Sunday, January 21, 2007
A fragilidade das cidades
Pedro J. Bondaczuk
A evolução da tecnologia de construção e do urbanismo tem se revelado insuficiente para tornar as cidades mais protegidas, ou pelo menos não tão vulneráveis, como de fato são. Quanto maiores – algumas, como São Paulo, são mais populosas do que alguns países – mais esta fragilidade se manifesta diante dos fenômenos naturais.
Quando se trata de furacões e terremotos ainda se entende que não existam meios eficazes de defender o patrimônio – seja público, seja particular – de destruição. No que se refere à integridade física dos cidadãos, o remédio é remover o mais rápido possível (quando dá tempo) a população das zonas de risco, para evitar grandes catástrofes.
Esses cataclismos quase sempre são previsíveis, já que ocorrem em determinadas áreas conhecidas. Ainda assim, quando acontecem, deixam quantidades imensas de mortos, feridos e desabrigados. Já houve terremoto que matou mais de um milhão de pessoas. É o preço que se paga por se viver em grandes concentrações urbanas.
Mas não se compreende (e nem se aceita) que simples chuvas, por mais fortes que sejam, causem tantos contratempos nas cidades – enchentes, falta de eletricidade porque galhos de árvores danificaram a rede elétrica, pontos de alagamento em vias públicas e semáforos avariados comprometendo o tráfego – como acontece atualmente.
Na maioria dos casos, providências simples e lógicas, como limpeza de bueiros e de córregos, cuidados com o lixo e podas periódicas, reduziriam em muito esses efeitos de tempestades, mesmo das mais intensas.
Todos os anos, porém, o problema se repete, de forma mais ou menos trágica, de acordo com a intensidade das chuvas. Autoridades municipais vêm então a público e invariavelmente repetem as mesmas promessas, feitas por elas mesmas ou por suas antecessoras, de que farão obras aqui, ali e acolá, para livrar os moradores das áreas de risco do flagelo. Nunca livram.
Tão logo os efeitos dos temporais cessam e a vida retoma o ritmo normal, as providências prometidas caem no esquecimento. E tome mais enchentes, desmoronamentos, pessoas desabrigadas tendo que ser socorridas em ginásios de esporte e escolas públicas etc. Dias depois, surgem as seqüelas das inundações, como surtos de leptospirose e outras doenças transmitidas pelas águas contaminadas, entre outras.
Quando chega o período das chuvas, em fins da primavera e entrada do verão, o noticiário torna-se até‚ previsível. Em geral, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte etc., acabam tendo suas partes ribeirinhas cobertas pelas águas.
As tragédias apenas variam de proporção, mas sempre acontecem. Campinas também enfrenta o problema, que parece se agravar de ano para ano, diante da falta de planejamento e de providências eficazes. Até quando isso vai durar?
(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 9 de setembro de 1996)
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