Monday, July 03, 2006
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
MUITA ÁGUA ROLOU
Desde que redigimos nossa última coluna, em 23 de junho, muita água rolou por baixo da ponte na Copa do Mundo. Foram disputadas duas fases completas – as oitavas e as quartas-de-final – e, das 32 competidoras que iniciaram a competição, restaram somente quatro. E entre elas, não está a favorita das favoritas, tida e havida como a melhor seleção do mundo, mas que, na hora da verdade, mostrou que não tinha “garrafas para vender”, tremeu e se despediu melancolicamente da Alemanha, debaixo de vaias e de uma saraivada de críticas. Claro que me refiro ao Brasil, que deu vexame, notadamente no jogo contra a França, em que, na verdade, sequer entrou em campo. Nossa Seleção mostrou-se apática, sem garra, sem combatividade e totalmente sem criatividade. Apresentou um futebolzinho ridículo, digno de um timinho de Segunda Divisão que dispute seu último jogo, já sabendo que foi rebaixado para uma divisão inferior. Que a Seleção Brasileira pudesse perder, não havia dúvida. Ninguém jamais foi, é ou será imbatível em qualquer esporte ou outra atividade na vida. Mas ser derrotada dessa forma, sem nada fazer para tentar reverter um resultado adverso! Esta é uma nódoa que a atual geração de jogadores vai carregar para sempre!
A MESMA MÃO QUE AFAGA...
O poeta Augusto dos Anjos escreveu, num antológico soneto, estes versos que soam a proféticos em relação à Seleção Brasileira: “A mão que afaga é a mesma que apedreja”. Aquela parcela da crônica esportiva, que há menos de uma semana endeusava os dois Ronaldos, Kaká, Cafu & companhia, vem sendo a que mais vem batendo nesses mesmos jogadores, além de comissão técnica, dirigentes etc. Não que estes não mereçam, pelo menos por sua vergonhosa, vexatória e inexplicável atuação contra os franceses. Merecem, e muito. Mas a imprensa esportiva brasileira (ou pelo menos parte expressiva dela) descambou de um exagero ao outro, o que mostra, sobretudo, sua falta de preparo, de equilíbrio e de ponderação. Destaque-se que esses mesmos jornalistas, que ora posam de “palmatórias do mundo”, ficaram mais a dever à população em termos de cobertura do que os atletas em termos de futebol. Monopólios resultam nisso: na falta de criatividade, de competência e de lucidez. Nada como a saudável e boa concorrência, que há muito deixou de existir, depois que determinado grupo jornalístico se apropriou daquilo que é patrimônio do Brasil inteiro. Essa empresa não apenas detém exclusividade na cobertura de tudo o que se refira à Seleção, mas se tornou a virtual “dona” do futebol brasileiro, mandando e desmandando em todos os campeonatos, regionais e/ou nacionais, do País. Lamentável! E ninguém faz nada para mudar isso.
ENDEUSARAM O VETERANO ZIDANE
É verdade que o meia francês, Zinedine Zidane, arrebentou com a nossa seleção. Jogou, todavia, sozinho, sem nenhuma marcação especial, com direito a canetas, chapéus e outras firulas em cima dos nossos atarantados, e acovardados, jogadores. Foi o que bastou para que os basbaques, que existem em profusão, cantassem loas ao veterano jogador, chegando a comparar a sua performance às de Maradona e de Pelé em outras Copas. Ora, ora, ora...Menos, seus alienados, menos...Jogando livre, como jogou, até eu me destacaria! E pensar que Mineiro, implacável marcador, desses que, sem violência, apenas na base do pulmão e da eficiência técnica, não deixam o adversário jogar, ficou ali, sentadinho no banco, sem que Carlos Alberto Parreira sequer olhasse para o seu lado! Por que? Provavelmente porque o ex-volante da Ponte Preta não tem nenhum contrato milionário com nenhuma fábrica de material esportivo. Porque jamais fez lobby e nem caiu nas graças da todopoderosa Globo. Porque só se preocupa em jogar seu futebol, com eficiência e sobriedade, sem fazer parte de grupinhos ou grupões, panelinhas ou imensos tachos. E assim não há seleção que faça sucesso!
FINAL DE FEIRA
O clima, hoje, na Seleção Brasileira, é o de final de feira. Os mesmos que despertaram expectativas além da realidade, de uma conquista, até com relativa facilidade, do hexa, são os primeiros a lavar as mãos, como se não tivessem nada a ver com a história, e investem contra Parreira, Zagallo e os atletas que até sexta-feira passada endeusavam. A dúvida que fica na cabeça do torcedor se refere, agora, ao futuro. Quantos e quais desses atuais atletas vão permanecer entre os selecionáveis? Alguns é certeza que encerraram suas carreiras com a camisa verde e amarela. Entre estes, destacam-se o capitão Cafu, que quebrou todos os recordes que pretendiam, em detrimento da equipe (que partida horrível ele jogou contra a França!); o lateral Roberto Carlos; o volante Emerson, o esforçado Zé Roberto (que até contra os franceses foi o mais lúcido dos jogadores brasileiros, mas que não tem idade para a próxima Copa); o entediado Ronaldo, o Fenômeno, que encerrou o seu ciclo na Seleção e Juninho Pernambucano, em quem foram depositadas tantas e tamanhas esperanças, mas que, na hora da verdade, tremeu. Qual o destino de Parreira? Dificilmente terá clima para continuar no cargo.
NOVA “ERA LUXEMBURGO”?
Mal terminou a Copa do Mundo para o Brasil, com sua precoce eliminação pela França (que, a rigor, jogou um futebol meramente burocrático e mostrou mais defeitos, notadamente os ofensivos, do que virtudes), e já começa a movimentação dos vários lobbies a favor deste ou daquele treinador, para uma eventual substituição de Carlos Alberto Parreira, que dificilmente continuará no cargo. O mais forte, até aqui, tem sido o de Wanderley Luxemburgo, que coleciona títulos, em âmbito interno, mas que fracassou em sua conturbada passagem anterior pela Seleção Brasileira e que não soube aproveitar a oportunidade que teve ao assumir o milionário time do Real Madri. Não creio, porém, que o treinador do Santos obtenha êxito. Outro que tem as portas fechadas na CBF é Emerson Leão, que deixou o cargo, quando comandou a equipe na Copa das Confederações, disputada na Austrália, dizendo “cobras e lagartos” contra Ricardo Teixeira e seu bando. O ideal, e preferido por dez em cada dez brasileiros, claro, é Luiz Felipe Scolari. Este, todavia, dificilmente vai aceitar a incumbência, de olho em outros desafios, que não sejam o de comandar a nossa Seleção.
MERA QUESTÃO DE PALPITE
Quais serão as duas seleções que irão para a final de domingo, em Berlim, e que vão disputar a hegemonia do futebol mundial pelos próximos quatro anos? Qualquer que seja, vai significar um tremendo retrocesso para o esporte. Em termos técnicos, Alemanha, Itália, Portugal e França não fizeram por merecer, dentro de campo, a coroa de lídimos campeões do planeta. Todas essas quatro seleções praticaram o antijogo, um futebol apenas de força, de marcação, de verdadeira guerra em campo, mas não encheram os olhos de ninguém. Por mera questão de palpite, acho que o título será decidido entre os donos da casa e a veterana França. E os alemães obterão o tão sonhado tetra, que deixaram escapar, em 2002, na Ásia, diante de um inspirado (naquela oportunidade) Brasil. Aliás, desde que ganharam o direito de organizar esta Copa do Mundo, essa era a bola mais cantada por toda parte. Deu (ou está dando) a lógica. O vexame dado pelos brasileiros diante dos franceses só veio facilitar (e muito, por sinal) as coisas. Futebol por futebol, a Itália tem um pouquinho (mas não muito) mais do que a Alemanha. Nessa hora, porém, o entusiasmo, a exaltação e a autoconfiança, reforçada pelas força das arquibancadas, sempre tendem a prevalecer. E, a menos que ocorra alguma zebra, dessas que de vez em quando costumam desfilar pelos gramados, os comandados de Klinsman devem, mesmo, levantar o troféu em Berlim, como já era previsto há quatro anos.
RESPINGOS...
· A Ponte Preta volta à disputa do Campeonato Brasileiro sem nenhum reforço. De quebra, perdeu alguns jogadores titulares e teoricamente retorna mais enfraquecida. Tomara que este grupo surpreenda a todos e faça uma campanha pelo menos digna. Tomara!
· O Guarani, bastante mudado, em relação ao time que disputou as dez primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro da Série B, é uma incógnita. Em amistoso disputado neste fim de semana, foi derrotado pelo Noroeste, por 1 a 0. Será que saiu enfraquecido das mudanças?
· Há jogadores que parecem intermináveis. É o caso do meia Lúcio, que já jogou numa infinidade de times, inclusive no Guarani. Agora ele está sendo anunciado como a grande novidade do Fortaleza para a seqüência do Campeonato Brasileiro da Série A.
· Emerson Leão nem bem estreou no São Caetano e já está prestes a sair. O treinador vem sendo sondado para dirigir a Seleção da África do Sul, país que vai sediar a Copa do Mundo de 2010.
· Volta a se comentar, pelos lados do Moisés Lucarelli, o possível retorno de Frontini para ser o centro-avante que há tanto tempo a Ponte Preta procura. Resta saber se, caso retorne, vai esquentar lugar ou bater asas, diante da primeira proposta que aparecer, como aconteceu no ano passado.
* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
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