Sunday, July 09, 2006

Riqueza e educação


Pedro J. Bondaczuk


O economista norte-americano Lester Thurow, uma espécie de guru do presidente Bill Clinton, disse, em conferência que fez em São Paulo, dia 1º de dezembro de 1993, no 2º Fórum Internacional da Pequena Empresa, promovido pelo Sebrae, que o Brasil só tem um caminho para sair da crise e promover o desenvolvimento: educação. De nada valerá ao País contar com fartos recursos naturais, com abundância de capitais e com vontade política. Esses fatores ajudam, mas não são os fundamentais.
O que conta de verdade é o homem. Principalmente quando o mundo ingressa numa era em que “o fazer em si” não é o mais importante, mas sim o “como” produzir bens e serviços. Ou seja, num período em que a informação se torna a grande riqueza.
Thurow, autor, entre outras obras, do polêmico livro “Correntes perigosas: o estado da economia”, já havia feito idêntica observação dias antes, ao falar para uma platéia de empresários em Porto Alegre, oportunidade em que acentuou que dos países em vias de desenvolvimento, o único que, no seu entender, tem condições de se tornar rico é a China.
Dois dias depois, o economista, oriundo da Instituto de Tecnologia de Massachusetts, advertiu, em São Paulo: “Sem que a população esteja preparada, devidamente educada, vai ser muito difícil o Brasil se tornar competitivo em tempo hábil”. Provavelmente, o visitante evitou de ser mais incisivo, até por uma questão de cortesia. Afinal, a “profissão” do brasileiro é a esperança.
Na verdade, sem educação , não vai ser somente difícil o País ocupar um espaço nobre no mundo: será absolutamente impossível. A principal riqueza de uma nação é o seu povo. Preparado, ele tem condições de superar qualquer obstáculo e, desde que atue dentro de regras gerais e iguais para todos e com um sentido solidário, em busca de um objetivo nacional maior, não há obstáculo que impeça o seu desenvolvimento.
Estão aí os casos do Japão, da Alemanha e da Itália, as três potências que compuseram o chamado “Eixo”, na Segunda Guerra Mundial, que saíram do conflito arrasados e humilhados. E qual é o seu estágio hoje?! É escusado mostrar qual é, já que sua força econômica está aí para todos verem.
O grande capital que pesou na balança para que japoneses, alemães e italianos reconstruíssem seus respectivos países foi o homem. Cada cidadão tornou-se uma “máquina” altamente produtiva, gerando idéias, lançando empreendimentos, ousando extrair riquezas virtualmente do nada.
E o Brasil? A situação brasileira foi retratada, em 29 de novembro de 1993, pelo próprio ministro da Educação, Murilo Hingel, que afirmou: “O Brasil é um dos grandes países que menos investem em educação no mundo”. E sequer estamos falando em qualidade de ensino, que entre nós é sofrível para medíocre. Referimo-nos, apenas, a investimentos.
Em 1980, por exemplo, o País investiu no setor 4,3% do seu Produto Interno Bruto, o que já era irrisório. Neste ano, esse percentual caiu para 3,8%. O próprio ministro acentuou que essa massa de recursos é, proporcionalmente, “muito menor” do que as inversões da Argentina e do México.
Seria escusado reiterar essa necessidade, de tão óbvia que ela é. Políticos admitem isso em toda e qualquer campanha eleitoral. Todavia, entra governo, sai governo, e cada vez mais a educação se vê abandonada, comprometendo o nosso futuro.
Evidente ou não, a constatação de Hingel deve servir de lembrete àqueles que sonham ainda em construir um Brasil grande (que são cada vez menos): “A verdadeira libertação econômica de uma nação começa com o ensino básico de toda a população”.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de dezembro de 1993)

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