Conhecimento e educação
Pedro J. Bondaczuk
No livro “Megatendências”, John Naisbit constatou a existência de uma grande contradição na sociedade norte-americana. Enquanto o país se encaminha para se transformar num produtor e exportador de informações – no seu entender o grande “produto” do século XXI – o sistema educacional dos Estados Unidos atravessa uma enorme crise, especialmente de qualidade. Embora a obra tenha sido escrita em 1982, o quadro não evoluiu para melhor e até se deteriorou. Pesquisas revelam que a educação também atravessa momentos críticos em outras partes do mundo. No Brasil, nem se diga!
Conclui-se que, enquanto a tecnologia teve avanços rapidíssimos e até miraculosos, o sistema educacional estagnou e não acompanhou esse progresso. Naisbit ressalta, na página 31 do seu livro: “Torna-se cada vez mais evidente que os graduados nos colégios, e mesmo nas universidades, não conseguem escrever um inglês aceitável, ou mesmo trabalhar com simples aritmética. Pela primeira vez na história americana, a geração de jovens que chega à idade adulta tem menos capacidade que seus pais”.
Se nos Estados Unidos e na Europa o quadro é esse, o que dizer do Brasil, onde, além de tudo, os educadores são sobrecarregados de serviços, em virtude de salários humilhantes, e sequer encontram tempo para preparar aulas decentes, quanto mais para passar por indispensáveis e periódicas reciclagens didáticas?! De uns anos para cá, tanto em nosso País, quanto em outras partes do mundo ocidental, de onde abundam informações a respeito, os educadores e, principalmente, os responsáveis pelas políticas educacionais vêm confundindo educação com mera acumulação de conhecimentos.
Opta-se pela formação de repetidores de conceitos alheios, de meros papagaios, alguns, verdadeiras enciclopédias vivas, em detrimento dos pensadores. De pessoas capazes de adotar postura crítica face qualquer informação e, sobretudo, aptas a acrescentar algo de próprio a ela. Desestimula-se o raciocínio. Em muitas partes, as escolas têm praticamente o mesmo perfil autoritário e medieval de três, quatro ou mais séculos atrás. Mas o mundo mudou muito desde então. Conhecimentos são acumulados hoje de maneira muito mais rápida, eficiente e organizada em memórias de computadores do que no cérebro humano. Ao homem compete saber como usar esse acervo para melhorar sua vida e a da comunidade em que se insere.
O pensador Jiddu Krishnamurti traçou, com clareza, numa entrevista dada há alguns anos, a diferença entre educar e acumular informações. Sentenciou: “As escolas existem principalmente para conseguir uma transformação profunda nos seres humanos, e a responsabilidade do educador é tremenda. Há muita diferença entre aprender e acumular conhecimentos. Aprender eleva a inteligência, acumular conhecimentos apenas embota a mente e não pode solucionar nossos problemas espirituais”.
O homem é educado para a liberdade ou a servidão, o altruísmo ou o egoísmo, a solidariedade ou o isolamento dos semelhantes – que Santo Tomás de Aquino atribuía a uma deformação de caráter e condenava quem agisse assim, como se fosse uma ilha solitária e dissociada dos outros seres humanos. Qual o caminho que o Brasil vai escolher?
Somos “adestrados”, à nossa revelia, para integrar determinados sistemas políticos e sociais, sem que se levem em conta nossas vontades, aptidões e natureza. Uma entidade abstrata, o “Estado”, ganha maior relevância (praticamente absoluta) do que seus membros, concretos, concretíssimos e mais, vivos, que sentem fome, dor, saudade, alegrias, tristezas, ira, solidão etc.
Os meios para se chegar a uma vida digna e produtiva (os bens materiais) são colocados como fins, sutilmente, na cabeça das pessoas, o que as desorienta, ainda mais quando o sistema “interpreta”, as seu bel-prazer, a realidade e a distorce, de modos a que seja favorecido. A educação no sentido lato do termo é a que nos prepara para a vida e não apenas para o exercício de uma profissão.
Pedro J. Bondaczuk
No livro “Megatendências”, John Naisbit constatou a existência de uma grande contradição na sociedade norte-americana. Enquanto o país se encaminha para se transformar num produtor e exportador de informações – no seu entender o grande “produto” do século XXI – o sistema educacional dos Estados Unidos atravessa uma enorme crise, especialmente de qualidade. Embora a obra tenha sido escrita em 1982, o quadro não evoluiu para melhor e até se deteriorou. Pesquisas revelam que a educação também atravessa momentos críticos em outras partes do mundo. No Brasil, nem se diga!
Conclui-se que, enquanto a tecnologia teve avanços rapidíssimos e até miraculosos, o sistema educacional estagnou e não acompanhou esse progresso. Naisbit ressalta, na página 31 do seu livro: “Torna-se cada vez mais evidente que os graduados nos colégios, e mesmo nas universidades, não conseguem escrever um inglês aceitável, ou mesmo trabalhar com simples aritmética. Pela primeira vez na história americana, a geração de jovens que chega à idade adulta tem menos capacidade que seus pais”.
Se nos Estados Unidos e na Europa o quadro é esse, o que dizer do Brasil, onde, além de tudo, os educadores são sobrecarregados de serviços, em virtude de salários humilhantes, e sequer encontram tempo para preparar aulas decentes, quanto mais para passar por indispensáveis e periódicas reciclagens didáticas?! De uns anos para cá, tanto em nosso País, quanto em outras partes do mundo ocidental, de onde abundam informações a respeito, os educadores e, principalmente, os responsáveis pelas políticas educacionais vêm confundindo educação com mera acumulação de conhecimentos.
Opta-se pela formação de repetidores de conceitos alheios, de meros papagaios, alguns, verdadeiras enciclopédias vivas, em detrimento dos pensadores. De pessoas capazes de adotar postura crítica face qualquer informação e, sobretudo, aptas a acrescentar algo de próprio a ela. Desestimula-se o raciocínio. Em muitas partes, as escolas têm praticamente o mesmo perfil autoritário e medieval de três, quatro ou mais séculos atrás. Mas o mundo mudou muito desde então. Conhecimentos são acumulados hoje de maneira muito mais rápida, eficiente e organizada em memórias de computadores do que no cérebro humano. Ao homem compete saber como usar esse acervo para melhorar sua vida e a da comunidade em que se insere.
O pensador Jiddu Krishnamurti traçou, com clareza, numa entrevista dada há alguns anos, a diferença entre educar e acumular informações. Sentenciou: “As escolas existem principalmente para conseguir uma transformação profunda nos seres humanos, e a responsabilidade do educador é tremenda. Há muita diferença entre aprender e acumular conhecimentos. Aprender eleva a inteligência, acumular conhecimentos apenas embota a mente e não pode solucionar nossos problemas espirituais”.
O homem é educado para a liberdade ou a servidão, o altruísmo ou o egoísmo, a solidariedade ou o isolamento dos semelhantes – que Santo Tomás de Aquino atribuía a uma deformação de caráter e condenava quem agisse assim, como se fosse uma ilha solitária e dissociada dos outros seres humanos. Qual o caminho que o Brasil vai escolher?
Somos “adestrados”, à nossa revelia, para integrar determinados sistemas políticos e sociais, sem que se levem em conta nossas vontades, aptidões e natureza. Uma entidade abstrata, o “Estado”, ganha maior relevância (praticamente absoluta) do que seus membros, concretos, concretíssimos e mais, vivos, que sentem fome, dor, saudade, alegrias, tristezas, ira, solidão etc.
Os meios para se chegar a uma vida digna e produtiva (os bens materiais) são colocados como fins, sutilmente, na cabeça das pessoas, o que as desorienta, ainda mais quando o sistema “interpreta”, as seu bel-prazer, a realidade e a distorce, de modos a que seja favorecido. A educação no sentido lato do termo é a que nos prepara para a vida e não apenas para o exercício de uma profissão.
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