Wednesday, July 05, 2006

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk



GIGANTESCA BABAÇÃO DE OVO

Entre as vulnerabilidades que ficaram visíveis do futebol brasileiro nesta infeliz Copa do Mundo, que da minha parte farei o possível para esquecer o mais depressa que puder, uma das principais foi a falta de preparo, de equilíbrio e de imaginação da nossa imprensa esportiva. Parece que, de repente, todos os repórteres, locutores e comentaristas perderam o senso de ridículo e deitaram a falar muito mais bobagens do que normalmente fazem (e que não é pouco). A babação de ovo sobre o meia francês Zinedine Zidane foi qualquer coisa de irritante, constrangedora e nojenta. De repente, um jogador comum, que em nossos campeonatos passaria despercebido, foi alçado à condição não apenas de craque (o que já seria um exagero), nem de supercraque, mas de “gênio” da bola. Aí foi demais para a minha cabeça! O meia francês, que contra o Brasil deitou e rolou, livre como um passarinho de qualquer marcação, não fez nada, absolutamente nada contra a ingênua e apenas esforçada seleção de Portugal. Ainda assim, toda a vez que pegava na bola, nossos locutores e comentaristas se desmanchavam em loas e salamaleques ao carequinha, como se estivesse “estraçalhando”. Viram outro jogo, evidentemente. Como é ruim a nossa crônica esportiva (salvo uma ou outra honrosíssima exceção)!. Esses jornalistas são os últimos a poderem falar o que quer que seja de Carlos Alberto Parreira.

JOGO HORRÍVEL E IRRITANTE

A França pode, até, se tornar campeã mundial neste domingo, diante da Itália. Afinal, o futebol tem desses caprichos! Mas essa seleção francesa, em termos técnicos, está muitos, muitíssimos furos aquém da italiana. Tirando o jogo contra o Brasil, facilitado pela estranha inércia brasileira, não vi nada, absolutamente nada nesse time pesado, envelhecido e com uma máscara maior que a Europa inteira. Vocês repararam na pose de Henry? E de Zidane? E de Vieira? Parece que tinham um rei na barriga! Se a França for a campeã do mundo, o futebol irá retroceder em pelo menos quatro anos. Nossos técnicos vão querer imitar as táticas retranqueiras dos franceses e os campeonatos brasileiros irão se transformar num circo de horrores. O jogo de hoje, contra Portugal, foi horroroso. Mais parecia uma pelada de várzea do que uma semifinal de Copa do Mundo. Não fosse o pênalti, um tanto mandrake... Não morro de amores pela Itália. E depois da eliminação do Brasil, não torci por mais ninguém. Todavia, como gosto de futebol (o bem jogado, claro e não esta coisa que se viu na Alemanha por estes dias, numa das Copas mais chatas da história), estarei firme e forte torcendo pelo sucesso italiano. A Azurra foi a única seleção que mostrou alguma coisa (não muita, é mister frisar). Merece, pois, colocar a quarta estrela em sua tradicional camisa.

SEM ATAQUE NÃO DÁ

Nem a garra e a capacidade de motivação de Luiz Felipe Scolari foram suficientes para fazer a seleção de Portugal ir mais longe do que foi. Aliás, Felipão fez milagres com esse plantel. Faltou ataque aos portugueses, aquele homem lúcido e frio, acostumado a fazer gols, se o qual não há como vencer jogo algum. Esse tal de Pauleta é uma brincadeira de mau gosto. Cristiano Ronaldo (nome de galã canastrão de novela mexicana), sassarica, rebola, faz firulas, mas não produz nada de efetivo para o time. O veterano Figo, por seu turno, se escondeu durante o jogo. Aliás, perdeu um gol feito, que poderia levar a sua seleção pelo menos para a prorrogação. Portugal mostrou uma defesa firme e um meio de campo razoável. Só! Seu ataque não existiu. E não apenas nesse jogo contra a França, mas contra Angola, contra o México, contra o Irã, contra a Holanda e contra a Inglaterra. Chegou onde chegou apenas graças ao carisma de Felipão que, reitero, fez milagres com o time que tinha em mãos.

SELEÇÃO CONSISTENTE E OBJETIVA

Embora não tenha encantado nem o mais fanático dos seus torcedores, a Itália foi a seleção que mostrou as maiores virtudes nesta Copa do Mundo. Sua defesa é praticamente indevassável, contando com o melhor goleiro do mundo da atualidade, Bufon. Tanto, que levou um único e solitário gol em toda a competição, e assim mesmo marcado contra por um seu zagueiro, no jogo em que empatou com os Estados Unidos por 1 a 1, ainda na fase de classificação. Além disso, a Itália conta com um meio de campo sólido, que marca com perfeição e sai para o jogo, comandado por esse cracaço, que é o volante Pirlo. E quando se tornou necessário, seu ataque apareceu e luziu. Jogou um futebol nem sempre vistoso, de moldes a não entusiasmar ninguém, mas foi objetivo, eficiente e competente. No jogo de ontem, contra a dona da casa, a Alemanha, utilizou a estratégia correta. Soube conter o entusiasmo do adversário, “congelando” a bola, tocando com consciência e não dando a menor chance ao adversário. E, no momento oportuno, soube dar o bote final e liquidar toda e qualquer pretensão alemã. Para quem gosta apenas de futebol competitivo, a Itália deu verdadeira aula de como se vence uma competição. Para quem, como eu, aprecia a arte, a magia e o espetáculo...

AINDA NÃO CONSEGUI DIGERIR

Passada quase uma semana da eliminação do Brasil na Copa do Mundo, ainda não consegui digerir o que aconteceu. Nunca vi uma seleção brasileira tão apática, sem garra, sem imaginação e sem capacidade de reação. Nem mesmo o execrado grupo de 1990, de Sebastião Lazzaroni, se portou de forma tão displicente e covarde como este atual. Aliás, naquela oportunidade, o Brasil foi eliminado pela Argentina, jogando muito melhor que “los hermanos”. E mesmo assio, aqueles jogadores ficaram estigmatizados desde então. Muitos deixaram, prematuramente, de ser convocados, encerrando suas carreiras na seleção antes do tempo. O chato é que ninguém, até aqui, sequer esboçou alguma explicação, por mínima que fosse, para a inércia, por exemplo, de um Juninho Pernambucano, para a partida ridícula de um Kaká (que pipocou) e para uma jornada sem nenhuma inspiração notadamente de um Ronaldinho Gaúcho, de quem se esperava tanto, mas que acabou não rendendo nada, absolutamente nada. Outra coisa que vai ficar marcada é a passividade de Carlos Alberto Parreira, que mostrou ter um arsenal limitadíssimo de estratégias de jogo e que não tentou coisíssima alguma para reverter o resultado adverso e buscar pelo menos um empate, para levar jogo para a prorrogação. Milionários ou não, consagrados ou não em seus clubes, esses jogadores, que protagonizaram essa lamentável e vergonhosa jornada, ficarão marcados para sempre (de forma negativa, claro) na memória do torcedor brasileiro.

BRIO QUE MERECE DESTAQUE

Não se pode cometer, todavia, a injustiça de colocar todos os jogadores da seleção brasileira no mesmo caldeirão de ruindade, de arrogância e de máscara. Alguns venderam caro a derrota para a França e fizeram tudo o que era possível para tentar reverter o resultado adverso, jogando muito além das expectativas. O engraçado é que os melhores brasileiros na Copa foram exatamente aqueles dos quais a torcida desconfiava e sobre os quais a crônica esportiva levantava suspeitas. Dida, por exemplo, não foi, em absoluto, culpado de nenhum dos dois gols que tomou na competição. Pelo contrário, salvou a seleção em todos os jogos, se constituindo numa muralha quase indevassável. Lúcio tem que ser destacado, por sua técnica, garra, eficiência e dedicação. Vibrou, como poucos. O mesmo se pode dizer de Juan. Mas a melhor surpresa brasileira nessa Copa foi o “patinho feio” do time, o carregador de piano, Zé Roberto, que não era nem alvo das badalações da imprensa e nem dos aplausos da torcida. Mas foi um monstro. E em duas ou três partidas recebeu, com inteira justiça, o prêmio de melhor jogador em campo outorgado pela Fifa. Estes honraram a amarelinha e merecem todo o respeito e admiração dos brasileiros. Os demais...Valha-me Deus!!!

RESPINGOS...

· A Ponte Preta, motivada pelos últimos resultados que obteve antes da interrupção do Campeonato Brasileiro da Série A, volta a campo, na quarta-feira, encarando, logo de cara, uma pedreira: o Internacional de Porto Alegre, no Beira-Rio. Apesar dos pesares, confio numa boa campanha da Macaca na seqüência da competição. Garra, pelo menos, é o que não vai faltar!
· O Guarani volta a campo na próxima terça-feira, no Brinco de Ouro, diante da sua torcida, tendo com adversário o chatíssimo time do Gama. Tem a obrigação de vencer, caso aspire, de fato, lutar pela volta à Série A no ano que vem.
· Finalmente, chegou ao fim a novela envolvendo o bom centroavante Nilmar. O Corinthians depositou os dez milhões de euros que o Lyon pedia e ficará por mais quatro anos no Parque São Jorge.
· Na volta do futebol doméstico, os cariocas terão um sensacional clássico caseiro, decidindo a Copa do Brasil. Vasco e Flamengo prometem protagonizar um jogo de arrepiar, dada a tradição que ambos ostentam.
· Welber estreou, e bem, com a camisa da Ponte Preta, no amistoso que a Macaca disputou hoje em Itu, diante do Ituano e que venceu por 2 a 0. Um dos gols foi dele. O outro, foi do garoto Mossoró, que terá chances no time pontepretano e que é uma boa promessa.

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

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