Acidente dá margem a reflexões
Pedro J. Bondaczuk
O acidente (ou sabotagem, ainda não se sabe bem) ocorrido no domingo (dia 10 de abril), num depósito de armas e munições da cidade de Islamabad, a capital administrativa do Paquistão, que afetou, também, a vizinha Rawalpindi, dá margem a muitas reflexões.
Afirmar que ele foi grave, chega a ser até acaciano, de tão óbvio. A gravidade foi tamanha, que o presidente desse país, general Mohammed Zia Ul-Haq, comparou o desastre ao ocorrido em Chernobyll, na União Soviética, em 26 de abril de 1986 e à tragédia da cidade indiana de Bhopal, em 4 de dezembro de 1984, quando um vazamento de isocianato de metila matou 2.500 pessoas e feriu mais de 200 mil.
O que o analista fica imaginando é sobre as proporções que a catástrofe atingiria caso o arsenal que explodiu contivesse armas nucleares, ao invés das convencionais. Isto vem a propósito das insistentes notícias de que o Paquistão está prestes a desenvolver a sua primeira bomba atômica.
Como se viu, com a ocorrência de domingo, por maior que seja a segurança, materiais perigosos estão sujeitos a acidentes ou mesmo a sabotagens. Se não, não seriam considerados como tal. Ainda mais quando se trata de uma nação instável, caracterizada por tensões étnicas e violência política indisfarçável, como é a paquistanesa, que nasceu, em 1947, em meio a uma indescritível sangria desatada ao se separar da Índia, com a qual formava uma colônia britânica. Desde então, esse país nunca saiu dos noticiários, como palco de conflitos de toda a sorte, além de uma guerra civil encarniçada.
É preciso que as superpotências, ao mesmo tempo que negociam o desarmamento entre si, prestem atenção na corrida armamentista nuclear (e mesmo convencional) que se desenvolve na chamada periferia, ou seja, nas sociedades subdesenvolvidas. Que fechem todas as portas possíveis, tornando inviável qualquer tentativa delas fabricarem sua bomba.
São esses países que, se vierem a desenvolver uma arma tão terrível, vão representar um perigo real para a sobrevivência do Planeta. Afinal, eles não têm estrutura para deter um poder destruidor de tamanho porte. Sua mentalidade é muito diferente da que vigora nas nações mais tradicionais. É através deles que algum grupo terrorista mais ousado (ou mais fanático) pode se apossar de um artefato desses, com conseqüências sequer imagináveis.
O leitor já pensou, por exemplo, se uma organização como a que mantém em seu poder, em Larnaca, no Chipre, um jumbo da Kuwait Airways, por alguma fatalidade do destino, viesse um dia a ter em suas mãos uma única bomba nuclear, por menor que fosse? É caso para se refletir seriamente e, principalmente, para se prevenir.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 12 de abril de 1988)
Pedro J. Bondaczuk
O acidente (ou sabotagem, ainda não se sabe bem) ocorrido no domingo (dia 10 de abril), num depósito de armas e munições da cidade de Islamabad, a capital administrativa do Paquistão, que afetou, também, a vizinha Rawalpindi, dá margem a muitas reflexões.
Afirmar que ele foi grave, chega a ser até acaciano, de tão óbvio. A gravidade foi tamanha, que o presidente desse país, general Mohammed Zia Ul-Haq, comparou o desastre ao ocorrido em Chernobyll, na União Soviética, em 26 de abril de 1986 e à tragédia da cidade indiana de Bhopal, em 4 de dezembro de 1984, quando um vazamento de isocianato de metila matou 2.500 pessoas e feriu mais de 200 mil.
O que o analista fica imaginando é sobre as proporções que a catástrofe atingiria caso o arsenal que explodiu contivesse armas nucleares, ao invés das convencionais. Isto vem a propósito das insistentes notícias de que o Paquistão está prestes a desenvolver a sua primeira bomba atômica.
Como se viu, com a ocorrência de domingo, por maior que seja a segurança, materiais perigosos estão sujeitos a acidentes ou mesmo a sabotagens. Se não, não seriam considerados como tal. Ainda mais quando se trata de uma nação instável, caracterizada por tensões étnicas e violência política indisfarçável, como é a paquistanesa, que nasceu, em 1947, em meio a uma indescritível sangria desatada ao se separar da Índia, com a qual formava uma colônia britânica. Desde então, esse país nunca saiu dos noticiários, como palco de conflitos de toda a sorte, além de uma guerra civil encarniçada.
É preciso que as superpotências, ao mesmo tempo que negociam o desarmamento entre si, prestem atenção na corrida armamentista nuclear (e mesmo convencional) que se desenvolve na chamada periferia, ou seja, nas sociedades subdesenvolvidas. Que fechem todas as portas possíveis, tornando inviável qualquer tentativa delas fabricarem sua bomba.
São esses países que, se vierem a desenvolver uma arma tão terrível, vão representar um perigo real para a sobrevivência do Planeta. Afinal, eles não têm estrutura para deter um poder destruidor de tamanho porte. Sua mentalidade é muito diferente da que vigora nas nações mais tradicionais. É através deles que algum grupo terrorista mais ousado (ou mais fanático) pode se apossar de um artefato desses, com conseqüências sequer imagináveis.
O leitor já pensou, por exemplo, se uma organização como a que mantém em seu poder, em Larnaca, no Chipre, um jumbo da Kuwait Airways, por alguma fatalidade do destino, viesse um dia a ter em suas mãos uma única bomba nuclear, por menor que fosse? É caso para se refletir seriamente e, principalmente, para se prevenir.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 12 de abril de 1988)
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