos.
Meus passos, plangentes,
murmuram na calçada:
Es-tou só...es-tou só...es-tou só...
Caio em desespero.
Seria a loucura?!
Entro num beco.
Dou vazão ao recalque
em incontido soluço
que mais parece refrão
de algum bailado russo:
Es-es-tou sóóó...es-es-tou sóóó...es-es-tou sóóó...
Chego, afinal, em casa.
Ligo o rádio
(não existe rádio!).
Pego um livro
(eu não tenho livros!).
Somente o silêncio,
indecoroso e venal
e o vôo de uma mosca
que zumbe, monótona:
Essssstou ssssssó...esssssstou sssssó...essssstou sssssssó...
Por fim durmo.
É sono pesado
e sem sonhos:
prefiro estar só!!!
(Poema composto em Campinas, em 17 de agosto de 1965).
Pedro J. Bondaczuk
Viajo...
O trem
rodando
pesado
nos trilhos
e a brisa
cantando,
e o mundo
correndo,
casas,
árvores
animais
carros,
pessoas
voando, voando,
surpreendem-me
calado
e só!
Estou só... estou só... estou só...
Murmura
o bólido
deslizando
nos trilhos.
Crianças sorrindo...
Mulheres sorrindo...
Velhos sorrindo...
Profusão de sorrisos!
E o murmúrio
martela
em meu
ouvido:
Estou só...estou só...estou só...
Pessoas andando,
pessoas falando,
pessoas gritando,
pessoas que lêem:
pessoas felizes?
E o trem
murmura:
Estou só...estou só...estou só...
Jovens de mãos dadas com a esperança,
velhos de mãos dadas com a experiência,
crianças de mãos dadas com o futuro.
Contudo eu,
solitário,
sou todo ouvidos
para o estribilho:
Estou só...estou só...estou só...
Pessoas estranhas se encontram.
Olhares furtivos se cruzam.
Mãos ansiosas se enlaçam.
Lábios sequiosos se juntam.
No túnel escuro do acaso
amores se perdem, se acham.
Todavia
sigo a
ouvir:
Estou só...estou só...estou só...
O trem pára.
(a vida não pára,
apesar da morte)!
Crianças pobres vendem confeitos,
crianças felizes compram o supérfluo.
Pessoas mastigam.
Pessoas fumam.
Pessoas sorriem.
Pessoas felizes?
O trem vai partir
(como a vida?)
pro seu destino.
E volto
a ouvir:
Estou só...estou só...estou só...
Chego, afinal.
(Meu Deus, onde?!).
Saio do trem e da estação.
Subo as escadas da Luz,
com a maleta na mão.
Caminho por uma rua
entre milhares de sombras,
ariscas, velozes, opacas,
formigas apressadas
que se chocam, tontas,
anônimas, sem rumo.
Mas vago só
com meus pensamentos.
Meus passos, plangentes,
murmuram na calçada:
Es-tou só...es-tou só...es-tou só...
Caio em desespero.
Seria a loucura?!
Entro num beco.
Dou vazão ao recalque
em incontido soluço
que mais parece refrão
de algum bailado russo:
Es-es-tou sóóó...es-es-tou sóóó...es-es-tou sóóó...
Chego, afinal, em casa.
Ligo o rádio
(não existe rádio!).
Pego um livro
(eu não tenho livros!).
Somente o silêncio,
indecoroso e venal
e o vôo de uma mosca
que zumbe, monótona:
Essssstou ssssssó...esssssstou sssssó...essssstou sssssssó...
Por fim durmo.
É sono pesado
e sem sonhos:
prefiro estar só!!!
(Poema composto em Campinas, em 17 de agosto de 1965).
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