Sunday, February 13, 2011




Virando o jogo

Pedro J. Bondaczuk

O novo ano que está às portas, completamente virgem e intocado, como um livro em branco, que devemos preencher com atos, fatos e realizações, vai ser resultado daquilo que fizermos. Se os próximos 365 dias serão bons ou maus, positivos ou negativos, tudo dependerá do esforço coletivo, da cooperação, da solidariedade, da ação comum numa única direção.

Há tempos que estamos ouvindo e falando apenas em crise. A recessão, que acompanhou toda a trajetória da figura politicamente caricata do presidente afastado, Fernando Collor, pelo poder, cobrou um preço excessivo, em termos de sofrimento e de desagregação social, de todos os brasileiros. O País não pode conviver com mais um ano que seja sequer parecido com 1992.

Todavia, não existem soluções milagrosas, felizes acasos que tragam, como num passe de mágica, a felicidade geral. Nem há nenhuma espécie de determinismo que deteriore ainda mais uma situação que já é ruim. Não há lógica nas ações humanas, que findam por compor a história de determinado período.

Previsões, boas ou ruins, acabam por ser superadas tão logo sejam feitas por fatos absolutamente imprevisíveis. O ano de 1993, como todos os outros, será aquilo que nós realmente quisermos que seja. Não basta, contudo, querer e permanecer de braços cruzados, à espera que as coisas aconteçam por si sós. Antes de espectadores, devemos ser os agentes das mudanças que desejamos que ocorram.

O escritor argentino Ernesto Sábato observou que "quase nada do que é essencial ao homem diz respeito à lógica: nem os sonhos, nem a arte, nem as emoções, nem os sentimentos, nem o amor, nem o ódio, nem a esperança, nem as angústias!. Acrescentaríamos que nem as expectativas pessimistas o são.

A vida é uma oportunidade rara, posto que única, e ninguém vem a este mundo de graça. Todos temos uma tarefa a cumprir e é do seu fiel cumprimento que vai depender a sobrevivência da nossa memória no futuro.

A maioria absoluta dos homens passa por duas mortes. Uma é a física, da qual ninguém consegue escapar. A outra, mais perniciosa até que a decomposição da carne --- por ser definitiva --- é a da lembrança. É o esquecimento, no espaço de uma única geração, ou até menos, de que sequer se existiu.

De que vale a existência de uma pessoa assim? Para que serviram suas angústias tolas, sua ambição mesquinha, sua estúpida procura pelo prazer? Qual a serventia das palavras arrogantes que esses indivíduos proferiram, dos atos nefastos que praticaram, do mal que semearam?

O escrito Alberto Morávia ressalta que "o fazer muda o mundo. A palavra que não se torna fato nada muda". Será com atos que todos mudaremos, não apenas nossas vidas, individualmente, mas a própria trajetória do País. O tempo não é mais para lamentações inócuas, para temores exacerbados, para cobranças de atitudes dos outros, sem que tenhamos também um papel atuante.

Como tudo o que é excesso, a crise atual, igualmente, já saturou a todos. Não tem mais graça alguma e nem mesmo serve mais de tema para conversas. Que tal todos chegarmos juntos a essa conclusão e, num esforço conjunto, darmos uma virada de mesa e tornarmos este 1993 inesquecível? Isso depende mais de nós do que podemos imaginar.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 31 de dezembro de 1992).

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