Friday, January 19, 2007

Educar para a vida


Pedro J. Bondaczuk

A educação é um processo que, se bem-conduzido, produz pessoas íntegras, felizes, equilibradas, com senso de cidadania e de comportamento social aguçados e que determina o sucesso de uma família, de uma comunidade, de uma cidade, de um país e da própria civilização. Porém, quando inadequada, distorcida, inepta e manipulada, tende a se transformar em fonte inesgotável de neuroses, de psicoses, de desajustes de todas as naturezas e espécies, verdadeiras “fábricas de monstros”. Não se deve, no entanto, confundir o ato de “educar” com o de meramente “instruir”.
Somos, sem exceção, simultaneamente, em momentos diversos das nossas vidas, educandos e educadores. Trata-se de um processo permanente, contínuo, ininterrupto, que vai do berço à tumba. Ou seja, do nascimento até a morte. É tarefa de todos os agentes sociais: família, escola, igreja etc.etc.etc. Estamos, o tempo todo, aprendendo e ensinando, mesmo que não venhamos a nos dar conta disso. E o que aprendemos e o que ensinamos pode ser tanto positivo – ou seja, aqueles conhecimentos que de alguma forma nos formem a personalidade e o caráter, nos corrijam, nos engrandeçam e nos valorizem – quanto negativo – os que nos corrompam, nos degradem e nos tornem nocivos a nós mesmos e a todos os que nos rodeiem.
Sei que não estou afirmando nada de novo e, apenas, me limitando a repetir o lugar-comum, o que é do conhecimento geral (até do mais imbecil dos imbecis), o óbvio. Afinal, não sou especialista na matéria (como, ademais, não tenho absolutamente nenhuma especialização, em nada). Infelizmente, todavia, a maioria das pessoas tropeça exatamente nas obviedades. Escorrega naquilo que não se esperava que escorregasse, de tão batido, surrado e divulgado que é.
É através da educação que aprendemos tudo, rigorosa e absolutamente tudo, o que o ser humano aprendeu, desde os tempos do nosso mais remoto ancestral das cavernas ao homem contemporâneo (dito moderno), conhecimento este adquirido empiricamente, através de erros e de acertos, e transmitido geração após geração. Este acervo abrange desde a forma de comunicação do grupo em que estamos inseridos (o idioma que falamos) até a história da espécie; desde noções as mais comezinhas de higiene e saúde aos direitos e deveres que temos no convívio com os semelhantes; desde os princípios das artes, à física, química, matemática, biologia, astronomia etc.
A não ser os instintos de sobrevivência e de perpetuação da espécie, não nascemos sabendo nada, absolutamente nada. Tudo alguém terá que nos ensinar no momento adequado de nossas vidas. Até mesmo o instintivo, para ser eficaz, terá que ser sistematizado e racionalizado. Ou seja, temos que aprender o que é saudável e o que é nocivo; quais comportamentos expõem nossas vidas a risco e quais são as medidas de segurança que devemos adotar (e em quais circunstâncias) para preservarmos a nossa integridade física. E, quanto à perpetuação da espécie, precisamos de uma correta e eficaz educação sexual, para um relacionamento harmonioso e saudável com a parceira de reprodução.
Em contrapartida, tudo o que aprendermos, temos a obrigação de passar adiante, ou seja, de ensinar para alguém, geralmente os filhos que geramos ou que viermos a gerar. A evolução de cada geração depende da competência com que esses conhecimentos forem transmitidos. Se o fizermos com razoável eficácia, estaremos contribuindo para um mundo mais justo, mais humano e mais solidário. Se nos omitirmos, ou não ensinarmos a quem deveríamos ensinar os princípios corretos de conduta que nos foram ensinados, seremos co-responsáveis pela miséria, pelas neuroses, pelas distorções de comportamento (pessoais e/ou sociais), pela violência, criminalidade, guerra etc. que vierem a ocorrer.
Uma das principais distorções da atualidade (que sempre existiu, mas que agora se torna mais aguda, dada a exorbitante quantidade de gente no mundo), é o fato de pessoas que não foram convenientemente educadas, terem que educar filhos. Na maioria das vezes, estes são frutos de relacionamentos fortuitos, casuais ou distorcidos e irresponsáveis. São meros “acidentes” (portanto indesejáveis). E os que os geraram e têm a incumbência de os educar, não têm a mínima estrutura, a menor capacidade, a mais remota competência, para isso. Provêem de famílias desestruturadas, ignorantes, violentas. Tendem, portanto, reproduzir em suas vidas a mesma maneira com que foram criados.
O que se requer, com crescente ênfase, é menos instrução e mais educação. É menos conhecimentos teóricos e enciclopédicos – a maioria dos quais jamais utilizaremos quando deixarmos a escola com o diploma nas mãos, e de fácil acesso quando houver necessidade – e mais princípios de civilidade, de respeito ao próximo, de responsabilidade pessoal e social, de solidariedade e de justiça. Instruir um indivíduo para formar mão-de-obra especializada para o mercado é importante, mas não essencial. O que promove, de fato, o progresso de um país é a educação para a vida de cada um dos seus habitantes.

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