Monday, July 31, 2006

O País, este adolescente


As fases de transição na vida de uma pessoa, por serem decisivas, são, justamente, as mais perigosas. Quem é pai, por exemplo, sabe como o comportamento de seu filho muda na passagem da infância para a adolescência. O jovem, em geral, torna-se rebelde, teimoso, independente. Caso essas características sejam bem-direcionadas, dessa matéria-prima, um tanto confusa, será possível forjar um adulto notável, produtivo, equilibrado, sensato e, sobretudo, solidário. Em caso contrário, corre-se o risco de ver uma vida desperdiçada, com o descambar do indivíduo para a marginalidade e, conseqüentemente, para a sua derrota.
O mesmo vale para países. O Brasil, uma sociedade bastante jovem em termos históricos, está nesta transição da “infância para a adolescência”. Vêm à tona, agora, com maior intensidade, todas as suas distorções de caráter. Trata-se de um povo à procura de identidade. O cardeal do Rio de Janeiro, Dom Eugênio de Araújo Sales, aborda essa questão num lúcido artigo publicado no “O Globo”, em 10 de julho de 1993, intitulado “Podridão moral”. Vislumbra tanto possibilidades positivas quanto negativas nos acontecimentos dramáticos que dominam as manchetes na atualidade.
Acentua, no final do texto: “Esse quadro (de decadência moral) nos leva ao pessimismo? Caso a comunidade se acovarde, sim; caso reaja, busque a própria conversão por uma mudança profunda, não. Crescendo o número dos que condenam o mal, o Brasil pode ser escoimado de tantas manchas que nos enodoam e envergonham”. Isso reforça a nossa tese de que está em andamento no País uma “revolução”, que não conseguimos identificar por falta de eqüidistância, já que somos os seus agentes, cujos resultados vão depender da nossa ação agora.
Caso não nos limitemos apenas a denunciar as distorções existentes na sociedade, mas nos mobilizemos para a correção de rumos, sem dúvida haveremos de transformar o Brasil para melhor. Se nos entregarmos, no entanto, ao pessimismo e, pior do que ele, ao derrotismo, estaremos contribuindo decisivamente para a instalação do caos. Colocaremos a perder todo o empenho dos antepassados.
Ninguém está defendendo que não se enxergue a dura realidade que aí está, de decadência moral e social. Pelo contrário, a insistência dos editorialistas nesses temas tem o objetivo de sacudir as pessoas, de tirá-las da pasmaceira, de convocá-las a uma ação construtiva, coerente e bastante enérgica, se é que queremos transformar este imenso País numa nação, que ainda não somos.
O jornalista Gaudêncio Torquato, no artigo “Não somos uma nação”, publicado no jornal “O Estado de São Paulo” em 31 de agosto de 1993, observa: “O Brasil é um país de versões. Um país lúdico que ri da tragédia e se comove com a comédia. Comédia e tragédia, aqui, se fundem, numa amálgama que, freqüentemente, traduz a falta de essencialidade e racionalidade de um povo tropical. Isso tem imensas vantagens, mas o fato é que a improvisação, o gosto pela aventura, a alma criativa, a descontração (hinos pátrios) provocam um sentimento de estágio numa cultura pré-civilizatória”. E de fato estamos nessa fase. O Brasil é aquele adolescente rebelde, influenciável, voluntarioso, que se bem encaminhado, dará um adulto brilhante. Ou então...

(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 115 a 117, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).

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