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Pedro J. Bondaczuk
GIGANTESCA BABAÇÃO DE OVO
Entre as vulnerabilidades que ficaram visíveis do futebol brasileiro nesta infeliz Copa do Mundo, que da minha parte farei o possível para esquecer o mais depressa que puder, uma das principais foi a falta de preparo, de equilíbrio e de imaginação da nossa imprensa esportiva. Parece que, de repente, todos os repórteres, locutores e comentaristas perderam o senso de ridículo e deitaram a falar muito mais bobagens do que normalmente fazem (e que não é pouco). A babação de ovo sobre o meia francês Zinedine Zidane foi qualquer coisa de irritante, constrangedora e nojenta. De repente, um jogador comum, que em nossos campeonatos passaria despercebido, foi alçado à condição não apenas de craque (o que já seria um exagero), nem de supercraque, mas de “gênio” da bola. Aí foi demais para a minha cabeça! O meia francês, que contra o Brasil deitou e rolou, livre como um passarinho de qualquer marcação, não fez nada, absolutamente nada contra a ingênua e apenas esforçada seleção de Portugal. Ainda assim, toda a vez que pegava na bola, nossos locutores e comentaristas se desmanchavam em loas e salamaleques ao carequinha, como se estivesse “estraçalhando”. Viram outro jogo, evidentemente. Como é ruim a nossa crônica esportiva (salvo uma ou outra honrosíssima exceção)!. Esses jornalistas são os últimos a poderem falar o que quer que seja de Carlos Alberto Parreira.
JOGO HORRÍVEL E IRRITANTE
A França pode, até, se tornar campeã mundial neste domingo, diante da Itália. Afinal, o futebol tem desses caprichos! Mas essa seleção francesa, em termos técnicos, está muitos, muitíssimos furos aquém da italiana. Tirando o jogo contra o Brasil, facilitado pela estranha inércia brasileira, não vi nada, absolutamente nada nesse time pesado, envelhecido e com uma máscara maior que a Europa inteira. Vocês repararam na pose de Henry? E de Zidane? E de Vieira? Parece que tinham um rei na barriga! Se a França for a campeã do mundo, o futebol irá retroceder em pelo menos quatro anos. Nossos técnicos vão querer imitar as táticas retranqueiras dos franceses e os campeonatos brasileiros irão se transformar num circo de horrores. O jogo de hoje, contra Portugal, foi horroroso. Mais parecia uma pelada de várzea do que uma semifinal de Copa do Mundo. Não fosse o pênalti, um tanto mandrake... Não morro de amores pela Itália. E depois da eliminação do Brasil, não torci por mais ninguém. Todavia, como gosto de futebol (o bem jogado, claro e não esta coisa que se viu na Alemanha por estes dias, numa das Copas mais chatas da história), estarei firme e forte torcendo pelo sucesso italiano. A Azurra foi a única seleção que mostrou alguma coisa (não muita, é mister frisar). Merece, pois, colocar a quarta estrela em sua tradicional camisa.
SEM ATAQUE NÃO DÁ
Nem a garra e a capacidade de motivação de Luiz Felipe Scolari foram suficientes para fazer a seleção de Portugal ir mais longe do que foi. Aliás, Felipão fez milagres com esse plantel. Faltou ataque aos portugueses, aquele homem lúcido e frio, acostumado a fazer gols, se o qual não há como vencer jogo algum. Esse tal de Pauleta é uma brincadeira de mau gosto. Cristiano Ronaldo (nome de galã canastrão de novela mexicana), sassarica, rebola, faz firulas, mas não produz nada de efetivo para o time. O veterano Figo, por seu turno, se escondeu durante o jogo. Aliás, perdeu um gol feito, que poderia levar a sua seleção pelo menos para a prorrogação. Portugal mostrou uma defesa firme e um meio de campo razoável. Só! Seu ataque não existiu. E não apenas nesse jogo contra a França, mas contra Angola, contra o México, contra o Irã, contra a Holanda e contra a Inglaterra. Chegou onde chegou apenas graças ao carisma de Felipão que, reitero, fez milagres com o time que tinha em mãos.
SELEÇÃO CONSISTENTE E OBJETIVA
Embora não tenha encantado nem o mais fanático dos seus torcedores, a Itália foi a seleção que mostrou as maiores virtudes nesta Copa do Mundo. Sua defesa é praticamente indevassável, contando com o melhor goleiro do mundo da atualidade, Bufon. Tanto, que levou um único e solitário gol em toda a competição, e assim mesmo marcado contra por um seu zagueiro, no jogo em que empatou com os Estados Unidos por 1 a 1, ainda na fase de classificação. Além disso, a Itália conta com um meio de campo sólido, que marca com perfeição e sai para o jogo, comandado por esse cracaço, que é o volante Pirlo. E quando se tornou necessário, seu ataque apareceu e luziu. Jogou um futebol nem sempre vistoso, de moldes a não entusiasmar ninguém, mas foi objetivo, eficiente e competente. No jogo de ontem, contra a dona da casa, a Alemanha, utilizou a estratégia correta. Soube conter o entusiasmo do adversário, “congelando” a bola, tocando com consciência e não dando a menor chance ao adversário. E, no momento oportuno, soube dar o bote final e liquidar toda e qualquer pretensão alemã. Para quem gosta apenas de futebol competitivo, a Itália deu verdadeira aula de como se vence uma competição. Para quem, como eu, aprecia a arte, a magia e o espetáculo...
AINDA NÃO CONSEGUI DIGERIR
Passada quase uma semana da eliminação do Brasil na Copa do Mundo, ainda não consegui digerir o que aconteceu. Nunca vi uma seleção brasileira tão apática, sem garra, sem imaginação e sem capacidade de reação. Nem mesmo o execrado grupo de 1990, de Sebastião Lazzaroni, se portou de forma tão displicente e covarde como este atual. Aliás, naquela oportunidade, o Brasil foi eliminado pela Argentina, jogando muito melhor que “los hermanos”. E mesmo assio, aqueles jogadores ficaram estigmatizados desde então. Muitos deixaram, prematuramente, de ser convocados, encerrando suas carreiras na seleção antes do tempo. O chato é que ninguém, até aqui, sequer esboçou alguma explicação, por mínima que fosse, para a inércia, por exemplo, de um Juninho Pernambucano, para a partida ridícula de um Kaká (que pipocou) e para uma jornada sem nenhuma inspiração notadamente de um Ronaldinho Gaúcho, de quem se esperava tanto, mas que acabou não rendendo nada, absolutamente nada. Outra coisa que vai ficar marcada é a passividade de Carlos Alberto Parreira, que mostrou ter um arsenal limitadíssimo de estratégias de jogo e que não tentou coisíssima alguma para reverter o resultado adverso e buscar pelo menos um empate, para levar jogo para a prorrogação. Milionários ou não, consagrados ou não em seus clubes, esses jogadores, que protagonizaram essa lamentável e vergonhosa jornada, ficarão marcados para sempre (de forma negativa, claro) na memória do torcedor brasileiro.
BRIO QUE MERECE DESTAQUE
Não se pode cometer, todavia, a injustiça de colocar todos os jogadores da seleção brasileira no mesmo caldeirão de ruindade, de arrogância e de máscara. Alguns venderam caro a derrota para a França e fizeram tudo o que era possível para tentar reverter o resultado adverso, jogando muito além das expectativas. O engraçado é que os melhores brasileiros na Copa foram exatamente aqueles dos quais a torcida desconfiava e sobre os quais a crônica esportiva levantava suspeitas. Dida, por exemplo, não foi, em absoluto, culpado de nenhum dos dois gols que tomou na competição. Pelo contrário, salvou a seleção em todos os jogos, se constituindo numa muralha quase indevassável. Lúcio tem que ser destacado, por sua técnica, garra, eficiência e dedicação. Vibrou, como poucos. O mesmo se pode dizer de Juan. Mas a melhor surpresa brasileira nessa Copa foi o “patinho feio” do time, o carregador de piano, Zé Roberto, que não era nem alvo das badalações da imprensa e nem dos aplausos da torcida. Mas foi um monstro. E em duas ou três partidas recebeu, com inteira justiça, o prêmio de melhor jogador em campo outorgado pela Fifa. Estes honraram a amarelinha e merecem todo o respeito e admiração dos brasileiros. Os demais...Valha-me Deus!!!
RESPINGOS...
· A Ponte Preta, motivada pelos últimos resultados que obteve antes da interrupção do Campeonato Brasileiro da Série A, volta a campo, na quarta-feira, encarando, logo de cara, uma pedreira: o Internacional de Porto Alegre, no Beira-Rio. Apesar dos pesares, confio numa boa campanha da Macaca na seqüência da competição. Garra, pelo menos, é o que não vai faltar!
· O Guarani volta a campo na próxima terça-feira, no Brinco de Ouro, diante da sua torcida, tendo com adversário o chatíssimo time do Gama. Tem a obrigação de vencer, caso aspire, de fato, lutar pela volta à Série A no ano que vem.
· Finalmente, chegou ao fim a novela envolvendo o bom centroavante Nilmar. O Corinthians depositou os dez milhões de euros que o Lyon pedia e ficará por mais quatro anos no Parque São Jorge.
· Na volta do futebol doméstico, os cariocas terão um sensacional clássico caseiro, decidindo a Copa do Brasil. Vasco e Flamengo prometem protagonizar um jogo de arrepiar, dada a tradição que ambos ostentam.
· Welber estreou, e bem, com a camisa da Ponte Preta, no amistoso que a Macaca disputou hoje em Itu, diante do Ituano e que venceu por 2 a 0. Um dos gols foi dele. O outro, foi do garoto Mossoró, que terá chances no time pontepretano e que é uma boa promessa.
* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
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