Monday, January 01, 2007

Percorrendo labirintos


Pedro J. Bondaczuk

O ano que está prestes a se findar não diferiu muito dos anteriores (embora, claro, não tenha sido igual – nunca é): trouxe alegrias, tristezas, vitórias, fracassos, concretização de sonhos e algumas desilusões, entre outras tantas situações. Sempre foi e sempre será assim enquanto tivermos o privilégio de participar dessa maravilhosa (e, conforme entendo, única) aventura, que é a vida Como se vê, nada, portanto, foi, em 2006, muito diferente dos outros tantos anos. O que quero tornar original é a forma de começar 2007.
Não farei as afoitas promessas que, invariavelmente, fazemos em cada passagem de 31 de dezembro para 1º de janeiro (e que raramente cumprimos), quase sempre sob o efeito da euforia e, não raro, de umas taças a mais de champanha. Dessa forma, não pretendo, por exemplo, parar de fumar (embora isso fosse o ideal, para ganhar mais um bom par de anos de vida). Não vou fazer ginástica para perder as gordurinhas sobressalentes, que tornam meu abdome cada vez mais parecido com o do Papai Noel. E nem prometo escrever aquele livro, há tanto tempo planejado, mas que teima em não se fazer concreto na telinha do computador. Nada disso!
Se vier a fazer qualquer uma dessas coisas, que seja de forma natural, sem planos prévios, sem delirantes expectativas, sem promessas de qualquer espécie. Em suma: sem forçar a barra. Em vez de fazer as tradicionais juras de início de ano, o que farei, no primeiro dia de 2007, com certeza, será um balanço do meu percurso ao longo de mais esse “labirinto”, de 365 passagens, que os meus passos acabaram de percorrer.
Quero, entre outras tantas coisas, identificar as pedras que encontrei em meu caminho, analisar os vários tropeços que tive em busca dos motivos e saborear o sucesso de ter escapado de tantas e tão insidiosas armadilhas. Concluo que tudo o que fiz, os meus erros e acertos, meus sucessos e fracassos, minhas tristezas e alegrias, tudo isso, sem exceção, valeu a pena. Sempre vale, conforme Fernando Pessoa, “se a alma não for pequena”.
Embora saiba que se trata de tarefa impossível, vou tentar avançar no tempo e invadir o terreno do que ainda não aconteceu (e que pode, jamais, ocorrer). Essa tentativa, destaque-se, é como caminhar por um caminho absolutamente desconhecido, em uma noite escura e sem luar, em que não se enxergue além de onde estivermos. O próximo passo que dermos tanto pode ser seguro, quanto nos conduzir a alguma inesperada armadilha, a um charco, a um buraco ou até mesmo a um precipício.
Ligia Fagundes Telles escreveu, na crônica “Sacode a poeira”, publicada no Suplemento Feminino do jornal “O Estado de São Paulo”, em 28 de dezembro de 1962: “A queda parece mesmo inevitável. Os anjos já caíam, eles, espíritos puros. Que dizer nós, fragílimos mortais?”. É verdade! O que dizer nós!
Aliás, essa citação da grande escritora (que na época estava dando, ainda, os primeiros passos na carreira literária), me traz à lembrança a reprodução de uma gravura de Gustave Doré. Para quem não sabe, esse artista francês foi um dos maiores ilustradores do século XIX, paradigma de qualidade e criatividade até hoje, para quem lida com ilustração. O quadro mostrava duas crianças, um menino e uma menina, de uns 4 a 5 anos de idade, caminhando sobre uma ponte pênsil avariada, cheia de buracos, por sobre um abismo, no fundo do qual havia um rio com correnteza bravia. Acima dos dois, porém, havia a figura de um anjo da guarda, guiando os passos de ambos, assegurando-lhes uma travessia segura. Nunca me esqueci dessa maravilhosa imagem!
Embora o caminho do que não aconteceu seja nebuloso e, potencialmente, cheio de perigos, sou incorrigível otimista. Sei que é provável que em 2007, como em tantos outros anos anteriores, eu sofra uma queda aqui, outra ali, mas tenho a convicção que nada será tão dramático e definitivo que não me permita levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Ademais, tentarei seguir o conselho da Ligia, que escreveu, em determinado trecho da referida crônica: “Necessário, pois, sacudir a roupa com a maior urgência, esconder as cicatrizes e abrir o melhor dos sorrisos para a nova aventura do Ano Novo”.
Isso, claro, após percorrer com relativo sucesso o labirinto de 2007. Estou certo que todos – tanto eu, quanto você, querido leitor, que ao longo de 2006 me honrou com o seu prestígio – teremos, ao cabo da nossa jornada pelos próximos 365 dias, um amplo, gostoso e espontâneo sorriso de vitória nos lábios, para comemorar essa nossa bem-sucedida travessia. Amém!!!!

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