Coerência e firmeza
Pedro J. Bondaczuk
O papa João Paulo II, desde quando assumiu o Pontificado, em 1978, vem mantendo uma linha clara de raciocínio em defesa dos valores essenciais ao homem, não apenas no plano espiritual, mas também naquele mais pragmático, ou seja, o da sobrevivência física.
Temas como anticoncepção, aborto, pobreza, fome, mau uso das descobertas científicas e manipulação dos meios de comunicação para servirem como instrumentos de dominação, marcaram suas centenas de homilias, nas 24 viagens que empreendeu fora da Itália e outras 45 naquele país, abrangendo os locais mais distantes e heterogêneos, tais como o Brasil e o Japão, a Suíça e o Alto Volta, o Canadá e a Coréia do Sul.
Muitas pessoas, por distorção do conhecimento da realidade e, principalmente, por um cômodo oportunismo, podem não concordar com as mensagens do Papa. Muitos dos temas que ele tem levantado, com sobriedade, mas com firmeza, têm gerado polêmicas, pela sua própria natureza. Como, por exemplo, a condenação que João Paulo II faz aos métodos artificiais de contracepção, que acabam reduzindo, até, o ato de amor a uma mera relação animal.
Nem sempre as pregações do Papa têm agradado, especialmente aos poderosos, para os quais o ideal seria a permanência do atual status quo, visivelmente injusto e perigoso. Mas ninguém, em tempo algum, e em nenhum lugar, pode, jamais, negar um sentido de coerência nas mensagens deste grande líder espiritual. Nem afirmar, sequer em voz baixa, que em algum momento lhe faltou coragem para denunciar as discriminações raciais, religiosas, ideológicas e de outras tantas espécies, que têm envenenado o relacionamento entre pessoas e entre comunidades nacionais, conduzindo o mundo ao perigo de um grande confronto. E nem as injustiças cometidas.
Ninguém pode negar a espantosa evolução do pensamento ocorrida neste planetazinho azul, a partir da segunda metade do século XIX. O homem operou maravilhas, que ele próprio poderia jamais conceber há apenas dois séculos.
Distâncias foram estreitadas através de meios de transporte rápidos e seguros, ou pelas sofisticadíssimas formas de comunicação. Rios foram domados para gerar energia, facilitando a vida de todos. Doenças foram erradicadas, através de descobertas incríveis.
O homem passou a dominar a natureza. Mas, estranhamente, a maioria das pessoas, num paradoxo inexplicável, aceitou, passiva e inconscientemente, ceder parcelas de sua própria humanidade. Todos, ou quase todos, conformaram-se com o papel de geradores de riquezas, de números estatísticos, de despersonalizados robôs. O homem está perdendo a sua humanidade!
É exatamente aí que está o cerne da pregação do Papa. Na valorização do ser humano, fazendo com que ele ocupe o lugar nobre que sempre foi seu, ou seja, o de criatura “à imagem e semelhança da divindade”. Como tal, tem o direito e, mais do que isso, o dever de conquistar e preservar a dignidade, pois, como afirmou, ontem, em Santo Domingos, o Sumo Pontífice: “Na liberdade e na riqueza do espírito do homem, fala a própria voz de Deus”!
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 12 de outubro de 1984)
Pedro J. Bondaczuk
O papa João Paulo II, desde quando assumiu o Pontificado, em 1978, vem mantendo uma linha clara de raciocínio em defesa dos valores essenciais ao homem, não apenas no plano espiritual, mas também naquele mais pragmático, ou seja, o da sobrevivência física.
Temas como anticoncepção, aborto, pobreza, fome, mau uso das descobertas científicas e manipulação dos meios de comunicação para servirem como instrumentos de dominação, marcaram suas centenas de homilias, nas 24 viagens que empreendeu fora da Itália e outras 45 naquele país, abrangendo os locais mais distantes e heterogêneos, tais como o Brasil e o Japão, a Suíça e o Alto Volta, o Canadá e a Coréia do Sul.
Muitas pessoas, por distorção do conhecimento da realidade e, principalmente, por um cômodo oportunismo, podem não concordar com as mensagens do Papa. Muitos dos temas que ele tem levantado, com sobriedade, mas com firmeza, têm gerado polêmicas, pela sua própria natureza. Como, por exemplo, a condenação que João Paulo II faz aos métodos artificiais de contracepção, que acabam reduzindo, até, o ato de amor a uma mera relação animal.
Nem sempre as pregações do Papa têm agradado, especialmente aos poderosos, para os quais o ideal seria a permanência do atual status quo, visivelmente injusto e perigoso. Mas ninguém, em tempo algum, e em nenhum lugar, pode, jamais, negar um sentido de coerência nas mensagens deste grande líder espiritual. Nem afirmar, sequer em voz baixa, que em algum momento lhe faltou coragem para denunciar as discriminações raciais, religiosas, ideológicas e de outras tantas espécies, que têm envenenado o relacionamento entre pessoas e entre comunidades nacionais, conduzindo o mundo ao perigo de um grande confronto. E nem as injustiças cometidas.
Ninguém pode negar a espantosa evolução do pensamento ocorrida neste planetazinho azul, a partir da segunda metade do século XIX. O homem operou maravilhas, que ele próprio poderia jamais conceber há apenas dois séculos.
Distâncias foram estreitadas através de meios de transporte rápidos e seguros, ou pelas sofisticadíssimas formas de comunicação. Rios foram domados para gerar energia, facilitando a vida de todos. Doenças foram erradicadas, através de descobertas incríveis.
O homem passou a dominar a natureza. Mas, estranhamente, a maioria das pessoas, num paradoxo inexplicável, aceitou, passiva e inconscientemente, ceder parcelas de sua própria humanidade. Todos, ou quase todos, conformaram-se com o papel de geradores de riquezas, de números estatísticos, de despersonalizados robôs. O homem está perdendo a sua humanidade!
É exatamente aí que está o cerne da pregação do Papa. Na valorização do ser humano, fazendo com que ele ocupe o lugar nobre que sempre foi seu, ou seja, o de criatura “à imagem e semelhança da divindade”. Como tal, tem o direito e, mais do que isso, o dever de conquistar e preservar a dignidade, pois, como afirmou, ontem, em Santo Domingos, o Sumo Pontífice: “Na liberdade e na riqueza do espírito do homem, fala a própria voz de Deus”!
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 12 de outubro de 1984)
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