Wednesday, October 14, 2009

Exercício do pensamento


Pedro J. Bondaczuk

A possibilidade de pensar é das prerrogativas mais nobres que temos e, ao mesmo tempo, é um dever. Compete-nos contribuir para a solução dos grandes problemas que afligem a humanidade. Já escrevi diversas vezes e reitero: a espaçonave Terra não comporta passageiros. Somos todos tripulantes, com alguma função a executar, não importa qual.
Há, contudo, os que não “querem” pensar, aferrados a pensamentos alheios, que colocam como dogmas. São os fanáticos, que impedem, com sua falta de visão, o progresso dos povos. Não só se tornam empecilhos aos avanços sociais, materiais e morais, como são fatores de retrocesso.
Há, por outro lado, os que não “podem” exercer essa prerrogativa, por deficiência mental. São os loucos e os idiotas, que não têm culpa desses males, congênitos ou adquiridos. É mister, pois, que pensemos por eles.
Mas não “ousar” pensar é o delito dos delitos. Significa omissão. E o omisso é um parasita, que sempre depende que outros façam o que lhe caberia fazer. Querem ser, a todo custo, meros passageiros na espaçonave Terra que, todavia, não comporta nenhum turista.
Nelson Rodrigues, com sua conhecida irreverência, expressou, com a crueza que lhe era peculiar, como agem as massas incultas e o quanto são vulneráveis, influenciáveis e volúveis. Escreveu, em uma de suas polêmicas crônicas: "Ponha o cretino fundamental em cima de um caixote de querosene jacaré e mande-o falar. Ele dá um berro e, imediatamente, milhares de cretinos fundamentais se arregimentam".
A única forma de dificultar essa manipulação é fazer o povo pensar. Castro Alves via no livro o instrumento para tornar isso possível. Mas como convencer insensatos, acomodados, lerdos de raciocínio, os que sequer sabem a razão de estarem no mundo e que têm como supremo objetivo (e na maioria das vezes o único) a satisfação dos sentidos, da importância da leitura? Como fazer esse povo pensar?
Para isso se tornar, um dia, pelo menos potencialmente, possível, é preciso que, antes de tudo, “pensemos”. É que exerçamos, integralmente, sempre, todos os dias, em todas as horas, e em cada circunstância, esta que é a principal característica humana: o raciocínio, o “ato espiritual”, no seu sentido mais grandioso e profundo que torna esse ser minúsculo na “imagem e semelhança de Deus”, neste complexo e misterioso mundo da matéria.
Nada no ser humano é mais nobre e maior do que a razão. Nada se compara à sua capacidade de raciocinar, de analisar e entender tudo e todos que o cercam e de criar, com a simples força do pensamento, o abstrato, ou seja, o que não existe.
Não fora sua racionalidade, e esse animal, fatalmente, já teria desaparecido da Terra. Devemos, todavia, policiar, com zelo, nossos pensamentos e impedir que eles descambem para o pessimismo, o negativismo e o derrotismo. Ou para o egoísmo ou para a obsessão pelo poder Queiramos ou não, admitamos ou deixemos de admitir, somos o que pensamos. Se pensarmos que somos uns coitadinhos, dignos, apenas, da piedade alheia, seremos nisso que nos transformaremos.
Nossas forças internas, cujos limites estão no infinito, permanecerão inibidas e o fracasso será, infelizmente, uma certeza. Se, pelo contrário, tivermos a convicção da nossa grandeza, na devida proporção da nossa humanidade, e se nos convencermos de que estamos destinados ao sucesso, dificilmente deixaremos de ser vencedores naquilo que empreendermos (claro, desde que seja factível).
Um dos maiores cuidados que devemos ter na vida, pois, se refere ao teor e à qualidade dos nossos pensamentos. Afinal, eles são as matérias-primas das nossas ações. Se nutrirmos pensamentos negativos, de mágoas, ressentimentos, ciúmes e vinganças, estaremos apostando na infelicidade. E seremos, dessa forma, infelizes.
Por isso, o mais inteligente e produtivo é preenchemos nossa mente com idéias positivas, construtivas e sadias, mediante conversações que nos acrescentem algo e nos melhorem; leituras selecionadas e meditação constante.
Victor Hugo nos lembra: “Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos”. Esta é a postura dos que têm fé, dos que não abrem mão da esperança e dos que vivem com qualidade e alegria. É o comportamento de quem “pode” e “quer” pensar e que, mais do que isso, efetivamente pensa. Mas sempre de forma positiva, solidária e construtiva.

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