Gozo total
Pedro J. Bondaczuk
A vida é bela, e fascinante, e misteriosa, por se tratar de permanente processo de renovação, embora paradoxalmente envelheçamos a cada dia que passa. É como um rio, cujas águas são sempre diferentes. A verdade é estamos permanentemente nascendo e morrendo. Por isso, o problema do tempo nos afeta mais do que os outros problemas metafísicos. Porque os outros são abstratos. O do tempo é o nosso problema.
Todo novo dia é um presente que a vida nos concede. E a melhor maneira de mostrarmos apreço e veneração por ela, por esse magnífico mistério, que é, ao mesmo tempo, privilégio e desafio, é cultivarmos a alegria. É jamais nos deixarmos abater pelo que de ruim nos aconteça, ou ocorra ao nosso redor, mas sempre extrair lições dos sofrimentos e tragédias.
É atentarmos para os pequenos episódios positivos do dia a dia que, somados, se revelam maiúsculos, mas que, muitas vezes, entregues a tolas mágoas e estúpidos rancores, não sabemos valorizar devidamente. Viver é bom, é magnífico, é transcendental, sejam quais forem as circunstâncias. A atitude sábia e sensata é gozar a vida em toda a plenitude e grandeza, ou seja, de forma erótica, poética, sensorial, espiritual e transcendental.
Nada há, por exemplo, que se compare, em termos de genuíno prazer, à sensação de havermos cumprido o que nos cabia fazer. Ou seja, de termos feito nosso dever com diligência, dedicação e competência. Façamo-lo. Aliás, há outra imensa satisfação, sim, e única. É a certeza de havermos realizado um bem, qualquer que seja, a algum semelhante – conhecido ou estranho, parente ou não –, que tenha qualquer necessidade (material ou espiritual): uma dádiva, um auxílio, uma palavra de apreço, uma orientação ou um exemplo.
Cumprirmos nosso dever e fazermos o bem são fontes inesgotáveis de alegria. Quem duvidar, basta experimentar. São satisfações “democráticas”, ao alcance de todos, e não nos exigem nada de excepcional. Em contrapartida, nos dão compensação inigualável.
Podemos (e devemos) estar permanentemente predispostos ao bom-humor, à beleza e à alegria de viver. Com esta postura, podemos, é verdade, não resolver todos os problemas que eventualmente surjam no nosso caminho (e, certamente, surgirão muitos, dos mais simples aos sumamente complexos), mas, pelo menos, não os agravaremos, o que não deixa de ser considerável ganho.
Bem diz o povo que tristeza não paga dívidas. Temos que resistir à tentação de estarmos sempre com um pé atrás em relação ao próximo, tratando, quem não conhecemos, como inimigo em potencial. Cautela e desconfiança são duas coisas muito distintas. Devemos nos manter cautelosos, sim, mas não liminarmente desconfiados.
Já o êxtase do amor é outra dádiva que está ao nosso alcance, exigindo de nós apenas o cumprimento de uma única condição: reciprocidade. Ele altera nossos parâmetros de medida do tempo e do espaço. Faz com que nos sintamos, enquanto dura, eternos e infinitos, a despeito da nossa real pequenez e efemeridade.
Trata-se de sensação mágica, única, indescritível, que os mais competentes poetas não conseguem dar a mais pálida e aproximada idéia de como de fato é. Mas quem precisa deles? Melhor do que descrever, ou do que nos deleitarmos com descrições alheias, é sentir essa sensação de êxtase, de delírio, de pleno gozo.
Não tenhamos medo de colocar nossas pretensões e nossos sonhos muito no alto, perto das estrelas, fora do alcance das nossas mãos. Não economizemos nos “empréstimos de felicidade”, jamais abrindo mão de nossas esperanças, mas recorrendo mais e mais a elas. E ousemos em nos sentir como Madre Teresa de Calcutá se sentia: “um lápis nas mãos de Deus”, para escrevermos nossa própria biografia.
Viver, embora não pareça, é uma arte. Podemos fazer da nossa vida tanto um inferno, pior do que o descrito por Dante Alighieri, na “Divina Comédia”, de infinitos sofrimentos (físicos, morais e psicológicos), quanto uma coisa bela, aprazível, gozosa e sem igual. Esse é o desafio que cada novo dia nos apresenta, mas que temos capacidade de enfrentar e de vencer.
Tenhamos fé no futuro e façamos a nossa parte para tornar o mundo melhor, mais solidário e mais justo. Sejamos, sempre, a “cabeça” do corpo social, jamais a “cauda”. E ousemos exercitar nosso talento, não no sentido de buscar glória ou fortuna, mas de justificar a nossa existência.
Há algum tempo, li um poema, intitulado “Satori”, de Luís Augusto Cassas, e dele pincei uma estrofe, que transformei, desde então, numa espécie de mantra, de oração e mais, de verdadeira intimação, por resumir tudo o que aspiro (e que, certamente, você também, meu caro leitor).. Diz o poeta no referido trecho: “Vida/dá-me o gozo total:/erótico/poético/transcendental”. É só o que lhe peço a cada amanhecer de um novo dia. O resto... conquisto sozinho.
Pedro J. Bondaczuk
A vida é bela, e fascinante, e misteriosa, por se tratar de permanente processo de renovação, embora paradoxalmente envelheçamos a cada dia que passa. É como um rio, cujas águas são sempre diferentes. A verdade é estamos permanentemente nascendo e morrendo. Por isso, o problema do tempo nos afeta mais do que os outros problemas metafísicos. Porque os outros são abstratos. O do tempo é o nosso problema.
Todo novo dia é um presente que a vida nos concede. E a melhor maneira de mostrarmos apreço e veneração por ela, por esse magnífico mistério, que é, ao mesmo tempo, privilégio e desafio, é cultivarmos a alegria. É jamais nos deixarmos abater pelo que de ruim nos aconteça, ou ocorra ao nosso redor, mas sempre extrair lições dos sofrimentos e tragédias.
É atentarmos para os pequenos episódios positivos do dia a dia que, somados, se revelam maiúsculos, mas que, muitas vezes, entregues a tolas mágoas e estúpidos rancores, não sabemos valorizar devidamente. Viver é bom, é magnífico, é transcendental, sejam quais forem as circunstâncias. A atitude sábia e sensata é gozar a vida em toda a plenitude e grandeza, ou seja, de forma erótica, poética, sensorial, espiritual e transcendental.
Nada há, por exemplo, que se compare, em termos de genuíno prazer, à sensação de havermos cumprido o que nos cabia fazer. Ou seja, de termos feito nosso dever com diligência, dedicação e competência. Façamo-lo. Aliás, há outra imensa satisfação, sim, e única. É a certeza de havermos realizado um bem, qualquer que seja, a algum semelhante – conhecido ou estranho, parente ou não –, que tenha qualquer necessidade (material ou espiritual): uma dádiva, um auxílio, uma palavra de apreço, uma orientação ou um exemplo.
Cumprirmos nosso dever e fazermos o bem são fontes inesgotáveis de alegria. Quem duvidar, basta experimentar. São satisfações “democráticas”, ao alcance de todos, e não nos exigem nada de excepcional. Em contrapartida, nos dão compensação inigualável.
Podemos (e devemos) estar permanentemente predispostos ao bom-humor, à beleza e à alegria de viver. Com esta postura, podemos, é verdade, não resolver todos os problemas que eventualmente surjam no nosso caminho (e, certamente, surgirão muitos, dos mais simples aos sumamente complexos), mas, pelo menos, não os agravaremos, o que não deixa de ser considerável ganho.
Bem diz o povo que tristeza não paga dívidas. Temos que resistir à tentação de estarmos sempre com um pé atrás em relação ao próximo, tratando, quem não conhecemos, como inimigo em potencial. Cautela e desconfiança são duas coisas muito distintas. Devemos nos manter cautelosos, sim, mas não liminarmente desconfiados.
Já o êxtase do amor é outra dádiva que está ao nosso alcance, exigindo de nós apenas o cumprimento de uma única condição: reciprocidade. Ele altera nossos parâmetros de medida do tempo e do espaço. Faz com que nos sintamos, enquanto dura, eternos e infinitos, a despeito da nossa real pequenez e efemeridade.
Trata-se de sensação mágica, única, indescritível, que os mais competentes poetas não conseguem dar a mais pálida e aproximada idéia de como de fato é. Mas quem precisa deles? Melhor do que descrever, ou do que nos deleitarmos com descrições alheias, é sentir essa sensação de êxtase, de delírio, de pleno gozo.
Não tenhamos medo de colocar nossas pretensões e nossos sonhos muito no alto, perto das estrelas, fora do alcance das nossas mãos. Não economizemos nos “empréstimos de felicidade”, jamais abrindo mão de nossas esperanças, mas recorrendo mais e mais a elas. E ousemos em nos sentir como Madre Teresa de Calcutá se sentia: “um lápis nas mãos de Deus”, para escrevermos nossa própria biografia.
Viver, embora não pareça, é uma arte. Podemos fazer da nossa vida tanto um inferno, pior do que o descrito por Dante Alighieri, na “Divina Comédia”, de infinitos sofrimentos (físicos, morais e psicológicos), quanto uma coisa bela, aprazível, gozosa e sem igual. Esse é o desafio que cada novo dia nos apresenta, mas que temos capacidade de enfrentar e de vencer.
Tenhamos fé no futuro e façamos a nossa parte para tornar o mundo melhor, mais solidário e mais justo. Sejamos, sempre, a “cabeça” do corpo social, jamais a “cauda”. E ousemos exercitar nosso talento, não no sentido de buscar glória ou fortuna, mas de justificar a nossa existência.
Há algum tempo, li um poema, intitulado “Satori”, de Luís Augusto Cassas, e dele pincei uma estrofe, que transformei, desde então, numa espécie de mantra, de oração e mais, de verdadeira intimação, por resumir tudo o que aspiro (e que, certamente, você também, meu caro leitor).. Diz o poeta no referido trecho: “Vida/dá-me o gozo total:/erótico/poético/transcendental”. É só o que lhe peço a cada amanhecer de um novo dia. O resto... conquisto sozinho.
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